Memorial
Propomos a nova sede do ICA como um espaço acolhedor, propício ao encontro e ao convívio desejável da arte-educação. Um edifício permeável que, através de suas experiências sociais, resgata e fortalece a auto-estima das crianças e dos adolescentes atendidos por seus programas e projetos.
Implantação e acessos
A declividade natural, em direção à Av. Brasília, orienta a ocupação. Um único corte cria uma nova topografia (nível + 101,75). Com essa ação, temos dois térreos: o inferior, na Av. Brasília (nível +100,00), que concentra o acesso dos alunos / comunidade e o térreo superior, junto à Rua Cientista Albert Sabin (nível + 105,25), que abriga o acesso administrativo, de professores e funcionários.
Tirando partido do desnível, o projeto adequou o programa à condição topográfica do lote. Todo o edifício é interligado através de suaves rampas, que proporcionam uma grande continuidade espacial. Nele, todas as atividades são perceptíveis, em um grande espaço fluído.
O edifício ocupa duas laterais do lote. Essa configuração gera uma praça junto à esquina, reforçando o seu caráter urbano. Deseja-se que essa praça seja aberta à comunidade e qualifique a idéia de lugar.
Programa
O partido do projeto se baseou na divisão do programa em três pavimentos propostos, respectivamente: Atividades Artísticas, Educacionais e Administrativas.
O térreo inferior foi destinado inteiramente às atividades artísticas e aos espaços de vivência. Nesse pavimento, foram instalados todos os programas que demandam espaços e alturas. Aulas de circo, de dança e de teatro estão nesse pavimento, além do bloco hidráulico (sanitários, refeitório, cozinha, lavanderia e vestiários).
Com isso, o térreo torna-se uma extensão contínua e natural das atividades realizadas nas aulas. Com uma grande área permeável e livre para a recreação, esse pavimento abriga, também, o teatro de arena para a utilização do Projeto Quintal Cultural e serve de referência para a comunidade.
No patamar entre os térreos, instalam-se as salas para as aulas de música e para o Projeto Acorde (nível +103,50). As atividades educacionais se desenvolvem no térreo superior. Essas atividades, que necessitam maior concentração, estão abrigadas e com acesso mais reservado. Além das salas de aula, esse nível contempla a biblioteca para o Projeto Espiral da Leitura. O ultimo pavimento concentra todo o setor administrativo.
Estrutura e materiais
Ordenada por uma única malha de 7 x 7m, a estrutura é racionalizada à partir de peças pré-fabricadas de concreto. A adoção de um único vão, em ambos os sentidos, viabiliza a modulação de poucas peças e facilita a fabricação / instalação dos componentes. Esse método construtivo torna a execução em um simples jogo de montar. O edifício recebe como revestimento alvenaria e vidro, materiais simples, especificados para evitar constantes manutenções.
Y = AX2 + BX + C
A cobertura é formada por sucessivos arcos metálicos biarticulados. Esses arcos têm a forma de uma parábola de 2º grau. Por se aproximar de uma catenária, estão submetidos exclusivamente à compressão simples, diminuindo o dimensionamento e, conseqüentemente, custos para execução.
Além do valor estético, as coberturas propostas podem ter a suas construções realizadas por etapas e de forma independente.
Os grandes vazios
Dois grandes vazios. Dois grandes espaços: o refeitório e o espaço circense. Espaços não impositivos que o usuário deixa a sua marca e logo voltam a ser neutro.
Durante a semana, pode-se utilizar o refeitório assistindo a uma aula de teatro ou uma aula de dança. No final de semana, pode se transformar em um amplo espaço para organizações de festas, almoços e eventos comemorativos.
O espaço circense centralizado entre a sala de música e a sala de dança transforma-se em um grande salão de baile. A comunidade pode dançar em uma pista tendo a banda executando uma apresentação na sacada musical.
Novos espaços gerados a partir das manifestações das pessoas. Imprevisibilidade.
Futuras expansões
Uma vez executadas as coberturas, futuras expansões podem ser inseridas dentro desses ambientes com grandes espaços internos. Mezaninos, passarelas e plataformas podem ser implementados até o coeficiente de aproveitamento máximo permitindo sem interferir na composição do conjunto.
Conforto ambiental e ecoeficiência
A edificação foi projetada visando um máximo aproveitamento de recursos passivos. Os grandes caixilhos propostos proporcionam uma ventilação e iluminação natural em abundância. Esses artifícios dispensam o uso de ar condicionado e oferecem condições de conforto com consumo mínimo de energia elétrica.
Como proteção dos caixilhos envidraçados, propõe-se brises de madeira reflorestada nas fachadas norte e oeste, respectivamente, brises horizontais e verticais.
As águas pluviais são conduzidas para os espelhos d´água que promovem a reutilização da água para uso nas bacias e na irrigação do conjunto.
Conclusão
Mais do que uma escola para promover a arte-educação, propomos para a nova sede do ICA um local propício para a integração entre crianças, familiares e comunidade. Um local aonde o autoconhecimento é peça fundamental na valorização do ser humano e na integração dessas crianças perante a sociedade.
