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drops ISSN 2175-6716

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português
Julio Ramos Collares traça uma retrospectiva da vida e da obra do arquiteto dinamarquês Jørn Utzon, falecido em novembro do ano passado, mundialmente conhecido por sua Ópera de Sydney

english
Julio Ramos Collares draws a retrospective of the life and work of Danish architect Jørn Utzon, who died in November last year, known worldwide for the Sydney Opera House

español
Julio Ramos Collares traza una retrospectiva de la vida y de la obra del arquitecto dinamarqués Jørn Utzon, fallecido en noviembre del año pasado, mundialmente conocido por su Ópera de Sydney

how to quote

COLLARES, Júlio Ramos. Jørn Utzon. Metáforas para o cotidiano. Drops, São Paulo, ano 10, n. 029.02, Vitruvius, set. 2009 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/10.029/1810>.


Ópera de Sydney, Jörn Utzon, 1957-73 [Christian Norberg-Schulz: Roots of Modern Architecture, Tokyo, 1988. p, 171]


Jørn Utzon nasceu em Copenhague em 1918. Faleceu no dia 29 de novembro de 2008, aos 90 anos de idade.

Embora o arquiteto dinamarquês seja mais conhecido por sua Ópera de Sydney, e realmente esta tenha sido seu projeto mais importante, um olhar sobre suas outras obras, desde os anos cinqüenta e mesmo já nos anos setenta, revelará sempre qualidades comparáveis à sua obra prima.

A virtude maior de Utzon esteve sempre na capacidade de abordar temas e escalas de projeto completamente diversos com a mesma competência.

Muitos projetos do início de sua carreira, a começar pela sua própria casa e principalmente seus conjuntos de residências, que caracterizam sua atuação no fim da década de cinqüenta e início dos sessenta, investigam sobre o tema da habitação. Este tema de larga tradição na arquitetura nórdica é tratado de maneira exemplar, não desprezando a referência tanto vernácula quanto erudita local, principalmente baseada em Aalto.

Utzon introduz arquétipos arquitetônicos importantes para a solução dos conjuntos habitacionais trazidos de suas viagens a países e culturas distantes, como Marrocos, China e México. Agrega a isto referencias modernistas de primeira geração, de vertente miesiana, expressas em seus projetos de casas isoladas, e Wrightiana, em seus conjuntos residenciais.

Nestes projetos comparece sempre a tradição escandinava no que diz respeito a este tema. Para esclarecer esta idéia convém citar Montaner e seu conceito de lugar, como “a adequada relação entre a pequena escala do espaço interior e a grande escala da implantação” (1). No tema da casa, esta idéia está expressa com precisão por Utzon, que herdou tal abordagem de Aalto, que por sua vez a herdou de Asplund. Todos estes interpretam o tema da moradia, um pouco como o sugestivo título de um ensaio que Markku Lahti, diretor do Museu Alvar Aalto, escreveu sobre as casas de Aalto: “Paraísos para pessoas comuns” (2). Parece ser este o objetivo perseguido. Há uma espécie de microcosmo criado através da representação física idílica das necessidades do homem. É um traço cultural que se repete em muito da produção arquitetônica regional.

Uma observação atenta destes projetos notará uma ponta de sofisticação sobre um suporte quase espartano, que pode ser visto sempre nos espaços tanto internos quanto externos. Percebe-se uma idéia de enfrentamento com a natureza, quase sempre muito envolvente e dominante, havendo uma espécie de jogo que vai da concessão com o lado rústico articulado ao meio externo, à caracterização do espaço íntimo, extremamente cuidado em seus detalhes, passando por todos os gradientes nesta transição.

Considerado como representante máximo da terceira geração dos arquitetos modernos, sendo a Ópera de Sydney a obra paradigmática desta geração, segundo Giedion (3), Utzon revela um conteúdo paradoxal que parece ser o que instigou e moveu sua capacidade criadora. A relação intensa com a arquitetura vernácula, a tradição nórdica, as influências internacionais mais variadas, as incursões pela padronização de elementos, a pré-fabricação, as abstrações formais livres, equilibram-se em sua obra conforme os requerimentos de cada uma e de sua própria idiossincrasia, gerando grande diversidade de soluções.

As características formais da arquitetura da terceira geração estão marcadas, como escreve Montaner (4), pela Capela de Ronchamp, de Le Corbusier (1950-55), pela Ópera de Sydney de Utzon (1958) e pela obra de Saarinen. Este conjunto de obras tem, formalmente, traços expressionistas, cujo ponto de partida, está na segunda geração dos modernos, e em algumas obras dos arquitetos da primeira geração. A obra de Utzon, no conjunto, não tem este cunho expressionista. Poucas obras suas podem ser assim definidas. Ainda conforme Montaner, outra característica formal da arquitetura moderna de terceira geração, é a idéia das “esculturas sobre a plataforma” (5). Aí Utzon foi fundador. A Ópera de Sydney é exemplar e se encaixa perfeitamente neste arquétipo. Também seu projeto para a Escola Superior para Trabalhadores em Helsingør, tem a grande plataforma como definidor do espaço, sobre o qual são desenvolvidos vários edifícios, embora estes não sejam volumes escultóricos nem expressionistas. É importante notar nestes dois projetos que a plataforma tem um papel fundamental na recriação do espaço aberto, valorizando os interstícios entre edifícios e até criando um pátio sobre a mesma, como foco principal da planta, no segundo caso. O sentido de lugar está sempre presente na obra de Utzon, oferecendo elementos para compreensão do genius locci, como comenta Christian Norberg-Schulz (6).

A importância da plataforma em Utzon transcende a compreensão do elemento arquitetônico em si. Em um texto datado de 1962, “Platforms and Plateaux” (7), Utzon define a arquitetura em termos de plataformas horizontais e tetos flutuantes, fazendo relações da arquitetura com elementos naturais e uma espécie de representação do cosmo, que segundo Norberg-Schulz, além do conteúdo metafórico evocando o céu e a terra, devolvem à arquitetura seu estatuto de arte. “A plataforma também faz emergirem as qualidades inerentes ao sítio, formando um sutil contraponto ao contorno do terreno. Nos projetos de Utzon, as coberturas vêm a ser a manifestação de como a vida humana ocorre sob o céu” (8).

Por estas definições pode-se compreender que a idéia de plataforma ou platô corresponde também ao conjunto de casas associadas, com regras que as acomodam em grupos e recriam as topografias, num jogo que parece às vezes, extremamente racional e pragmático, mas ao qual também se agrega abstração e poesia.

Como arquiteto moderno de terceira geração, a adoção em sua linguagem, de elementos de relação com o contexto, do uso de elementos vernaculares, referências à natureza, do uso de formas orgânicas ou escultóricas e ainda da valorização das texturas e de formas tradicionais, são uma reação contra a neutralidade exacerbada do modelo maquinista dos anos vinte e trinta do século passado. Utzon desenvolve um novo empirismo, em que todos estes elementos acima descritos são sempre interpretações criativas, nunca meras reproduções. Utzon persegue quase sempre, sobre uma urdidura clara e legível, novas maneiras de utilizar seu vasto repertório de elementos. Utiliza com freqüência em suas composições, o princípio do tema com variações.

Nos projetos mais recentes, como o da Igreja de Bagsvaerd (Copenhague, 1967-76), e de sua casa Can Lis (Maiorca, 1972), mantém inquietações projetuais próprias de uma mente sempre estimulada.

O partido em cantoneira, repetido nas Kingohouses e em Fredensborg, corroboram a tradição. A Villa Snellmannn de Asplund, 1914-18, Djurshølm, Suécia, a casa de verão de Aalto, 1952-54, na Ilha Muuratsalø, Islândia, as unidades das Kingohouses e as de Fredensborg, suas, podem ser alinhadas e são comparáveis como partido. A produção mais recente de Utzon em Maiorca confirma sua linhagem e evidencia mais. Suas duas casas, Can Lis de 1972 e Can Feliz de 1994, fazem referências à sua própria obra, incorporam elementos da arquitetura local, já à maneira da revisão pós-modernista e, mais do que nunca, tomam como base o clima e a presença natural. Destes ingredientes, extrai o leitmotiv, expresso por um forte sentido de lugar.

Na trajetória de Utzon é sempre perceptível uma leitura básica, fortemente vinculada a sua cultura mais tradicional. Sobre esta vão se agregando ou sobrepondo suas especulações. Variam conforme a época, as teorias do momento e a sua interpretação pessoal para cada situação. Estas interpretações constituíram um amálgama que se somam ao longo do tempo e ocupam um espaço significativo para o conhecimento arquitetônico construído como obra única.

A produção e a longa vida de Jørn Utzon deixaram um legado importante para a arquitetura do século XX. Neste século, ainda iniciante, após receber o Prêmio Pritzker em 2003, e seu falecimento recente, deve aumentar o interesse no estudo de sua arquitetura, freqüentemente presidida pela metáfora do céu e da terra, entre os quais Utzon já não se encontra.

Dados biográficos

1918 – Nasce em Copenhague, Dinamarca.1937 a 1942 – Estuda na Real Academia de Arte de Copenhague onde é discípulo de K. Fisker e Steen Eiler Rasmussen.1943 a 1945 – Trabalha no escritório de Gunnar Asplund em Estocolmo, Suécia.1946 – Trabalha no escritório de Alvar Aalto em Helsinki, Finlândia.1949 – Visita a Frank Lloyd Wright, no Taliesin West, Arizona – EUA.1952 – Projeta sua própria casa em Hellebaeck, Dinamarca.1957 – Ganha o concurso de projetos para a Ópera de Sydney, Austrália.1959 – Estabelece-se em Sydney para acompanhar a obra da Ópera.Ao final dos anos quarenta e durante os cinqüenta, realiza inúmeras viagens. Visita o México, Japão, China, Nepal, Índia, Marrocos, o norte da África, além de toda Europa.1966 – Retorno à Europa.1967 a 1976 – Projeto e construção da Igreja de Bagsvaerd, Dinamarca.1972 – Projeta sua primeira casa em Maiorca, Espanha.1978 – Projeto do Parlamento do Kwait.1982 – Medalha de Ouro Alvar Aalto em Helsinki1994 – Projeta sua segunda casa em Maiorca, Espanha.1994 - Medalha de Ouro da Academia de Arquitetura da França1998 – Prêmio Sonning, Dinamarca2000 – Mantém escritório em Hellebaeck, Dinamarca2003 – Prêmio Pritzker2008 – Falece em 29 de novembro em Copenhague.

Principais obras

1952 – Casa do arquiteto, em Helleback, ao norte da Ilha Seeland, Dinamarca.1953 – Casa Midelboe, em Holte, perto de Copenhague, Dinamarca.1956-58 – Casas Kingo, em Helsingør, Dinamarca.1957 – Concurso da Ópera de Sydney, Austrália.1958 – Casas em Birkehøj, Dinamarca.1959 – Pavilhão para a Feira Mundial de Copenhague, Dinamarca.1962-63 – Casas em Fredensborg, Dinamarca.1963 – Museu em Silkeborg, Dinamarca.1964 – Teatro em Zurique, Suíça.1966 – Centro Urbano de Farum.1967-76 – Igreja em Bagsvaerd, Copenhague, Dinamarca.1972 – Casa do arquiteto, Can Lis, em Maiorca, Espanha.1978 – Parlamento do Kwait.1994 – Casa do arquiteto, Can Feliz, em Maiorca, Espanha.

notas

1.
MONTANER, Josep Maria. La modernidad superada – arquitectura, arte y pensamento del siglo XX. Barcelona, Editora Gustavo Gili, 1997, p.40-41.

2
NOBUYUKI, Yoshida. Alvar Aalto Houses. A+U , Japão, 1998..

3
GIEDION, Siegfried. Jørn Utzon and the third generation. Zodiac, Milão, n. 14, abr. 1965, p.114.

4
MONTANER, Josep Maria. Después del movimiento moderno. Arquitectura de la Segunda Mitad del Siglo XX. Barcelona, Editoria Gustavo Gili,1993, p. 36.

5
Ibidem, p. 37.

6
NORBERG-SCHULZ, Christian. Roots of modern architecture. Tokyo, A.D.A. Edita Tokyo, 1988, p. 151.

7
UTZON, Jørn. Ideas de un arquitecto danés. Plataformas e terrazas. Cuadernos Summa, Nueva Visión, Buenos Aires, n. 18 apud: Zodiac, n. 10, jun. 1962, p. 43

8
NORBERG-SCHULZ, Christian. Op. Cit., p. 151.

referências bibliografias

CALDENBY, C. e HULTIN, O. Asplund. Barcelona, Editora Gustavo Gili, 1988.

CURTIS, William. Modern architectures since 1900. Londres, Phaidon Press Limited, 1996.

DREW, Philip. Tercera generación – la significación cambiante da la arquitectura. Barcelona, Editora Gustavo Gili, 1973.

FABER, Tobias. Nueva arquitectura danesa. Barcelona, Editora Gustavo Gili, 1968.

FERRER FORÉS, Jaime, Jørn Utzon. Obras y proyectos. Gustavo Gili. Barcelona. 2006.

FROMONOT, Françoise. Jørn Utzon – un ricordo delle Hawaii. Casabella, Milão, out.

FROMONOT, Françoise. Jørn Utzon – architect of the Sydney Opera House. Electa. Milão. 2000.

FRAMPTON, Keneth. História critica de la arquitetura moderna. Barcelona, Editora Gustavo Gili, 1993.

LAMPUGNANI, V.M. Enciclopédia GG de la Arquitectura del Siglo XX. Barcelona, Editora Gustavo Gili, 1989.

PESCI, Rubén O. El estructuralismo de Christopher Alexander. Espacios CEPA, Argentina, Espacio Editora, 1977.

SERGEANT, John. Utzonian houses. The Architectural Review, E.U.A., n. 1196, out. 1996.

sobre o autor

Julio Ramos Collares, Arquiteto e Urbanista (FA-UFRGS/1976), Mestre (FA-UFRGS/2003), Professor e coordenador de Ensino FAU-Uniritter, Titular do Escritório Julio Ramos Collares, Dalton Bernardes – Arquitetura.Julio Ramos Collares, Porto Alegre RS Brasil

      Casa do arquiteto, Hellebaeck, 1952. Planta baixa e corte [Kenneth Frampton: Studies in Tectonic Culture. The Poetics of Construction in Nineteenth a]

      Casa do arquiteto, Hellebaeck, 1952. Vista externa a partir da entrada [Tobias Faber: Nueva Arquitectura Danesa. Barcelona, 1968. p. 34]

      Casa Middelboe, Holte, Dinamarca, 1953. Vista interna [Tobias Faber: op. cit. p. 35]

      Casa Goetsch-Winckler, Frank Lloyd Wright, 1939 [Robert McCarter: Frank Lloyd Wright, Londres, 1997, p. 270 ]

      Croqui de uma casa japonesa [Siegfrield Giedion: “Jörn Utzon y la tercera generación” in Zodiac, Milão, 1965. p. 40]

      Nuvens sobre o mar [Siegfrield Giedion: op. cit. p. 40]

      Croquis preliminares da Igreja de Bagsvaerd [Françoise Fromonot: “Jörn Utzon – Un Ricordo delle Hawaii” in Casabella, Milão, 1997]

      Croquis preliminares para as abóbodas da Ópera de Sydney [Siegfrield Giedion: op. cit. p. 41]

      Escola Superior para Trabalhadores em Helsingör, Ilha Seeland. Primeiro prêmio do concurso, 1958 [Philip Drew: Tercera Generación – La Significación Cambiante de la Arquitectura, Barcelona]

      Escola Superior para Trabalhadores em Helsingör, Ilha Seeland. Primeiro prêmio do concurso, 1958 [Philip Drew: op. cit., p. 54]

      Can Lis, Maiorca, 1972 [John Sergeant: “Utzonian Houses” in The Architectural Review, EUA, 1996. p. 51]

      Casa de Muuratsalo, Alvar Aalto [Yoshida Nobuyuki: Alvar Aalto Houses, A+U, Japão, 1998. p. 152 ]

      Villa Snellmann, Gunnar Asplund [C. Caldenby e O. Hultin: “Asplund”, Barcelona, 1988, p. 55]

      Corte da Igreja Bagsvaerd [Kenneth Frampton: op. cit. p. 287]

      Igreja Bagsvaerd, Copenhague, 1967-76 [William Curtis: “Modern Architecture Since 1900, Londres, 1996. p. 470]

      Conjunto habitacional de Fredensborg. Fachada da via de acesso [Tobias Faber: op. cit. p. 69]

      Implantação geral do Conjunto habitacional de Fredensborg, Alemanha, 1962-63 [Philip Drew: op.cit. p. 47]

      Kingohouses. Vista externa [Tobias Faber: op. cit. p. 67]

      Implantação geral Kingohouses, Helsingör,1958-60 [Tobias Faber: op. cit. p. 46]

      Kingohouses, Helsingör, Dinamarca. 1958-1960. Planta baixa tipo A e tipo B e corte [Tobias Faber: op. cit. p. 46]

      Kingohouses. Vista externa, fachada norte [Tobias Faber: op. cit. p. 66]

      Kingohouses. Vista do pátio da unidade [Tobias Faber: op. cit. p. 67]

       

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