Visitando a Alemanha para a participação no eCAADe - Education and Research in Computer-aided Architectural Design in Europe, em setembro de 2007, não imaginava que a pouco mais de três horas de trem, a partir da agitada (mas organizada) estação central de Frankfurt, a Hauptbahnhof, eu estaria em uma das mais bem conservadas cidades medievais da Europa.
Por muitos considerada a mais bonita do país, “Rothenburg ob der Tauber”, cujo nome deriva de “Rothenburg oberhalbder Tauber”, que em alemão significa “Rothenburg acima do rio Tauber”, é uma cidadela com aproximadamente 40 km2, 11.226 habitantes (em 31/12/2006) e a 430 metros acima do nível do mar, localizada no distrito de Ansbach, na região da Bavária, ao sul de Frankfurt e a 220 km noroeste de Munique.
Leva esse nome por sua localização geográfica, acima do rio Tauber, na rota romântica, a Romantische Straße, uma estrada localizada entre as cidades Wurzburg e Füssen, ao sul.
O nome Rothenburg deriva das palavras em alemão Rot (vermelho) e Burg (castelo), referindo-se à cor avermelhada dos telhados das casas que avistam o rio Tauber.
A primeira comunidade instalada nessa parte do vale Tauber foi chamada de Detwang, iniciada em 960, hoje um vilarejo fora das muralhas, e onde foi construída a igreja de São Pedro e São Paulo, no ano de 968, sendo a única igreja de estilo românico na região.
Em 1142, durante a dinastia Staufer é que o castelo imperial é construído pelo rei Konrad III, em torno do qual a comunidade posteriormente chamada de Rothenburg se desenvolveria.
Depois da morte de Friedrich, duque de Rothenburg, em 1167, o castelo é abandonado, mas a cidade se desenvolve ao longo dos anos, graças a sua posição geográfica, tornando-se um importante centro comercial, até que em 1274, o rei Rudolf de Habsburg a eleva a cidade imperial livre.
Depois que um terremoto destruiu o castelo imperial, em 1356, a cidade vê seu auge no ano de 1400, com 6000 habitantes, transformando-se uma das maiores cidades do império.
Seu declínio começa quando a cidade se alia ao líder rebelde Florian Geyer, em 1525, durante a guerra dos camponeses (em inglês, The Peasants' War e em alemão, der Deutsche Bauernkrieg).
Depois da guerra de trinta anos, entre 1618 e 1648, Rothenburg é freqüentemente ocupada, perdendo rapidamente seu poder e glória, e tornando-se uma cidade pequena e insignificante, mas guardando seu encanto medieval. Uma cidade empobrecida mas que não se libertou de suas velhas construções.
Uma prova desta “sorte” se deu nas dependências de uma das construções mais importantes da cidade medieval, a Ratstrinkstube, uma taverna do conselho regional localizada na Marktplatz (Praça do Mercado) da cidade.
A sua fachada exibe um relógio instalado em 1683 que desde 1910, a cada hora, bate para lembrar o legendário episódio “Meistertrunk” (o gole mestre) que livrou a cidade da total destruição.
A lenda nos remete ao ano de 1631, quando as tropas católicas do general Tilly ocuparam a então protestante Rothenburg e a cidade entre as muralhas foi cercada pelas forças imperiais.
Como capricho, o oficial desafiou qualquer um dos conselheiros da cidade a tomar num só gole 3 ½ litros de vinho para que a cidade fosse poupada de ser arrasada. O prefeito Nusch aceitou e ganhou o desafio, livrando assim a cidade da destruição.
Ainda na Marktplatz, o centro urbano da cidade, o Rathaus, a Prefeitura, consiste em dois prédios. A parte gótica, com frente para a rua lateral à praça, tem uma torre construída entre 1250 e 1400, com acesso em 360 graus à magnífica vista de toda a cidade.
A construção de frente para a praça, é renascentista e foi construída entre 1572 e 1578 e as arcadas da frente adicionadas somente em 1681. Esta parte da construção serviu como sede do governo do município desde as épocas medievais.
Rothenburg ob der Tauber é uma das cidades do roteiro romântico que conseguiu preservar vestígios da sua importância medieval até o século 21. Uma série de muros e torres defendeu a cidade através dos tempos e são até hoje conservados na parte mais antiga da cidade.
O muro de dentro, construído em meados do século 13 ainda permanece firme, com escadas de acesso e pontes, perfeitamente conservados e de fácil acesso pelos visitantes.
Em direção ao Sul, do lado de dentro das muralhas, uma das principais ruas de Rothenburg é a Spitalgasse (Linha do hospital) que conduz ao antigo hospital (Spital) originalmente localizado fora das muralhas e integrado à cidade somente no século 15.
Dentro do pátio do hospital está a residência do administrador da antiga instituição, construída em 1586. No extremo sul do muro está localizado o mais imponente castelo de Rothenburg.
Construído durante o século 17, tem dois pátios centrais internos, sete portões e uma passagem com aberturas. As paredes grossas mostram que protegiam a cidade de ataques, com fossos ao seu redor que ajudavam no isolamento.
O caminho que conduz desde o hospital até a entrada leste da vila, o Rödertor (Portão de Röder), é uma passagem com no máximo 1,5 metros de largura e várias placas com nomes e inscrições métricas podem ser encontradas encravadas nas suas paredes. Essas marcas representam os colaboradores que financiaram a reconstrução da muralha, após sua parcial destruição durante um ataque aéreo em 31 de março de 1945, durante a segunda guerra mundial.
Ao longo da muralha há pequenas aberturas em diferentes formatos belas vistas para fora, e para dentro da cidade. O Portão de Röder, construído no final do século 14, é uma das principais entradas da parte murada da cidade, circundado por guaritas.
A cidade na qual as ameias, as torres e as casas sobreviveram praticamente sem mudanças ao longo dos tempos, domina o alto do vale.
Toda vez que alguma característica da cidade sofria algum tipo de transformação física, os habitantes colocavam tudo minuciosamente em ordem respeitando os planos anteriores.
Mas nem só por suas muralhas, castelos e torres a cidade é conhecida. Rothenburg também encanta com seus parques, sua gastronomia e turismo o ano inteiro.
Além da tradicional salsicha branca, a Weisswurst, e outras de diversos tipos, o “Schneeballen”, é uma especialidade local feita de massa doce e diversos recheios ricos em calorias.
Enquanto as construções dentro das muralhas remetem o visitante à história medieval de muitos séculos, com suas ruas pavimentadas ainda em pedra, fachadas charmosas e torres do século 12 bem preservadas, a cidade também possui um comércio forte, restaurantes, hotéis e importantes museus, simbolizando o romantismo e a beleza dos últimos séculos mais que qualquer outra cidade da Alemanha.
sobre o autor
Regiane Pupo é arquiteta, doutoranda na Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da UNICAMP e professora dos cursos de Arquitetura e Design Industrial da UNIVALI, em Santa Catarina. É bolsista da FAPESP desde 2006. Agradecimento a Gabriela Celani pela colaboração no texto e na viagem.