William Lam arquiteto formado pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), atuou como importante Lighting Designer dos EUA, com mais de dois mil projetos em vários países. Lecionou como professor de iluminação em Harvard, no MIT e na Yale University.
Ainda na graduação despertou o interesse pela iluminação. Altamente questionador, ansiava entender porque alguns ambientes pareciam-lhe confortáveis e outros não, mesmo que esses ambientes atendessem igualmente as normas e parâmetros da época. Dedicou-se a estudar o tema, na esperança de encontrar critérios mais significativos para avaliar o ambiente luminoso. Procurava uma explicação de como percebia o mundo em torno de si, para que pudesse, posteriormente, aplicar esse entendimento na iluminação.
Após anos de estudo, Lam encontrou na percepção do espaço a melhor forma de entender a luz. Em 1977 escreveu o livro Perception and Lighting as Formgivers for Architecure, com o objetivo de apresentar os princípios da percepção que foram base do seu próprio trabalho e sugeriu modificações no processo de concepção convencional da iluminação.
Lam apresenta a iluminação e a percepção como modeladoras da arquitetura. A iluminação não apenas fornece a quantidade necessária de luz para uma tarefa, mas altera o humor e a atmosfera do lugar. A luz expressa o uso a que o lugar se destina, complementa a estrutura, dá ênfase, indica movimento e modifica a aparência do ambiente.
Entretanto, direcionar essa função modeladora à percepção, parece ser mais difícil, uma vez que quem irá vivenciar e interagir com o espaço é o usuário. E na maioria das vezes, o usuário não tem participação alguma na concepção do projeto. Assim sendo, cabe ao arquiteto e ao profissional da iluminação terem o conhecimento acerca das necessidades humanas relativas à percepção do espaço. O autor cita essas necessidades: orientação espacial; orientação temporal; visão do exterior; foco nas atividades; definição e personalização territorial.
A necessidade de orientação espacial está interligada com a segurança física do usuário. Permite a plena consciência quanto à sua localização, seus movimentos e posição corporal. Itens como localização de sanitários, refúgios, fluxo de saída como parte dessa orientação, são simples e imprescindíveis para a sensação de segurança do ocupante no espaço.
A orientação temporal é uma necessidade biológica do usuário. O ser humano apresenta hábitos diurnos e possui mecanismos inerentes que agem como relógios que identificam as variações de luz e de cores, situando o usuário acerca do período do dia e à época do ano. As percepções temporais têm influencias no estado de humor, sensação de bem-estar e saúde.
O contato com o exterior, independente da paisagem – natural ou urbana – é uma necessidade associada com a orientação temporal. Essa necessidade, entretanto, requer cuidados com o tamanho, localização e proteção dessas aberturas. Janelas transparentes são as mais desejáveis. Entretanto, quando são necessários dispositivos de controle solar, muitas vezes destroem a visão que a janela foi proposta a oferecer, criando uma concorrência indesejável entre os elementos de proteção e a vista do exterior.
O real objetivo da iluminação é proporcionar um espaço confortável para o usuário realizar suas tarefas e se sentir bem enquanto o faz. O usuário está confortável quando consegue concentrar sua atenção para o que precisa ver e o entorno não compete de forma perturbadora. Objetos brilhantes ou que se destacam do entorno atraem a atenção, criando o ruído visual, definido por Lam como estímulos que perturbam, confundem e torna o espaço desagradável.
A hierarquia luminosa deve procurar atender as diferentes exigências de níveis de iluminação de acordo com as atividades exercidas no ambiente, criando gradientes de luz e evitando ambientes monótonos. A flexibilidade e qualidade, e não a quantidade, são os elementos essenciais para um bom ambiente luminoso.
A utilização de qualidades apropriadas de luz, ao invés de aumentar a quantidade de luz incidente, é muita das vezes, a forma mais eficaz de melhorar a visibilidade. Uma boa opção para satisfazer as necessidades de tarefas com grande exigência visual é adotar a iluminação de tarefa, em vez de aumentar a luminosidade ao longo de todo o ambiente.
Quando a iluminação se comporta como o esperado, isto é, quando os níveis de luz e os gradientes criam hierarquias, e os padrões e cores são relevantes para as necessidades e atendem a expectativa do usuário, os vínculos associativos estabelecidos pela experiência são confirmados. Essa sensação produz uma resposta emocional positiva para o ocupante, baseada na experiência pessoal. Um mesmo ambiente com as mesmas condições luminosas, produz diferentes percepções e respostas emocionais para cada usuário, devido às experiências acumuladas individuais.
A iluminação também pode contribuir para a delimitação e personalização de territórios. A aproximação do ambiente e usuário pode ser alcançada quando o usuário tem algum controle do espaço e sua iluminação. Esse controle se dá por ações como abrir ou fechar persianas, acender, apagar ou dimerizar a iluminação ou quando a iluminação lhe assegure alguma privacidade, mesmo que o usuário não tenha o controle sobre ela.
Segundo o autor o processo de projeto fragmentado, onde cada área de projeto toma as decisões independentes, restringe as oportunidades das etapas subsequentes. Não raro, o projeto de iluminação é iniciado somente após o término do projeto arquitetônico. Os ambientes luminosos resultantes então demostram pouca ou nenhuma variação, ainda que as atividades e necessidades sejam diferentes. Um novo processo de projeto mais integrado e abrangente é necessário se quisermos criar espaços que tenham êxito.
Independentemente de quais forem os critérios utilizados durante o projeto, o objetivo básico é sempre o de proporcionar condições luminosas ideais para o maior número possível das atividades habituais num espaço e satisfazer as necessidades biológicas usando uma quantidade moderada de luz. Maiores níveis de iluminação não garantem o aumento no conforto, da produtividade ou de saúde. Mais luz é, muitas vezes, menos agradável, menos confortável e menos seguro.
Cada elemento do projeto, desde a estrutura até o acabamento, afeta a qualidade do ambiente luminoso e é da responsabilidade de cada membro da equipe de projeto tomar decisões tendo isso em mente. Isso requer uma grande dose de comunicação e uma consciência comum dos princípios da percepção envolvidos.
sobre os autores
Jéssica Fonseca Matos é arquiteta. Mestranda em Iluminação, no Programa de Pós-Graduação em Arquitetura, Tecnologia e Cidade na Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual de Campinas (FEC-Unicamp).
Paulo Sergio Scarazzato é arquiteto. Doutor em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo. Professor junto à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAUSP) e à Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual de Campinas (FEC-Unicamp).