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PORTAL VITRUVIUS. Concurso Público Nacional para o Anteprojeto de Urbanização e Paisagismo do Campus On-Mast. Projetos, São Paulo, ano 08, n. 086.02, Vitruvius, fev. 2008 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/08.086/2876>.


O conceito

Tranformando os espaços abertos e formais do conjunto On/Mast numa rede espacial densamente entrelaçada que  busca articular a desfragmentação do espaço e a valorização do patrimônio histórico do campus, seu novo desenho e uso deverá manter e expressar a interação do ontem, hoje e amanhã, interligando-se espacialmente no seu território interno e externo. O diálogo entre o céu e a terra constitui o principal tema do observatório: codificação, decodificação, sistematização e divulgação deste diálogo é sua tarefa através dos tempos. Inspirados no conhecimento que temos hoje sobre a relação Tempo-Espaço, criamos de forma sintetizada textos e subtextos que apoiam a formulação e a interação dos espaços externos do Museu e do Observatório. Novas áreas para visitantes foram criadas, enquanto as antigas foram reformuladas. Seu desenho prioriza o respeito e a valorização do patrimônio histórico e arquitetônico, procurando sobretudo manter a atmosfera da época em que se originaram, sem no entanto copiar seus estilos, dando uma intepretação moderna para seus jardins, patamares e praças.

Como Jardim Moderno entende-se: a presença do tema da continuidade, da funcionalidade, da ecologia, da ruptura com axialidades impositivas, da predominância do desenho do espaço sobre o desenho das formas, do papel social e público do jardim e das questões das regionalidades, que são princípios dogmáticos do desenho da paisagem da época moderna.  O passeio no jardins do On-Mast motivará seus usuários às mais variadas formas de observação, revelando suas amplitudes no tempo e no espaço, suas diversas interpretações, simbologias, tecnologias e ciências. Ritmos e atmosferas diversificadas foram criadas em seus ambientes, permitindo momentos de calma, meditação, isolamento, principalmente na região que denominamos Histórico-Cultural, enquanto os momentos mais dinâmicos, interativos, informativos e comunicativos concetram-se nas áreas novas criadas, que aqui denominamos como Científica e Tecnológica.

Sem pretender explicar o complexo e fascinante mundo da astronomia e de suas ciências afins, entendemos que o paisagismo do campus On-Mast deve oferecer estímulos que o desmistifique. Estes foram propostos para ampliar as possibilidades de comunicação entre ciência e sociedade. Apesar da astronomia parecer afastada de nosso cotidiano, ela oferece um excelente exemplo de interligação entre ciência básica e conhecimento tecnológico. Desta interligação surgem novos paradigmas que expandem a visão que temos do Universo, influenciando outras áreas do conhecimento, determinando parte de nossas vidas. Criou-se para isto um Circuito Temático que unifica os vários espaços, praças e jardins. Numa forma lúdica e às vezes divertida, estes deverão expressar e manter aceso o mundo poético que emana do diálogo desenvolvido entre o homem e os astros sem, porém, esquecer de enfatizar o mundo científico e tecnológico que também nele se abriga.

Praças homenageiam os sujeitos deste diálogo: o homem, as galáxias, o sol e seu sistema planetário,  a luz, as cores, o som, o dia e a noite, o céu e a terra. Esculturas, objetos interativos, murais, hierogrifos, provocam e estimulam a curiosidade. Enquanto pequenos pavilhões informativos permitem, através da instalação de equipamentos modernos de comunicação, a exposição e a atualização das informações que origina deste diálogo ancestral entre o homem e o universo.

Da chegada no Campus

Centro de visitantes e  Praça do Sol
A partir da escadaria junto à torre do elevador, adotada como a entrada principal do Campus, começamos nosso circuito temático que lança sua rede espacial articulando e desfragmentando o conjunto dos espaços abertos que compõe o conjunto do Campus On/Mast. O movimento de apropriação dos espaços de jardim segue um percurso linear, e ao mesmo tempo complexo, em articulações com uma diversidade de pontos de estadia pelo caminho. O circuito estende-se em torno das edificações sugerindo desvios do percurso principal, que oferecem momentos mais íntimos e proporcionam um sentido de descoberta e decisão individual. Cada visita provoca o descobrimento e a posse temporária de uma nova situação. O sentido de urbanidade que acompanha o percurso proposto pelo plano paisagístico, apresenta-se aqui pela função ecológica que este “jardim” desempenhará no bairro e na cidade na sua expressão mais holística.

No nível 18 o visitante atinge ao patamar de entrada para o Centro de Visitantes. Passando por um pequeno jardim intimista e utilizando um complexo de rampas, o usuário aqui contará com informações e facilidades de um café e loja de souvenirs. O café abre-se para uma grande praça projetada como uma homenagem ao Sol. Reforçando o sentido de sala de estar no exterior, mesas e cadeiras removíveis são dispostas sob um grande pergolado que preenche o amplo espaço desta praça fornecendo um teto, uma 3ª. dimensão, onde luz e sombra desempenham papel fundamental. Esse espaço encaixa-se numa grande superfície, ao nível 21,50, conseguida com o acerto do terreno e a retirada da edificação existente para abrir a perspectiva e valorizar o conjunto patrimonial das casinhas da ladeira do Gusmão. Da conformação circular da pérgola, simbolizando o desenho das órbitas dos planetas do Sistema Solar,  surge uma escadaria em patamares ao fundo da Praça. Do mezanino do café, o visitante poderá, através de um pavilhão informativo em configuração de túnel com rampa,  atingir também o nível do Museu na cota 28.

Do terraço à  praça do museu

O terraço formal que se estende na frente do Museu, teve seu desenho retificado para proporcionar locais de estadia e ampliar circulações por demais estreitas; o visitante agora consegue apreender melhor esse espaço axial com a retirada dos elementos que o fragmentavam. Eixos foram conservados, reconstruídos e recriados. Eixos ‘virtuais’ para que as construções pudessem dialogar entre si, e o conjunto com seu entorno urbano. A vegetação aqui projetada, um renque de palmeiras imperiais, enquadra a edificação, retirando-a de um mundo calmo interiorizado, e mostrando-a imponentemente à cidade. Não se trata aqui de integrar um grupo de edificações num parque nem de construir um jardim para servir a um edifício específico. Buscou-se encontrar de fato uma relação total, de tal forma íntima entre ambos os elementos que compõe o todo, para que a composição abranja a área inteira, que a própria vida dos edifícios se prolongue naturalmente para as “salas de estar” ao ar livre e destas para os interiores. Por esse motivo, sugeriu-se a retirada da lanchonete existente na parte posterior do Museu para que não houvesse nenhuma barreira que impedisse a incorporação visual a partir do interior do edifício ao grande  espaço da praça ali atrás delineada.

Esta praça atrás do nobre edifício, a Praça do Museu, é um ponto chave, um importante elemento de ligação entre a parte baixa (Centro de Visitantes) e a parte alta (Parque das lunetas) do Complexo On/Mast. Para dar escala ao edifício do Museu, a ampliação visual do espaço desta praça era necessário o que foi alcançado através da utilização de um piso em paralelepípedos, o mesmo da rua interna ali existente. Ao atingir o espaço visual da praça, a rua é interrompida seguindo gentilmente marcada no piso com plaquetas de metal sinalizadoras. Ela retorna ao aspecto de rua ao atingir a ladeira do Gusmão. Direcionando o percurso dos visitantes, a Praça do Museu abrigaria ainda uma instalação denominada “Caminho da Evolução” que propõe esculturas, em diferentes materiais, sobre a evolução do homem desde o macaco (barro), o Homo antecessor ou pré-homem (madeira) passando pelas idades da pedra (Homo habilis ), idade do bronze, do ferro (cromado) seguindo até o  Homo sapiens sapiens representado por um astronauta (em tyvek)  que começa a subir a nova escadaria de acesso ao Parque.

Essa escadaria foi fruto de cuidadoso estudo. Aqui, na Praça do Museu ela ganha presença e destaque, além de efetivamente marcar a entrada original do complexo das edificações tombadas do parque. Como importante elemento de ligação, a escada é o coração da praça. O seu elemento principal, um conjunto de lâminas em degraus recortados, confere uma entidade coesa dentro das várias diferenças de níveis. Cada lâmina é ao mesmo tempo uma parte do itinerário, um ponto de parada e um lugar ela própria e representa um momento individual. Cada uma sugere distinção e continuidade ao mesmo tempo, e faz lembrar que cada contínuo é composto por elementos individuais. O tamanho das lâminas varia bastante, a largura do piso dos degraus vai desde os cinqüenta centímetros até aos dois metros.

No final do percurso, a escadaria atinge um platô que define um  espaço como que  uma ante-sala ao conjunto da praça dos Pavilhões e ao parque das Lunetas. A essa pequena praça denominamos Praça da Hora em referência à antiga Casa da Hora aí situada. No centro desta, um equipamento interativo, como um jogo, convida o visitante a brincar e descobrir as horas de todo o mundo.

Da Praça dos Pavilhões e Parque das Lunetas ao promenade

Na Praça dos Pavilhões buscou-se valorizar o conjunto dos edifícios num plano mais retilíneo de um piso uniforme, onde esses sobressaem surgindo dentro de superfícies de água. Pequenas canaletas buscam o diálogo entre cada Pavilhão e suas correspondentes Miras atravessando uma calma superfície de relva. Para o conjunto das Cúpulas buscou-se retomar uma paisagem bucólica onde a sinuosidade dos caminhos e água fornece um desenho sugestivo ao caminhante, valorizando ângulos de visão e pontos de parada para a contemplação de todo o conjunto arquitetônico.

Croqui buraco negro - Via Láctea
Imagem dos autores do projeto


É importante ressaltar que para a criação desse clima ameno foi imprescindível a retirada da rua de automóveis do interior deste espaço, conferindo-lhe após este gesto projetual, um caráter de parque. A paisagem criada proporciona um mundo calmo interiorizado, retirado da rua, mas com aberturas cuidadas para vistas direcionadas sobre a cidade ou a partir do nível mais alto, com a retirada dos muros circundantes, através de um “promenade” com mirante que permite o percurso sobre um amplo panorama.

A apropriação do antigo muro de pedras ali existente, como um elemento importante de percurso e transição para a encosta íngreme, foi uma opção do partido adotado no que se refere a apropriação deste vínculo da história do lugar.  Há indícios  de que esse muro de pedras seria o de um antigo colégio de freiras. Aqui vale a pena realçar a importância do caráter do lugar, o gennius locci,   na proposta apresentada. Vemos esse espaço como um espaço de conhecimento, pesquisa, aprendizagem e, principalmente, de reflexão. E o desenho busca incorporar a estrutura dessa memória. Esta reflexão sintetiza de forma clara dois temas fundamentais: um refere-se ao contexto morfológico do espaço, o outro se refere ao contexto temporal e cultural que o enquadra. O primeiro é a permanência que em cada tempo se transmuta pelo tempo cronológico e cultural, e também biológico. É a matriz que tudo condiciona e que a ordem cultural, que nele se inscreve, deverá sublimar. O segundo é aquilo que é fugaz, é o devir que acrescenta ou retira matéria.

Em virtude do grande número de árvores infectadas por pragas e doenças, com destaque especial para o problema da “seca das mangueiras”, o plano paisagístico propõe a remoção dos indivíduos dessa espécie, principalmente as muito próximas às edificações,  como medida de prevenção e proteção, tanto  dos imóveis tombados e de seu entorno imediato, como também de documentos e instrumentos raros. As espécies mais afastadas poderão ser substituídas paulatinamente, conforme a necessidade, e seguindo a ordenação das massas arbóreas do plano como um todo. As espécies frutíferas de menor porte, que podem ser transplantadas em outros locais, foram  retiradas do entorno das edificações e remanejadas, sendo substituídas por massas de vegetação arbórea nativas do Sistema Atlântico de Vegetação,  tais como Tabebuia chrysotricha, Tibouchina mutabillis, Ceiba erianthos e palmeiras como o palmito (Euterpe edulis) e Syagrus romanzoffiana,  todas de alto valor paisagístico. Além do sentido plástico que se pretende pelos cuidados com a ordenação dos espaços de composição e das associações florísticas, o projeto busca atender as necessidades de restauração e recuperação dessa paisagem cultural com uma consciência histórica.

Corte anfiteatro
Imagem dos autores do projeto


Do promenade à Via Láctea e ao anfiteatro

Para ocupação da encosta que surge como prolongamento do terreno, propõe-se, em primeiro lugar, a escavação do local e a retirada do lixo acumulado ali ao longo dos anos para que parte do antigo  muro possa ressurgir com suas arcadas. O próprio “zigue-zague” do muro definiu o desenho para a ocupação desta encosta. O  leitmotif  da linha quebrada surge no percurso dos decks em madeira e convida a movimentar-se para a direita e para a esquerda, e juntamente com a  própria variação de nível do terreno, anula um sentido unidirecional. Pequenas “ilhas” de parada surgem entre as pontes suspensas em meio a encosta recoberta com uma massa de vegetação cuidadosamente escolhida, com porte adequado para a não obliteração das  vistas, com espécies de Mata Atlântica que não podem faltar na composição de reflorestamentos heterogêneos planejados para recuperação de áreas degradadas. (Peschieria fuchsiaefolia, Jacaranda puberula, Dictyoloma vandellianum, Cecropia hololeuca, Cordia superba, Rapanea ferruginea, Tibouchina mutabilis, Syagrus romanzoffiana, Euterpe edulis – para as de maior porte. Para as de menor porte: Erythrina speciosa, Eugenia uniflora, Eugenia involucrata, Pithecolobium tortum,Stifftia crysantha). A própria conformação do antigo muro de pedras, a partir da extensão do deck do promenade que forma o mirante projetado, sugere neste ponto um enclave como que escavado na rocha. Esse espaço de estadia, denominado Buraco Negro, acolhe o visitante a parar, aprender e a refletir um pouco mais sobre a astronomia através de projeções no teto desta pequena “caverna”. Mais adiante, atingindo a cota 25, o espaço se abre para a Praça da Luz que, através de equipamentos interativos instalados num grande muro de pedras, apresenta a temática da luz e da cor (Mural do Diagrama de Hertzsprung Russel).

Corte Via Láctea
Imagem dos autores do projeto


Finalmente chegamos a grande Via Láctea: que foi desenhada como  uma via mesmo, um caminho projetado num piso negro com  a utilização da fibra ótica como recurso especial de iluminação para a produção de um efeito de céu noturno estrelado. A nossa Galáxia, ali representada, interage com o caminhar do visitante que, conforme vai pisando no chão, algumas das constelações mais conhecidas vão acendendo no piso. Uma espécie de brincadeira que procura, paulatinamente, configurar um “mapa” do céu. Ao fim do passeio “sideral”,  o caminho retoma a configuração de ponte flutuante em madeira até atingir o anfiteatro no final do percurso, local de socialização do jardim. Nesse espaço, recoberto pelo “teto” de um bambuzal, o circuito se fecha,  e a partir do amplo deck de chegada que abraça o anfiteatro, o caminhante pode optar entre retornar ao ponto de partida – o Centro de Visitantes -  ou subir através de um arranjo de platôs em escadas até o terraço do Museu, ou retomar o caminho de volta ao bosque da encosta, através de um atalho junto a antiga muralha, atingindo o Buraco Negro. Ainda neste deck serão instalados equipamentos interativos relacionados às ondas sonoras.

Corte/ fachada principal
Imagem dos autores do projeto


Conclusão

A deambulação, o descanso apaziguador da vida cotidiana, os raios de luz por entre as frestas das árvores, o canto dos pássaros, o coaxar de uma rã no interior de uma bromélia, o aroma de terra molhada,  o perfume do frescor da mata que se solta, as cores fugidias das flores, o movimento calmo da relva, o balançar repousante de um canteiro de gramíneas,  o murmúrio da água que se desprende, são as coisas mais simples, mas raras em nosso tempo e na vida moderna.  De tão simples que são não as entendemos, muitas vezes, como a concretização de uma idéia, um conceito, mas tal como  mostramos neste memorial descritivo, elas não aparecem espontaneamente. São idealizadas, pensadas a partir de um conceito, e somente podem ser construídas a partir de um conjunto de técnicas e dispositivos complexos que criam condições para que o jardim, o espaço das coisas simples, aconteça.

Mapa: acessos e setorização
Imagem dos autores do projeto

Planta Geral
Imagem dos autores do projeto

Planta Paisagismo
Imagem dos autores do projeto

ficha técnica

Arquiteta Responsável
Anelice Lober - arquiteta e paisagista

Co-autores do projeto
Ruth Braun - arquiteta e paisagista
Daniele Ruas - arquiteta
Ricardo Costa - arquiteto
Rafael Veiga - arquiteto
Marcus Venanzoni - arquiteto
Pedro Newlands - arquiteto
Gustavo Aguillar - designer

source
Organização do concurso
Rio de Janeiro RJ Brasil

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