A proposta de redesenho do Parque Tancredo Neves busca estabelecer uma nova unidade e identidade espacial que reconheça a potencialidades urbanas do contexto conciliada ao programa estabelecido no termo de referencia visando à qualificação da área em questão.
A nova estrutura paisagística/arquitetônica contempla as diversas escalas de projeto e propicia ao cidadão a infra-estrutura necessária às expectativas de entretenimento cultural e desportivo constituindo um ambiente agradável, que eleva sua auto-estima, possibilitando o encontro e a integração e capaz de gerar uma consciência ambiental e a responsabilidade social pelo espaço público.
Contexto atual
– A atual interface do parque junto a Av. Dario Loureiro de Souza não possibilita atividades de estar/passear ao pedestres. A posição atual da cerca junto ao meio fio e o estacionamento ao longo da avenida define uma “barreira de acessibilidade” para o interior do parque.
– O sistema viário de acessibilidade, a ponte Presidente Costa e Silva e a rodoviária também constituem uma barreira de acessibilidade para o pedestre ao parque.
– O layout atual do parque não define claramente eixos de circulação, circuito de caminhadas, áreas de estar e convívio, assim como não apresenta um zoneamento funcional claro e conciso.
– O parque apresenta um reduzido número de áreas verdes, “massa vegetal” que produza sombra e possibilite locais de estar mais agradáveis.
– A interface junto à Baia de Vitória (orla) não apresenta locais adequados para atividades de estar/contemplação e passeio.
Diretrizes iniciais
Buscamos definir um conjunto de idéias básicas determinando uma base conceitual que orientasse o desenvolvimento do estudo preliminar. este conjunto é definido pelas seguintes idéias:
– Definição de um plano geral que crie uma estrutura espacial coerente organizando e dotando o espaço de qualidades visuais e ambientais, capaz de transformar o parque num local aprazível e bonito.
– Pensar o passeio junto a Av. Dario Loureiro de Souza e o calçadão junto à orla não apenas como via de circulação, mas como local que também possibilite o convívio, e caracterize-se como a principal borda de acessibilidade ao parque.
– Possibilitar uma possível continuidade no calçadão junto orla nos extremos do parque, possibilitando sua expansão tanto em direção à rodoviária quanto ao sambódromo.
– Criação de áreas de estar, constituídas por massa verde, definindo locais mais aprazíveis para os usuários, recuperando a vegetação de restinga característica da região.
– Definir uma unidade ao projeto visando à integração harmônica de todos equipamentos que constituem o conjunto.
– Utilizar equipamentos e mobiliário urbano industrializados e disponíveis localmente e de materiais de fácil manutenção evitando ultrapassar os limites orçamentários.
– Estabelecer um zoneamento setorial dos usos que possibilite a integração da heterogeneidade de usuários do parque.
– Adoção de princípios de sustentabilidade conservação de energia, captação da água da chuva, permeabilidade.
– Permitir a acessibilidades universal a todos os setores do parque, através do uso de rampas, sinalização em braile.
– Prever projeto de paisagismo para o entorno próximo nos canteiros do sistema viário de acesso à ponte e a criação de faixas de segurança e sinaleiras de pedestres, rebaixos de meio fio... na Av. Dario Loureiro de Souza, facilitando o acesso ao parque.
– Nas edificações buscar a racionalização tecnológica através do uso de sistemas pré-moldados de concreto combinados com estruturas metálicas visando rapidez de execução e baixo custo de manutenção, possibilitando a sua construção em etapas e flexibilidade de uso para os espaços.
– Utilização de matérias de baixa manutenção e resistentes a ação da maresia.
Conceito gerador
A busca de um ambiente sustentável, enfatizando caráter monumental, capaz de promover a responsabilidade social e equilibrado com as características intrínsecas da paisagem. esta paisagem que define a memória do lugar marcada pelas curvas e sinuosidades, do relevo e do mar inspirando o gesto inicial que origina o novo traçado onde o predomínio das formas curvas redesenha o novo espaço projetado.
O projeto
Zoneamento funcional
1. Parque público
– Define-se como área pública de acesso livre o anel definido pelas bordas do terreno.
– A estrutura do anel é constituída por dois circuitos distintos e três esplanadas e um anel de circulação.
2. Esplanadas
– Conjunto de três grandes “vazios” interconectados pelos circuitos 01 e 02, conformando triangulo.
– O espaço e destinado para a “apropriação do público” através da realização de feiras de artesanato, gastronomia, assim como shows e atividades esportivas.
– Estão previstas nas mesmas pontos/vagas para estacionamento de carros de comercio temporário (lanches e afins) devidamente cadastrados no parque.
– A esplanada 01 funciona como espaço articulador e de conexão, através dela e possível estabelecer a continuidade do calçadão da orla em direção ao sambódromo no futuro próximo e também funciona como área de apoio para o mesmo no período de carnaval.
– A esplanada 02 caracteriza se pela função de área de acumulação, funcionando como o grande foyer descoberto do centro esportivo e do complexo de lazer.
– A esplanada 03 e ponto de convergência dos dois circuitos também funciona como espaço articulador permitindo estabelecer a partir da mesma conexão futura do parque ao terminal rodoviário através da continuidade do calçadão da orla. Nela estão situada a pista de skate, a garagem de barcos e o rampa de acesso a baia.
– Próximo a esplanada 03 e como extensão da pista de skate, aproveitando a “cobertura” da ponte propomos como implementação ao programa a criação de um pequeno pólo cultural destinado ao publico infanto-juvenil constituído por uma pequena gibiteca, e oficinas para artes de rua (danças hip-hop, grafite…) e tabela de basquete para disputas de duplas.
Circuito 01: Borda Av. Dario Loureiro de Souza
– Junto à Av. Dario Loureiro de Souza é criado de amplos passeios públicos, e áreas de estar, e esplanadas de acesso. A linha de palmeiras plantada em toda sua extensão demarca a borda do parque, dividindo o meio fio em duas faixas. Esta faixa mais externa, junto à avenida, pode ser utilizada eventualmente como estacionamento em dias de eventos no centro esportivo, sem causar maiores transtornos aos pedestres.
– Paralelo à ponte, sob a linha de alta tensão, é situado o estacionamento com aproximadamente 180 vagas. Piso permeável de blocos de concreto intertravados compostos com áreas de grama.
– Ao longo do mesmo, estão situados uma série de equipamentos urbanos, iluminação pública da via ao nível do tráfego, iluminação sobre a calçada ao nível do pedestre, cabines telefônica, lixeira para coleta seletiva com suporte para publicidade, totens informativos, bancos...
– É possível prever junto à Prefeitura a implantação de paradas de transporte coletivo junto a este passeio público.
Circuito 02: Orla
– Junto à orla, conectando a esplanada 01 à espanada 03. Seu caráter lúdico é definido pela sinuosidade, pela seqüência de espaços de estar e pelo tratamento paisagístico.
– A dimensão generosa e variável do mesmo permite a configuração de pontos de estar, assim como a de circulação harmônica. Entre de pedestres e ciclistas junto à orla.
– Ao longo do mesmo estão dispostos decks de madeira e pedra que avançam sobre a baia, constituindo lugares de estar para fruição daqueles usuários que desejam permanecer à beira-mar. Permitindo a contemplação da paisagem, acesso a água e a prática de atividades relacionadas a pesca.
Anel de circulação
– Ainda no setor do parque público, margeando o talude/cerca viva que delimita a divisão dos setores de acesso controlado esta prevista a implementação de uma pista de caminhada e ciclovia. destinada a caminhadas e pratica de cooper contemplando o caráter esportivo do parque possui ao longo da mesma equipamentos para alongamento/ginástica (barras paralelas, barra de apoios e aparelho abdominal)
– Além da distinção de cores no piso e a demarcação em determinados pontos de símbolos referentes ao cooper e ao ciclismo. propõe-se ainda, que as demarcações do a cada 50 metros, ao longo dos 600 m propostos.
Centro esportivo
– Ao invés de compor centro esportivo como uma serie de edificações independentes procuramos ressaltar a ênfase no “todo”, atribuindo simbolismo e monumentalidade ao complexo.
– O centro esportivo é implantado em objeto único formado por vários espaços complementares e independentes onde o elo formal é a grande laje de cobertura. Por sobre esta laje propomos a aplicação de “cobertura viva” (gramado).
– Esta grande cobertura, faz analogia à cobertura do terminal rodoviário estendendo-se sobre a baia, priorizando a horizontalidade e a curva. Acima dela, destaca-se apenas a “calota” de cobertura do ginásio esportivo.
– O ginásio esportivo é conceituado como arena multiuso, com estrutura para realização de feiras, shows e evento esportivos. Está previsto palco independente, com camarins e doca de acesso voltado para os estacionamentos, e foyer de acesso, bar e área para exposições aberto para a explanada da arena. As arquibancadas dimensionadas para 2000 pessoas são constituídas em seu lances inferiores por arquibancadas retrateis possibilitando o aumento da área da quadra para uso em treinos, aulas, feiras e shows. Sob a parte fixa das arquibancadas estão localizados o setor administrativo do parque, salas de atendimento, depósitos e vestiários.
– As piscinas, uma semi-olímpica (15x25m e 1,4m de profundidade) e outra para hidroginástica, são situadas entre a arena e a academia de ginástica sob um grande vazio da cobertura. Estão projetadas acima do nível do terreno evitando escavações já que área em questão trata-se de aterro da baia. Possuem arquibancadas para duzentas pessoas assistirem competições e sob as mesmas estão situados os vestiários.
– A academia está inserida dentro do volume circular translúcido sob a grande cobertura possui mezanino possibilitando total visibilidade da paisagem tornando um excelente lugar para a pratica de exercícios.
– A garagem de barco encontra-se na extremidade da grande cobertura junto à orla e próxima da rampa de acesso a água. Na extremidade desta cobertura, sobre a baia estamos propondo a inclusão ao programa um restaurante panorâmico especializado tradicional culinária capixaba. Justificamos esta implementação. considerando o porte do empreendimento, e seu potencial de atração não apenas para a população local, mas também para turistas, usuários da estação rodoviária e de outros bairros da cidade.
Complexo de lazer
– Na área mais central ao parque e junto do centro esportivo com acesso controlado situamos o conjunto de quadras esportivas solicitadas no termo de referência, e o playground.
– As lanchonetes localizadas sob a marquise constituem uma grande praça de alimentação. A localização estratégica permite que a mesma atenda os usuários do complexo esportivo, da arena multiuso, piscinas e academia. O mezanino proposto permite visualização da paisagem, e integração visual com as piscinas e quadras poliesportivas.
– Sob a cobertura linear, próxima às quadras poliesportivas, localizamos além de sanitários públicos, uma cancha de bocha, assim como um conjunto de mesas para jogos de tabuleiro, como xadrez, damas… Outro conjunto destas mesas é proposto próximo ao playground, sob as árvores.
– A separação entre o complexo de lazer e o parque público e proposta por um “anel verde”, composto por árvores, talude de grama e cerca viva.
– São propostos próximos às quadras “chuveiros públicos” com sistema de micro-aspersão aos esportistas.
– No playground, para facilitar a aquisição e manutenção dos equipamentos, propõe-se a inserção de elementos existentes em catálogo (balanços, gira-gira, gangorras e escorregadores…). Sugere-se que estes sejam em madeira de reflorestamento, aliando o conceito ecológico de sustentabilidade. Também se propõe o projeto de um relógio solar do tipo anelemático, equipamento de baixo custo e altamente estimulante para interatividade das crianças.
Diretrizes gerais para paisagismo /áreas verdes
– Preservação quando possível da vegetação existente, inserindo novas espécies para compor projeto paisagístico.
– Ampliação do numero de árvores, constituindo “massas verdes” funcionando como amenizadores dos micro-climas, e ajudando no controle da ação dos ventos, das chuvas, influenciando positivamente para a redução da poluição do ar e sonora e umidade do ar.
– Resgatar o uso da vegetação nativa com a utilização de espécies características de ecossistemas de restingas e da mata atlântica, de forma a criar e consolidar um estilo próprio para o paisagismo de Vitória, com ênfase para a flora típica da região.
– Utilizar espécies vegetais, adaptadas, inclusive palmáceas, com ênfase para a vegetação de restinga, com a capacidade de suportar altas temperaturas e salinidade, de dessecação e de sobrevivência com pouco disposição de nutrientes. Compondo o conjunto por arbustos e arvoretas, combinados com presença de bromélias, trepadeiras, orquídeas, bromélias terrestres, (bromélias encontram-se Aechmea nudicaulis; Bromelia binotii; Catopsis berteroniana;Neoregelia compacta; Neoregelia cruenta) e árvores de maior porte: a caxeta (Tabebuia cassinoides) e a guaxima-do-mangue (Hybiscus pernambucensis).
Mobiliário urbano
– Sinalização, iluminação e mobiliário especificando elementos existentes em catálogos e de aquisição acessível, ou ainda através da proposição e criação de outros, sempre visando a fácil exeqüibilidade e manutenção.
Identidade visual e logomarca
– Consideramos fundamental envolver a população durante o processo de implantação do parque na escolha do desenho da logomarca para o parque (através de concurso ou votação), a ser aplicada em material gráfico, uniformes de funcionários, equipamentos de sinalização, e em possíveis produtos de divulgação do parque.
Decisões construtivas
– A concepção do projeto, propositadamente, evita o uso de tecnologias inovadoras ou não facilmente encontradas na região. A proposta se sustenta pelo desenho do conjunto, não utilizando “recursos tecnológicos” como ponto de apoio.
– A “calota” de cobertura da arena multiuso tem estrutura em aço e revestida com telha metálica tipo sanduíche pintada de branco apresentando sistema de ventilação e iluminação zenital.
– Revestimento das áreas de circulação, estar e praças com blocos de pedra, concreto e pedra portuguesa, permitindo a manutenção da permeabilidade parcial desta áreas.
Diretrizes de sustentabilidade
– Captação e utilização da água da chuva: os estudos indicam que a utilização da água da chuva para consumo requer equipamentos de tratamento que tornam o sistema economicamente inviável. É, porem eficaz para outros usos, neste caso nas descargas dos vasos sanitários, nas recargas das piscinas e nas torneiras de jardim.
– Embora a análise do índice pluviométrico local e o cálculo de captação feita pelas calhas dos edifícios, adotamos por segurança a opção de compartilhar este sistema com o da rede de água potável.
– Escolha de materiais: alguns parâmetros ligados ao conceito de pegada ecológica foram levados em consideração. Localidade: visto o alto custo energético agregado ao material pelo transporte definimos que devemos optar por matérias comuns a região. Algumas escolhas já feitas baseiam-se neste princípio, uso de pisos externos que evitem impermeabilização do solo, e o uso de grama na cobertura do complexo esportivo reduzindo a reflexão de calor e contribuindo no índice de conforto térmico.
ficha técnica
Autores
Arq. Andreoni da Silva Prudêncio
Arq. Rodrigo Adonis Barbieri