No Brasil, as discussões públicas sobre a cidade se dão através dos políticos. Talvez não só no Brasil, mas enfim... Estou, na verdade, procurando por um fórum de discussão. Ocorreu-me a revista Minha Cidade, do portal Vitruvius, por sugestão de um grande colega (1).
O espaço acadêmico, como um dia disse o meu velho professor Joaquim Guedes, é um dos mais ricos espaços dessa discussão. Na época me parecia absolutamente irreal. Hoje, depois de uma “vasta” experiência de ensino de apenas dois anos, devo dizer que ele tinha razão.
Por exemplo: em que fórum pode-se discutir a questão do patrimônio modernista de modo a que se proponha alguma intervenção? No Docomomo, talvez! Mas por que não no espaço acadêmico, na apresentação dos Trabalhos de Final de Graduação dos Cursos de Arquitetura e Urbanismo?
Tema proposto por um aluno: um edifício multifuncional no Parque Cecap (2) – projeto de Artigas, Fabio Penteado e Paulo Mendes da Rocha – dentro de um tema maior que se chamaria Requalificação urbana do Parque Cecap.
Na proposta estava embutida uma critica: o urbanismo modernista, com suas máquinas de morar, de trabalhar e de se divertir, talvez estivesse sendo reavaliado por esse aluno. Essa critica teria que resultar em um projeto a ser exposto em uma banca examinadora, que lhe conferiria ou não o titulo de Arquiteto e Urbanista.
Artigas, Paulo Mendes, Fabio Penteado, habitação de interesse social, modernismo... Quantas palavras sacralizadas e unidas em uma única situação. E sim, um problema concreto: o que acontece no Parque Cecap em 2011, quarenta anos depois de sua construção? E o que deveria acontecer?
Em outro lugar da metrópole paulista, na Mooca, a aluna chega com a intenção de elaborar um projeto para o memorial do bairro (3). Talvez movida pela agonia frente à onda destruidora que assola o bairro com a construção de torres residenciais, de gosto duvidoso, que ocupam o lugar de antigos galpões industriais, tão dignos quanto abandonados.
Na Luz, bairro sofisticado em algum momento da história quando esteve ligado ao progresso trazido pelo café e pela indústria, burguês, rico, os projetos de remodelação do bairro, dentro de políticas públicas de requalificação urbana, visando uma valorização da região, inquietaram outra aluna, que pretendia de alguma forma tirar partido do que o lugar tinha de mais tradicional: o comércio de eletrônicos e a oferta de cursos profissionalizantes (4).
E saindo da cidade, bem em frente da estação Imigrante do metrô, a aluna se inquieta com a falta de espaços livres, insistindo em projetar um empreendimento multifuncional. Onde está o espaço do público?, provavelmente indagava. (5)
nota
1
A publicação deste texto para uma discussão pública é sugestão do professor e arquiteto Edgard Tadeu Couto, que participou de algumas das bancas.
2
Parque CECAP Guarulhos – os espacos institucionais: intervencao
Thiago Bergamini Silva
3
Memorial do Bairro da Mooca
Jaqueline Lemos Prina
4
Centro de Arte Digital LUZ
Tassia de los Reyes Clemente
5
Conjunto Multifuncional
Jessika Migani Rabello
sobre a autora
Assunta Viola, arquiteta (1991) e mestre (2009) em Arquitetura pela FAUUSP, arquiteta na área de Projetos de Recuperacao Urbana de areas degradadas e favelas da CDHU de 2007-2010, e na area de Desenvolvimento de Produtos da CDHU, em 2011, professora de projetos na graducao e na especializacao na FiamFaam, desde 2010. Socia do escritório STUDIO ARCH MXXVI desde 1999, trabalhou com os arquitetos Benedito Abbud (1992-1993), Massimiliano Fuksas (1994-1997) e Joaquim Guedes (1998-2000). Autora do livro `Habitar em São Paulo: Passado e qual futuro.`, 2010.