A primeira nota de 1, a gente nunca esquece. A minha era de 1 Cruzeiro com o Tamandaré, que uma hora era Almirante, em outra Barão e também Marquês, mas sempre herói da guerra do Paraguai. Alguém ainda se lembra do Cruzeiro, do Tamandaré e da guerra do Paraguai?
É praxe visitar o cemitério da Recoleta, quando se vai a Buenos Aires, mesmo quem não o faz na sua terra, visita os mortos dos outros, nas cidades deles.
Foi o que fiz. Porém com uma boa desculpa, estava pesquisando formas de inscrições em pedras para um estudo, ou seja trabalhando nas férias.
Tinha pouco tempo, fui desviando dos guias que se ofereciam, e objetivamente saí buscando referências de entalhes, e acabei, meio perdido nos estreitos corredores, contrastados com luz e sombra, dando de encontro com uma tumba ou mausoléu, com uma linda inscrição art decô: Guerreros del Paraguay.
Só depois de fotografar o detalhe, percebi do que se tratava, era um local onde por muitos anos foram enterrados os soldados, provavelmente oficias, ex-combatentes que sobreviveram à guerra que envolveu os quatro parceiros do Mercosul.
Em quase todas homenagens, argentinos, uruguaios e brasileiros eram lembrados, principalmente por suas bandeiras nacionais, dispostas das mais diferentes e criativas maneiras.
Fui seduzido, os detalhes trazem referências de época, com interpretações livres e poéticas. O estilo, a harmonia e os materiais utilizados nas associações das bandeiras chamam a atenção.
Vão de vitrais a mármores, passando por metais, ligeiramente enferrujados. Apesar de bem conservado, não pude descobrir quem visitaria este local hoje em dia?
Em placas com homenagens existem desenhos de batalhas, numa delas, naval, o céu se confunde com a bandeira da Argentina e as fumaças dos navios.
Em outra pequena placa está escrito “Panteon de los Guerreros del Paraguay – Monumento Historico Nacional, 1983”.
As faces das esculturas de soldados que montam guarda também lembram as imagens de antigos livros de história e das próprias cédulas de Cruzeiros. Antigamente tínhamos mais contatos com esse nosso passado, que já sabemos, não tão glorioso.
Sobraram hoje os nomes de logradouros públicos como Voluntários da Pátria, Paissandu e Riachuelo, que muitas vezes nem conseguimos associar à guerra do Paraguai.
Será que temos algo semelhante em algum dos nossos cemitérios?
Quando estava saindo, pensando naquela autêntica batalha no Mercosul, me propus a procurar saber mais sobre os acontecimentos e se haveriam outras tumbas como esta no Brasil, mas a coisa mais próxima do tema que fiz foi acompanhar a desclassificação de meu time na taça “Libertadores da América”.
sobre o autor
Michel Gorski, arquiteto, editor do website Arquiteturismo, escreve a coluna "Turista na sua cidade" na revista Host