Este projeto foi um dos útimos realizados durante minha sociedade com Héctor Vigliecca, ainda na Padovano & Vigliecca Arquitetos, para um casal jovem de amigos que eram os proprietários de um galpão que acabou sendo demolido, cedendo espaço para um terreno longo e relativamente estreito (10 X 50m.), num bairro da zona sul em São Paulo.
O fato do terreno ter esse formato nós levou a pensar numa solução igualmente "esticada", com um eixo/cobertura que criou a possibilidade de uma iluminação natural ao longo do corredor que percorre a casa da entrada até a piscina e área de lazer. O eixo é definido pelas duas alas (íntima e serviços) da casa, que é térrea, com exceção de um mezanino a ser utilizado como área íntima da família (home theater).
Duas águas que cobrem essas duas faxas laterais as protegem através de beirais, que, conjugadas com o grande telhado central, deram à casa uma aparência acolhedora e ao mesmo tempo dinâmica. Na escolha de materiais, essa mesma hibridez foi realçada: revestimento em tijolo feito à mão nas fachadas, estrutura em aço e telhados com a manta impermeabilizante Evalon, numa de suas primeiras aplicações no país.
O formato irregular do terreno foi um convite a trabalhar com ligeiras discrepãncias geométricas, retirando o carater serial de residências com base a uma malha regular, ortogonal, e introduzindo certa liquidez espacial, especialmente pela inclinação longitudinal da cobertura do eixo que levou os pilares a terem uma inclinação de 3º com relação ao piso, uma sutil referência à inclinação ascendente do terreno, como Wright fez em Taliesin.
Os telhados se apoiam em pilares de aço inclinados a partir de cada seção, ora dois, ora três ou quatro em número, a partir das colinas inclinadas em concreto armado, revestido com massa corrida ou tijolos. Hoje, conversam com as Ravenalas que proliferaram ao longo dos anos, junto ao muro do fundo do jardim, ao redor da piscina.
O casal saiu da casa, mudou para outra cidade e acabou se separando. Agora, o antigo proprietário vai voltar a morar nela com sua nova esposa e um dos dois filhos do primeiro casamento, exigindo algumas pequenas alterações no mobiliário interno, que estão sendo realizadas, sem descaracterizar a casa e sua arquitetura.
Daí a necessidade de uma releitura de uma casa, quase vinte anos mais tarde, que marcou uma transição na linguagem arquitetônica adotada, além de uma mudança na minha própria carreira profissional e acadêmica, em busca da complexidade e da sustentabilidade.
sobre o autor
Bruno Roberto Padovano é arquiteto e professor da FAU USP.