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architectourism ISSN 1982-9930


abstracts

português
Nesse artigo, Diogo Figueiredo de Freitas nos conta como foi guia por um dia em uma visita arquitetônica à Fundação Iberê Camargo em Porto Alegre, acompanhado do Sr. Rafael, taxista que deveria guiá-lo pela cidade

english
In this article, Diogo Figueiredo de Freitas tells us about how he became a guide just for one day; it was during his architectural visit to the Iberê Camargo Foundation in Porto Alegre, accompanied by Mr. Raphael, a taxi driver

español
En este artículo, Diogo Figueiredo de Freitas nos cuenta como fue guía por un día en una visita arquitectónica en la Fundación Iberê Camargo en Porto Alegre, acompañado del Sr. Rafael, taxista

català
Nesse artigo, Diogo Figueiredo de Freitas nos conta como foi guia por um dia em uma visita arquitetônica à Fundação Iberê Camargo em Porto Alegre, acompanhado do Sr. Rafael, taxista que deveria guiá-lo pela cidade


how to quote

FIGUEIREDO DE FREITAS, Diogo. Guia por um dia. Arquiteturismo, São Paulo, ano 02, n. 023-024.06, Vitruvius, jan. 2009 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquiteturismo/02.023-024/1496>.


A reunião acabou cedo e tenho duas horas até o embarque de volta para São Paulo, excelente, pensei, vou aproveitar e visitar a Fundação Iberê Camargo, projeto do arquiteto português Álvaro Siza que não há arquiteto, no Brasil ou no mundo, que não deseje conhecer.

Fiz um plano rápido: pegar um táxi, que me esperaria até o limite do tempo, pra variar já correndo risco de perder o vôo, e voar para o aeroporto. Ao entrar no táxi, fui recebido por um sotaque que não era dos pampas, o motorista se chamava Rafael um simpático chileno que me perguntou para onde desejava ir. "Vamos à Fundação Iberê Camargo", disse, e para minha surpresa o Sr. Rafael não sabia onde ficava, mas prontamente se informou com um colega da praça e nos colocamos à caminho.

Durante o percurso, tentando planejar o tempo, perguntei-lhe sobre o trânsito, afinal tinha um vôo marcado que não desejava perder e perguntei-lhe também se poderia me esperar, assim não teria que procurar outro táxi para me levar ao aeroporto. "Certamente", disse o Sr. Rafael.

Ao chegar ao nosso destino fiquei encantado com a primeira visão, impactante, da genial obra, seguramente mais bonita ao vivo do que nas fotos. Nesse momento, o motorista embicou no estacionamento e disse que me esperaria no carro, quando surgiu a idéia de convidá-lo a me acompanhar na visita ao Museu. "Deixe o carro no estacionamento que você virá comigo", disse-lhe e com uma expressão de surpresa e dúvida o Sr. Rafael aceitou meu convite.

Visto de longe o Museu se destaca na paisagem, tanto pelas suas formas quanto pelo material escolhido para o acabamento exterior, o concreto branco. De perto o que mais impressiona é a qualidade do acabamento e o rigor técnico que marca a obra do arquiteto. Ao me aproximar da entrada, sob os braços de concreto que envolvem o edifício, veio à minha cabeça imagens do Sesc Pompéia, projeto da Lina Bo Bardi, com suas passarelas de concreto interligando as edificações novas, em contraponto à fábrica original.

A visita estava divertida, entre fotos e comentários acerca da arquitetura do local, nosso convidado se mostrava bastante interessado e a cada explicação ele passava a compreender melhor a qualidade do espaço construído.

O foyer do Museu lembra muito o Guggenheim de New York (Frank Loyd Wright), com seu átrio de pé direito total e a circulação em rampas que o envolvem. As rampas / passarelas ora internas ao edifício e ora externas, formam os braços que o envolvem vistos por fora e geram elementos visuais marcantes, efeitos de luz e sombra, linhas e planos que parecem rasgar o edifício formando complexos encontros e desencontros num delicado jogo de cheios e vazios.

Ainda nas passarelas, aberturas cuidadosamente estudadas proporcionam uma belíssima vista para a margem do Rio.

Os detalhes se destacam tanto pela simplicidade quanto pela qualidade no acabamento, como deve ser numa arquitetura minimalista (pensando bem, em todas), em especial as aberturas para insuflamento e retorno do ar condicionado, tão sutis que nem parecem existir, o rodapé embutido nas paredes que por vezes se transforma em batentes para os vãos de passagem, os caixilhos em chapa de aço, o mobiliário do balcão de entrada que simula a sinuosidade da fachada curva.

A iluminação possui importante papel na obra, a iluminação natural cria efeitos dramáticos de luz e proporciona belas vistas para o entorno, a iluminação artificial, diferente de outros museus, se dá por grandes caixas de luz que recriam o efeito de clarabóias e garantem a eficiência do sistema, dispensando os tradicionais trilhos vistos em tantos museus.

Ao final da visita arquitetônica aproveitamos para curtir um pouco a exposição do artista que dá nome à Fundação (qualquer dia vou voltar para ver a obra do Iberê Camargo, como ela merece) e paramos para tomar um café à beira do Rio Guaíba.

Quando chegamos ao aeroporto, o Sr. Rafael desceu do veículo e com um abraço me agradeceu muito o passeio cultural, dizendo que levaria sua esposa e utilizaria seu novo repertório arquitetônico para impressioná-la!

sobre o autor

Diogo Figueiredo de Freitas, 35 anos, paulistano, é arquiteto titular do escritório Digas Arquitetura

Guia por um dia mostra a experiência do Diogo numa visita arquitetônica à Fundação Iberê Camargo em Porto Alegre, acompanhado do Sr. Rafael, taxista que deveria guiá-lo pela cidade, no dia 04 de novembro de 2008

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023.06 Visita arquitetônica
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