Your browser is out-of-date.

In order to have a more interesting navigation, we suggest upgrading your browser, clicking in one of the following links.
All browsers are free and easy to install.

 
  • in vitruvius
    • in magazines
    • in journal
  • \/
  •  

research

magazines

projects ISSN 2595-4245

abstracts

how to quote

CALLIARI, Mauro. O Parque da Juventude. O poder da ressignificação. Projetos, São Paulo, ano 14, n. 162.03, Vitruvius, jul. 2014 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/14.162/5213>.


[projeto arquitetônico e urbanístico]
[projeto paisagístico]

No domingo nublado do outono de 2014 o parque estava a pleno vapor.

Na pista de skate, o pessoal fazia fila para exibir suas manobras radicais, nos campos de futebol, as botinadas pareciam ser parte normal da contenda entre rapazes uniformizados com camisas de times. O gramado tinha espaço de sobra para grupos de famílias, namorados e jovens. Cada uma dessas cenas parecia acontecer normalmente para seus protagonistas, mas um visitante ocasional não poderia deixar de notar a paisagem do entorno: os muros, que remetem ao antigo presídio, como uma lembrança permanente de um passado difícil de ser esquecido.

Os muros, uma presença constante no parque
Foto Alex Calliari

Do presídio modelo até a tragédia

Presente no imaginário da cidade desde o início do século 20, o presídio ganharia triste notoriedade mundial com o massacre de 111 presos em 1992.

Era o marco trágico da decadência de um projeto que começou como um presídio-modelo, e que durou de 1920 até a década de 1940, o Instituto de Regeneração, construído com tal apuro que a construção dos dois pavilhões iniciais ficou a cargo do escritório de Ramos de Azevedo. Ali, os próprios presos trabalhavam na cozinha, lavanderia e até na horta.

A “nova penitenciária” no ano da inauguração, 1920 [O Estado de São Paulo, 21 de abril de 1920, p. 3. Detalhe.]

A partir da década de 1940, o complexo, já com a incorporação da Casa de Detenção e aumento da capacidade, seguiu a sina dos presídios brasileiros – superlotação, rebeliões, maus tratos, até o massacre de 1992.

O projeto do parque

Em 2002, o presídio foi finalmente fechado. Os presos remanescentes foram transferidos para outros locais e o Governo de Estado decidiu construir um parque no local dos prédios a serem implodidos. O projeto foi dividido em três fases de execução: “Parque Esportivo”, com instalações esportivas, inauguração em 2003; “Parque Central”, o miolo do parque, onde estão as antigas passarelas dos vigias do presídio, 2004; “Parque Institucional”, com Biblioteca, ETECs e entrada a partir do metrô, 2007.

Parque da Juventude, projeto arquitetônico de Aflalo & Gasperini, projeto paisagístico de Rosa Grena Kliass e José Luiz Brenna [Aflalo e Gasperini]

Caminhando no parque

O Parque da Juventude parece ser uma unanimidade.

A comissão do Prêmio Rogelio Salmona o considerou um dos melhores espaços públicos criados no Brasil. Em uma reportagem, um grupo de arquitetos o considerou o segundo melhor parque de São Paulo (1). As 40 mil pessoas que visitam o parque por mês estão jogando bola, passeando e freqüentando a biblioteca. Uma programação cultural ativa garante a diversidade de usos. O espaço é limpo, amplo, bem cuidado.

O prédio da biblioteca, funcional, agradável e muito usado
Foto Alex Calliari

As visitas confirmaram tudo isso, mas talvez se possa destacar algumas qualidades que não se encontram facilmente em outros lugares.

A primeira é a integração com o Metrô, um luxo que o mais desejado parque da cidade, o Ibirapuera, não tem. A estação Carandiru fica bem em frente. Segundo o metrô, é uma estação com pouco movimento, 14 mil passageiros apenas por dia, uma vez que não há grande concentração de comércio ou habitação na vizinhança, mas ela permite acesso direto ao parque.

Parque da Juventude e estação de metrô Carandiru
Foto Lukaas [Wikimedia Commons]

A segunda grande qualidade é a feliz decisão de manter o significado simbólico do lugar no projeto. Os dois edifícios que foram convertidos em escolas e centro cultural são justamente os pavilhões 4 e 7, aqueles que segundo o médico Drauzio Varella, em seu já clássico livro Estação Carandiru, talvez tenham sido os menos afetados pela barbárie em que se tornou o presídio nas décadas de 1980 e 1990.

O “Parque Central”
Foto Alex Calliari

Se os pavilhões são a memória concentrada da convivência forçada e desumana, os muros são a memória dispersa da vigilância. Não dá para não se comover andando por cima do muro preservado, por cima das copas das árvores, imaginando o trabalho dos guardas da prisão. De um lado, a prisão, do outro, a cidade. Na época do presídio, os guardas se recusavam a devolver a bola aos presos, caso ela caísse na passarela do muro. Questão de ética interna. Hoje, quem manda no parque são os jogadores.

Pavilhões 4 e 7 após o retrofit
Foto Alex Calliari

Esses elementos se integram em um projeto de paisagismo agradável, que mistura arborização e grandes espaços e contempla, lado a lado, usos tão distintos quanto a leitura, o piquenique, a contemplação e até o sempre curioso swordplay, em que os participantes simulam uma “luta de armas medievais”, como ocorreu no dia de uma visita.

O “Parque Central”
Foto Alex Calliari

Se há algo que pode melhorar? Certamente. A equipe de manutenção terá trabalho com a conservação dos itens não padronizados. O córrego que cruza o parque é mal-cheiroso. Faltam lugares de comida – o café da biblioteca anda fechado e a memória do lugar merecia mais destaque. Em uma pesquisa feita pelo blog Vida afora, os usuários sugerem a instalação de bebedouros. O uso do skate padece de alguma organização, como em outras praças da cidade, para não se tornar hegemônico e ameaçador.

Mas, São Paulo fica melhor a cada projeto como esse, que simboliza a mudança de significados ao longo de sua história e que oferece às pessoas um espaço público de qualidade, simbólico, aprazível e acessível.

Os muros no perímetro do parque
Foto Alex Calliari

notas

NE – Esse é o primeiro de uma série de cinco artigos, publicados mensalmente, sobre os cinco projetos brasileiros selecionados para a primeira edição do Prêmio Rogelio Salmona, criado pela fundação leva o nome do arquiteto colombiano, morto em 2003, para reconhecer projetos latino-americanos que contemplam arquiteturas que geram espaços abertos /coletivos. Os projetos escolhidos do Brasil são os seguintes: Parque da Juventude, Terminal da Lapa, Praça Victor Civita, Escola Projeto Viver (vencedor geral), em São Paulo; e Terminal Digital do Ensino, em São Caetano. Além de focar seu interesse na criação, o prêmio prioriza projetos testados por pelo menos cinco anos, o que justifica o período temporal entre os anos 2000 e 2008 dos projetos selecionados. O júri do Prêmio Rogelio Salmona 2014 foi composto por Silvia Arango (Região Andina), Fernando Diez (Região Cone Sul), Ruth Verde Zein (Região Brasil), Louise Noelle Gras (Região México, América Central e Caribe) e Hiroshi Naito. Os artigos publicados são os seguintes:

CALLIARI, Mauro. O Parque da Juventude. O poder da ressignificação. Projetos, São Paulo, ano 14, n. 162.03, Vitruvius, jun. 2014 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/14.162/5213>.

CALLIARI, Mauro. Terminal de ônibus da Lapa. Arquiteturizando a infraestrutura. Projetos, São Paulo, ano 14, n. 163.03, Vitruvius, jul. 2014 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/14.163/5252>.

CALLIARI, Mauro. Espaço Viver Melhor – Projeto Viver. A criação de um espaço de uso coletivo a partir de uma escola. Projetos, São Paulo, ano 14, n. 164.01, Vitruvius, ago. 2014 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/14.164/5265>.

CALLIARI, Mauro. Terminal Digital do Ensino, São Caetano do Sul. Um prédio que conversa com a cidade. Projetos, São Paulo, ano 14, n. 164.01, Vitruvius, set. 2014 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/14.165/5303>.

CALLIARI, Mauro. Praça Victor Civita. Um espaço público de qualidade numa antiga área degradada. Projetos, São Paulo, ano 14, n. 163.02, Vitruvius, out. 2014 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/14.166/5354>.

1
A reportagem mencionada é de Flávia Albuquerque, da Agência Brasil, de 22 de janeiro de 2009, e pode ser lida em <http://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/noticia/2009-01-22/estudo-aponta-parque-burle-marx-como-melhor-da-cidade-de-sao-paulo>. Além do Prêmio Rogelio Salmona, o parque também foi premiado, em 2004, na XIV Bienal Panamericana de Arquitectura de Quito, na categoria Arquitetura Paisagística, e como Projeto Premiado pelo Colégio de Arquitectos del Ecuador, Pichincha; e na Premiação Instituto de Arquitetos do Brasil Departamento de São Paulo IAB-SP como projeto premiado “Ex aequo”.

referências

Aflalo & Gasperini e Purarquitetura. Parque da Juventude <www.purarquitetura.arq.br/projeto.php?id=9>.

Blog Vida afora<www.vidaafora.com/2014/01/presidio-carandiru-parque-juventude.html>.

CARVALHO FILHO, Luiz Francisco. A prisão. São Paulo; Publifolha; 2002

EVELY, Gina e RESENDE, Tatiana. Teoria Crítica <http://teoriacritica13ufu.wordpress.com/category/gina-evelyn-e-tatiana-resende/>.

Governo do Estado de São Paulo. Parque da juventude <www.sejel.sp.gov.br/parquedajuventude>.

Prefeitura de São Paulo <www.saopaulo.sp.gov.br/conhecasp/turismo_parques_juventude>.

Prêmio Rogelio Salmona <www.fundacionrogeliosalmona.org/fundacion-rogelio-salmona/actividades/presencia/el-premio-rogelio-salmona>.

VILLAC, Maria Isabel. Prêmio APCA 2011 – Categoria “Obra de arquitetura em São Paulo”. Premiado: Biblioteca São Paulo / Aflalo e Gasperini + Dante Della Manna + Univers Design. Drops, São Paulo, ano 12, n. 051.06, Vitruvius, dez. 2011 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/drops/12.051/4152>.

sobre o autor

Mauro Calliari é administrador de empresas, mestre em urbanismo e consultor de organizações.

comments

162.03 prêmio salmona
abstracts
how to quote

languages

original: português

source

share

162

162.01 memory

The 9/11 Memorial Museum

162.02 paisagismo

Parque Restinga de Mambucaba

Eduardo Barra

newspaper


© 2000–2024 Vitruvius
All rights reserved

The sources are always responsible for the accuracy of the information provided