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abstracts

português
O reconhecimento de Brasília a Patrimônio Cultural da Humanidade foi discutido a partir de diversas abordagens, porém, uma em especial merece destaque, a do GT-Brasília. O GT foi o responsável pelas pesquisas sobre a preservação da capital na década de 80

english
El reconocimiento de Brasilia como Patrimonio Cultural de la Humanidad se discutió desde varios enfoques, pero, uno en particular merece mención, el del GT-Brasilia. El GT fue responsable por estudios para la preservación de la capital en los años 80.

español
The recognition of Brasilia as a Cultural Heritage of Humanity was discussed from several approaches, but, one in particular deserves mention, the one of the GT-Brasilia. The GT was responsible for research the preservation of the capital in the 1980s.

how to quote

SILVA, Jéssica Gomes da. A trajetória do GT-Brasília. Resenhas Online, São Paulo, ano 19, n. 222.03, Vitruvius, jun. 2020 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/19.222/7789>.


Brasília foi reconhecida como Patrimônio Cultural da Humanidade em 1987 pela Unesco, e o debate acerca de seu processo de patrimonialização suscita discussões até hoje, após mais de trinta anos desse acontecimento. Em meio ao percurso para a preservação da capital se destaca o trabalho do GT-Brasília (Grupo de Trabalho para a Preservação do Patrimônio Histórico e Cultural de Brasília) ao longo da década de 1980. Como o nome o identifica, foi um grupo responsável por estudar Brasília com vistas à sua preservação.

O livro GT Brasília: memórias da preservação do patrimônio cultural do Distrito Federal, lançado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan, resgata a trajetória do GT ao lançar luz sobre o trabalho desse Grupo, que esteve praticamente restrito ao meio acadêmico e aos arquivos sobre Brasília. Esse livro contribui para a história da capital ao divulgar um dos documentos mais importantes produzidos pelo GT, o seu Relatório Síntese de 1985. Esse foi um dos mais completos escritos elaborado pelo Grupo ao longo de sua trajetória entre os anos de 1981 e 1988.

A trajetória do GT-Brasília pode ser posicionada na atualidade ao trazer para o livro o registro de uma mesa redonda com os principais integrantes do GT Brasília. Porém, antes da transcrição dessa mesa redonda, tornou-se necessária uma justa explicação do que seria o GT-Brasília, como o Grupo se formou, como trabalhava através de uma metodologia propositiva, com conceitos e ideias de instrumentos de preservação, até o momento de candidatura da capital perante a Unesco, em 1987.

É essencial destacar que o GT-Brasília tem suas pesquisas comumente associadas à escrita do Dossiê Brasília, documento parte da candidatura à Unesco. Todavia, o GT tem sua trajetória atrelada à discussão de questões mais amplas acerca do território do Distrito Federal, passando pelo entendimento de suas “preexistências”, o trabalho com a paisagem, também o contato com a população, até chegar ao Plano Piloto, o alvo principal da preservação.

Antes de apresentar o relatório de 1985, o livro traz a contribuição daqueles que foram considerados os principais membros do GT, e autores dos textos compilados no relatório. As discussões levantadas por Briane Bicca, Márcio Vianna, Maria Elaine Kohlsdorf e Yêda Barbosa retomam temáticas abordadas ao longo do trabalho do GT-Brasília entre os anos de 1981 e 1988. A contribuição desses membros não se detém apenas nas pesquisas do Grupo na década de 1980, trazendo impressões atuais e considerações sobre uma Brasília de hoje.

Essa entrevista mediada pelo Iphan/DF levantou temáticas caras à preservação de Brasília, sobretudo ao enfatizar a importância do Grupo de Trabalho para o processo de patrimonialização da capital. Ao relembrar a trajetória do GT-Brasília, seus pesquisadores identificaram o importante papel do Grupo ao ser constituído por diferentes profissionais dirigidos por Aloísio Magalhães, então diretor do CNRC e um dos idealizadores do GT. A sua organização como um grupo tripartite, formado pelo GDF (Governo do Distrito Federal), Sphan/Pró-Memória e UnB (Universidade de Brasília), trouxe não só um poder de discussão e de ação ampliados, como também a possibilidade de estruturação das instituições que formavam o GT.

A diversidade de visões e experiências trazidas pelos técnicos possibilitaram um olhar generoso para Brasília, entendendo que, para a sua preservação, era necessário observar o território adjacente ao Plano Piloto, a “ancestralidade desse território”. Esse seria o início dos trabalhos, a busca por identificar nas “preexistências” da capital valores associados à sua história. O suporte dado por essas pesquisas iniciais permitiu que o GT avançasse na sua metodologia de análise para o Plano Piloto.

O objetivo do GT era estabelecer parâmetros e diretrizes para a preservação de Brasília, deixando claro que a escrita do Dossiê de candidatura à Unesco ocorreu no decorrer das pesquisas, e não se mostrava como uma meta inicial. O ponto de partida, segundo os próprios membros, se deu com base no temor de descaracterização do Plano Piloto, temática essa recorrente nas discussões sobre Brasília na década de 1980. Acompanhando o processo das pesquisas, percebe-se o direcionamento para outras questões, além do temor de alterações na cidade, indicavam a busca de uma preservação que equilibrasse possíveis transformações às permanências desejadas. Com isso surge o termo “preservação dinâmica”, assunto discutido ao longo dos textos do Relatório Síntese de 1985.

A segunda parte do livro, a transcrição do Relatório Síntese de 1985, permite entender o que foi o GT e qual a sua principal contribuição. Dividido em oito textos, o relatório cobre de maneira sintética as principais temáticas levantadas pelo Grupo, não necessariamente na ordem em que as pesquisas foram realizadas. Porém, mais importante do que buscar uma cronologia, esse relatório possibilita entender como os assuntos estão relacionados, e como isso forma um conjunto coerente com o objetivo de propor a preservação da capital.

O surgimento do GT-Brasília tem estreita ligação com a necessária demanda de estudos mais aprofundados sobre a capital na década de 1980. A partir dos objetivos de estudar, propor e adotar medidas para a preservação de Brasília, o GT encontrou como ponto de partida para as suas pesquisas uma cidade em crescimento, cujo território urbano apresentava diferentes morfologias e realidades distintas entre o Plano Piloto e suas “cidades-satélites” (1). Além da abordagem físico-espacial, entendia-se, por parte do Grupo, que o DF possuía uma história própria associada ao seu território, buscando com isso valorizar o que se defende como uma possível memória da capital. Dessa forma, o primeiro texto, A memória da capital, destaca inicialmente três frentes de trabalho: o pré-existente, compreendido como o vernáculo da região Centro-Oeste; as manifestações pioneiras associadas à Arquitetura Moderna; e o meio natural.

O GT-Brasília, ao realizar suas pesquisas com um amplo território, precisou observar a cidade em termos físicos, através das pesquisas de campo, e também de um aparato teórico que desse suporte para as análises. Das discussões internas ao Grupo se destacam alguns princípios que norteariam os trabalhos. O primeiro deles era a busca pela não “cristalização” dos espaços, no sentido de privilegiar as transformações cotidianas pelas quais a cidade passava, sem perder de vista o que seria essencial para a sua preservação. A discussão envolvendo o necessário equilíbrio entre as permanências e as transformações de Brasília representa a origem da preservação dinâmica. Esse é um conceito para o qual não há uma definição explícita, nem no Relatório Síntese de 1985, nem em outros documentos sobre o GT. Porém, ao analisar o conjunto de proposições do Grupo, entende-se que o preservar dinâmico seria o respeito às transformações da cidade, sem perder suas características mais essenciais.

Ao longo da trajetória do GT-Brasília, a preservação dinâmica seria materializada em um conjunto de diretrizes para a salvaguarda da capital. Nesse processo para a elaboração dessas diretrizes, o Grupo entendia ser fundamental realizar o que se chamou de Caracterização Preliminar do Plano Piloto. Essa caracterização tem suas origens teóricas discutidas no segundo texto do livro: A preservação dos espaços urbanos: marco teórico para Brasília; e seus resultados são apresentados no terceiro texto: Caracterização Preliminar de Brasília – Plano Piloto. Caracterizar Brasília para o GT significava entendê-la através de seus atributos arquitetônicos edilícios, paisagísticos e urbanos, com a intenção de buscar características essenciais e acessórias da cidade. Para essa análise, o Grupo se baseou em metodologias da morfologia urbana.

A caracterização elaborada pelo GT-Brasília foi realizada em duas etapas. A primeira, no qual se observou o “todo e suas partes”, é apresentada a relação entre a cidade projetada por Lucio Costa no final da década de 1950 e a Brasília daquele momento, década de 1980. Dessa primeira etapa, um mapa foi gerado com a delimitação de um perímetro, a Área de Interesse para Preservação (AIP). Ainda dentro dessa área consta a Área de Interesse Especial, marcando exatamente o desenho do Plano Piloto. Esse perímetro acompanhou os trabalhos do GT até o momento da edição do Dossiê Brasília e da proposta de seu anteprojeto de lei para a salvaguarda da cidade, ambos de 1987.

A segunda etapa da caracterização se voltou para o interior desse perímetro delimitado, selecionando seis categorias físico-espaciais para observar a área. As categorias eram: sítio físico, planta baixa, silhueta, tipologias das edificações, estrutura interna do espaço e elementos acessórios. Seguindo o objetivo de destacar características essenciais, que ensejariam a uma proteção mais rigorosa, e características secundárias, de preservação mais livre, o GT destacou nessas categorias elementos que seriam imprescindíveis para o momento posterior de elaboração de diretrizes para Brasília. Isso quer dizer que havia o interesse em assegurar o que entendiam ser uma suposta identidade da capital. É perceptível, ao observar essa análise, que o GT trouxe uma possível visão da cidade, e que diferentes análises por outros agentes poderiam gerar múltiplos resultados nessa caracterização.

O trabalho com o Plano Piloto foi complementado por uma pesquisa de opinião com a população do Distrito Federal, cujo resultado se apresenta no quarto texto do Relatório Síntese de 1985, Pesquisa de Imagem do Plano Piloto de Brasília, junto à população do DF. Com essa pesquisa, o GT objetivava compreender, segundo a população que usufruía do Plano Piloto (não apenas quem ali residia, mas também o frequentava para diferentes atividades), quais as características da cidade eram fundamentais para a preservação. Dentro dessa perspectiva foram elaboradas nove questões. A contribuição desse questionário está em destacar o olhar da população sobre os indicadores para a proteção de Brasília. As perguntas versavam sobre questões de orientabilidade, mobilidade, aspectos afetivos e características consideradas essenciais. Também sobre as alterações na cidade, desde o seu projeto, e ainda uma proposta de abairramento. Apesar de uma pesquisa preliminar, o trabalho do GT se mostrou atento à perspectiva daqueles que vivenciavam Brasília, não se atendo somente a uma questão puramente técnica.

O trabalho junto ao Plano Piloto compreendeu, além de questões práticas, discussões sobre o processo construtivo enquanto cidade projetada e erguida entre o final da década de 1950 e as décadas seguintes. Através do reconhecimento das configurações espaciais presentes no Plano Piloto, e das transformações ocorridas desde o início da construção, o GT identificou quatro fases no processo de sedimentação histórica. A primeira, de 1960 a 1969, identificada como fase de construção; a segunda, de 1970 a 1974, fase de sedimentação; a terceira, de 1975 a 1979, primeira fase de expansão; e a quarta, após 1980, segunda fase de expansão. Essa análise, destaque do quinto texto, O processo de sedimentação histórica do Plano Piloto de Brasília traz um olhar sobre as transformações pelas quais a cidade passou e demonstra como reconhecer esse processo daria subsídio para propor um modo de preservação para a capital.

Os dois textos seguintes, O vernáculo da região Centro-Oeste e Conjuntos representativos da época da construção de Brasília abordam as pesquisas do GT junto às preexistências de Brasília. A questão do vernáculo da região é discutida através de dois grupos específicos, as antigas fazendas e os centros urbanos antigos datando do século 19. Em ambos, Planaltina e Brazlândia recebem destaque ao guardarem a maioria desses exemplares. Apesar de análises específicas para cada caso, as propostas de proteção seriam basicamente as mesmas, principalmente ao considerarem que apenas um conjunto restrito de exemplares arquitetônicos, ou mesmo áreas urbanas, preservavam as características consideradas pelos técnicos como essenciais. Também há ênfase na mesma ideia proposta para o Plano Piloto, de que a preservação deveria ser dinâmica e integrada ao processo urbano de Brasília.

Os acampamentos pioneiros, compreendidos como o conjunto de representantes da época da construção de Brasília, foram abordados de maneira similar às demais preexistências. Contudo, o Grupo destacou a condição de provisoriedade desses lugares que deveriam ser demolidos após o término das obras. Esse dado se torna importante ao ser associado à história de lutas da população para a sua permanência. Apesar disso, muitos desapareceram completamente, restando alguns exemplares da antiga Cidade Livre (hoje Núcleo Bandeirante), Candangolândia, Vila Metropolitana e a Vila Planalto. Essa última representou um caso excepcional, pela localização ao lado da área central do Plano Piloto, e pelo êxito no processo de tombamento desse conjunto no ano de 1988 através do trabalho do GT junto à comunidade local.

Além dessas frentes de pesquisa direcionadas à proteção da arquitetura e do urbanismo, o último texto, Um estudo para a preservação da paisagem natural do Distrito Federal se dedica à paisagem do Distrito Federal. Para o GT-Brasília, preservar a cidade significava compreender também a relação entre a paisagem e o meio urbano, buscando nessa integração a proteção aos recursos naturais existentes. A partir da premissa de que o cerrado guarda características muito próprias, e que sua transformação excessiva poderia alterar o equilíbrio ambiental, o Grupo buscou, através de um mapeamento da região, propor áreas de preservação, não apenas das espécies vegetais, mas a noção de conjunto entendida como a paisagem e sua identidade.

Ao finalizar a leitura desse livro, que resgata a trajetória das pesquisas do GT-Brasília, fica a sensação de um trabalho vasto e que merece ser mais divulgado. O Relatório Síntese de 1985 traz uma síntese de tudo que o GT produziu. Ele abarca todas as frentes de pesquisa realizadas, iniciando pelo Plano Piloto, o contato com as preexistências da região e também o meio natural recebe destaque. Essa amplitude permite ver como o Grupo precisou se aproximar de diferentes questões e temáticas para propor uma preservação para Brasília.

Apesar do livro, e do relatório, não deixarem claro quais foram os resultados do trabalho do GT-Brasília, o Grupo seguiu pesquisando até 1988, quando encerrou suas atividades. Antes disso realizaram o Dossiê Brasília e um anteprojeto de lei para a preservação, ambos condensando os resultados alcançados pelo Grupo e trazendo em seus textos a essência do que seria preservar Brasília para o Grupo de Trabalho.

Níveis de proteção para Brasília
Imagem divulgação [Fonte: IPHAN. GT-Brasília: memórias da preservação do patrimônio cultural do Distrito Fede]

nota

1
Desde 1988 é vetado o termo “satélites” em documentos oficiais, porém, ainda hoje boa parte da população intitula as Regiões Administrativas do Distrito Federal de cidades-satélites.

sobre a autora

Jéssica Gomes da Silva possui graduação pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília, é mestre também em arquitetura e urbanismo pela mesma universidade e atualmente é doutoranda pelo PPG-FAU/UnB. Autora da dissertação O GT-Brasília na trajetória de patrimonialização da capital (UnB, 2019).

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resenha do livro

GT Brasília

GT Brasília

Memórias da preservação do patrimônio cultural do Distrito Federal

Carlos Madson Reis, Sandra Bernardes Ribeiro and Thiago Perpétuo (Orgs.)

2016

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