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architectourism ISSN 1982-9930

Ilha Bela. Foto Pedro Gorski

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Por obra e graça de sua profissão, o arquiteto e urbanista Sérgio Sandler trata as paisagens como protagonista de seus projetos. Em A imaginação pede passagem, o autor nos convida a ampliar nossos horizontes e a usar o poder de nossa imaginação


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SANDLER, Sérgio. A imaginação pede passagem. Arquiteturismo, São Paulo, ano 01, n. 005.02, Vitruvius, jul. 2007 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquiteturismo/01.005/1339>.


Por obra e graça da minha profissão, passo uma quantidade significativa de horas a perambular por lotes, áreas e glebas para quem sabe projetar ali um lugar a ser construído. É certamente uma das melhores parte dele,  já que de resto passo bastante tempo, mas bastante tempo mesmo, indoor.

Tanta felicidade tem motivo: por vezes é a oportunidade de exercitar o corpo (em trilhas, descidas, subidas, desviando de troncos e tocos, cipós, espinheiras, etc.), a mente (relaxada, absorta a prestar atenção ao caminho) e o espírito, a extrair da beleza dos cenários naturais alimento e renovação. Fico sempre a imaginar como um lugar belo como este pode receber bem, em todos os sentidos, a todos.

Na verdade, eu gosto mesmo é de passear: a pé, de bike, de ônibus ou carro, tanto faz. O que importa é flanar.  Há o prazer da descoberta, se o caminho é novo. Há a redescoberta, se voltamos a um lugar que não íamos há tempos (o que nem sempre implica em prazer). Ou da visita perene,  naquele lugar com o qual estabelecemos vínculos que serão eternos, enquanto durem.

E um dos maiores prazeres que o flanar oferece vem da beleza das vistas, das paisagens que um percurso pode oferecer. Como numa escola de samba, tudo começa com a evolução das diferentes paisagens que o caminho até o meu destino vai revelando.

Por exemplo, descer a Imigrantes é um enorme prazer, especialmente se eu não estiver dirigindo. De ônibus, alto como é (em que se está na verdade sobre um baú de caminhão disfarçado), você fica numa altura que permite uma visão privilegiada deste trecho da Serra do Mar, sulcado por vales profundos, marcado aqui e lá por quedas d’água imponentes; da região do estuário da Baixada Santista com sua mistura de cidade e natureza, água e terra, mata e mangue, morro e planície. E da própria rodovia e suas obras de arte, cujo porte e localização deixam qualquer um no mínimo curioso para saber como aquilo tudo foi possível. Sim, as grandes obras de engenharia também atraem.

Mas se você estiver de carro, aquelas malditas defensas opacas encarregam-se de esconder a paisagem. Parar, só em caso de necessidade absoluta, isto é, numa emergência.

O que me faz pensar em tantos percursos (o Caminho do Mar, SP; a estrada da Serra da Graciosa, PR; a de D. Francisca,  SC; o caminho que leva a Floresta da Tijuca, RJ, entre tantos outros) onde a paisagem é personagem principal, em que natureza e exuberância não faltam. O que falta talvez seja um olhar mais generoso, de horizonte largo, àqueles que desenham os nossos caminhos rodoviários.

Todo dia é dia

Outro dia, em mais uma “descida da serra”, fui conhecer uma área que fica lá na Serra do Guararú, no Guarujá. Lá o pessoal chama o lugar de Rabo do Dragão, referência à figura que o mapa da Ilha de Santo Amaro sugere. O acesso é pela rodovia que liga o Guarujá a Bertioga (Estrada Ariovaldo de Almeida Viana - SP61), aquela que leva até a balsa.

Você chega ao Guarujá, pega a Av. D. Pedro, vai em direção a Praia de Pernambuco, passa pelo antigo Jequitimar (meus sais, o que é aquilo?), e chega ao Perequê. Comprar ou comer peixe, aqui tem. Com direito ao belo visual deste porto natural, com os barcos de pesca ali abrigados.

Seguimos em frente, e a planície dominada pela cidade cede lugar, à direita, aos primeiros morros da Serra do Guararú que ali se iniciam, imponentes, sinuosos. E à esquerda, logo mais, surgirá seu par paisagístico: o Canal de Bertioga.

Se você ainda não conhece, imagine: de um lado morros de até trezentos metros de altura, dotados de uma flora exuberante; de outro, um canal de águas calmas desenhado por vastos manguezais, pontuado às vezes por botes de pesca, e lanchas imponentes que buscam o mar aberto.

Se você aceitou o meu convite, é bem possível que você esteja imaginando que ali tem arvorismo, tirolesa, trilhas. Tem observação de pássaros e de vida marinha, tem passeios embarcados e ciclovia. Tem pousadas e postos de informação para ajudar na escolha. e tem lugar onde se pode alugar um barco ou um jet sky.

Tem lugar para a prática esportiva: quadras, com sanitários e quiosques para matar a sede. E para quem gosta dos esportes náuticos, tem rampas que dão acesso seguro e confortável à água. Além dos vários píeres que recebem aqueles que chegam de barco, inclusive para comer nos restaurantes típicos da região.

Mas ai você pára um pouco, olha para mim e não sem razão diz: “Peraí, isso já é demais. Um lugar destes não existe! É só fruto da nossa imaginação!”

A imaginação no poder

Pois este lugar existe sim, a natureza fez a sua parte. Os morros, a vegetação, a fauna e o pôr do sol no Canal de Bertioga com a Serra do Mar ao fundo (é simplesmente imperdível) estão lá.

E este lugar não existe, ou melhor, é fruto da nossa imaginação porque ainda está por existir a devida estrutura receptiva, capaz de oferecer todos aqueles atrativos.

Os mais de vinte quilômetros do percurso oferecem alguns poucos restaurantes (Dalmo e Joca entre eles) concentrados nos primeiros quatro quilômetros do trajeto. Depois, nada.

Os pouquíssimos e precários píeres lançados sobre a água oferecem pouco espaço, estrutura, condição. As vezes eles estão na frente de áreas livres, abertas e um tanto descuidadas, cujos relvados ainda que insistam em dar alguma alegria a estes tristes aterros não sugerem maior aproximação.

Há ainda as praias de Iporanga, São Pedro e Tijucopava, bastante atrativas por serem pequenas e muito bem preservadas, mas com o acesso limitado pelo número de vagas de estacionamento disponíveis.

Na ponta da ilha, junto a área da balsa, tem a armação da Baleia e o Forte de São Luis/São Felipe, sítios históricos que mereceriam melhor estruturação. Sempre vale a pena a visita e a exploração.

Mas é pouco diante de tantas possibilidades. O lugar pede um novo olhar que transforme todo este potencial em realidade, economia e emprego.

Talvez pudéssemos ter aqui uma verdadeira via turística em que a via não é só ligação, mas ela mesma uma atração que nos levasse às outras atrações como o ecoturismo, a gastronomia, os esportes náuticos, a pesca esportiva. Será necessário pensar em formas de uso e ocupação compatíveis com lugares especiais como estes, que os valorizem ao preservá-los.

O Brasil oferece inúmeras possibilidades quanto ao turismo. O litoral paulista, em especial esta região, não é diferente. Às vezes é só uma questão de mudar o olhar.

Talvez não seja tarde propor mais uma vez: a imaginação no poder.

sobre o autor

Sérgio Sandler, 50, arquiteto urbanista, é professor de Urbanismo na Escola da Cidade, em São Paulo. E caminhante nas poucas horas vagas.

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