Galeria de arte
A ideia do cliente sobre uma galeria de arte é que arte e natureza estão interligadas e a arte deve ser apresentada em um ambiente natural. Em toda a propriedade do hotel encontram-se várias instalações de arte. Por estar na natureza, o visitante fica mais receptivo a ver e sentir a arte, segundo o proprietário do hotel. A Galeria de Arte muda as exposições com frequência, oferecendo aos clientes uma variedade de obras de arte. A edificação foi construída por uma cooperativa de eco-construção da comunidade de Camburi, com assistência técnica do escritório CRU! Arquitetos. Este projeto de edifício social tinha como ideia oferecer a uma comunidade carente formação e suporte para o desenvolvimento de trabalho. Após a construção do Centro Comunitário, as comissões estabeleceram contatos fora da vila de Camburi visando o retorno econômico para a cooperativa, sendo esta Galeria de Arte um exemplo. Toda a estrutura de bambu foi executada pela cooperativa local, enquanto a parede de tijolos (reutilizados), escavações e fundações foram feitas pelos funcionários da fazenda onde se localiza o hotel.
Contexto do projeto, o site e o projeto arquitetônico
A Galeria de Arte está localizada entre a casa da fazenda principal (estilo colonial português) e a Occa, um espaço comunitário construído por uma tribo indígena da Amazônia, onde originalmente várias famílias poderiam viver juntas. Caberia à Galeria de Arte unir estes dois estilos diferentes, surgindo entre a casa da fazenda colonial e o espaço comunal indígena. Por conta disso, o design do exterior faz referência ao estilo colonial português, com suas paredes brancas e portas azuis, e o interior mostra um coração/núcleo indígena (sendo a estrutura de bambu). A passagem estreita, os arcos e o pátio no meio referem-se aos antigos mosteiros e por este meio tenta invocar uma sensação divina. Uma pequena fonte situa-se no centro do pátio de onde a água corre de volta ao rio, dando oxigênio ao rio abaixo. Através de suas treze portas, pode-se entrar na galeria de todos os lados, aumentando sua transparência, porém mantendo uma certa curiosidade do que está dentro. O nível do chão se estende a partir do edifício e flutua parcialmente sobre o rio, permitindo ao visitante observar a Galeria de Arte à distância.
A galeria é totalmente baseada na proporção áurea – a largura e a altura das diferentes partes correspondem às regras definidas pelos arquitetos gregos e romanos, como por exemplo Vitruvius. Ela pretende ser uma construção humilde, que se mimetiza ao estilo colonial do entorno, mas que também se refere à Occa situada nas proximidades. Um rosto português com um coração indígena. Como a arte pode ser considerada sagrada, a linguagem espiritual do mosteiro de arcos foi usada para abrigar as exposições. No seu sentido original, uma galeria era um passeio ou passagem coberta, estreita e parcialmente aberta ao longo de uma parede. Ela deriva da palavra galerie, do francês antigo, significando um longo pórtico (c. séc.14). O termo galeria como edifício de arte foi usado pela primeira vez na década de 1590.
Um telhado plano de 2,9 m de altura foi previsto para manter uma volumetria baixa, evitando elevar a estrutura desnecessariamente e mantendo o protagonismo da fazenda e da Occa. Três palmeiras preexistentes de 30 metros de altura estão integradas ao projeto e uma destas árvores chega até a perfurar o teto. A Galeria de Arte tem planta retangular próxima do quadrado (11m x 15m), com uma passagem de 2,10 m de largura; esta última é subdividida em quinze quadrados de 2,10m x 2,10m e cada quadrado, exceto os dois últimos, tem uma porta centralizada. As colunas são colocadas fora desses quadrados, em uma base de aço cortén e pedra azul. As paredes são feitas de tijolos reutilizados, com argamassa de cal no exterior. No interior, os tijolos foram mantidos aparentes. Para a estrutura, foram utilizados colmos de bambu – Phyllostachys Aurea – de 50mm de diâmetro. Para os arcos foi usada uma espécie encontrada no local (Bambusa Tuldoides Munro) de 40mm. Estas foram cortadas no terreno, untadas com óleo e aquecidas para serem então curvadas.
A cooperativa local de eco-construção aperfeiçoou suas técnicas ao longo dos anos e agora, além de construções comunitárias e habitação locais, é capaz de fazer edifícios de alta qualidade, que podem servir a uma clientela de classe média e até mesmo de classe alta. Tais tipos de clientes possibilitam uma renda interessante, parcialmente utilizada em salários, sendo a outra parte investida em infraestrutura comunitária. Assim, são poucos os investimentos externos que precisam ser conquistados para melhorar a própria infraestrutura. Em algumas ocasiões, o proprietário da Galeria de Arte libera o espaço para os artesãos locais, permitindo que exponham e vendam suas obras de arte ao lado de artistas mais conhecidos.
Escolhas e soluções técnicas
Os arcos são articulados a uma peça conectora no topo e no centro da coluna (cerca de 1m acima do solo). Ao conectar os arcos em um ponto único, descobriu-se que uma forma rígida foi obtida, enquanto que separadamente eles ainda queriam retornar à sua forma natural. Um pequeno conector de madeira foi usado no topo dos três arcos para subsequentemente articulá-los a um outro conector na forma de “violino”. São dois os tipos de conexões utilizados na passagem. Primeiro, um princípio de conexão foi usado onde quatro colunas estão interligadas a uma armação colocada lateralmente apoiada por suportes de vento aderidos contrariamente. É vantajoso que tais juntas dispersem os colmos de ligação previsíveis ao longo de vários bambus, evitando que cheguem demasiadas ligações a um bambu, enfraquecendo-o deste modo. Além disso, é uma conexão firme que é capaz de suportar as forças do vento já depois de duas colunas. A segunda articulação não conecta a coluna a uma armação, mas meramente os arcos no meio. Projetar uma estrutura de bambu também significa projetar peças conectadas desenhando linhas a partir das direções das colunas, treliças e arcos para esculpir o ponto em que elas se conectam umas às outras. Neste caso, uma peça de conector de madeira dura em forma de violino foi projetada onde todos os fios-máquina dos pontos finais dos colos de bambu se juntam, fazendo uma passagem segura de todas as forças de transferência. A força desta junta é essencial, nenhuma madeira leve deve ser usada, mas apenas madeira de lei com a primeira classe de durabilidade. Peças de conector nas juntas são de grande importância para reduzir forças de tensão e compressão nos membros de bambu e geralmente são feitas de aço, metal, bambu ou mesmo borracha, mas muito poucas vezes com madeira, embora os fatores ambientais e de custo favoreçam a madeira acima do aço ou metal.
ficha técnica
projeto
Galeria de Arte
localização
São Luiz do Paraitinga SP Brasil
ano
2017
arquitetura
CRU! Architects
Sven Mouton
cliente
Hotel Catuçaba – Emanuel Rengade
contratante
Community cooperative of Camburi – Bamburi
materiais
bambu
tijolos reutilizados
madeira (piso)