Caros Fabiano Sobreira e Abilio Guerra,
Confessamos uma tremenda surpresa ao nos depararmos com essa chamada – um tanto sensacionalista –, nos perfis da Romano Guerra e do Vitruvius: “O fim das revistas de arquitetura no Brasil. A Projeto encerra suas edições impressas” (1). Surpresos pois estamos nesse momento, justamente, lutando de forma intransigente pela manutenção da revista Projeto (assim ela se chamou até 1996 e voltou a se chamar em 2016). Poderiam ter nos procurado, nos escutado talvez, ou no mínimo acompanhado minha carta aos leitores publicada na edição 450, ou o editorial de Evelise Grunow no novíssimo Anuário Projeto que circulou há menos de dois meses, ou ainda o próprio texto citado como referência na resenha supracitada, “A nova era da revista Projeto”, nos quais enfatizamos claramente que a revista se reinventa, se adapta, ora vejam só: se atualiza conforme o meios d e comunicação mudam, mas não acaba. Nem em sua versão impressa, muito menos em sua nova versão online.
Em um momento em que a classe arquitetônica – e principalmente os editores de arquitetura – devem se unir, enaltecer iniciativas corajosas e buscar caminhos conjuntos, achamos lamentável tanto a escrita, como a publicação da resenha. Não acabamos, e nem pretendemos.
Não apenas seguimos trabalhando numa revista que não acabou, a Projeto, como temos agora trabalho redobrado. Continuamos com a rotina de selecionar projetos para publicação, conversar com os arquitetos, projetistas complementares, visitar canteiro e cotejar projeto e obra para, então, escrever matérias (se isso não é jornalismo sério de arquitetura, com curadoria cuidadosa, não sabemos o que é) como ainda, nessa nova fase, se soma a tarefa de colocar no ar – para leitura remota – todo o acervo da revista. Ou seja, ao trabalho cotidiano que continuamos a fazer somamos a missão, a qual acreditamos ser de extremo valor, de disponibilizarmos digitalmente tudo o que já foi dito pela Projeto, por seus editores ao longo dos anos, equipes e colaboradores. Além de não termos ‘chegado ao fim’, estávamos aqui, disponíveis, para esclarecermos quaisquer dúvidas ou debatermos a questão. Muda a ordem dos fatores – a revista impressa como um filtro da digital – mas não muda a revista.
Não morremos! Importante esclarecer.
Lançamos – sem nenhum incentivo ou patrocínio –, há dez dias, uma nova plataforma online. Como já dito, um projeto para disponibilizar todo acervo histórico da Projeto, Finestra e jornal O Arquiteto, reformatado para leitura em qualquer tipo de tela. Serão ao todo mais de dez mil matérias, artigos, entrevistas históricas, acrescidos de conteúdo novo, atualizado regularmente, com o mesmo critério editorial que sempre tivemos e por ele fomos reconhecidos durante 43 anos, até o momento. Deixamos claro a leitores, eventuais ou assinantes, que não seria o fim da revista impressa, tanto que nossa última edição do tipo circulou há menos de dois meses, com recorde histórico de páginas (372), diga-se. Na resenha de Sobreira, além da incorreção sobre este fato (o fim das impressas), há uma ‘dúvida’ levantada, que nos parece puramente um crítica sem avaliação prévia, de que a nova plataforma online permitiria a mudança de projeto editorial, uma transição entre “a periodicidade crítica e o fluxo contínuo irrestrito” de informação. Mais uma vez, fosse o Sr. Fabiano Sobreira realmente um leitor da revista, poderia ter citado que a intenção – explícita em todos os nossos comunicados –, é justamente o contrário disso.
Em resumo, mais uma vez ressaltamos que lamentamos profundamente a publicação e o sensacionalismo contido na divulgação da mesma via redes sociais do Portal Vitruvius e da Romano Guerra Editora, e aproveitamos para convidar a classe a conhecer e assinar nossa nova plataforma online (há um material de divulgação, em anexo), continuar comprando as revistas impressas, e principalmente, a apoiar iniciativas como a nossa, de bravamente nos atualizarmos e resistirmos ao mercado tão hostil aos editores de arquitetura no Brasil.
nota
NE – A divulgação nas redes sociais foi suspensa, pois os editores do portal Vitruvius entenderam que a chamada, título e subtítulo não expressavam corretamente o conteúdo do artigo, dando margem à alegação dos editores da revista Projeto sobre o sensacionalismo presente na divulgação, que seguramente não foi nossa intenção. Nós publicamente nos desculpamos pelo ocorrido e avisamos aos leitores que houve a seguinte mudança do título e subtítulo, visando maior precisão em relação ao conteúdo: “O fim das revistas de arquitetura no Brasil. A Projeto Design encerra suas edições impressas” (original); “O fim das revistas periódicas impressas de arquitetura no Brasil”. Salientamos que nas suas duas décadas de existência, o portal sempre trafegou ao largo de interesses imediatos do jornalismo tradicional – “furos” e “reverberação imediata” –, afinal, o que pauta nosso trabalho paciencioso é o legado para o futuro. Demos espaço ao artigo de Fabiano Sobreira, muito respeitoso e elogioso ao papel da revista Projeto, pois compartilhamos do mesmo juízo do autor. Assim, ao entender que, no calor da hora, ele foi mal interpretado, mantivemos o artigo publicado no ar e tornamos nossa a frase que nos foi encaminhada pelo autor: “Meu texto é um elogio à importância da revista, e não o contrário. Trata-se do registro de um leitor, talvez saudosista (mas não desrespeitoso, pelo contrário), que lamenta o fim das revistas impressas periódicas”. A revista Projeto tem sido um canal de difusão da arquitetura de enorme importância ao longo das décadas e temos a certeza que seu corpo editorial conseguirá dar conta do novo desafio. O artigo em questão é o seguinte: SOBREIRA, Fabiano. O fim das revistas periódicas impressas de arquitetura no Brasil. Resenhas Online, São Paulo, ano 19, n. 221.02, Vitruvius, maio 2020 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/19.221/7729>.
sobre os autores
Fernando Mungioli é publisher da revista Projeto.
Evelise Grunow é editora executiva da revista Projeto.