Apesar de ter sido publicada há alguns anos, continua sendo de interesse devido à escassa bibliografia similar em espanhol – e nula em português. Trata-se de um segmento social que cresce em grande velocidade em quase todos os países: o grupo da terceira idade, pessoas que ao final de suas vidas merecem seguir vivendo-a com dignidade. No Brasil, calcula-se que que em 2025 será o sexto pais com mais idosos do mundo.
Os autores – Sabater e Maldonado – trabalharam muitos anos com o tema, vinculado à Universidade Politécnica del Vallés, seguindo uma metodologia interdisciplinar que lembra o laboratório Architecture, Culture, Societé de Monique Eleb, pioneira no estudo sistemático das práticas cotidianas no fazer arquitetônico.
Os autores chamam de sócio-eficiência na arquitetura a contrapartida e complemento da eco-eficiência, e tem sido central em suas informações e publicações para a Consejería de Fomento de Vivienda em Andalucía, nas quais se faz ênfase na reciclagem e na gestão sustentável do parque edificado desde critérios de envelhecimento ativo, gênero e habitabilidade urbana.
Na publicação se expõe, de forma contundente, o problema que significa ter uma população envelhecida, mas que permanece em domicílios pensados para formas tradicionais de núcleos familiares, predominantes nos períodos do auge imobiliário desde o pós-guerra e instaladas como fórmulas derivadas do existenzminimum funcionalista. Para superar a obsolescência habitacional, com a qual todos os governos deverão lidar nas próximas décadas, se propõe três linhas de ação.
Em primeiro lugar, aprofundar o conhecimento dos modelos históricos da vivenda com serviços, adaptada, tutelada, assistida ou coletiva (cujos destaques dos autores se encarregam de esclarecer para cada um dos conceitos), sem tratar de inventar ou adivinhar o que, em muitos casos, tem uma história de mais de cem anos. A publicação Gerohabitacíon, Cohabitación y Emancipación apresenta, neste sentido, uma descrição útil e minuciosa destes modelos, desde os family hotel e os catering flats de Nova Iorque do final do século 19 – com jardins e de administração comum a todos os apartamentos –, até os edifícios de pequena escala ou condomínios horizontais dos new seniors, ou os baby boomers aposentados de “colarinho branco”, que guardaram para uma aposentadoria de luxo em condomínios próximos a clinicas e centros de atividades personalizadas segundo os hobbies e gostos de cada indivíduo. Por outro lado, aparecem os modelos de aposentadoria escandinava, que propuseram dar um caráter residencial que até então era um regime de vida hospitalar, sem renunciar a eleição de ficar no próprio domicilio, adaptado e posteriormente abandonado.
Sintetizando ao máximo o trabalho dos autores, pode-se dizer que, das outras linhas de ação que se desprendem, os autores fazem observações de casos de estudo de arquitetura para idosos que se baseiam em promover aqueles espaços intermediários dos edifícios, onde idosos podem passear sem a insegurança que é para eles a cidade. Assim por exemplo, corredores com luz natural e vistas, com salas de estar anexas, onde é possível ter encontros casuais – dentro de uma sociabilidade elegida e não imposta –, além de uma estimulação sensorial necessária para manter a vitalidade do corpo e a mente.
Finalmente, desde o título da obra há uma proposta radical para pensar uma arquitetura que fomente a convivência intergeracional e a cultura de compartilhar, onde os idosos encontram ajuda. Neste sentido, pode citar o exemplo de co-residência entre jovens e idosos, onde jovens podem ter acesso para sua emancipação, sentindo-se úteis durante um ciclo de vida quando eles ainda não formaram uma casa. O termo emancipação é a chave aqui, porque também é aplicável, porque não, aos idosos que conseguem permanecer em seu domicilio, graças à formulas de coabitação com jovens – uma solução que vem sendo incentivada na Alemanha através de subvenções. Assim, os autores vinculam, de uma forma interessante, a possibilidade de emancipação da coabitação e da gero-habitação. Este tipo de reflexão nos mostra que estamos diante de um trabalho que não se limita a ser um manual técnico de moradia adaptada – com requisitos pontuais que as legislações vão incorporando –, mas ele vai para as mesmas fontes dos parâmetros da gero-habitação: um gênero habitacional que, com certeza, nos preocupará e ocupará a todos em um breve futuro.
nota
NA - Tradução de Isadora Campos e Lorena Salvador
sobre os autores
Bruno Cruz Petit é graduado em Sociologia pela Universidad Autónoma de Barcelona, e realizou um máster no Institut de Sciences Politiques de París, uma maestria e doutorado Sociologia na Universidad Nacional Autónoma de México. Ele é autor dos livros “Breve história social del interior doméstico” (México, Ediciones Motolinía, 2011) e “Transformación en el espacio interior doméstico contemporâneo” (Ed. EAE, Espanha-Alemanha, 2011). Ele tem publicado diversos artículos em revista científicas de México, Venezuela, Espanha e Reino Unido (Home Cultures, 2015).
Alejandro Pérez-Duarte Fernández é doutor em arquitetura pela Universitat Politècnica de Catalunya (2005, Barcelona). Atualmente é professor e pesquisador na Universidade Fumec (Belo Horizonte, Brasil), nas áreas de teoria, história e crítica de arquitetura, com foco na habitação coletiva. Desenvolve atualmente um trabalho de divulgação de habitação para idosos, a ser publicado em breve no blog GeroHabitacao.