Nos últimos 10 anos houve uma grande e feliz retomada da realização de concursos públicos de arquitetura no Brasil. Além de democrático, o concurso permite uma escolha mais adequada do melhor projeto, através da qualidade técnica, em oposição das outras formas licitatórias, que na sua maioria avaliam somente o menor preço. Resultado disso é o aparecimento de muitos novos escritórios e arquitetos de qualidade.
Grande parte do resultado destes concursos, principalmente os organizados pelos estados do Rio de Janeiro e São Paulo apresenta uma linguagem arquitetônica muito parecida. Em parte isso se deve à grande participação de arquitetos paulistas nos concursos, e da pequena participação de arquitetos cariocas. Porém, curiosamente, arquitetos de outros estados, e mesmo do Rio de Janeiro, estão adotando os mesmos conceitos estéticos e/ou formais, tornando os projetos apresentados nos concursos muito similares.
Ênfase na técnica construtiva, valorização da estrutura, racionalização. Projetos geralmente formados por apenas um ou dois volumes prismáticos de base quadrada ou retangular. Fachadas protegidas por brises. Características que remetem a produção moderna da escola paulista, e se repetem na maioria dos projetos atuais apresentados nos concursos públicos.
Se o objetivo é se formar uma linguagem que caracterize a nova arquitetura brasileira, baseada na nossa história e no regionalismo, nada mais justo que a produção arquitetônica contemporânea paulista seja baseada nos grandes ícones paulistas, como Vilanova Artigas. Mas como justificar que um júri de arquitetos cariocas escolha apenas projetos que seguem a mesma linha dessa nova escola paulista? Esse foi o resultado dos 18 projetos premiados no concurso para o Centro Cultural de Eventos e Exposições para as cidades de Cabo Frio, Friburgo e Parati.
Todos são excelentes projetos, mas acredito que está se formando uma linguagem única para a arquitetura brasileira. Para ganhar um concurso é necessário seguir essa linguagem, não há espaço para inovações.
Isso se torna evidente quando comparamos os projetos ganhadores dos concursos brasileiros com os projetos ganhadores de concursos realizados fora do Brasil. A diversidade das propostas apresentadas e das propostas ganhadoras fora do Brasil é muito grande.
Estamos criando uma cultura preconceituosa, limitando a criatividade, as novas idéias, a evolução da arquitetura e da engenharia. Ao mesmo tempo estamos permitindo a entrada de arquitetos estrangeiros no Brasil, através de contratação direta, trazendo projetos radicalmente impactantes, inovadores, diferenciados, e infelizmente algumas vezes fugindo totalmente do contexto de onde está sendo implantado.
Somente os pop stars da arquitetura mundial podem criar algo diferente no Brasil? Seguindo esse pensamento, Zaha Hadid, Renzo Piano, Norman Foster, Santiago Calatrava, Diller+Scoffidio+Renfro, Christian de Potzamparc, UnStudio, entre outros jamais teriam qualquer chance de ganhar um concurso no Brasil?
Há muitos bons novos arquitetos no Rio de Janeiro, muitos procurando uma nova linguagem para a arquitetura carioca, e se essa linguagem deve fazer referencia ao nosso patrimônio histórico e cultural, às características de uma arquitetura local, e mesmo se inspirar no legado deixado pelo modernismo, porque não buscar referências em Oscar Niemeyer, Affonso Eduardo Reidy, Irmãos Roberto e Sérgio Bernardes?
Gostaria muito que os arquitetos que são convidados para o júri dos concursos, pelo menos no Rio de Janeiro, pensassem além da “caixa”.
sobre o arquiteto
Marco Milazzo é coordenador e professor do Curso de Arquitetura da Universidade Estácio de Sá, mestre em arquitetura e urbanismo pela UFRJ, sócio diretor do escritório Marco Milazzo Arquitetos Associados.