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architexts ISSN 1809-6298


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VILLAC, Maria Isabel. Um novo discurso para a megacidade. Projeto Praça do Patriarca. Arquitextos, São Paulo, ano 02, n. 018.01, Vitruvius, nov. 2001 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/02.018/827>.

O enunciado atual da cidade

“Urbe imensa
Pensa o que é e será e foi
Pensa no boi
Enigmática máscara boi
Tem piedade
Megacidade
Conta teus meninos
Canta com teus sinosa felicidade intensa
Que se perde e encontra em tiLuz dilui-se e adensa-sePensa-te” (2)

A cidade e a vida urbana não são a mesma coisa. E se, efetivamente, é mais fácil construir cidades que vida urbana (3), São Paulo contraria esta premissa. Cidade caótica, imensa, complexa em seus traçados, agressiva na exposição, mais ou menos aparente, de sua lógica e do ritmo desenhado por sua estrutura. Entretanto, uma grande metrópole.

São Paulo é uma cidade que “é como o mundo todo” (4). Todas as cidades e nenhuma: a vida urbana que ensina a riqueza, a diversidade, o erotismo, a dispersão e o estranhamento; a moldura pós-moderna para o pesadelo obsceno da violência da miséria e do abandono, que são essas marcas do sorriso cínico do progresso imediato e sem inteligência do colonialismo interno; a cara metropolitana que é passagem para uma inteligência mais provinciana e afetiva.

São Paulo é uma cidade cosmopolita e singular, cuja íntima inscrição na monumentalidade desse cosmopolitismo é uma trama recôndita, entranhada, mais bem um tecido semperiano (5). Um primeiro olhar revela a sombra de São Paulo, sua aparente invisibilidade e essa contrariedade e simetria em ser uma moderna cidade do terceiro mundo e uma arcaica cidade do novo mundo. Mas a vitalidade paulistana, sua sociabilidade, busca uma mirada próxima. Uma mirada que, como uma membrana, penetre os interstícios de sua vocação construtiva-destrutiva. Uma mirada aberta que se detenha na sua sociabilidade e perceba um quadro impressionista anteposto à visão da cidade cubista (6).

A porosidade do artefato

“A revalorização do Centro da cidade de São Paulo terá que amparar afirmações inventivas sobre o poder de comunicação das formas, um reviver da arquitetura urbana.” (7)

Para quem sobe as escadas rolantes da Galeria Prestes Maia que cruza, por baixo do viaduto, o Vale do Anhangabaú, o artefato que o arquiteto projeta é um portal de acesso e uma moldura para a Praça do Patriarca. Para quem, em sentido inverso, olha para o Viaduto do Chá, o artefato abre a perspectiva em direção ao Centro Novo.

Tornar visível a cidade, como o espaço da história e da possibilidade do prazer e da surpresa da vida urbana, é o desafio que a circunstância atual da Praça do Patriarca propõe. E é na Praça do Patriarca onde a arquitetura do arquiteto Paulo Mendes da Rocha já não acentua, no domínio e na densidade da matéria, o novo que quer despertar o entorno e se propõe como um fundamento que estima configurar menos a si mesmo que à atmosfera circundante.

“Esta estrutura se resolve com formas adequadas, leves e um tanto de aparência instável, convocando sensações imprevistas.[...] A cor deverá ser clara. Branca.” (8)

“Ó formas alvas, brancas. Formas claras.” (9)

A nova cobertura que Paulo Mendes da Rocha projeta para a Praça do Patriarca é o primeiro projeto do arquiteto cuja materialidade "única", em aço, contraria a preeminência do concreto aparente. O desenho do artefato proposto se compõe de um pórtico rígido – quase porta – e uma lâmina – quase arco – que no pórtico se encaixa e no qual se pendura distendida e articulada.

O conjunto metálico da Praça do Patriarca abre uma nova ordem na materialidade das obras de Paulo Mendes e busca, na precisão e alta resistência da leveza que se expressa na cor branca, a determinação e a expansão de sua virtude. Diferente do concreto aparente, que mostra sua robustez material e exibe o áspero e primitivo de sua textura para concentrar e deter a expressão, despertar e aprofundar vazios internos, o metal é leve, resvaladiço, e não reclama um olhar tátil. Sua visibilidade, que é a propriedade física que o constitui, é da ordem do deslizamento, da reflexibilidade e da condutibilidade.

O concreto aparente possui um arcaísmo concentrado, uma certa resistência a uma mirada distraída que, nas obras do arquiteto, até o projeto da Praça do Patriarca, é a materialidade que expõe a exigência de mudanças sociais. A nudez do concreto, quando é estrutura, muro e vedação, não permite sublimações, conduz a uma atitude introvertida, reflexiva, e sua intensidade material é, no Brasil, a metáfora do conflito entre a vontade de uma distinta ordem social e a resistência à mudança.

O metal, por sua parte, pode estruturar-se com muito pouca matéria. É uma substância na qual os esforços fluem com tal sutileza, que a tensão estrutural não se percebe como resistência, senão como tenacidade técnica e potente leveza. A cor branca, além do mais, devido à sua propriedade refletora, não torna mais densa a presença da forma que recobre, e lhe retira qualquer evocação ao processo de desgaste e ruína advindos do tempo.

A gravidade sem peso do artefato que o arquiteto Paulo Mendes projeta para a Praça do Patriarca, leve e ágil, se estrutura de forma sintética, possui uma solidez transigente, de aparência instável, que busca surpreender o contexto circundante. Talvez porque a cidade seja compacta, construída sobre si mesma, o artefato que o arquiteto inventa para a Praça do Patriarca flutua, quer mover-se com o vento, de forma literal. Talvez seja esta decisão, orientada pela quase imaterialidade do aço e configurada pela forma simples, pela luminosidade solar da cor branca e pela tendência ao movimento, a gentileza necessária para restaurar o espaço propício à vida urbana.

A leveza instável que se propõe é a inflexão, o novo da contemporaneidade, a diferença que se mostra como marco: uma forma delicada, luminosa, capaz de adotar o conteúdo do entorno, e que se abre à lógica mutante da cidade. Esta leveza e simplicidade pode tornar visível a vocação da cidade (10), pois propõe abrir espaço e render seu tributo à relação que existe entre contemporaneidade e patrimônio arquitetônico e urbanístico.

A forma do artefato está plasmada pela dinâmica "intra e extra arquitetura", e o que está em questão não é somente a arquitetura como construção, senão a contemporaneidade como tal, sob os aspectos com que a arquitetura constrói e interpreta espacialmente a cidade. Isso envolve uma antropologia do espaço, ligada, diretamente, tanto ao tema funcional a que se refere o projeto, como à amplitude temática que quer abarcar e simbolizar.

O artefato se mostra assim, somente estruturado: aberto à percepção do diferente no igual. Isso o torna muito estruturado, vazio, receptivo ao contexto do construído e à sociabilidade que povoa o espaço da cidade e deve servir de referência ao Projeto de uma urbanidade sempre renovada. Como se a forma estruturada tornasse possível alcançar a cidade em seu desenho, originar-se conjuntamente com ela para voltar a fundá-la, a uni-la. Desenhá-la outra vez, para que seu complexo tecido alcance a máxima visibilidade do gesto e do texto vivo de sua fundação. E também, porque não?, ensinar sua geomorfologia, seu potencial paisagístico, sua estrutura; mas voltando a escrever o mesmo texto do movimento e da textura de uma sociabilidade inaugural.

Elegia à cidade
“[...] E quem vem de outro sonho feliz de cidade, aprende depressa a chamar-te realidade”.

São Paulo é um "palimpsesto" (12) e, como tal, foi reconstruída várias vezes. Progressista e em contínuo processo de ruptura consigo mesma (13), São Paulo apresenta uma modernidade sempre contemporânea, tecnológica e vanguardista. Decadente, a cidade cresceu sem visão de conjunto, sem controle, e não se articula como um organismo, o que gera um sentimento de impropriedade e abandono. Seu espaço como território único define, por tanto, no momento contemporâneo, uma cidade de vocação "atópica" e caótica, uma não-cidade.

O pórtico/arco da Praça do Patriarca é uma referência a essa São Paulo de muitos movimentos, mas ao mostrar-se contrário aos seus extremos, propõe um ponto de equilíbrio a esta complexidade: o artefato estrutura a reta e a curva, o portal e o arco, o vazio e o cheio, o objeto e a cidade. Na fronteira entre a arte e o urbanismo, a simplicidade de uma linha e de uma superfície curva conecta a praça à perspectiva, propriamente urbana, da cidade e recompõe a fissura do tecido urbano em constante desestruturação.

A arquitetura que se propõe para a Praça do Patriarca estranha a atopia, mas não é indiferente a ela. A obra abre e torna transparente uma possível urbanidade ao articular um desenho que, sem apagar as contradições nem as ambigüidades, aceita o caos como parte da realidade e se propõe a habitá-lo como conciliação. Seu desenho delicado se opõe à opacidade do construído, abre espaço para conectar a espacialidade da paisagem. Como se houvesse estado sempre aí, formando parte da praça, o artefato aceita a eloqüência da voz e do texto da urbanidade paulistana, reconhece a sintaxe dos paulistas (14).

Sem que se perca o dinamismo, que é a matriz renovadora da cidade, o artefato reivindica para São Paulo o zelo e o sentimento que originaram o arquétipo metropolitano, contido no ambiente vanguardista (15) e na qualidade racional e construtiva de seus planos urbanísticos (16) da modernidade da primeira metade do século. Com uma mirada afetiva em relação à opacidade que cobriu e enclausurou o coração de São Paulo, propõe que a articulação do caos e da atopia seja a poética da vida urbana e o raciocínio da cidade como arquitetura construída segundo princípios artísticos (17).

“Não simplesmente restaurar, também criar novos desenhos que abriguem, amparem e expressem hábitos, símbolos urbanos contemporâneos, do tempo em que vivemos.” (18)

Uma obra arquitetônica, isolada em uma praça, tende a ser escultórica e monumental. Não obstante, sua monumentalidade adquire uma qualidade complexa quando seu atributo é a interpenetração que permite articular os edifícios do entorno. Desde a ordem interna de seu próprio desenho, desde sua determinação em emoldurar uma nova mirada, o pórtico e o arco do projeto da Praça do Patriarca – duas formas tradicionais – criam uma figura espacial cuja estrutura é a solenidade do vazio dentro de um marco que se expande. Sua substância imaterial é vibrante, ativa, projetada.

O pórtico/arco se coloca como uma entidade plástica que, embora guarde sua autonomia, se ampara na intenção de ser um elemento ativo, extensivo ao entorno, porque atua com expressividade centrípeta e torna potente o espaço, antes difuso, para criar uma situação de espaço envolvente. Para conseguir esse efeito, introduz o sentido do movimento como orientação; permite tanto um descobrimento gradual como uma visão súbita, porque estrutura o centro de sua geometria em imagens que preenchem seu interior e se prolongam além dos limites da forma.

A obra adverte um novo movimento no contexto urbano: não se funde com o espaço circundante, mas o acolhe como fundamento de seu sentido na justaposição, de sua escala e forma, à experiência particularmente recôndita dos espaços contíguos. Sua leveza e transparência remetem tanto ao permanente como ao intermitente, tanto aos registros como as marcas. Assim logra que a espacialidade que propõe acomode o uso, o hábito e os símbolos urbanos aos desígnios de sua própria consistência.

É o pórtico/arco que devolve à praça seu caráter compacto e íntimo. A praça, que ainda mantêm a escala tradicional e provinciana dos inícios do século XX, encontra, no projeto de Paulo Mendes da Rocha, a afirmação da escala da pequena igreja e da escultura de Ceschiatti. Por outro lado, os edifícios, anteriormente mudos, fechados em si mesmos como construções unitárias, se "reinauguram" na dimensão do fluxo do tempo e, voltam a participar da ordem urbana, se reintegram. E assim recuperam a importância do sítio urbano como espaço antropológico necessário à morfologia da cidade e ao conhecimento que se desenvolve, no tempo, sobre a noção e o valor do patrimônio histórico.

 “[...] a cidade, com as conquistas a nível estético, representa uma conquista popular” (19).

Mas o pórtico e o arco da Praça do Patriarca também querem restituir a noção mais elementar de patrimônio (20) e elege a vaidade como tributo à monumental cidade cuja beleza se escondeu. São Paulo, quando definiu sua "voraz" vocação industrial, a partir da segunda metade do século XX, parece que associou a noção de progresso e eficiência à imagem de uma cidade feia e a idéia de restrição ao que é sério e essencial.

E é por isso que o projeto para a Praça do Patriarca se desvencilha do preconceito contra a beleza e reclama uma São Paulo mais bonita e legível para os usuários. Com um desenho orientado para o futuro, resposta à profundidade lógica e à complexidade técnica, o artefato propõe uma São Paulo que quer ser de novo uma bela cidade, e cuja sociabilidade se deseja mais evidente, mais luminosa.

Elegia ao cidadão

“A sociedade rejeita, mas a cidade não!" (21)

Vale lembrar que a cidade é o traçado da materialidade permanente. O vazio é o espaço público por excelência. Se a cidade é a materialidade construída e pensada como artefato, o vazio é o que define a vitalidade urbana, o espaço das relações humanas, o povoamento da cidade. O vazio é a condição para o livre acontecimento do encontro, o "a través de" necessário para os sucessos e contingências que tornam propícia a vida urbana. E é por isso que, como um contorno que enquadra e, ao mesmo tempo, é antagonista com a saturação do já visto, a forma que define o pórtico/arco é porosa, vazia, liminar: aberta à paisagem, abre um espaço de transparência e se mostra receptivo.

O pórtico/arco define um plano que deve ser transposto. A leveza luminosa e dúctil da equação estrutural pórtico/arco da Praça do Patriarca é uma tendência ao movimento. E este movimento, que o artefato abriga e que a forma sugere, é um jogo complexo entre a superfície e a profundidade, que não fixa a história como permanência e marca o projeto como uma relação fluida entre o sujeito e o espaço urbano.

Se a sociabilidade de São Paulo se esconde na obscuridade de uma visão trágica, o pórtico/arco propõe educar o sentimento (22) de pertencer à cidade e, assim, recordar ao cidadão comum sua qualidade de ator principal na construção de seu traçado, homenageá-lo como guardião da vida urbana e dos laços que se estabelecem em seu exercício.

O pórtico/arco tem uma escala reduzida, sua visualidade plena recusa a leveza como algo frágil: tem corpo, elasticidade, sólida capacidade de tensão, e sua forma contem o gesto do abrigo. E é esta escala, corporeidade e presença protetora, que configuram a dimensão íntima do artefato e inauguram sua receptividade em relação ao sujeito. O pórtico/arco, como um quadro, uma fissura que interrompe o anonimato, constitui um monumento ao cidadão; abre a perspectiva de recebê-lo dentro da amplitude e visibilidade do espaço público.

O artefato é um rito de passagem, um torii (23), uma porta que define, momentaneamente, um centro, e este enfoca a humanidade do homem como necessidade premente. Habitar o pórtico transforma ao transeunte na chave do sentido de existência da urbanidade: o aproxima da perspectiva da cidade, o convida a ocupar seu mesmo campo e o enquadra na perspectiva de sua importância humana.

A sociabilidade e o novo discurso para a megacidade

“A gente tem procurado não estabelecer rupturas, mas uma recomposição histórica capaz de fazer da experiência humana uma sublime cantata e andante em relação ao nosso destino de pleno gozo da vida, de abolir a miséria, o sofrimento. A arquitetura não resolve essas questões, mas é uma grande coadjuvante, dá forma aos artefatos, ao abrigo, às instalações que teremos de fazer para realizar a aventura existencial de sermos num certo lugar". (24)

O pórtico/arco é receptivo, mas também expressivo. Diante da cidade, a arquitetura do pórtico/arco espera ser compreendida, em sua singularidade e historicidade, como ação diante da realidade, ou seja, como desdobramento da memória e do imaginário, onde o que está em jogo é a própria cidade e o sujeito; "todos", como objeto do discurso.

O pórtico/arco não tem interior nem exterior. Sua arquitetura é côncava e convexa e se define por contornos que, entretanto, estruturam um núcleo íntegro que não opõe resistência. Integrada à paisagem e receptiva à sua realidade palpável, o pórtico/arco, que é a própria forma da transitoriedade, "arquiteturiza" a efemeridade do tempo. Uma forma proposta como limite aberto e como materialidade flexível que projeta um espaço orientado para multiplicar relações e indicar direções.

O pórtico/arco contêm urbanidade e humanidade. Sua igualdade de dimensão entre individualidade íntima e magnitude pública é o entendimento da vida urbana e sua sociabilidade. E é esta configuração que abre a possibilidade de um lugar como locus, e que se quer permanente, pois é a simultaneidade e coexistência de dimensões que cria a possibilidade de conexão de um com o todo. Lugar fronteiriço, portanto, o pórtico/arco enfatiza a tênue passagem que entrelaça distintos tempos – passado, futuro, o agora – e distintas qualidades de espaços – ordem e imprevisibilidade. Seu projeto é despertar a percepção impressionista, recordar e alimentar a cidade interior em cada transeunte: imagens dessa São Paulo do passado, do presente, do futuro em conexão; vivências, visões interiores e perspectivas de ser cidadão, projetos de um “sonho feliz de cidade” (25).

Cobertura na Praça Patriarca em São Paulo. Paulo Mendes da Rocha
Um novo discurso para a megacidade. Projeto Praça do Patriarca. Maria Isabel Villac. Arquitextos 018.01, nov 2001

Memorial
Modernização de estruturas urbanas. Centro histórico de São Paulo

A revalorização do centro da cidade de São Paulo deve conter afirmações interessantes sobre a dependência entre as idéias e as formas, um reviver da arquitetura urbana. Não simplesmente restaurar, mas, também, criar novos desenhos que abriguem, amparem e expressem hábitos. Símbolos urbanos do tempo em que vivemos.

Pensando na modernização e revitalizão desta área de importância cultural estratégica na história da cidade e na sua dinâmica atual, propõe-se reorganizar o trajeto de veículos e as paradas de ônibus na área, utilizando o Viaduto do Chá, em sua extensão de 240m, como terminal, abrigado por uma leve cobertura de aço e cristal, já sugerida em 1898 pela Câmara Municipal.

A Praça do Patriarca, por sua vez, tem seu piso original restaurado onde, estrategicamente se reloca a escultura de Ceschiatti e recebe uma nova cobertura para o acesso à Galeria Prestes Maia, localizada sob o viaduto. Este artefato arquitetônico é a peça mais importante do conjunto de propostas, uma vez que dialoga com a escala da cidade antiga e realiza a praça na escala do pedestre. Como um portal para a praça e, em sentido inverso, moldura das visuais e espaços abertos, propomos uma cobertura suspensa, que não toca o chão, e uma arquitrave que a sustenta, ambas em formas adequadas, leves, brancas e de aparência um tanto instável, convocando sensações imprevistas.

[escrito para Catálogos de Arquitectura Contemporánea - GG/1995]

Ficha técnica

Nome da obra
Praça do Patriarca – reforma urbana

Descrição
Estudo viário, uso da praça e das visuais, reconstituição do piso e da espacialidade dos monumentos, substituição do abrigo das entradas da Galeria Prestes Maia.

Realização
Emurb - Empresa Municipal de Urbanização
Associação Viva o Centro / Unibanco

Localização
São Paulo SP, Área Central

Data do projeto
1992

Proposição do projeto
Adex Propaganda Ltda.
Coordenação
Arq. Regina Meyer

Projeto
Arq. Paulo A. Mendes da Rocha

Arquitetos colaboradores
Katia Bomfim Pestana
Giancarlo Latorraca
Marcelo Laurino

Estagiários
Luciana Fukimoto Itikawa
Martin Gonsalo Corullon

Pré dimensionamento da estrutura
Engº Fernando Stucchi

Cálculo da estrutura
Maubertec Engenharia e Projeto Ltda.

Consultorias
Estrutura Metálica – Engº Julio Fruchtengarten

Análise dinâmica
Engº Paulo Mattos Pimenta

Fotos da maquete
Daniel Renault

Projeto executivo (iniciado em 2000)
Arq. colaborador: Eduardo Argenton Colonelli

notas

1
Do diagnóstico de um iminente desastre, ocasionado pela falta de planejamento e gestão da cidade, e do anseio pela renovação urbana de São Paulo nasce um novo projeto para a Praça do Patriarca. Parte integrante de outros projetos que compõem a iniciativa Viva o Centro, a obra foi contratada pela EMURB para ter iniciada sua construção, quem sabe, ainda este ano.

2
Caetano Veloso, letra da canção Aboio.

3
GAVIRIA, Mario. "Prólogo para Henri Lefebvre", In: Le droit à la ville. 1968, trad. cast., El derecho a la ciudad. Barcelona, Península, 1969, p. 10.

4
Caetano Veloso, verso da canção Vaca Profana.

5
Gottfried Semper, in Os quatro elementos da arquitetura, 1851, propunha, para a arquitetura, um constructo antropológico, compreendendo: 1. Uma lareira; 2. Um terrapleno; 3. Uma armação e um telhado; 4. Uma membrana envoltória como ato diferenciador, de tal modo que a textura pode ser literalmente identificada com a proto-linguística da produção têxtil que é, para Semper, a base de toda civilização. Em nossa interpretação, esta membrana, que se constrói por capas sucessivas, é um limite, uma superfície e, como tal, um modelo de visão que reveste e oculta a profundidade do espaço nos extratos de seu próprio construir.

6
Também para o olhar do estrangeiro, a invisibilidade de São Paulo contrasta com “o paradigma inquieto de uma cidade que deve ser vivida de dentro e de fora. Que deve ser vista nos seus detalhes micrológicos e nas suas abstrações noturnas.”, CANEVACCI, Massimo. Cidade Polifônica – Ensaio sobre a antropologia da comunicação urbana. São Paulo, Studio Nobel, 2ª edição revista e ampliada, 1997, p. 255.

7
ROCHA, Paulo A. Mendes da. Memória descritiva do Projeto Patriarca, publicação Viva o Centro.

8
Idem.

9
Cruz e Souza, O ABC das formas, apud ROCHA, Paulo A. Mendes da> Memória descritiva do Projeto Patriarca, publicação Viva o Centro.

10
Cada cidade tem a sua própria vocação”. ROCHA, Paulo A. Mendes da. "O arquiteto diante da desagregação urbana / O artista reclama participação", in: O Estado de São Paulo, São Paulo, 13/05/1972.

11
Caetano Veloso, verso da canção Sampa.

12
São Paulo é um palimpsesto – um imenso pergaminho cuja escrita é raspada de tempos em tempos, para receber outra nova, de qualidade literária inferior, no geral. Uma cidade reconstruída duas vezes sobre si mesma, no último século.”, TOLEDO, Benedito Lima de. São Paulo: três cidades em um século. São Paulo, Duas cidades, 1983, 2ª ed., p. 67.

13
São Paulo é autodissolvente. São Paulo é a dissolvência.”, CANEVACCI, Massimo, op. cit., p. 33.

14
Vamos atentar para a sintaxe dos paulistas”, Caetano Veloso, verso da canção Língua.

15
Referência ao ambiente cosmopolita e provinciano do Modernismo Brasileiro.

16
A partir de 1911, o crescimento de São Paulo é estudado como ampliação da área central. O estudo mais importante, como se sabe, é o Plano de Avenidas, projetado em 1929 pelo engenheiro Prestes Maia.

17
Referência a Aldo Rossi, A arquitetura da cidade e a Camillo Sitte, A construção das cidades segundo princípios artísticos.

18
ROCHA, Paulo A. Mendes da. Memória descritiva do Projeto Patriarca, op. cit., p. 48.

19
ROCHA, Paulo A. Mendes da. "O arquiteto diante da desagregação urbana / O artista reclama participação", op. cit.

20
Diferentemente do conceito de "patrimônio histórico" que exige distância no tempo e se impõe por seu valor histórico, o conceito de "patrimônio" nasce associado ao julgamento estético da obra e tem origem na prática de se construir monumentos, cujo propósito, de natureza essencialmente afetiva, é “tocar, pela emoção, uma memória viva”. CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio. São Paulo, Estação Liberdade, 2001, p. 18.

21
Cita de um “homeless”, publicada em um jornal paulistano, mencionada por Paulo A. Mendes da Rocha no ciclo de conferencias Less is more, Barcelona: julho de 1996.

22
“[...] l'arte è radicata nell'esperienza; ma l'esperienza, a sua volta, è construita nella memoria e preformata nella immaginazione [...] L'esperienza artistica è perciò l'educazione del sentimento [...]”, LANGER, Susanne. A Theory of Art,, 1953; trad. it., Sentimento e forma, Milão, Feltrinelli, 1965, p. 436.

23
Pórtico tradicional japonês que assinala dois espaços distintos.

24
ROCHA, Paulo Archias Mendes da. "Trajetória pessoal e modernidade". Depoimento a José Wolff, AU – arquitetura e urbanismo, São Paulo, n. 18, jun/jul 1988.

25
Caetano Veloso, verso da canção Sampa.

sobre o autor

Maria Isabel Villac é arquiteta formada pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Mackenzie, em 1977. Especialista em Didática do Ensino Superior pela Universidade Mackenzie, em 1990. Professora de Projeto Arquitetônico e Teoria e História da Arquitetura e do Urbanismo, desde 1986. Doutoranda em Estética e Teoria da Arquitetura Moderna na Escola Técnica Superior de Arquitetura de Barcelona.

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