O Centro Paula Souza é a instituição responsável pelo ensino técnico no Estado de São Paulo, concentrando sob sua administração 268 escolas e faculdades, com mais de 280 mil estudantes. Sua relevância social e cultural levou o Governo do Estado de São Paulo a usá-lo em sua estratégia de participar de modo definitivo da ocupação do Bairro da Luz, uma área fundamental da geografia física e social da cidade de São Paulo, vizinho ao centro histórico, que, mesmo sendo uma região que se movimenta com imensa vitalidade durante o dia com seu ativo comércio, não conseguiu superar até hoje o estigma de decadência urbana em que se transformou nas últimas décadas. A Luz foi uma das regiões que mais recebeu investimentos públicos desde a década de 1970, seja em infraestrutura de transportes, seja em equipamentos de cultura, abrigando hoje instituições da importância da Pinacoteca do Estado e Museu da língua Portuguesa, projetados por Paulo Mendes da Rocha; Sala São Paulo, sede da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, Sesc e, mais recentemente, o Centro de Dança de Herzog & de Meuron ainda não executado.
O projeto nasce com a aquisição pelo Governo de uma quadra de quase 7.000 m2, ocupada por galpões subutilizados; alguns vazios; pequenas casas deterioradas e um edifício comercial de sete andares, única pré-existência incorporada ao conjunto arquitetônico final. Tratava-se de uma possibilidade única na malha urbana da área central de se trabalhar com uma quadra total, invertendo a lógica fundiária da região definida por pequenos lotes.
Para uma tal condição urbana, o raciocínio inicial foi o de gerar um chão público num dos setores mais densos do centro da cidade, uma espécie de praça para articular os dois importantes equipamentos que compunham o programa: a sede do Centro Paula Souza e uma grande Escola Técnica, que hoje abriga cursos de hotelaria e gastronomia. Buscamos inverter a lógica espacial da região, fazendo explodir seu miolo de quadra com um potente vazio, sobre os quais os edifícios deveriam flutuar. Um respiro urbano, quem sabe, numa área onde públicas são apenas as calçadas, mas também um complexo edificado de referência para a cidade.
Considerando a orientação dos órgãos de patrimônio que requeriam para a quadra a manutenção de sua implantação histórica, colada nos alinhamentos, o fizemos de modo hibrido, com parte das construções chegando às calçadas e parte deixando-a permeável. Entendemos que a conquista de um raro vazio na região virá enriquecer seu processo de requalificação, tão necessário aos processos de renovação das aglomerações centrais.
O programa dividiu-se em dois conjuntos principais: a Escola Técnica e o Edifício Sede do Centro Paula Souza, aos quais se juntaram alguns anexos: o edifício pré-existente, fazendo parte da escola, uma quadra de esportes suspensa e o volume dos auditórios. Todos, alinhavados pela praça e o jardim. O edifício sede, definido por um corpo laminar de 77,5 metros de comprimento concentra as atividades administrativas em cinco pavimentos e um museu sobre a arqueologia da área no embasamento, relacionando-se com a rua. Destaque-se que a pesquisa arqueológica realizada na quadra por solicitação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan encontrou achados importantes sobre a ocupação histórica do centro da cidade, material que estará exposto nesse museu.
Os demais edifícios ligados à escola – edifício didático, laboratórios, auditórios e quadra de esporte suspensa – formam um conjunto mais plural que se articula em vários níveis sobre a praça, provocando uma promenade que parece trazer a rua para dentro da quadra. O edifício escolar reforça a ideia, com seus dois blocos entorno de um átrio central envolvidos por um sistema de passarelas. Nesses passeios, um único nível, composto por um mezanino sinuoso sob a escola e uma passarela, faz a conexão entre os dois usos: Sede e Escola, e se apresenta como um segundo chão publico. Os demais elementos surgem como formas autônomas no espaço, até pela possibilidade de uso independente pela população.
A estrutura, prioritariamente em concreto armado, é o elemento organizador do desenho, mostrando-se por vezes de modo expressivo, como no suporte da quadra suspensa ou no mezanino sinuoso da escola. O sistema básico é composto por lajes em grelha com secção média de 40 e 45 cm com capitéis. Como linguagem ela aproxima os vários edifícios mas procura criar identidades a cada um deles: o edifício sede, laminar, constrói balanços em todas as faces e repousa sobre a caixa de vidro do museus; o bloco de ensino, destaca as passarelas externas e o mezanino alinhava os pilotis; os auditórios formam um maciço no solo e a quadra flutua ancoradas em dois grandes pilares de 30 metros. Alguns elementos em estrutura metálica se destacam das grandes massas: as coberturas, passarela e o mezanino do Museu.
Um dos elementos centrais do projeto são as duas coberturas que conectam os volumes na cota de 30 metros, gabarito máximo permitido para o bairro. Sua concepção partiu de uma definição urbanística que solicitou o fechamento da quadra nos alinhamentos, o que optamos por fazer pelo espaço aéreo, por assim dizer, envolvendo os edifícios nas faces onde esses se abrem para as calçadas. Tecnicamente, em ambas, a estrutura é composta por duas vigas de aço longitudinais com 0,95 metros de secção, que cumprem vãos variados de até 30,00 metros, mas com módulos de apoio distintos em cada uma delas. Para cobri-las a solução adotada foram telhas metálicas perfuradas que pudessem funcionar como um elemento de sombreamento para a praça e em dias da chuva, deixando pulverizar as águas sem necessidade de captação.
Para as diversas fachadas adotamos sistemas de proteção distintos, cada qual respondendo à controles específicos da luz solar. Destacamos os brise soleil tubulares, que contornam os edifícios didáticos e biblioteca, além de envolverem a quadra de esportes homogeneizando o conjunto e as cortinas em aço inox no edifício administrativo, escolhidas por possibilitar um controle constante e homogêneo da luminosidade e também desenhar o volume como um sólido.
A inserção de um equipamento que se pretende transformador da sociabilidade e da urbanidade é, de certo modo, uma aposta, em especial por ser uma obra ainda não conectada a um plano mais amplo para a região. A par da fragilidade da arquitetura em se ocupar de temas tão dramáticos, acreditamos, no entanto, que a cidade vai se constituindo por seus fatos significativos, entre os quais a arquitetura, para não repetirmos a velha ideia que ela própria é a cidade à sua escala.
ficha técnica
projeto
Francisco Spadoni e Pedro Taddei Neto
cliente
Centro Paula Souza - Governo do Estado de São Paulo
gestão do projeto
Fupam – Fundação para a Pesquisa em Arquitetura e Ambiente (FAUUSP)
coordenador
Tiago Andrade
coordenador assistente
Bruno Fernandes
colaboradores
André Rua, Carolina Mina Fukumoto, Cristiane Kimie Maeda, Fabiana Benine, Fernando Shigueo Fujihara, George Ferreira, Jaime Vega, Marcos da Costa Sartori, Marina Crespo, Mayra Simone dos Santos, Natalia Turri Lorenzo, Paulo Catto, Sabrina Chibani, Wellington Teles.
consultores
Fundação: APOIO Assessoria e Projeto de Fundações
Estrutura: ESTRUCALC Engenheiros Associados
Elétrica/hidráulica: PHE Engenharia de Projetos Hidráulicos e Elétricos
Drenagem: MBM Serviços de Engenharia
Impermeabilização: PROASSP Assessoria e Projeto
Ar condicionado: PRORAC Tecnologia Térmica
Acústica: João Gualberto Baring
Iluminação: Franco & Fortes Lighting Design
Paisagismo: Luciano Fiaschi Arquitetura Paisagística
Rendering: Ricardo Canton
Maquete: Fred e Carol Maquetes
construtora
ENGEFORM Engenharia
áreas
6.882,84 m2 / lote
29.490,00 m2 / construída
datas
2009-2011: projeto
2011-2013: construção
localização
Rua dos Andradas 140
São Paulo SP Brasil