“A arquitetura é um dispositivo feito de desenhos imprevisíveis da vida”
Le Corbusier
Diretrizes e intenções
1. Reintegração urbana
Devolver à cidade de Vitória um importante espaço público de lazer e desporto “que faça jus à beleza e à grandiosidade do local, atendendo aos anseios da comunidade por uma cidade melhor”. Este desafio é o fundamento da nossa proposta;
2. Adoção de um desenho unificado e integrador
Ao invés de ressaltar formas inusitadas para prédios isolados, decidimos por um desenho único e integrador que estruturasse toda a implantação, onde o valor da área verde e da área construída tivesse o mesmo “peso” numa relação harmônica e biunívoca;
3. Arquitetura como elemento transformador da natureza
“Quem fez Veneza não foi a técnica, foram os homens”. O conhecimento, os engenhos humanos não andam sozinhos. O que existe é o desejo. A técnica é um meio e não o fim. Por isso, a convocamos para criar uma “nova geografia” que vai de encontro ao nosso desejo de potencializar não só a construção em si mas também seu entorno.
4. A terceira margem do rio
Uma grande cobertura que concentraria todos os elementos construídos do programa é então criada. No nível do térreo estariam todos os compartimentos e edificações necessárias ao funcionamento do Parque e na cota 710,0, um grande belvedere conectaria a Arena às piscinas e se debruçaria sobre a Baía de Vitória em forma de uma arquibancada;
5. Intensificar a arborização para amenizar o microclima da área
A árvore, elemento mais forte na paisagem urbana, absorve a radiação solar, contribuindo para a amenização da temperatura e umidade do ar, controlando a ação dos ventos e das chuvas e reduzindo a poluição do ar e sonora;
6. Utilização de materiais e processos construtivos largamente difundidos
A utilização de novos materiais e/ou técnicas construtivas inovadoras não é necessariamente garantia de uma boa arquitetura. As singularidades estão no emprego apropriado e oportuno de técnicas e materiais bem conhecidos. Nossa proposta se sustenta pelo desenho do conjunto e não se utiliza de recursos de alta tecnologia como ponto de apoio. Acreditamos que esta decisão influenciará positivamente a economicidade e a exeqüibilidade, conceitos caros à Administração Pública;
7. Garantir a acessibilidade urbana
Entendemos que um equipamento deste porte, com uma área de influência e atração metropolitana deva estar devidamente conectado às principais vias arteriais da cidade e por conseguinte à toda rede de transporte público de massa. Para tanto, prevêem-se pontos de ônibus e táxis com geometria viária condizente para não interromper o fluxo das vias adjacentes;
8. Estabelecer interações adequadas entre os principais elementos do programa para garantir usos integrados e independentes
Tomamos especial cuidado na organização das circulações, conexões e acessos para que todos os elementos do programa pudessem funcionar simultaneamente ou em separado sem inviabilizar os eventos distintos. Ou seja, a administração do parque terá total controle para eventuais interdependências ou autonomias entre todos os seus elementos.
9. Possibilidade de execução da obra por etapas
A adoção de uma estrutura modulada simples de concreto armado e a organização do programa por blocos facilitam uma possível execução da obra por etapas.
Sustentabilidade
Apesar dos nossos estudos e propostas, acreditamos que seja fundamental o diálogo e a participação, principalmente, do Departamento de Engenharia da Secretaria de Obra, dos projetistas contratados e do futuro executor da obra.
Materiais
A partir do conceito de “pegada ecológica” foram levados em consideração, principalmente, três aspectos: transporte, perdas e manutenção. A escolha pelo uso do concreto com cimento com adição de escória de alto forno, facilmente encontrado na região de Vitória, se baseia nestes princípios. Também nesse sentido, é importante ressaltar a especificação, para as áreas externas, de pisos que evitem a impermeabilização do solo.
Água
Devido ao grande número de banheiros e vestiários acreditamos que um sistema de reaproveitamento de água seria de grande valia, não apenas pela economia mas também pelo menor impacto ambiental.
Para tanto, além do abastecimento normal proveniente da concessionária, equipamos o Centro Esportivo para reutilizar a água do esgoto sanitário e da chuva. Como o uso dessas águas para consumo demanda equipamentos muito caros que inviabilizariam o empreendimento, elas serão tratadas e armazenadas em cisternas específicas para rega de jardim, lavagem de pisos e esquadrias, abastecimento dos espelhos d'água e descarga dos vasos sanitários.
O esgoto sanitário será lançado num sistema composto por filtros anaeróbicos que conseguem eliminar de 90 a 96 % da DBO (demanda bioquímica de oxigênio).
A água da chuva será captada pela cobertura/terraço. Após o descarte da “primeira água”, ácida e cheia de impurezas, ela será lançada num filtro autolimpante e finalmente será armazenada e clorada.
Estão previstas duas cisternas para a água potável abastecidas pela concessionária e duas cisternas para a água tratada de reuso.
ficha técnica
arquitetura
André Victor de Mendonça Alves, Heraldo Ferreira Borges e Ana Dieuzeide Santos Souza / Universo Paralelo
estrutura (consultoria)
Roger Semblano Castro / Projest Engenharia
ilustrações
Jean Diaz / Dr. Quem!