O Parque da Juventude é o resultado de um longo processo que se iniciou em 2008 com um concurso para transformação do Complexo do Carandiru – o maior complexo penitenciário da América Latina, superlotado e palco de inúmeras tragédias – em um espaço público para a comunidade com a criação de um grande parque, com edifícios institucionais e equipamentos de lazer.
Nossa proposta vencedora deste concurso incluía a remodelação de dois conjuntos de edifícios existentes nas extremidades da gleba, ligados por um parque com momentos distintos, sendo um de apelo esportivo e outro voltado ao lazer passivo e contemplação.
Ao longo de quase uma década, o parque foi implantado em 60% da área original, sendo que os 40% restantes ainda permanecem com uso carcerário. Durante este processo, dois pavilhões que garantiriam um importante espaço urbano da implantação original do presídio, foram demolidos.
Propusemos então a criação de um novo pavilhão, com tipologia horizontal, para restaurar o elemento constituído e gerador dos limites ao espaço perdido. Este pavilhão veio a se tornar a Biblioteca de São Paulo, empreendimento cultural de grande sucesso na sua proposta de integração da comunidade.
A valorização do entorno urbano do parque é evidente, principalmente pela simples troca de uma condição de exclusão e sofrimento como o presídio, por um espaço de inclusão e integração como o parque, na sua generosidade e qualidade ambiental, e seus equipamentos: escola profissionalizante (ETEC), Biblioteca de São Paulo, quadras esportivas etc.
A proposta buscou explorar também a presença do metrô, Estação Carandirú, vizinha do recinto, por conferir uma condição ímpar para um equipamento urbano deste porte, pois eleva a sua acessibilidade à escala metropolitana.
A comunidade circunvizinha é composta de zonas residenciais de diversos níveis sociais, além de corredores comerciais, tendo um grande conjunto de habitação social como vizinho direto ao parque, que se apresenta como a principal e única opção de lazer num raio de alguns quilômetros.
Os múltiplos recintos do parque permitem uma variedade de experiências espaciais quando se percorre seu eixo, atraindo usuários de faixas etárias e interesses diversos.
A partir da Av. Cruzeiro do Sul, encontramos a primeira ala do parque a qual chamamos de Parque Institucional onde sua praça de entrada, é um espaço monumental, pontuado pela presença da cidade e a linha de metrô, e pelos edifícios institucionais da escola e biblioteca; aqui encontramos também uma plateia e palco ao ar livre para eventos externos.
Em seguida cruzamos a parte sobre o córrego Carajás e entramos no Parque Central, local de contemplação passiva, projetado de forma a se apropriar de antigas ruínas do uso prisional e da exuberante vegetação que ali se desenvolveu ao longo dos anos de abandono desta área.
Finalmente, chegamos ao Parque Esportivo, densamente ocupado por quadras esportivas e equipamentos de apoio, por onde se acessa a Av. Zacchi Narchi, outra importante via de circulação da região.
Memorial descritivo
Área de grande importância urbanística para a cidade, o Parque da Juventude é um equipamento de escala a atender não somente o setor urbano em que se insere, mas também, pelas suas características de acessibilidade (Metrô, vias de acesso e terminais de transporte) a toda região metropolitana.
Por suas condições físicas e paisagísticas e visando o atendimento a demandas potenciais, o programa estabelecido resultou no Plano Diretor, proposta vencedora do Concurso Público realizado em 1999 pelo Governo do Estado e pelo IAB São Paulo.
O Parque é implantado no conjunto e áreas atualmente disponibilizadas pelo Estado, com aproximadamente 300.000m2, porção significativa da área total do objeto do referido concurso. Todo o projeto paisagístico foi realizado em parceria com a arquiteta Rosa Kliass.
As características físicas paisagísticas definiram três setores que receberão tratamentos diferenciados:
Parque Esportivo
Com configuração linear, de aproximadamente 380 metros de comprimento, este setor, com acesso pela Av. Zaki Narchi, faz a ligação desta via com o Parque Central.
O programa é composto por dez quadras poli-esportivas, pista para skate, circuito de arborismo junto à porção preservada de mata atlântica, que se distribuem em meio a recantos de estar e áreas ajardinadas. Este setor poderá funcionar independentemente do acesso ao restante do Parque, permitindo seu uso noturno. Como suporte para o complexo, existem edificações que abrigam os vestiários coletivos e um bar / lanchonete, integrados espacialmente através de uma grande marquise.
Parque Central
Setor com maior concentração de vegetação arbórea significativa, é limitado a oeste pelo canal do Rio Carajás e a leste pelas muralhas da Penitenciária do Estado e pelo Presídio Feminino. O acesso é feito pela Av. Ataliba Leonel.
O tratamento paisagístico tem como partido a predominância de vegetação, seja em extensos gramados ou arborização.
Percursos sinuosos de diferentes escalas para pedestres permitirão, além do passeio, o acesso ao Bosque das Tipuanas, que envolve as pérgolas remanescentes.
Algumas edificações existentes, entre as quais o edifício tombado de autoria do Escritório Ramos de Azevedo, abrigará futuramente o Museu de Memória do Carandiru.
A ressaltar, este setor integra a área de vegetação permanente constituída por densa mancha de vegetação arbórea.
Parque Institucional
Foram mantidos dois dentre os quatro edifícios originalmente previstos para reciclagem nesta área do parque. São elementos volumétricos marcantes deste setor, constituindo uma grande esplanada voltada para a Av. Cruzeiro do Sul, com acesso direto da estação Carandiru do Metrô. Desta esplanada nasce o eixo estruturador ligando este setor aos Parques Central e Esportivo, possibilitando a sua continuidade no desenvolvimento futuro do Parque.
Os dois pavilhões reciclados são: Pavilhão-04 (Centro de Inclusão Digital e Centro Paula Souza) e Pavilhão-07 (Centro de Cultura).
Biblioteca e edifício Pavilhão de Exposições
A antítese é forte e a metáfora se torna óbvia. Onde antes funcionava uma prisão, agora há a liberdade: de conhecimento, das idéias, dos livros. Pois é neste lugar, que poderia carregar para sempre uma soturna memória, que está localizada a Biblioteca de São Paulo.
Todo o espaço do Complexo Presidiário do Carandiru mudou de cara: agora se chama Parque da Juventude. Metade do conjunto de prédios foi implodida, dois pavilhões tiveram sua estrutura conservada e foram restaurados, hoje são usados por uma Fatec. O restante transformou-se em áreas verdes e espaços de esporte e lazer. O projeto de toda a reestruturação do Carandiru foi realizado por nosso escritório.Trata-se de um projeto vencedor de um concurso público de 1999, a implantação da revitalização foi feita em etapas, primeiro o parque esportivo, depois o parque central e na sequência o parque Institucional, finalizado agora, com a implantação da Biblioteca. O impacto urbano desta revitalização extrapolou os limites do bairro, trazendo gente de toda a cidade para aproveitar esse novo parque que além de lazer possui espaços de educação com acesso livre a todos.
Em parceria com a Aflalo & Gasperini, Marcelo Aflalo e Dante Della Manna colaboraram para o desenvolvimento de todo o programa interno desta biblioteca. O prédio possui um espaço amplo com iluminação zenital, garantido uma grande flexibilidade de layout interno e uma economia de energia. Ela foi recheada com mobiliário colorido, os vidros das janelas ganharam serigrafias lúdicas, para dar mais intimidade a quem lê ou pesquisa. A biblioteca foi organizada como se fosse uma livraria, para atrair também o público não leitor. E a idéia é que esta obra seja um piloto que possa ser replicado em outras cidades do Estado.
O programa é constituído por um pavimento térreo com recepção, acervo, auditório, módulos para leitura para crianças e adolescentes e áreas de multimídia. O terraço existente neste pavimento foi coberto por uma estrutura tensionada que abrigará uma cafeteria, áreas de estar e espaço para performances. No pavimento superior, encontram-se além do acervo, um módulo restrito para leitura de adultos, áreas de multimídia e outros espaços para leitura. Foram implantados mobiliários especiais como mesas para deficientes visuais e mesas ergonômicas para deficientes físicos. Os terraços do pavimento superior foram cobertos por uma estrutura de madeira e policarbonato para performances e área de estar.
Mais que uma biblioteca bonita e diferente, a nova instituição tem a missão de ser a central das 961 bibliotecas públicas paulistas – espalhadas em 602 dos 645 municípios do Estado.