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drops ISSN 2175-6716

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português
Fredy Massad e Alicia Guerrero e a edição da Frankfurter Buchmess de 2007, que teve a cultura catalã como convidada e protagonista do evento. Eexposição “Construcciones Patentes. Nueva Arquitectura hecha en Cataluña"

english
Fredy Massad y Alicia Guerrero sobre la edición de Frankfurter Buchmess, 2007, que tuvo a la cultura catalana como invitada y protagonista del evento. Entre las actividades, una exposición "Construcciones Patentes. Nueva Arquitectura hecha en Cataluña"

español
Fredy Massad and Alicia Guerrero on the edition of the Frankfurter Buchmess 2007 which had the Catalan culture as a guest and main character in the event. The parallel activities, a exposition: Construcciones Patentes. Nueva Arquitectura hecha en Cataluña

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MASSAD, Fredy; GUERRERO YESTE, Alicia. A invenção reivindicada. Drops, São Paulo, ano 10, n. 029.07, Vitruvius, nov. 2009 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/10.029/1815>.


Os parâmetros com que se definiu a intervenção da Catalunha como cultura convidada e protagonista da presente edição da Frankfurter Buchmesse foram motivo de controvérsia e debate. A torpe intenção de correção de urgência para remendar uma decisão através da qual se deu a entender que a cultura catalã é aquela produzida exclusivamente nessa língua, tratando posteriormente de convidar e destacar a importância de autores castelhano-falantes dentro do panorama literário catalão, não serviu mais que para colocar em evidência as tentativas tendenciosas de uma ideologia política empenhada em estabelecer critérios artificiosos de identidade nacional. O próprio escrito de Imma Monsó, representando os autores catalães em Frankfurt, é reflexo das dicotomias desse permanente estado de irreconciliabilidade forçada entre línguas, numa região cuja paisagem antropológica e lingüística está neste momento transformando-se substancial e imprevisivelmente com a chegada de imigrantes e com o centralismo de Barcelona que minimiza ou menospreza a atividade cultural periférica.

Entre as atividades paralelas de difusão da cultura catalã que estão acontecendo na cidade alemã se encontra a exposição “Construcciones Patentes. Nueva Arquitectura hecha en Cataluña”, uma proposta cujo valor é ter sabido fugir das limitações que impõe qualquer aproximação ideológica nacionalista para gerar perspectivas teóricas e críticas através de uma reflexão na qual o campo de estudo é o local. Inaugurada no dia 14 de setembro de 2007, foi financiada pelo Institut Ramón Llull e pelo Institut Català de Cultura, e teve a participação do Deutsches Architektur Museum e que, a partir da editora ACTAR, teve a curadoria de Albert Ferré, Jaime Salazar e Ricardo Devesa.

Trabalhando com a amplitude de um olhar global, através de projetos editoriais pelos quais construíram uma concepção específica do livro de arquitetura, com maiores ou menores acertos, a ACTAR (www.actar.es) vem apostando desde seu princípio em desenvolver um intenso papel como ativadora do debate arquitetônico internacional. Sua influência como protagonista crítica e sua localização em Barcelona faziam da ACTAR, uma candidata inevitável para encarregar-se da apresentação da arquitetura mais recente na Catalunha que indiretamente expusesse a condição de forte vanguarda cultural.

Como o próprio título dá a entender a exposição evita forçar, a partir da arquitetura, inquisições sobre a identidade ou aludir a essa questão, e prefere centrar-se em obras arquitetônicas construídas ao longo dos últimos cinco anos na Catalunha, que atestam seu potencial como centro de inovação arquitetônica. Porém, consegue produzir algo muito mais interessante. Mediante a exposição “Construcciones Patentes. Nueva Arquitectura hecha en Cataluña”, inteligentemente, a ACTAR reagiu oferecendo um trabalho que não aceita ficar enquadrado em visões nacionalistas e que reelabora o que poderia ter um restritivo efeito de proselitismo ideológico numa análise crítica de arquitetura baseada em casos de estudo locais. Foge da esquizofrenia patriótica, dos lugares comuns da idéia do catalão aplicados à arquitetura, e consegue oferecer um estudo com significado universal cujo eixo é a necessidade de refletir sobre a atitude mental do arquiteto no statu quo contemporâneo.

Compreendendo a idéia da inovação como um motor fundamental para o progresso e a sobrevivência de qualquer indústria, mas que é paradoxalmente recusada quando se produz no âmbito arquitetônico, o trabalho de curadoria busca reivindicar a necessidade de que o arquiteto atue como inovador em seu terreno. “A arquitetura perdeu há um tempo seu papel pioneiro e de vanguarda, para passar a ser considerada uma indústria de serviços onde a inovação e a invenção se convertem em fatores de risco não desejados, obstáculos à correta implementação de um projeto. Sob este ponto de vista, se espera que o arquiteto atue como diretor de arte ou como supervisor do processo de construção”, argumentam. A proposição deste conceito se organiza entorno de quatro seções temáticas: estrutura, pele, hábitat e paisagem, que, como Ferré, Salazar e Devesa argumentam, “correspondem a diferentes escalas e prioridades de inovação”, e “não têm sua origem em centros de pesquisa com planos de inversão a longo prazo, com recursos típicos de outras indústrias tecnológicas, mas que surgem da invenção, da ambição pessoal e da capacidade de construir relações individuais entre si”.

A necessidade de recuperar o poder da invenção da arquitetura à que este projeto alude é real: a arquitetura se transformou em algo defasado do tempo presente, seja por seu excesso de pompa ou por seu desânimo. Mesmo assim, atrever-se a entrar no tema da invenção dos últimos cinco anos é perigoso, já que são escassas as invenções verdadeiramente revolucionárias que se produziram durante a História e ao falar de inovação, é preciso ter em mente que este é um fator que depende de muitos condicionantes, e que muitos dos “produtos” ou “patentes” selecionados não se consegue ler com clareza, enquanto outros projetos incluídos incorrem numa espécie de maneirismo conceitual.

É de se supor que o interesse em analisar a transcendência da invenção dentro do progresso atual da arquitetura antecedeu à caixa contentora (das margens políticas de um território) na qual os curadores foram demarcados ao aceitar tomar parte no programa de atividades da Feira de Frankfurt. Não haveria nada contrário a argumentar se essa limitação a um território tivesse sido uma forma de levar a um porto uma reflexão sobre o estancamento da inovação arquitetônica. Mas é evidente que os curadores entenderam que os limites não iam contribuir e sim atuar em detrimento do conceito amplo que concordam em analisar, compreendendo que esse enquadramento forçado faria com que a reflexão perdesse sua consistência. Estando nós interessados em comprovar a influência de nosso tempo no devir arquitetônico, devemos partir de premissas como a abolição do conceito nacional das marcas/denominação de origem numa sociedade em constante movimento e delimitar tal capacidade de inovação a um determinado espaço geográfico. Indiscutivelmente, falta mais do que parece. Se esta exposição tivesse restringido seu foco e significação unicamente no âmbito catalão ou nos arquitetos catalães, é evidente que se estaria propondo uma discussão estéril, por endogâmica. Assim, ainda que as obras expostas sejam produtos realizados na Catalunha ou realizadas por arquitetos catalães, a força do conceito curatorial desta exposição soube subverter a carga nacionalista de que tinha se imbuído o evento nesta circunstância para gerar uma mensagem que defronta o território como espaço de observação, descobrimento e síntese de experiências produzidas no campo do local, reinterpretáveis de forma global, e que constituem uma abertura para novas fontes de avanço criativo.

notas

[artigo publicado originalmente em ABCD las Artes y las Letras, 29 set. 2007, n. 817]

[tradução felipe contier]

sobre o autor

Fredy Massad e Alicia Guerrero Yeste, titulares do escritório ¿btbW, são autores do livro “Enric Miralles: Metamorfosi do paesaggio”, editora Testo & Immagine, 2004.

Fredy Massad e Alicia Guerrero, Barcelona Espanha

Villa Nurbs, Cloud 9 / arquiteto Enric Ruiz
Foto Luis Ros [Acervo Cloud 9]

Mercado de Santa Catarina, Barcelona, arquiteta Benedetta Tagliabue / EMBT Arquitecto [Acervo EMBT]

 

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