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drops ISSN 2175-6716

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Considerando que numa cidade grande atual, com grande impermeabilização do solo, 80% da água da chuva pesada escoa superficialmente colapsando seu sistema de drenagem, o autor sugere investimentos em projetos complementares de retenção de águas de chuva.

how to quote

SANTOS, Álvaro Rodrigues dos. Piscinões verdes contra as enchentes. Drops, São Paulo, ano 15, n. 084.01, Vitruvius, set. 2014 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/15.084/5283>.



As enchentes urbanas têm sua principal causa na incapacidade das cidades em reter suas águas de chuva, o que as faz, pela impermeabilização generalizada de sua superfície, lançar essas águas em enormes e crescentes volumes, e em tempos progressivamente reduzidos, sobre um sistema de drenagem que não mais lhes consegue dar a necessária vazão. O excesso de córregos canalizados e o intenso assoreamento por sedimentos, lixo e entulho que atinge todo o sistema de drenagem urbana só fazem agravar o problema.

Não é por outro motivo que o Coeficiente de Escoamento Superficial – parâmetro que expõe a relação entre o volume das águas que escoam superficialmente sem infiltrar no terreno e o volume total de uma chuva – nas grandes cidades brasileiras está atingindo a escandalosa ordem de 80%. Ou seja, 80% do volume de uma chuva pesada escoa superficialmente comprometendo rapidamente seu sistema de drenagem. Inversamente, em uma floresta, ou um bosque florestado urbano, o CES fica em torno de 20%; ou seja, cerca de 80% do volume de uma chuva torrencial é retido pela floresta, alimentando em boa parte, por infiltração, o lençol freático.

Fica claro que, ao contrário do que gostam de afirmar nossos governantes, as enchentes urbanas não acontecem por um eventual excesso de chuvas, ou, mais prosaicamente, por vingança dos deuses, e muito menos como efeito do polêmico aquecimento global, mas sim, liminarmente, pela absurda compulsão com que as cidades procuram livrar-se de suas águas pluviais o mais rápido que possam.

Frente a esse claro diagnóstico é estranho e inconcebível que os programas oficiais de combate às enchentes, insistindo isoladamente nos dispendiosos projetos de ampliação das calhas de nossos principais rios, não tenham até hoje implementado um arco de medidas voltadas a recuperar a capacidade das cidades em reter suas águas de chuva, ou seja, medidas que atacariam as enchentes em suas causas elementares.

Inúmeros são os dispositivos e expedientes conhecidos para o aumento da retenção das águas de chuva, como calçadas e sarjetas drenantes, pátios e estacionamentos drenantes, valetas, trincheiras e poços drenantes, reservatórios para acumulação de águas de chuva internos aos lotes, multiplicação dos bosques florestados na cidade etc. Todos devem ser implantados, pois será a somatória de seus efeitos que propiciará os resultados hidrológicos esperados. Como um bom exemplo, por sua eficácia hidrológica e por seus enormes trunfos ambientais, vale destacar a importância da multiplicação dos bosques florestados urbanos, entendidos como espaços da cidade assemelhados a uma verdadeira floresta. Comportar-se-iam como verdadeiros e virtuosos piscinões verdes, tão diversos dos atuais deletérios piscinões, que comportam-se como verdadeiros agentes de deterioração sanitária, ambiental e urbanística das cidades onde vem sendo instalados.

Importante considerar que para que os bosques florestados realmente cumpram um papel representativo no combate às enchentes teriam que ser disseminados em profusão por toda a área urbana, o que, do ponto de vista ambiental, já seria um espetacular ganho. Muitas praças nossas, hoje praticamente sem árvores, inúmeros terrenos públicos e privados totalmente abandonados, áreas urbanas demarcadas como APPs- Áreas de Proteção Permanente, como também áreas internas de cemitérios, condomínios, órgãos públicos, clubes, escolas etc., poderiam ser transformados rapidamente em bosques florestados. Incentivos fiscais ou de outra natureza poderiam ser direcionados ao atendimento desse objetivo. Pode-se trabalhar na perspectiva de, ao final de um determinado prazo, cada sub-bacia hidrográfica urbana passe a contar com um mínimo de 12% de sua área total cobertos por pequenos, médios ou grandes bosques florestados, o que, em termos hidrológicos, significaria reduzir, somente via esse expediente, em cerca de 10% ou mais o volume pluvial que escoa hoje para o sistema de drenagens urbanas colaborando para a ocorrência de enchentes.

sobre o autor

Álvaro Rodrigues dos Santos, geólogo, ex-Diretor de Planejamento e Gestão do IPT e Ex-Diretor da Divisão de Geologia, autor dos livros Geologia de engenharia: conceitos, método e prática, A grande barreira da Serra do Mar, Cubatão e Diálogos geológicos, consultor em Geologia de Engenharia, Geotecnia e Meio Ambiente.

 

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