Fui visitar a exposição Véio – a Imaginação da Madeira (1) no Itau Cultural (que termina dia 13 de maio). Mais uma daquelas exposições fundamentais do calendário de 2018, como muitas em cartaz na Paulista e em outras regiões de São Paulo. Explorando de maneira positiva a problemática espacialidade daquele centro cultural, os curadores dividiram a mostra em três andares da instituição, sugerindo uma visita que se inicia no primeiro andar – espaço que exibe a produção mais recente do artista: obras grandes, robustas, imponentes e em cores fortes –, até o segundo subsolo, em que é possível, além de assistir a um documentário sobre Véio e seu ambiente, conhecer obras mais antigas produzidas pelo artista e peças de um pequeno museu formado pelo próprio Véio, composto por miniaturas e ferramentas de trabalho, produzidas artesanalmente e recolhidas por ele.
O trajeto, portanto, conduz o visitante, das obras da maturidade às origens do artista, quando Véio teria surgido meio que anônimo, vindo das profundezas e das verdades da natureza e da tradição artesanal popular.
Em que pese o efeito duvidoso das cores das paredes que foram pintadas para a mostra (que às vezes brigam com as cores usadas pelo artista em suas esculturas), estão todos de parabéns por terem trazido a obra desse sergipano para o centro de São Paulo, para o coração financeiro do Brasil.
Não tive acesso ao catálogo da mostra para ver se ali consta alguma consideração sobre uma coincidência que, se verdadeira, é digna de nota: o aumento das dimensões das obras do artista, o uso poderoso dos contrastes entre as cores usadas por ele em suas peças, parece seguir lado a lado ao crescente reconhecimento da importância da obra de Véio por parte da crítica e, sobretudo, por parte dos colecionadores.
Não que essa impressão, se correta, diminua o interesse da obra de Véio, mas pode trazer dados significativos para aqueles que se interessam sobre como a recepção da produção de um artista pode influenciar no seu próprio fazer.
Como afirmei acima, a mostra termina amanhã. Recomendo a todos a visita. Se correrem, ainda dá tempo.
nota
NE – Texto publicado originalmente no Facebook e reproduzido no portal Vitruvius com autorização do autor.
1
Exposição Véio – a Imaginação da Madeira, curadoria de Agnaldo Farias e Carlos Augusto Calil. Itaú Cultural, São Paulo, de 15 de março e 13 de maio de 2018.
sobre o autor
Tadeu Chiarelli é professor titular do Departamento de Artes Plásticas da ECA USP. Foi diretor geral da Pinacoteca de São Paulo e diretor executivo do MAC USP.