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MILAZZO, Marco; ALMAGRO, Rômulo; TRINDADE, Suellen. Hotel em Paquetá, de Sérgio Bernardes. Projetos, São Paulo, ano 15, n. 178.04, Vitruvius, out. 2015 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/15.178/5757>.


Iniciamos em 2014 um projeto de iniciação científica com alunos do curso de arquitetura e urbanismo da universidade Estácio de Sá com o objetivo de pesquisar e modelar tridimensionalmente projetos não construídos modernos de arquitetos cariocas e de projetos pensados para a cidade do Rio de Janeiro.

A produção arquitetônica moderna foi desenvolvida sem o uso de computadores, com desenhos feitos manualmente com auxílio de maquetes. A maquete física era a principal ferramenta de representação tridimensional disponível, geralmente usada em grandes apresentações e concursos. Apesar do grande valor como ferramenta de estudo, análise e representação, as maquetes físicas sozinhas não permitem uma imersão profunda em certos aspectos do projeto.

A materialização destes projetos tem como objetivo aumentar o acervo bibliográfico disponível de grandes nomes da arquitetura e da história do Rio de Janeiro, permitindo a visualização mais próxima da realidade se tivessem sido construídos, e entendendo melhor a maneira destes arquitetos de projetar e pensar.

Iniciamos o trabalho pelo projeto do hotel em Paquetá de Sergio Bernardes. O projeto foi publicado na revista AB número 12 em 1980, de onde conseguimos plantas baixas, cortes, detalhamentos e croquis. O material foi posteriormente substituído pelos desenhos originais digitalizados do acervo do Projeto Memória da Bernardes Arquitetura.

Sérgio Bernardes aparece no cenário da arquitetura após a primeira fase e ascensão do modernismo carioca, no final da década de 40. Além de possuir uma produção muito intensa, e de grande qualidade, é paradoxalmente talvez o arquiteto com menor quantidade de material bibliográfico disponível.

A Ilha de Paquetá fica localizada na Baia de Guanabara, na cidade do Rio de Janeiro. Possui características muito peculiares, pois se constitui um bairro em uma ilha e com fluxo de automóveis muito restrito. A movimentação na cidade se faz principalmente por bicicletas, charretes ou barcos. A cidade possui um potencial turístico perdido pelo estado atual de poluição da Baia de Guanabara, e provavelmente o hotel projetado por Sergio Bernardes poderia ter se tornado um grande fracasso como empreendimento, ou se tornar um possível motivador da despoluição da baia.

O trabalho desenvolvido pelos alunos do curso de arquitetura da universidade Estácio de Sá consistiu na transposição dos desenhos originais do escritório de Sergio Bernardes para o software Autodesk Autocad. Após este trabalho de digitalização, importamos os desenhos no software Trimbe Sketchup, onde foi modelado tridimensionalmente. O modelo foi depois renderizado utilizando o plugin VRay e as imagens geradas foram tratadas e humanizadas usando o processador de imagens Gimp.

É importante para total compreensão do projeto o seu memorial publicado na revista AB que transcrevemos abaixo:

“Uma variação do Processo Gabioni – areia ensacada em vez de pedras – permitia a construção do hotel em meio à água, a custo comparativamente reduzido e capaz de ultrapassar o ritmo veloz da inflação. O hotel será erguido sobre aterro hidráulico de areia, e para impedir vazamentos será levantada no contorno do prédio uma barragem de sacos de polietileno enchidos com areia no local. Na parte mais profunda deste muro, o capeamento externo, em contato com a água e até o nível dos quartos, será feito também com sacos de areia onde se incluirá pequeno percentual de concreto (solo cimento).

Buscou-se a forma hexagonal para o cerne da construção, com quartos localizados no perímetro do hexágono e nos braços que partem dos seus vértices. Terá o hotel, pois, 150 quartos todos voltados para o mar graças à formulação geométrica estelar do projeto.

A configuração dada ao edifício possibilita que sua construção seja feitas por etapas - Assim, se poderá erguer inicialmente apenas a parte central e, aos poucos, construir-se os braços que, de acordo com necessidades futuras poderão ainda ser estendidos, aumentando o número de quartos disponíveis.

Todos os apartamentos estarão ao nível do mar (cota 3 metros) e no nível do terreno da ilha, enquanto fisioterapia, piscina, bares, restaurantes e as salas de jogos, le1tura e estar, se localizarão num segundo andar do hexágono central.

Invertendo-se a ordem normalmente adotada - apartamentos colocados acima das áreas comuns elimina-se o problema da sustentação para os quartos, que terão suas paredes de tijolo (e não em estruturas de concreto, como seria necessário caso estivessem acima do nível do mar) construídas sobre cintas em cima do aterro hidráulico.

A moda de toldos, arcos invertidos para baixo cobrirão todos os quartos, estes arcos, pré-fabricados serão feitos em material capaz de oferecer as melhores condições térmicas e acústicas: compõem-se de duas camadas de fibra de vidro-poliester entremeadas por honey-comb cujos espaços serão preenchidos ou não com vermiculite dependendo da claridade desejada. Os arcos serão presos às paredes de cada quarto, e sobre eles estará o deck que contorna todo o segundo andar do edifício hexagonal assentado também nas paredes dos quartos. Já na parte superior, arcos semelhantes, mas em posição inversa aos do andar de baixo, formarão a cobertura das partes comuns do hotel.

Do quarto o hóspede terá acesso ao mar, já que à volta de todo o hotel haverá escadas em que cada degrau é uma bandeja d'água (bombeada do mar) transbordando em cascatas.

Assim os degraus em vez de significarem um intervalo entre o hotel e o mar estabelecem sua ligação garantindo, para quem olha dos quartos a continuidade visual de água e água.

A forma geométrica da construção permite a existência de ancoradouros particulares do hotel a espaços de mar limitados em U por cada lado do hexágono mais os dois braços que partem dele. Para barcos a vela ou de maior calado, haverá a marina pública octogonal (2 metros de profundidade) construída também a partir dos ângulos formados pelo hotel, em conjugação com os limites do parque Darke de Matos.

Duas pedras surgidas do mar marcam o alinhamento do molhe, feito também com areia ensacada em vez de pedras, e que embora de pouca profundidade evita assoreamentos e delimita a área onde ficarão ancoradas as pequenas embarcações (batimetria de um metro). Paralelamente ao molhe, a partir da linha quase reta onde termina o Parque, serão construídos pequenos decks em espinha a ângulos de 60 graus, permitindo o acesso do mar ao parque.

Continuando a linha do molhe, a praia projetada vai terminar na praia José Bonifácio. Nesta área construída a piscina pública, opção para quem desejar também banhos de ducha e cascata aí disponíveis.”

nota

NA - Agradecemos muito a ajuda de Kykah Bernardes, que hoje é a responsável pela documentação e pesquisa do Projeto Memória da Bernardes Arquitetura, que nos forneceu o material para a materialização do projeto.

sobre os autores

Marco Milazzo é arquiteto e urbanista formado pelo instituto Metodista Bennett (2000), engenheiro civil formado pela UFRJ (1999), Mestre em arquitetura pelo PROARQ-UFRJ (2006). É sócio do escritório Obra Arquitetura e professor do curso de arquitetura da universidade Estácio de Sá do Rio de Janeiro.

Rômulo Almagro e Suellen Trindade são alunos do curso de Graduação em arquitetura e urbanismo da universidade Estácio de Sá e colaboraram com o desenvolvimento do projeto.

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178.04 projeto
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