O autor, nascido em João Pessoa, formou-se em arquitetura pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1973, tendo mestrado pela Universidade de Edimburgo, em 1979, doutorado pela Universidade de Paris I, em 1990, e pós-doutorado pela Universidade Nova de Lisboa, em 2001. É autor de livros voltados ao estudo e análise da arquitetura brasileira, com maior foco a linha da historiografia arquitetônica, em especial a nordestina. Ocupou a função de Professor da Universidade Federal da Paraíba entre 1983 a 2013.
O livro aborda, em termos gerais, sobre a origem, ou a base, do que podemos considerar o barroco brasileiro. De forma didática e bem descritiva, Sousa nos entrelaça em um conjunto de questões sobre de onde seriam advindas as influências estético-compositivas para a elaboração daquela que é considerada como a primeira obra-prima da arquitetura barroca do nosso país.
A análise a respeito da mesma é clara e bem abordada a partir de ilustrações e imagens que corroboram a justificativa do autor, não somente da importância histórica da Igreja Franciscana de Cairu, mas também de seu valor arquitetônico, que para o mesmo é pouco ou relativamente discutido e apresentado ao meio acadêmico. E, a respeito, compreendo a percepção do autor, haja vista que em minha época de acadêmico graduando, na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, praticamente a referida obra não fora mencionada, assim como as suas apreensões características de frontaria.
Inicialmente Sousa nos apresenta uma instigação para os que não conhecem ou uma reavaliação de contraste entre a base estilística, na época do século 15, no Brasil, e a obra central do livro. Tendo como foco uma análise dos padrões estéticos brasileiros, nos é apresentada uma representação de como a obra chave desta produção deveria ter sido projetada caso fosse tomado como eixo construtivo os artifícios composicionais então presentes no país.
Esse destaque nos transmite, de forma direta e intencional, o pioneirismo que Sousa defende, no decorrer de sua explanação textual, sobre o mérito que, segundo o mesmo, é pouco relevado no país, como sendo a nossa primeira produção arquitetônica erudita, ou seja, a primeira que não seguiu ou não procurou ser uma cópia das edificações religiosas portuguesas.
No decorrer de seus cinco capítulos é abordada uma sequência de informações e análises que tomam sempre como foco a Igreja Franciscana de Cairu e o seu projetista, Frei Daniel de São Francisco. As interpretações arguidas no livro procuram expor, desde a introdução, os aspectos então regulares acerca da produção de frontaria inicialmente em Portugal, e que posteriormente chegou ao Brasil e tornou-se o molde estético aplicado.
Concomitantemente é apresentado o primeiro apontamento de diferenciação entre estas e a frontaria da obra central deste livro, o seu caráter cenográfico. Assim como esta foi o eixo para toda uma justificativa ao traçado da frontaria alvo deste estudo, desde sua estrutura principal, até seus elementos composicionais aplicados com fins de embelezar esta obra seiscentista brasileira.
São traços de sua fisionomia que a tornam pioneira e, portanto, com mérito ao germe inventivo, no país, de um padrão inusitado de partido que, como apresentado no decorrer do livro, serviu de influência a outras obras religiosas, a destacar no nordeste brasileiro, como na Bahia, Pernambuco, Recife, Olinda e outros, mas que também extrapola para outras regiões. Todavia Sousa não deixa de mencionar a falta de uma exposição acerca da obra nas investigações científicas, logo, segundo ele “com o presente livro nos propomos a corrigir a injustiça de nossa historiografia arquitetônica em relação à igreja franciscana de Cairu” (p. 17).
De forma secundária, porém não menos importante, Sousa também explana, para melhor compreender os processos para a criação da frontaria daquela igreja, a respeito de seu artista criador, Frei Daniel de São Francisco, ao qual é tomado como base os capítulos 1 e 2. O autor aborda parte da vida do religioso e como se desenvolveram, segundo Sousa, as prováveis oportunidades de contato deste como aquelas que seriam as influências estéticas que serviram de cerne para a solução projetual da igreja brasileira em Cairu.
Através de um estudo de datas e análises composicionais, o autor nos apresenta o que estava então em voga no Brasil, no século 15, acerca de frontaria, e o quanto estas formas são diferentes do que foi executado na Igreja Franciscana de Cairu: são variantes de fenestração, frontão, vestíbulos, alpendres e outros que auxiliam a distinguir, ao mesmo tempo, o que era apresentado como possibilidades de referências no Brasil. Ou seja, ele usa a linha de refutar pela análise das composições de frontaria, atentando não só a estética, mas as composições dos elementos que eram aplicados, tanto no país quanto no âmbito internacional, destacando aquelas que seriam as obras mais icônicas daquele momento.
Analisando os estilos internacionais, com destaque para Portugal, Sousa procura deixar bem claras as diferenças entre as produções do estilo Chão, com caráter mais racional em relação a composição de frontaria da igreja em Cairu, com uma explicação detalhada da composição dos elementos aplicados. Para isso, ele estrutura os capítulos 3 e 4, em uma sequência de análises ao estudo de frontaria.
Há um entrelaçamento de ideias a justificar a influência para a frontaria, na qual o autor procura explicitar aspectos sobre a criatividade e a ideia de beleza, da época, para o desenvolvimento e uso de frontispícios-cenários. E o tanto quanto estes podem ser considerados como bases da frontaria da Igreja Franciscana de Cairu – que o autor considera inusitada e original.
Outro aspecto comentado pelo autor se trata de fazer a leitura da fachada desta igreja não somente como composição arquitetônica, mas, também, como um produto simbólico e que, regrado ao princípio da teatralidade, serve como eixos de delimitação para a linguagem barroca presente na referida obra. Assim, explana-se sobre as influências alemães, italianas e portuguesas que personalizam a sua frontaria.
Por fim, o capítulo 5 consiste nas apreensões do autor acerca do caráter barroco da Igreja Franciscana de Cairu. Naquela a base é procurar delimitar aquilo que Sousa traduz como as cinco características que determinam a frontaria desta arquitetura como enquadrada na linguagem barroca, e, portanto, sendo a primeira expressão desta, no país, no quesito de produção original.
Destaca-se a dramaticidade de sua composição com ponto de maior relevância nas análises de Sousa, pelas quais movimento, contornos e artifícios compositivos são aplicados criando uma cena ilusória a sua composição de fachada, sendo, ao mesmo tempo, harmoniosa e com primazia temporal. A partir de uma abordagem atentada e alicerçada em critérios da historiografia internacional, o autor aponta, no último capítulo, em caráter de ratificação, a importância desta obra religiosa para a historiografia arquitetônica brasileira.
Partindo da explanação de casos que repercutiram após a primeira edição deste livro (2005), e seus avanços nas pesquisas e estudos sobre os tratamentos e composições de frontarias na arquitetura religiosa do Brasil, Sousa discute sobre a simbologia como unidade para o desenho do frontispício da Igreja Franciscana de Cairu. Assim como esta se torna fonte de influência para outras produções no país – algumas consistindo em cópias dela – além servir como inspiração para o denominado padrão “frontão à pernambucana” (p. 139).
Ao término deste livro, compreende-se a importância e relevância da Igreja Franciscana de Cairu para o país, assim como a problemática no que concerne aos estudos depurados sobre arquiteturas no Brasil. As evidências e amplitude na forma como Sousa aborda o tema e a didática de seu texto são de evidente compreensão de zelo para com esta pesquisa, e que pode auxiliar nos estudos acerca de frontaria e sobre a linguagem barroca brasileira.
sobre o autor
Felipe Moreira Azevedo é arquiteto e urbanista (FAU UFPA), mestre e doutorando pelo Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo (PPGAU), na Universidade Federal do Pará.