A Luz
Campo, caminho, pouso. Chácaras… Horto, jardim botânico, passeio público – depois parque. Ermida, convento, igreja e seminário. Quartel, cadeia. Bulevar, avenida. Ferrovia, metrô: estações. Hotéis e pensões. Residência popular e cortiço: (pequena) indústria: pólo comercial. Escola, politécnica, colégio e liceu. Museus: arte sacra e pinacoteca. Sala de concertos e universidade de música… São estes alguns dos “temas” que distinguem a história do bairro da Luz, região central de São Paulo (1): individualizados em representações arquitetônicas (não raro) notáveis, a forma em que se combinam e (re)arranjam reflete e traduz os “tempos” da cidade. Tal singularidade – morfológica e funcional – talvez tenha a ver com a própria posição que área ocupa na estrutura urbana: como lugar de transição, “fecha” a primeira coroa dos bairros que envolve (desde o início do século) o “centro” da cidade e “supõe” “a existência de uma “lógica de localização” que, mesmo “de maneira implícita, deu coesão e unidade ao (seu) processo de formação e transformação, (assegurando-lhe) os significados tanto no nível municipal quanto no metropolitano”. (2)
No entanto, a despeito do rico vocabulário e da interessante sintaxe, da força figurativa e da “densidade” semântica, a área da Luz parecia condenada a uma implacável espiral de declínio. Impulsionada pela contradição que opunha (e opõe) – quase ao paroxismo – as propriedades e potencialidades urbanas, arquitetônicas e urbanísticas, daquela região central às dificuldades e problemas sociais que, ali acumulados, permeiam-lhe a vida e marcam-lhe a paisagem, o processo de decadência refletia a assimetria perversa inerente ao “modelo ecológico” da cidade (que, se não é exclusividade de São Paulo, aqui se mostra contundentemente: nítida, ampliada e crescente e não restritaà chamada "periferia"). Desprezando ou negando as condições excepcionais de localização e acesso, depreciando e impossibilitando a utilização adequada e coerente dos elementos de infra-estrutura, das construções e das áreas livres – sejam elas públicas ou particulares – , esse processo – reforçado por grandes equívocos da “engenharia” pública – incidiria negativamente sobre o funcionamento e a imagem urbanas, e promoveria a marginalização da moradia e a exclusão dos moradores; a obsolescência das atividades e a degradação do uso coletivo dos espaços.
Diante deste quadro, parece inquestionável que, depois de décadas de equívocos, quando não de abandono, os últimos investimentos públicos realizados na Luz apontam para um processo de reversão do ciclo negativo. Por um lado, há a iniciativa de conhecidas ações empreendidas ou programadas pelos poderes públicos (governo do estado e prefeitura), além de uma ou outra realização institucional (e patrocínio particular) (3). Por outro lado, há a perspectiva – tantas vezes adiada e aqui mais uma vez referida – do “Programa Monumenta”, iniciativa de âmbito nacional do Ministério da Cultura com financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID, de recuperação do patrimônio cultural e de revalorização de sítios urbanos. Seja como for, esta nova (ou renovada) “atenção” com a valorização da Luz parece impulsionada sobretudo por iniciativas que contemplam a recuperação e reciclagem de “arquiteturas” (muitas delas de grande interesse) para sede de funções artísticas e culturais (de certo modo, sofisticadas ou mesmo inovadoras). Se neste processo de (re)ativação do potencial do bairro os empreendimentos previstos para a modernização dos serviços de transporte terão seu peso específico, no entanto, não se pode eludir a realidade de que tal reativação não deixa de constituir uma operação parcial, seletiva e localizada. As iniciativas em curso (ou mesmo aquelas programadas) – em grande parte devido ao próprio caráter de sua concepção e realização, restringido, como é, ao “pontual”, “setorial” ou “porta-adentro” – não têm se mostrado suficientemente potentes para convocar e deflagrar processos de transformação de maior envergadura e participação. Assim é que, diante do quadro dos enormes desafios que o objetivo de “reconstrução da cidade” coloca, a convicção (quem sabe se não consensual) sobre a “urgência” de recuperação da Luz parece não ter ainda “encontrado” um programa, plano ou projeto mais articulado e integrado que a traduza em fator de mudanças fecundas, conseqüentes mas, por isto mesmo, necessariamente abrangentes. Contribuir para o debate, refletindo sobre como “desenvolver” e “construir” disciplinarmente – isto é, dentro dos âmbitos e com os instrumentos próprios ao urbanismo e à arquitetura – alternativas para a Luz, é o objetivo deste artigo (4).
Hipóteses
O que sustenta e desafia essa reflexão é a hipótese de que o processo de reversão de tendências em curso na Luz só resultará na criação de um ciclo multiplicador e duradouro, se as ações da transformação puderem ser (re)definidas em coerência com um marco de referência – mais geral, abrangente e diversificado – que as articule com outras escalas e as integre com outros programas. Não se estará dizendo nada de novo com a idéia do projeto da cidade contemporânea (mais do que nunca) “requerer” a consideração das relações que cada parte urbana mantém com os “diversos” níveis territoriais superiores, ao mesmo tempo que “reconhece” a específica “estabilidade” (ou, melhor, “instabilidade”) de cada situação ou lugar. No entanto, apesar da aparente obviedade, isto não deixa de exigir uma nova abordagem conceitual e prática que recoloque a noção de identidade e limite: tanto no sentido mais especificamente cognoscitivo de “recortar” ou “isolar” um contexto com uma fisionomia-autonomia própria, natural e/ou histórica, quanto no sentido operativo de refletir sobre o significado atual e efetivo desse contexto, sobre sua potencialidade interna, suas relações de interação e seu “valor de recurso” (5). A medida pela qual aumenta o risco de se impor soluções de continuidade ao território (intra e extra-urbano) é a mesma pela qual as tecnologias da (tele)comunicação questionam (duramente) a possibilidade da delimitação de um "campo”, morfológico ou funcionalmente “estável”, “dado”, “estabelecido” ou “configurado” de uma vez por todas: “a distância da velocidade (não) oblitera a noção de dimensão física”? (6)
Seja como for, nesta perspectiva mais do que nunca o esforço de delimitação de um “campo” territorial mostra sua inexorável vinculação a intenções projetuais e, portanto, apresenta-se, necessariamente em grande medida, arbitrário. Portanto, a pergunta que aqui sobressai diz repeito a qual (“definição” da) Luz lidar como “tema” e “escala” de um projeto de recuperação e revalorização urbana? Aquela definição proposta em 1977 pelo escritório de Cerqueira Cesar (7), que (apoiada em critérios técnicos, a seu tempo, “dedutivamente” rigororosos) “recortava” generosa e amplamente um contorno desde os rios, para depois ser “lido” e “transformado” segundo parâmetros quantitativamente pré-fixados? Ou a estabelecida em 1984 pelo Projeto Luz Cultural que circunscrevia um “polígono” formado pela posição de (e as rotas de percurso entre) “bens tombados” enquanto “teatro” de programas artístico-culturais? Ou, ainda, de acordo com a visão “oficial” do Monumenta, os “círculos de influência” traçados em torno de um “pólo” (necessariamente “tombado”), no caso representado pelo edifício da estação? Diante desta indagação, a armadilha da “rigidez” (senão da esterilidade) (8), implícita à “(pré)definição” de uns limites operativos talvez possa ser evitada se, precisamente, as estratégias analíticas e propositivas puderem ser construídas “centradas” (e sucessivamente ajustadas) a partir das relações de “mediação” que se possa, a cada tempo, evidenciar entre um “lugar” (enquanto “situação” morfológica e social reconhecível, mesmo que provisoriamente) e as (múltiplas) “escalas” e “velocidades” implicadas/compartilhadas na cidade contemporânea (“fatores” da incerteza, indeterminação e imprevisibilidade atuais, são elas que conferem pertinência prática e sentido, instabilidade e devir à cada situação específica).
No caso da Luz, desde uma “leitura” possível do processo de crescimento e transformação urbana, pode-se supor que tal “mediação” venha fecundamente “indagada” a partir da “imagem significativa” de dois eixos definidores desse mesmo processo (o quê, como ponto de partida, os pressupõe elementos “fortes”, constituintes da estruturação e configuração espacial e “suporte” de funções e significados). Tal “evidência” (metáfora “redescoberta” ou “reinventada”) mostrar-se-á instrumento conceitual e metodológico adequado, coerente e fértil, se permitir sugerir elementos (ou configurações) de transformação próprios à “matriz genética” do crescimento urbano da Luz (ou seja que “reconheçam” e deixem reconhecer as “lógicas” sobrepostas de sua construção), ao mesmo tempo que possa “condensar”, “expressando-as” produtiva e figurativemente, as escalas e relações urbanas implicadas (mesmo porque, como se observou, são elas que “definem” o sentido e o valor de cada específico lugar). Isto talvez “abra” possibilidades (interpretativas e operacionais) aptas a “captar” linhas de mudança e a “guiar” a objetivos de transformação desejados: a imaginação das novas “condições” a “desenhar” supõe a definição do grau e âmbito de mudança possível a cada etapa e o estabelecimento dos critérios, dos temas e das técnicas urbanísticas a ela pertinentes. Neste sentido, aqui cabe apenas lançar a hipótese, que será desenvolvida a seguir: tendo os “eixos” (9) como “material” e “referência” do projeto de transformação da Luz, as sucessivas aproximações e modificações, que a “metáfora espacial” proposta supõe, devem permitir conceber e organizar, medir e verificar as ações ou operações de intervenção em coerência com “uma” visão de conjunto e com “uma” “abertura” (ou encadeamento temporal) que possa “acolher” e “expressar” as múltiplas e diversas contingências da cidade contemporânea e seu devir.
Problematizando o processo de decadência da área da Luz, região central de São Paulo (e a incapacidade de iniciativas setoriais de superar a resistência ou inércia a mudanças que possam (re)valorizar sua "morfologia" social e espacial) , a hipótese de projeto urbano —necessariamente abrangente — que se propõe aqui discutir, defronta-se com duas questões principais, e constrói-se recolocando conceitualmente seus termos. A primeira delas indaga sobre a identidade do lugar e, portanto, sobre a delimitação do "campo" ou "área-programa" de uma intervenção possível; e a outra — complementar, senão condicionante da primeira, já que é ela que confere pertinência prática e sentido àquela — refere à noção das relações territoriais, à articulação de formas e sistemas, à diversidade e multiplicidade de "escalas" e "velocidades" implicadas na constituição da cidade contemporânea. Nesta perspectiva (10), a metáfora espacial sugerida será uma “redução” coerente e fértil, se ela puder selecionar e dispor “material” urbanístico consistente; isto é, apto à “mediação” conceitual e sensível e potente em termos operativos. Se esta hipótese é plausível, então o exercício da descrição e interpretação das características estruturais, formais e figurativas destes “eixos” (de mobilidade e interação), permitirá “explorar” as possibilidades das “escalas” urbanas implicadas, apontando por si mesmo o caminho das soluções (11).
Tiradentes e Mauá
O primeiro dos eixos a ser considerado surgiu como estrada de ligação do núcleo urbano inicial de São Paulo com os caminhos para Minas. Realçando a linha de inflexão que marca a transição topográfica entre o platô da Luz e a encosta da várzea do Tamanduateí, assim serviu como “suporte” para a implantação de equipamentos da cidade colonial (convento) e da imperial (horto e cadeia). Convertida depois em bulevar (notável em termos dimensionais e paisagísticos), essa via interconectou (e assim propiciou a consolidação de) um conjunto de usos interessados às práticas institucionais, acadêmicas, culturais e religiosas da nova e da velha repúblicas (fazendo-se representar através de “arquiteturas” de reconhecida qualidade, tais usos sucessivamente reafirmaram a importância do papel urbano atribuído a ela). Porém, reflexo e produto do modelo “rodoviariarista” do crescimento urbano e das desastrosas políticas setoriais que progressivamente foram conferindo hegemonia a esse modelo, a antiga avenida – Tiradentes é seu nome – resultou transformada em “via (não tão) expressa”: a última intervenção ocorrida, configurando amplas faixas de circulação, segregada em nível, acabou por determinar o completo impedimento de contato entre as partes que antes constituíam um só (coeso e reconhecível) conjunto urbano. Decorrência do “efeito-barreira”, a contínua depreciação física e ambiental das bordas imediatas da antiga avenida gera e alimenta um quadro de desordem e degradação cuja reversibilidade parece depender sobretudo de alternativas que contemplem (mas não só) a minoração do “impacto” viário (12).
O outro eixo – Júlio Prestes/Mauá – configurado ao longo do obstáculo interposto pelas vias férreas inicialmente implantadas por volta de 1870, tem na sequência das “arquiteturas” ferroviárias a “condensação” de sua forma, sua imagem e seus significados mais potentes. Se o processo de depredação, obsolescência e desprestígio dos serviços ferroviários – conseqüência indesejada do modelo automobilista referido – pode ser tomado como um dos fatores de depreciação e deterioração urbana da área, este fator, no entanto, talvez deva ser tomado como parcial, localizado (13) e… reversível. Isto porque, invertendo os antigos sinais da decadência, em face das novas “condições” e “exigências” ferroviárias, esse processo traz em seu bojo inéditas potencialidades inerentes à perda da vigência de antigos usos. As iniciativas de reativação dos edifícios mais importantes para novas – ou renovadas – funções (notadamente no setor dos transportes e da esfera artística e cultural), reinventando o “papel”, o “peso” e o “alcance” dos antigos equipamentos, sem deixar de (ou melhor, obrigando) supor projetos de reconversão de grandes áreas livres, ociosas ou sub-utilizadas – seja na Luz, seja no Pari, seja no Parque Pedro II – indaga e sugere possibilidades urbanísticas que interessam não apenas a essas áreas específicas, mas que referem à reestruturação da área central como um todo. Particularmente quando se tem em vista as questões implicadas na configuração da nova geografia das relações metropolitanas e suas “referências”, tendencialmente conectadas e articuladas em forma de “rede” policêntrica.
Possibilidades (implícitas)
Em relação à concretização da potencialidades (acima) entrevistas, as alternativas de projeto – submetidas à luz da “lógica rádio-concêntrica” da circulação central – passam pela consideração de que a participação efetiva do “eixo ferroviário” (trecho Duque de Caxias/Mauá) como “segmento” da contra-rótula central nunca se realizou plena e/ou adequadamente. Isto sempre representou motivo para alimentar contradições (a ameaça “histórica” de desapropriação para alargamento da rua Mauá embora, ou mesmo porque, nunca concretizada, impede novas construções, ao mesmo tempo que não “encoraja” o uso e a manutenção minimamente adequada dos imóveis particulares remanescentes). E também constituiu (e constitui) razão para gerar conflitos localizados (opondo preferências dos carros aos pedestres em uma “geometria” improvisada, descontínua e imprópria). Se, ademais, tais contradições e conflitos puderem ser analisados dentro do conjunto de questões urbanísticas “pendentes” e que se mostram difíceis de “resolver” dadas as características físicas e funcionais do tecido urbano da Luz (problemas de micro-acessibilidade, ociosidade da infra-estrutura em parte do período, baixa qualidade da habitação, etc), então os “contornos” da área que se apresenta como mais “problemática” e, assim, “prioritária” para a intervenção urbanística, revelar-se-ão um pouco mais nítidos. E, pelas “diferenças” que são possíveis identificar nas áreas em que se pode “dividir” a “orla ferroviária” da Luz, as principais questões a enfrentar evidenciam-se: especialmente no interior do perímetro que da Rua Mauá estende-se, entre Cásper Líbero e Júlio Prestes, até as ruas da Santa Ifigênia.
Por outro lado, (“retornando” ao primeiro eixo), deve-se notar que ao cruzar como via expressa a área da Luz, a avenida Tiradentes não só secciona e segrega em compartimentos estanques seus “dois lados”, mas, ao mesmo tempo, tendo em vista os impactos físicos e ambientais produzidos, também subtrai condições adequadas para utilização dos passeios laterais. Então, diante da manifesta “impossibilidade” do atual desenho da avenida, e independentemente da solução a ser adotada para a “dissolução” do bloqueio ou do prazo que isto possa requerer, “emerge” – como “questão” de projeto do eixo Tiradentes – a possibilidade da criação (ou recuperação) de um sucedâneo à avenida. Embora não refira à capacidade de “resolver” o problema da fragmentação urbana, e tampouco interesse à circulação motorizada, a idéia de um “duplo” diz respeito sobretudo à “ampliação” e “melhoria” da relação centro-bairro. Fazendo aflorar e consolidar um percurso pedestre já quase todo “impresso” no solo urbano, parece claro que tal alternativa deriva – “naturalmente” apoiando-se nela – da confirmação e ampliação do papel que a Estação da Luz exerce. Seja como elemento polarizador (papel esse a ser corroborado pela expectativa da “transposição” operacional das linhas e pela consequente ampliação da demanda) (14). Seja como peça articuladora: o novo projeto de modernização funcional e de restauração arquitetônica da estação garante – embora de um modo, quem sabe, demais “conservador” (15) – o sistema e os dispositivos de transição entre os “dois lados” da estação – por sobre e, no futuro, igualmente, por sob os trilhos.
Mas a concretização dessa alternativa de articulação centro-bairro depende também (e muito) da “atração” que se possa renovar no setor localizado ao norte do Parque da Luz (procurando reproduzir em outra dimensão a lógica da relação eixo-equipamento consagrada no antigo bulevar Tiradentes). Aí, marcando e conferindo materialidade e nitidez à configuração renovada do eixo pedestre, alinham-se o próprio Parque (seu histórico eixo central é reafirmado como matriz e diretriz do percurso) e o antigo “conjunto Politécnico”, devidamente reciclado e aberto ao uso público: os equipamentos (16), dispostos em torno da praça Fernando Prestes, garantem-lhe o sentido, exigem a recuperação desta e, sobretudo, reclamam a reconversão arquitetônica de uma “propriedade” municipal – a antiga Garagem Municipal. A “incrível” sub-utilização deste imóvel só faz ressaltar suas dimensões – 7.500m2 – e o posicionamento que ocupa na estrutura urbana – intermediária entre o parque e a praça. Para além dos aspectos físicos, formais, funcionais ou simbólicos potencialmente “plasmáveis” por um novo projeto de arquitetura (e seu vínculo constitutivo da articulação centro-bairro), tal intervenção mostra-se estratégica também do ponto de vista da viabilização financeira e da garantia de durabilidade das ações de recuperação da Luz. Sua oportunidade revela-se nos termos de uma possível (e desejável, ou inevitável) concessão onerosa à iniciativa privada para a construção e exploração de um novo complexo terciário. Desde que estejam garantidos, como princípio básico do projeto arquitetônico (talvez escolhido através de concurso), os seguintes pontos principais (que por ora não cabe senão itemizar):
– disponibilidade de ampla e franca articulação “horizontal” do jardim com a praça;
– atendimento da demanda por vagas de estacionamento;
– inovação tecnológico-construtiva e configuração espacial adequada à pluralidade de programas;
– (e em coerência com a “tese” defendida) “diálogo” (“trans”-)contextual.
notas
1
CESAR, R. C, FRANCO, L. R. C., BRUNA, P. J. V. Área da Luz – Renovação urbana em São Paulo. São Paulo: Editora Perspectiva, 1977
2
Vários. Perfil de Projeto -Área da Luz . São Paulo: IPHAN/9CR, CONDEPHAAT, DPH, mimeo, 1997, s.p. Apud: SALES, P. M. R. Projeto Luz – A respeito de uma proposta de recuperação do patrimônio cultural urbano. In: Cidade: Revista do Departamento do Patrimônio Histórico, nº 5, jan. 1998
3
Por parte do Governo do Estado: Pinacoteca, Sala São Paulo, Escola de Música, além dos projetos de modernização/integração dos serviços ferroviários, incluindo a construção da linha 4 do metrô e a restauração da estação da Luz e seu entorno. Quanto às ações da administração municipal tem-se a recuperação do edifício Ramos de Azevedo e recuperação parcial do Parque da Luz. A iniciativa privada responsabilizou-se pela restauração da igreja de São Gonçalo.
4
Nossos argumentos operativos poderão ser encontrados nosso artigo: SALES,P. M. R., “Luz, São Paulo: as diretrizes de um projeto urbano”, Minha Cidade nº 35, novembro 2001
5
BALBO, Pier P. Il progetto urbano. Gaugemi Editore, Roma, 1992
6
VIRILIO, P. The overexposed city in LEACH, N. Rethinking architecture: a reader in cultural theory. Londres: Routledge, 1997
7
CESAR, R. C, FRANCO, L. R. C., BRUNA, P. J. V. Op. cit
8
Os “contornos” que foram ou têm sido definidos no contexto dos vários projetos concebidos para a Luz hoje ressaltam sua limitações: conotados historicamente, revelavam-se estáticos; operacionais, vinham pré-fixados e mostravam-se auto-referentes.
9
Desde já os dois “eixos” podem ser identificados como sendo, um de “interligação centro-bairro” – Cásper Líbero/Praça F. Prestes – , e o outro, “ferroviário” – Júlio Prestes/Tiradentes.
10
Perspectiva essa que ressalta sua desvinculação de eventuais nexos que possam ser sugeridos em relação a acepções disciplinarmente convencionais ou consagradas, como as representadas pelos “axes franceses” ou pelos azzi attrezzati italinos”, particularmente recorrentes nos planos dos 60 e dos 70.
11
Deve-se observar que tal linha de indagação passa ao largo da exaustão de informações sobre aspectos setoriais, evitando a notória redundância e manifesta inutilidade dela decorrentes, em favor da visão crítica de conjunto e em direção à determinação concreta dos problemas.
12
O rebaixamento do leito das vias, talvez em trincheira, se apresenta como alternativa a ser melhor estudada, mas de qualquer modo é de longo prazo.13
Isto porque, a par da visível decadência da área que se situa junto à linha de divisa sul da ferrovia, tanto as atividades comerciais tradicionalmente organizadas e continuamente reinventadas em torno da rua Santa Ifigênia, quanto o setor têxtil implantado a partir da rua José Paulino, ambos apresentam dinâmicas próprias e fortes.
14
Conforme previsto pelo Plano Integração Centro da Companhia Paulista de Transportes Metropolitanos – CPTM.
15
Quanto à discussão sobre as mais recentes alternativas do projeto da Estação da Luz ver: CARRILHO, Marcos. "A modernização da Estação da Luz". Minha Cidade, nº 12. São Paulo, Portal Vitruvius, maio 2001 <http://www.vitruvius.com.br/minhacidade/mc012/mc012.asp>. Sobre o projeto da Estação Júlio Prestes ver: ZEIN, Ruth Verde. "Opacidade versus cidade". Minha Cidade, nº 19. São Paulo, Portal Vitruvius, abr. 2001 <http://www.vitruvius.com.br/minhacidade/mc019/mc019.asp>.
16
Casa da Memória Paulistana, sede da FATEC, museus e teatro.
sobre o autor
Pedro M. R. Sales é formado e doutorado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo (FAUUSP), professor da Universidade Católica de Santos e arquiteto da Secretaria de Planejamento Urbano da Prefeitura