Uma das mais marcantes lembranças que tenho ao recordar viagens de avião feitas na minha infância e adolescência são aqueles poucos minutos após a decolagem e aqueles outros poucos antes da aterrissagem, onde é possível ver claramente o desenho das cidades, sua forma de organização, parcelamento, circulação. Claro que naquela época eu não tinha essa noção técnica que tenho hoje, adquirida na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo anos depois. Mas mesmo assim, ao olhar para aquelas cidades do alto, antes mesmo de pisar propriamente nelas ou depois de dias circulando pelas suas ruas, a sensação que me tomava era a de “Sim, eu conheço essa cidade”.
Em 2005, com o lançamento do Google Earth, descobri um grande passatempo: viajar pelo mundo sem sair de casa, através da tela do computador. Posteriormente, esse passatempo se tornou profissão e me fez ingressar numa Pós-graduação em Sistemas de Informações Geográficas, o que me possibilitou trabalhar diariamente com imagens de satélite, mapas, voar de helicóptero. E mais uma vez me via analisando e admirando as cidades do alto.
Esse desejo de ver as cidades do alto esta presente até quando planejo viagens pessoais de férias ou a passeio. Antes de viajar sempre vou atrás do maior número de informações a respeito do lugar que vou visitar e uma das primeiras coisas que procuro saber é se existe algum belvedere, alguma torre, algum edifício alto ou qualquer outro ponto de observação que possibilite uma visão geral da cidade.
Normalmente, esses pontos altos das cidades são também os pontos mais turísticos e procurados. Em Paris, por exemplo, com a Torre Eiffel, o Arco do Triunfo e a Catedral de Notre-Dame. Em Atenas, coma vista a partir da Acrópole. Em Barcelona, coma Sagrada Família. Em Nova York, com o Edifício Empire State. E a Basílica Santa Maria Del Fiore, em Florença.
Outras poucas vezes, a surpresa de ter uma vista do alto se dá ao visitar uma loja de departamentos em Palermo e descobrir que seu terraço oferece uma das mais belas vistas da cidade. Ou mesmo a surpresa mais agradável de todas, a de abrir a janela do quarto do hotel e se deparar com os telhados de Ouro Preto e as construções brancas da ilha de Santorini.
sobre o autor
Francisco Alves (São Paulo, 1979) possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Braz Cubas e pós-graduação em Sistemas de Informações Geográficas pelo Centro Universitário SENAC. Atuou como arquiteto e urbanista na EMURB e na Diagonal Urbana Consultoria. Atualmente vive em Londres, onde trabalhou em eventos como o London Festival of Architecture e o London Design Festival.