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Dentre os acontecimentos do Rio+20, Roberto Segre chama a atenção para um projeto "frágil e sustentável", da arquiteta Carla Juaçaba e da cenógrafa Bia Lessa, que teve participação secundária no evento, mas conseguiu transmitir sua mensagem

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SEGRE, Roberto. Pavilhão Humanidade 2012. Uma arquitetura frágil e sustentável no evento Rio+20. Projetos, São Paulo, ano 12, n. 138-139.02, Vitruvius, jun. 2012 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/12.138-139/4403>.


Depois de grandes expectativas, acabaram as duas frenéticas semanas de intensas atividades que definiram a vida do Rio de Janeiro entre os dias 11 e 22 de junho de 2012. Os extremos vivenciados foram os infinitos engarrafamentos, as sirenes policiais dia e noite, a multidão sempre presente no centro e no Aterro de Flamengo; e as férias forçadas de estudantes, professores e empregados públicos nos três dias das atividades oficiais mais importantes da Conferência da ONU sobre desenvolvimento sustentável, a Rio+20.

Sem dúvida, a capital carioca transformou-se em uma Babel de raças, culturas, etnias, sociedades, cujos participantes chegaram de toda parte do mundo para apoiar as necessárias transformações das políticas públicas dos Estados sobre a necessidade de preservar a natureza, o ambiente urbano e natural, controlar a contaminação e a degradação das metrópoles, territórios, águas, florestas e oceanos da nossa sofrida Terra.

A cidade foi o cenário das múltiplas e contraditórias atividades desenvolvidas nestas duas semanas. Se por um lado, as distantes e isoladas atividades oficiais aconteceram na velha megaestrutura dos anos 1970 do Riocentro na Barra de Tijuca, que congregaram presidentes – desde o veterano cubano Raúl Castro até François Hollande, recentemente eleito na França –, ministros, embaixadores e funcionários internacionais; por outro, os representantes da sociedade civil que participaram na paralela Cúpula dos Povos se reuniram no Aterro de Flamengo.

E foram contínuos os protestos públicos contra os países do Primeiro Mundo, responsáveis em grande parte da degradação e espoliação dos recursos do Planeta com a dinâmica do consumismo infinito gerado pela economia do sistema capitalista; e que no momento não desejam pagar as contas para reverter um inexorável processo de crise ambiental que vai incidir nas condições de vida das futuras gerações. Protestos contra a formulação de uma economia verde que favorece os países desenvolvidos, e que não chega até os milhões de habitantes que moram em condições infra-humanas.

Assim, na Avenida Rio Branco, desfilaram 80 mil pessoas presididas por jovens mulheres ativistas com os seios descobertos, para demonstrar a necessidade de lutar pelo “futuro que necessitamos”, e não pelo “futuro que queremos”, estabelecido pelos outros. E a nota mais original do evento foi à imagem dos índios amazônicos na Esplanada de Santo Antônio, tentando acertar com arcos e flechas, os funcionários do BNDES, indignados pelo apoio da instituição à construção da barragem de Belo Monte que vai afetar o equilíbrio ecológico da região onde eles moram.

Apesar dos 150 milhões de dólares gastos para a celebração do evento, a arquitetura não teve uma significativa presença nele. Foram utilizados os prédios existentes na cidade e para as atividades desenvolvidas no Aterro do Flamengo, se levantaram as tradicionais carpas, tendas e leves pavilhões provisórios, sem uma particular significação estética. E foi uma surpresa geral quando surgiu, à grande velocidade, a monumental estrutura metálica de leves andaimes, criando um volume virtual de 170 metros de comprimento, 30 de largura e 20 de altura; sobre o sólido e monolítico forte de Copacabana, para conter o pavilhão Humanidade 2012, com um conjunto de salas expositivas, uma biblioteca com 10 mil livros e um auditório para 500 pessoas. Projeto elaborado pela jovem arquiteta carioca Carla Juaçaba, com a participação, no desenho das salas temáticas, da veterana Bia Lessa.

Considero que foi bem sucedida à seleção do local, já que permitiu o fácil acesso do numeroso público que visitou o pavilhão – 200 mil pessoas em dez dias –, o que não teria acontecido se estivesse alocado na Barra de Tijuca. Também pela significação simbólica internacional de Copacabana, tradicional cartão postal da “Cidade Maravilhosa”. E no terraço do edifício, se tinha uma vista inédita do mar, da praia, do muro de prédios que identificam o bairro, dos morros próximos e as favelas cariocas, sempre presentes. Os visitantes, depois de assistir as explicações sobre o drama ecológico e ambiental que vivemos no mundo hoje; na chegada ao terraço, compreenderiam a significação da eterna natureza, a fragilidade do homem, e a necessidade da interação entre a paisagem e a cidade.

E poderíamos adicionar duas metáforas subliminais: uma edificação sustentável, provisória e leve, expressão da liberdade e da participação popular, construída sobre um forte militar, serviria de lembrança aos oficiais que desde ali, em 1922, levantaram as armas contra o governo conservador da República Velha. Ao mesmo tempo, foi uma homenagem a Oscar Niemeyer, que desde a janela do seu escritório na Avenida Atlântica – onde cotidianamente continua assistindo com os seus 104 anos – olharia para a megaestrutura que o lembraria da sua presença no júri que nos anos setenta premiou o projeto de Piano e Rogers para o Centro Pompidou em Paris.

Não deixa de surpreender a genialidade de Carla Juaçaba, que soube transformar a sua experiência na escala residencial – os projetos de casas minimalistas, realizadas com materiais leves e industrializados – nesta complexa estrutura de andaimes de 500 toneladas totalmente desmontável, que compõe um edifício virtual; e no interior da aberta e transparente malha metálica, colocou suspensos no ar os leves containers expositivos, de materiais recicláveis, com uma sala biblioteca de 20x20 metros com 10 mil livros – que representam o saber brasileiro de prestigiosas personalidades –; e o auditório para 500 pessoas, com a realização de múltiplas atividades culturais e significativos debates sobre os problemas ecológicos e ambientais do mundo atual.

Definiu-se um sistema de rampas para a circulação do público que interconectam as salas entre si e organizam um percurso contínuo desde o térreo – identificado pela presença de uma densa vegetação que representa a Amazônia e a Mata Atlântica –; até chegar ao ar livre do contemplativo terraço panorâmico, de 1140 m2. Sendo o pavilhão a obra arquitetônica mais importante do evento Rio+20, realizado com o patrocínio da Fiesp, Firjan, Sesi-Senai, Fundação Roberto Marinho, a Prefeitura do Rio e outras instituições, resulta inadmissível o esquecimento do nome da arquiteta, tanto nos folhetos oficiais entregues ao público participante, quanto nos artigos publicados nos jornais; em particular, o silêncio notável de uma personalidade tão sensível e prestigiosa como é Zuenir Ventura, no recente texto que apareceu no jornal O Globo.

Sem dúvida, a equipe de Carla Juaçaba e Bia Lessa foi muito bem sucedida. Primeiro, por imaginar uma complexa construção que devia permanecer somente por dez dias neste significativo e perdurável espaço militar. Segundo, por achar um embasamento material econômico, flexível, de fácil montagem e desmontagem, ou seja sustentável; e ao mesmo tempo capaz de conter um conjunto de espaços tão dissímiles e diversificados. Terceiro, por criar no público uma experiência inédita, cheia de surpresas e de impactos visuais, espaciais, mediáticos, em uma sequência de sons, cores, dados, informações e percepções sensoriais. Se por um lado, a promenade architectural dentro da estrutura, compreendia a circulação nas rampas, sustentadas pela frágil estrutura dos andaimes, percorridas ao ar livre, em um alternar-se de dentro e fora, de espaços herméticos e da constante visão da paisagem de Copacabana, sob o vento sol e chuva; por outro, foi impactante a diversidade de técnicas expositivas para convencer aos visitantes das certezas das mensagens.

E foram muito originais as salas sobre a biodiversidade, a particularidade da natureza brasileira, a aceleração da ação humana negativa sobre a Terra nos séculos recentes, as contradições do mundo em que vivemos; a capacidade infinita do homem de desenvolver a tecnologia e os conhecimentos científicos que poderiam ajudar a configurar um mundo melhor; e a necessidade de tomar consciência da participação ativa de todos os membros da sociedade para construir um futuro positivo para as novas gerações. No infinito bombardeio de imagens e textos, o que mais fica na memória é uma frase de Celso Furtado:

“O desafio que se coloca no umbral do século XXI é nada menos do que mudar o curso da civilização; deslocar o seu eixo da lógica dos meios a serviço da acumulação num curto horizonte de tempo para a lógica dos fins em função do bem-estar social, do exercício da liberdade e da cooperação entre os povos.”

Se Carla Juaçaba e Bia Lessa, neste frágil e fugaz pavilhão, conseguiram convencer destas ideias os 200 mil visitantes que o percorreram, valeu a pena o duro esforço realizado.

sobre o autor

Roberto Segre, arquiteto e crítico de arquitetura, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

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