lothar charoux (viena, 1923 – são paulo, 1987) pertence ao grupo de pioneiros que em 1952 lançou em são paulo o manifesto ruptura, em cujo verso vinha escrito em vermelho:
a obra de arte não contém uma ideia, é ela mesma uma ideia.
negando a arte como cópia da realidade em favor da arte concreta, esse postulado produz um corte radical em relação à tradição figurativa. na prática, a introdução dos princípios construtivos na arte brasileira constitui uma revolução estética cujos efeitos chegam até nossos dias. do campo restrito da arte, ela se estende a produtos gráficos como jornais, revistas, cartazes, livros etc. e ao design de móveis, luminárias e objetos utilitários em geral.
charoux foi dos que apostou na modernidade. para ele, mais que um ato de rebeldia, a adesão aos elementos fundantes do discurso plástico veio a ser a realização de uma vocação. em sua obra, desaparece qualquer resquício de naturalismo, e tudo se reduz à linha, à forma e à cor.
trabalhando na horizontal, sobre prancheta, à maneira dos arquitetos, o artista privilegia o desenho a tinta nanquim ou guache e, mais tarde, a acrílica sobre papel. é notável a economia de meios com que se exercita na prospecção do espaço bidimensional. atraído pela ambiguidade das soluções visuais, charoux se dedica à exploração dos fenômenos óticos.
ascético nos recursos empregados, tudo o que cria vem da paixão com que investiga as possibilidades da linha. seu desenho nunca é jogo mecânico ou frio, nem se torna repetitivo por mera conveniência. sua obra – ao mesmo tempo racional e sensível – manifesta a persistência de quem acredita estar na trilha do conhecimento.
a arte de charoux – com seus ritmos ascendentes, suas vibrações cromáticas, seus feixes luminosos – não se prende ao suporte. a dinâmica de suas composições remete ao solene cinetismo do espaço cósmico.
sobre a autora
maria alice milliet é curadora
nota
NE – O texto curatorial da exposição Lothar Charoux – razão e sensibilidade (IAC – Instituto de Arte Contemporânea e MuBA – Museu de Belas Artes de São Paulo, 24 de setembro a 06 de dezembro de 2014) foi publicado em caixa baixa por determinação da autora Maria Alice Milliet, curadora da exposição, em referência aos textos dos artistas concretistas.