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architectourism ISSN 1982-9930


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SPOLON, Ana Paula. Em memória das estações de águas. Arquiteturismo, São Paulo, ano 01, n. 011-012.07, Vitruvius, jan. 2008 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquiteturismo/01.011-012/1398>.


O livro A propósito de águas virtuosas – formação e ocorrências de uma estação balneária no Brasil, de Stélio Marras, fala de um lugar. Os lugares são mais ou menos especiais, para os moradores, visitantes e turistas, graças aos seus atrativos, à sua história ou àquele indescritível poder mágico de despertar, no coração das pessoas, uma vontade imensa de nele estar, voltar, ficar.

As estações de águas (ainda hoje) são assim. Têm lá os seus diversos atrativos, que vão dos equipamentos para banhos aos meios de hospedagem (suntuosos ou simples), nos quais se serve a comidinha típica da região e em cujo interior se contam histórias de visitantes ilustres, curiosidades e os perrengues da política local.

Estação termal, balneário, estação das águas, caldas, termas, estância medicinal, estância hidromineral. Termalismo, terapia pelas águas, hidroterapia. A confusão semântica é natural. Visto de uma forma simples, o negócio é o seguinte: o lugar é servido por uma ou mais fontes de água mineral cuja função é, por meio de banhos de imersão, jatos d'água, vapor ou ingestão, curativa e terapêutica.

A temperatura pode ser baixa ou elevada (fontes frias, hipotermais, mesotermais, isotermais e hipotermais), os odores variados (em função da presença de gases), bem como o são o valor nutricional, o teor radioativo e a eficácia terapêutica.

Há estações de águas em todo o mundo. No Brasil, são muitas, localizadas em especial em Minas Gerais (junto ao Circuito das Águas), Santa Catarina, Goiás, São Paulo e Bahia. Por força de legislação, para ser classificada como estância hidromineral ou balneária, aqui, é preciso que a área passe pela avaliação vinculada basicamente ao Código de Águas Minerais (Decreto Lei 7.841/45), mas também por atos complementares, através do qual se leva em conta a qualidade e a potabilidade da água, bem como a qualidade do meio ambiente.

Desde os tempos de Hipócrates se fala sobre os benefícios das águas sobre a saúde dos homens. Seu Ares, águas e lugares, escrito provavelmente na segunda metade do século V a. C., já destacava os benefícios das termas como medida terapêutica.

Entretanto, os lugares dedicados à prática, tornados famosos pelos romanos, são ainda anteriores – pesquisas registram que as mais remotas civilizações usavam o banho como medida terapêutica e socializadora.

Há águas de todo tipo – carbonatadas, gasosas, mistas, iodadas, sulfurosas, ferruginosas, cloretadas, sulfatadas... A combinação do tipo da água disponível com as características diferenciais de seu lugar de ocorrência permite sua exploração como destino turístico. Quem nunca pensou em passar um feriado prolongado em uma delas? Para além da hidroterapia, há a história do lugar...

O livro de Stélio Marras registra uma entre estas dezenas de histórias charmosas e curiosas das estações de águas brasileiras. Com um rigor científico e uma linguagem ao mesmo tempo acadêmica e poética de fazerem inveja. A boa inveja.

Resultado de sua dissertação de mestrado, defendida na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, junto ao Departamento de Antropologia, o livro de Marras é o registro da história de Poços de Caldas, estação balneária cuja fundação, crescimento e declínio são devidos às propriedades das águas sulfurosas – as então chamadas águas virtuosas, adequadas para moléstias alérgicas, eczemas, artrites e reumatismo.

A história da “cidade nascida sob o signo da cura por águas e do veraneio elegante”, nas palavras do autor, é vista sob o prisma da economia das águas locais e sua influência sobre as pessoas, a dinâmica social e a simbologia.

Com prefácio de Antonio Candido, o livro é denso e extremamente bem escrito, reunindo o olhar do antropólogo ao do homem – um dia menino – que nasceu na pequena cidade mineira e lá viveu por mais de duas décadas. Talvez porque denso, o livro não seja acessível ao grande público. Uma pena, porque é um texto que, pela riqueza de detalhes históricos, merecia ser conhecido por muitos.

Cientista social pela própria USP, Stélio Marras desenvolve o livro em três grandes partes, nos quais se fala sobre a formação social e política da cidade, do interesse pelas águas medicinais (o que levou efetivamente à constituição da estância balneária, nos moldes elitistas da Belle Époque brasileira) e do desenvolvimento e decadência local em função do desenvolvimento da farmacologia e da medicina.

Com o turismo, o texto cruza ao descrever as antigas atividades de jogos nos cassinos locais, tidas como um ritual de veraneio, até sua proibição pelo General Henrique Gaspar Dutra, em 1946 – o que foi parcialmente a causa do declínio da função turística das estações das águas.

O futuro – na medicina, nas práticas sócio-culturais e a nova face do turismo (com o fechamento dos cassinos e o desenvolvimento do rodoviarismo a partir da década de 1950) significariam o início do retrocesso, da volta ao passado, de muitas das estâncias balneárias brasileiras. Com o tempo, “a objetividade médica ascendeu e declinou águas de terapêutica científica”.

Pois a descrição deste declínio vale a pena conhecer. Até pelo fato de que explica, parcialmente, muitas das dificuldades de sustentar a simbologia e a força das estâncias termais como destinos turísticos. Poços de Caldas, ao menos, se não se mantém entre os destinos mais visitados do cenário turístico nacional, ao menos tem a honra de receber, vez por outra, visitante famoso e sensível – Stélio Marras, que para lá sempre há de voltar.

bibliografia

MARRAS, Stélio. A propósito de águas virtuosas – formação e ocorrências de uma estação balneária no Brasil. Belo Horizonte, Editora UFMG, 2004, 479p. Prêmio de melhor dissertação de mestrado da área de ciências sociais em 2003, no Concurso Brasileiro CNPq-ANPOCS de Obras Científicas e Teses Universitárias em Ciências Sociais.

sobre o autor

Ana Paula Garcia Spolon é consultora hoteleira, tradutora e professora universitária. Formada em Hotelaria pelo SENAC, é doutoranda e mestre em Arquitetura e Urbanismo pela USP, onde desenvolve pesquisas sobre turismo, estética arquitetônica e valorização imobiliária. Atua na área de planejamento e desenvolvimento de projetos turísticos e hoteleiros há 15 anos.

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