Esse projeto nasce do diálogo com o contexto em que está inserido, com seu entorno físico imediato, com sua história e, sobretudo, com sua vocação como foco urbano de sociabilidade popular. No sítio em questão estão presentes: um mercado municipal, uma estação ferroviária, um shopping center, uma instituição dedicada ao ensino e à preservação da cultura – a Estação Ciências da Universidade de São Paulo (USP) –, uma praça pública densamente arborizada e a memória da antiga garagem de bondes da Lapa - edifício significativo na história dos transportes coletivos da cidade. Para as novas relações de projeto, a proposta reconhece, dentre tantos elementos, também os do passado, com naturalidade e sem subserviência.
A praça Miguel Dell'Erba foi definitivamente configurada pelo edifício proposto, ganhando a ampliação de sua massa vegetal com dois novos planos de arborização: um dentro do próprio edifício, ao longo da plataforma mais larga, e outro compondo uma alameda paralela ao muro de divisa da ferrovia. Os fluxos de pedestres existentes foram reconhecidos e reorganizados: há um acesso na alameda próximo à ferrovia, no caminho que une estação ao mercado, e outro junto à praça.
A implantação acomoda o programa ao desnível existente no terreno, deixando os ambientes de atendimento aos usuários no nível de baixo e os operacionais no nível de cima. A parede curva sinuosa preserva e tira proveito das árvores existentes, criando um pátio descoberto restrito ao setor operacional.
Internamente, especial atenção foi dada aos problemas de iluminação e conforto ambiental. Sobre as duas amplas plataformas optou-se pelo predomínio da luz natural de forma indireta e difusa. Abas horizontais funcionam como elementos de correção da incidência solar no encontro entre estrutura metálica e as vigas longitudinais. Os arcos metálicos leves configuram uma sensação espacial de interioridade típica das antigas gares, ao mesmo tempo em que transmitem com eficiência os esforços transversais da estrutura.