As paisagens naturais parecem sempre aceitas como alguma forma mais possível de a poesia acontecer.
Desde a infância, sou passante e observador da paisagem feérica-misteriosa e lúgubre de Cubatão, espécie de insubordinação paisagística.
Antipaisagem, localizada na fronteira exata: serra–mar. Metaforicamente, marco da transição trabalho-lazer.
Feia ou bonita, minha experiência é distante de uma vivência bucólica e naturalista. O cenário de ficção científica, passagem obrigatória para quem buscava o litoral de São Paulo, suscitou em mim, fruto da cidade, urbanóide, mas curiosamente em freqüente fluxo até o mar, um misto de encantamento e medo, imagino, registrado nas imagens apresentadas aqui.
Sem que me desse conta, ao escolher fazer estas fotografias acabei detendo o olhar e freando em quadros o que era cinético, aquilo que foi fugidio, que via sempre em deslocamento rápido, enquadrado, pela janela do fusca dos meus pais, em movimento.
O grande formato, tanto do filme 20 x 25 cm como das ampliações, aponta nesse sentido, frisando a cena, carregando-a de detalhes não vistos a olho nu.
E o que se prefigurara nas minhas primeiras passagens, a paisagem ligeira, desimportante.
Imantou-me. Pondo-me estático diante de seu mistério ao mesmo tempo atrativo e aterrorizante.
A freqüência com que esse tema é consensualmente abordado me fez de saída procurar ao máximo distinguir este trabalho da esfera de um manifesto ecológico, apesar da oportunidade de nossa época.
E, ainda que estes sejam absolutamente legítimos e necessários, meu impulso ao realizar estas imagens tem muito mais a ver com a experiência emocional evocativa de minhas primeiras passagens por lá, a caminho do refúgio, para mim, idílico, que meus pais buscavam nos proporcionar nas férias e fins de semana.
Quando da estrada avistava a atmosfera plúmbea, as superposições de texturas e tubos gigantescos, profusões de luzinhas, vapores, imensas chaminés com fogo em cima – e a mata envolvendo tudo –, paradoxalmente anunciavam-se as férias e as delícias do verão.
Estas lembranças inscreveram-se na minha mente de uma forma indelével, atualizadas por minhas ainda freqüentes passagens por lá.
A caminho do mar.
sobre a exposição
As fotos e texto se referem à Exposição “Uma outra cidade”, Museu da Casa Brasileira, São Paulo, de 21 de julho a 23 de agosto de 2009.
sobre o autor
Bob Wolfenson é fotógrafo de moda