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drops ISSN 2175-6716

abstracts

português
Marcelo Ferraz fala sobre o arquiteto Luiz Sadaki Hossaka, falecido recentemente. Segundo o autor, uns dos mais importantes guardiões da memória do MASP, talvez uma das últimas testemunhas das aventuras do professor Bardi nas aquisições das obras

english
The article by Marcelo Ferraz on the architect, Luiz Hossaka Sadako, who died recently. According to the author, one of the most important guardians of MASP memory, perhaps one of the last witnesses of the adventures of Professor Bardi in the acquisition

español
Artículo de Marcelo Ferraz sobre el arquitecto Luiz Sadaki Hossaka, fallecido recientemente. Según el autor, uno de los más importantes guardianes de la memoria del MASP, quizás uno de los últimos testigos de las aventuras del profesor Bardi en las obras

how to quote

NAME, Leo. Rio For Partiers. Somos todos seus coautores. Drops, São Paulo, ano 10, n. 029.01, Vitruvius, set. 2009 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/10.029/1809>.


Desde janeiro deste ano a imprensa nacional tem noticiado sobre a ação que a Advocacia Geral da União, a pedido da Embratur, tem movido contra o guia Rio For Partiers. Publicado pela Editora Solcat Ltda., o guia é escrito em inglês pelo brasileiro Cristiano Nogueira, é revisado anualmente, e foi assunto de um artigo meu publicado na Arquitextos no final do ano passado (1). Tratava-se de um texto antigo, guardado na gaveta há algum tempo, que por isso tinha como referência uma edição de 2004 de Rio For Partiers, o que foi esclarecido em nota no artigo. O processo contra o guia sustenta que a publicação viola a dignidade humana e expõe o brasileiro à situação vexatória, além de estimular o turismo sexual combatido pelas atuais estratégias governamentais no setor. Em relação a este último quesito, têm destaque as quatro categorias de mulheres cariocas descritas pelo guia, dentre elas as popozudas, intituladas “máquinas de sexo” com as quais “o motel é sempre uma opção”.

Cristiano Nogueira, em sua defesa, vem argumentando que a própria Embratur veiculou até o final da década de 1990 anúncios em que mulatas seminuas portavam sensualmente frutas tropicais, que está sendo vítima de censura, que o processo contém apenas pequenos trechos do guia fora de seu contexto geral e que estes mesmos trechos foram retirados de uma edição de 2004, hoje alterada – o que me causa calafrios e pensamentos paranóicos sobre a possibilidade de alguém da Embratur freqüentar o Portal Vitruvius e ter se indignado ao ler meu artigo.

Em primeiro lugar, já esclareço: não gosto de Rio For Partiers, o acho de péssimo gosto ao tentar ser engraçadinho e, sim, acredito que ele é ofensivo em relação às mulheres. Mas não só a elas. Os quatro tipos de garotas cariocas retratadas pelo autor são somente o lado mais escrachado de um guia que subalterniza os cariocas e sua cultura, a cidade do Rio de Janeiro e, por extensão, todo o Brasil. O guia utiliza discursos de raízes coloniais e imperialistas visando à satisfação do leitor estrangeiro que terá na leitura a comprovação de sua superioridade. Em meu artigo na Arquitextos, destaquei alguns itens constrangedores: os homens brasileiros também são classificados em quatro tipos; é insinuada a corrupção da polícia, o funk é descrito como uma música executada por um retardado ao passo que o forró como mais um motivo para se agarrar uma mulher; e, sobre as favelas, é dito que elas devem ser evitadas pelo turista como se evita uma praga.

No que me diz respeito, esclareço que meu desconforto em relação ao guia está no fato de que reconheço em suas representações tão estereotípicas discursos que se poderia chamar, jocosamente, de “papo de mesa de bar”. Vamos lá, caro leitor, respire fundo e admita, que você, brasileiro e/ou carioca, se nunca disse alguma das gracinhas acima, com certeza já as ouviu por aí: em papos corriqueiros regados a cerveja; em conversas descontraídas nos intervalos para o cafezinho, no trabalho; nos queixumes cada vez mais robotizados sobre a violência urbana; em recriminações moralistas sobre a pornografia do funk; no comentário vexatório daquele seu amigo machista ou seu parente racista; nas afirmações apocalípticas da sua tia-avó que acha que o mundo está perdido; nos textos das notícias cotidianas de jornal que lapidam tais estereótipos e os fazem parecer providos de neutralidade...

Isto admitido, torna-se claro o quanto é absolutamente injusto e até mesmo irracional creditar a uma única publicação os malefícios dos estereótipos e das representações. Rio For Partiers é o sintoma, não é a causa. É um dos muitos retratos de como nossa sociedade cotidianamente exibe e vende sua paisagem, lida com suas diferenças internas, com o corpo e com a sexualidade, maltrata, oprime e torna objetos as mulheres, inferioriza os negros, desconsidera nossa cultura posicionando-a como atrasada perante a tradição européia e a cultura de massa estadunidense. Em outras palavras, o guia desconforta porque expõe a ferida do nosso compartilhamento e defesa, mesmo que inconscientes, de discursos geo-históricos que nos subalternizam. Rio For Partiers é apenas uma ponta de iceberg e, vale lembrar, foi escrito por um carioca que já deve ter freqüentado muitas mesas de bar e possuir algo semelhante a um amigo machista ou a uma tia-avó apocalíptica.

Somos de um país que em grande medida vive da sua imagem/paisagem e, portanto, do turismo e da construção de sua receptividade e hospitalidade “natas”. Necessitamos da boa fama, temos medo do “falar mal, mas falar de mim”. Talvez por isso, desde os idos de uma Carmen Miranda acusada de manchar a imagem do país no exterior, passando pela confusão que a Riotur tentou armar em 2002 com o episódio dos Simpsons ambientado no Rio, até o ataque que a Embratur e os críticos de cinema lançaram sobre o filme Turistas, em 2006, o Brasil e os brasileiros e, mais particularmente, o Rio de Janeiro e os cariocas têm a pretensão de controlar as representações das quais são objeto. Estranhamente, elas podem estar no papo da mesa do bar ou no chiste da sua tia-avó, mas não podem aparecer em um guia, episódio de televisão ou filme que circulam mundo afora. Nosso embaraço se origina através da transposição de fronteiras. Por outro lado, somos uma sociedade formada por indivíduos que compartilham uma hipocrisia acintosa: quase sempre declaramos que em relação à representação que consideramos estereotípica, negativa ou inadequada, não temos a menor responsabilidade. Esquecemos, neste momento, do tal papo da mesa de bar e de outras ações cotidianas que contribuem para a construção do estereótipo e para que o mesmo tenha sustentação empírica.

Não podemos esquecer que as representações – sejam negativas ou positivas (e as ultimas também são reducionistas!) – são resultantes de práticas coletivas. Somos todos, portanto, coautores das representações internas ou externas do lugar em que vivemos, pois elas se formulam através da interação que nativos e/ou estrangeiros têm entre si, e por meio da experiência concreta que os mesmos têm do espaço (que por sua vez, já está contaminada pela torrente de representações). Somos todos, enfim, sem exceção, coautores da piada de mau gosto que é Rio For Partiers. Cristiano Nogueira é um porta-voz que expõe nossos preconceitos, nossa subalternização, nosso ridículo, nosso terceiromundismo passivo... Se estivéssemos em uma mesa de bar, Cristiano Nogueira seria o sujeito que profere a pior e mais embaraçosa piada. Rio For Partiers seria a própria piada de mau gosto, da qual ninguém ri, mas que envergonha, em parte, por nos fazer reconhecer, na mais íntima e secreta das esferas da mente, os nossos mais primitivos e incivilizados instintos É por isso que Rio For Partiers nos causa tamanha indignação, mas apontar o guia como único culpado é uma dissimulação vergonhosa.

Acredito que caberia a Embratur adotar a sabedoria popular do “quem fala o que quer, ouve o que não quer”: como porta-voz de preconceitos e da estupidez de nossa sociedade, Cristiano Nogueira e seu guia devem ser, é claro, criticados, mas através da argumentação sólida. Um pedido de correção do texto ou retratação no site do guia, uma nota de repúdio enviada à imprensa, uma afirmação categórica sobre o fato de Rio For Partiers reproduzir de forma acrítica discursos de um turismo que a Embratur não quer mais defender deveria ser o máximo a ser feito, em minha opinião, pelo órgão. Por outro lado, a Embratur poderia, também, criar um selo que classificasse forma positiva aqueles guias que considerasse terem representações dos destinos turísticos do país em harmonia com suas estratégias de veiculação turística. Mas nada justifica o que está sendo feito: as representações não devem ser combatidas a partir da censura, mas questionadas através do debate e da comparação. Queimar Rio For Partiers em praça pública, além de ser ação hipócrita, abre precedentes perigosos: não há nada mais temível do que paulatinamente se exigir uma única representação de um lugar e seu povo, do que se construir a idéia de que uma representação é correta, é a certa – porque trata de forma positiva este lugar. Não foi assim com o “Brasil, ame ou deixe-o”?

notas

1
NAME, Leonardo. “Rio for Partiers: juventude, rebaixamento cultural, sexismo e consumo”. Arquitextos, n. 103.03. São Paulo, Vitruvius, dez. 2008 <www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq103/arq103_03.asp>.

sobre o autor

Leonardo dos Passos Miranda Name (Leo Name) é arquiteto-urbanista (FAU-UFRJ), doutor em Geografia (UFRJ) e professor do Departamento de Geografia da PUC-Rio.

Leonardo Name, Rio de Janeiro RJ Brasil

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