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GUIMARAENS, Cêça. Razões para o desenvolvimento restaurador. Resenhas Online, São Paulo, ano 03, n. 032.04, Vitruvius, ago. 2004 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/03.032/3180>.


Em razão das atividades dos sucessivos (e sempre novos) desenvolvimentos – agrário, industrial e informacional –, os ambientes naturais e artificiais enfrentaram situações de instabilidade e destruição muitas vezes insuperáveis. Assim, para poucas nações, parece que nada mais há a fazer porque tudo está pronto. Ao mesmo tempo, em algumas geografias e para muitos povos, o mundo parece acabado: nada há a fazer porque só existe terra arrasada. Entretanto, para todos, não é surpreendente saber que a Restauração é o setor da Economia que mais cresce.

O cada vez mais fantástico valor econômico desta indústria emergente (e das oportunidades de negócios que dela decorrem) confirma a importância das atividades que se destinam a restaurar o mundo construído e o meio ambiente do planeta. Atualmente, a hegemonia preservacionista indica a nova frente de luta. E a voga da restauração, até mesmo com a permanência do contexto em que novos desenvolvimentos empreendem ações destrutivas, avança na proporção de três para um.

Em oposição ao quadro polêmico dos séculos XIX e XX – ou seja, às épocas em que o “Desenvolvimento Continuado” encenou lutas inesquecíveis e inglórias entre conservacionistas e desenvolvimentistas –, as décadas finais do século passado consolidaram a longa fase de transição em que a famosa máxima didroniana “Preservar é melhor que renovar, renovar é melhor que restaurar, restaurar é melhor que reconstruir” tornava-se cada vez mais útil.

Pouco a pouco, “negócios e comunidades participativas em parcerias público-privadas” transformaram-se em termos conciliáveis. Porém, desde 1839, o volume 1 do Bulletin Archeologique registrava aquele jogo de palavras com que, dedutivamente, A . N. Didron anunciava a fase preservacionista conforme a conhecemos hoje. Entretanto, nem os mais perspicazes analistas econômicos daqueles que foram os séculos mais radicalmente progressistas, foram capazes de prever o que Storm Cunningham (1) define de “conjunto de atividades criado por milhares de ações que estão restaurando nosso ambiente natural e construído”. Estas ações que o autor de The Restauration Economy enquadra no Desenvolvimento Restaurador, hoje dominam as preocupações dos cidadãos, dos setores governamentais e de negócios, envolvendo tanto a reconstrução de cidades quanto a ecologia de vastas áreas do nosso planeta.

A profunda visão de que a escassez das matérias de qualquer natureza e produtos de toda ordem foi gerada nas crises motivadas pelos excessos do Progressismo não é original nem pertence exclusivamente ao autor. O que é novo, segundo Cunningham, é o entendimento de que Passado e Futuro são pares opostos que necessariamente se integrarão não apenas porque os recursos da Terra são finitos, mas porque a consciência da restauração adota uma ação massiva. Para Cunningham, o Desenvolvimento Restaurador, ou o terceiro modo de desenvolvimento da sociedade é, de fato, a verdadeira “Terceira Onda” e configura o maior ciclo de crescimento econômico desde a era da Revolução Industrial.

Dizendo-se um conservador, o consultor norte-americano Storm Cunningham afirma que, dentre as “indústrias da restauração”, apenas as que tratam das ações de renovação da infra-estrutura e do patrimônio cultural – onde se incluem a recuperação de cidades, zonas portuárias e museus, a reabilitação de monumentos e de sítios históricos, além da adaptação de uso de edifícios antigos –, podem estar a movimentar muito mais de um trilhão de dólares por ano em todo o mundo.

O livro de Cunningham estrutura-se em quatro partes para apresentar um roteiro no qual os que formam a comunidade de restauradores – sejam estes arquitetos, engenheiros, planejadores ligados a governos e ONGs, empresários da indústria em geral e da construção civil, incluindo o setor imobiliário em particular –, poderão identificar e reconhecer quase todas as faces das produção de bens e serviços levada a efeito pela Economia da Restauração.

A primeira parte trata de configurar o quadro daquele passado onde se definiu a fase de transição do novo desenvolvimento para o desenvolvimento restaurador; a segunda e a terceira parte dedicam-se a demonstrar, por meio de projetos executados, a produção restauradora de ambientes natural e construído. Assemelhando-se a uma utopia de americano otimista, a última parte do livro abrange a gestão integradora onde está previsto que, até o ano de 2050, apesar das atuais diferenças espetaculares entre as várias nações, a natureza e os espaços elaborados pela humanidade resultarão da economia restauradora. As atividades educacionais são de suma importância neste utópico contexto econômico-restauracionista. Para comprovar este ponto de vista, o autor comenta o aumento dos cursos de pós-graduação em Restauração Ecológica nas universidades européias e norte-americanas.

Cunningham demonstra as formas de restaurar os ambientes natural e construído, considerando que este último enquadra o chamado “patrimônio edificado” e afirmando que, para restaurar, são necessários os mesmos agentes que um novo empreendimento exigiria. Em decorrência, os questionáveis projetos de Crescimento Orientado e do Novo Urbanismo, que vieram à cena entre 1980 e 1990, também são registrados pelo autor. Além desses planos “sustentáveis” (ou exceções modernas que buscam comprovar a resistência ao Progressismo desenfreado), estão colocadas lado a lado a história das utópicas cidades-jardim e os relatos das ações de algas e fungos que, em todas as fases da vida terrestre, vêm formando relações de causa-e-efeito comunitárias e restauradoras.

Ao exemplificar o custo das atividades que incrementam a Economia da Restauração, Cunningham cita a renovação e reconstrução do Pentágono. Esta obra, planejada antes mesmo da ação terrorista de 11 de setembro, foi orçada em 3 bilhões de dólares. Os atentados de 11 de setembro são novamente referidos depois que o autor apresenta os pontos positivos e negativos do perene revival de Lisboa e dos contínuos desastres ecológicos de Portugal.

Para Cunningham, se o Marquês de Pombal teve que lutar para salvar os edifícios históricos de Lisboa após os terremotos que a assolaram em meados do século XVIII, a forma como, hoje, a Economia da Restauração transforma o mundo está melhor expressa em Nova York. Convidando o leitor a imaginar como seria a reconstrução da parte baixa de Manhattan se o desastre de 11 de setembro tivesse ocorrido em 1970, quando o urban renewal atingiu o pico, Cunningham diz que uma coalizão de organizações do setor privado é responsável pela reconstrução da área danificada que inclui 67 marcos paisagísticos da City.

A evolução da visão preservacionista nas três últimas décadas, diz, permitiu a constituição das cinco associações de restauradores do Patrimônio que atualmente estão encarregadas de reconstruir Lower Manhattan, a saber: a National Trust for Historic Preservation, World Monuments Fund, Preservation League of New York State, New York Landsmarks Preservancy e Municipal Arts Society.

Para incentivar a importância e a ampliação do campo restaurador, e também advogando a troca do nome do Banco Mundial para Banco da Restauração Mundial, Cunningham reflete sobre a confusão provocada pelas alterações de sentido e uso impensado das expressões e vocábulos constituintes do linguajar preservacionista. Para tanto, destaca, no capítulo 4 da parte 1, a discussão provocada pelo estabelecimento da linguagem e pela apropriação de vocábulos próprios ao campo disciplinar.

Os registros dos fatos instauradores da economia da restauração, hoje deflagrada em âmbito global, iniciam-se após a Segunda Guerra Mundial. Na Europa devastada pelo poderio aéreo ocorreram a diversificação e o estupendo crescimento dos negócios restauradores. Porém, a terminologia, a definição de situações concretas que conformam a degradação e os resultados da restauração dos ambientes natural e construído, junto com os conceitos de “desenvolvimento sustentável” e “conservação”, recebem hoje mais atenção da mídia em geral do que os novos empreendimentos.

Embora, na atualidade, os estágios econômicos das cidades, estados e países mantenham-se diferentes no que diz respeito à de justiça social, a revitalização e o equilíbrio socioeconômico dependem, mais que nunca, de atos restauradores. Estes, para Cunnigham, acontecem, necessariamente, antes da tão apregoada “sustentabilidade”. Entre outras assertivas desconcertantes e óbvias, este é o modo pelo qual o livro The Restauration Economy pretende reconfigurar os negócios, as comunidades de preservacionistas, e o ambiente humano no século XXI.

Pretensão do autor ou realidade em “franco progresso” até agora pouco documentada?

notas1
S. Cunningham é editor de Restoration Economy Leader, revista trimestral dedicada a promover e integrar a comunidade de pesquisadores do Desenvolvimento Restaurador e os agentes da Economia da Restauração.

sobre o autorCêça Guimaraens é arquiteta, Professora Visitante da New York University, Professora-Adjunta do ProArq/FAU-UFRJ e doutora em Planejamento Urbano e Regional (IPPUR/UFRJ).

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