A viagem para Salvador foi motivada por um encontro promovido pelo Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da Faculdade de Arquitetura da UFBA – PPGAU/UFBA, em conjunto com o Instituto de Urbanismo de Paris – IUP. Tal encontro de pesquisadores ocorreu no período de 9 a 13 de novembro de 2009, no qual os desafios do urbanismo na França e no Brasil foram debatidos de maneira intensa, no tocante a formação profissional, a pesquisa e as praticas sobre as cidades. Foi também uma oportunidade de estar com os amigos da rede Urbanismo BR (1).
Nos intervalos do encontro escapadas pela cidade alta e pela cidade baixa, a rememorar os tempos do mestrado, quando vivia por ali. Como toda grande cidade, no Brasil, Salvador revela os contrastes entre o circuito protegido para o turismo e os outros circuitos…Equipamentos urbanos, mobiliário e iluminação, aliados a texturas e cores, além de pavimentações diferenciadas reforçam estes contrastes.
Cenas de violência urbana e de repressão policial também reforçam estes contrastes –“quando você for convidado pra subir no adro da fundação casa de Jorge Amado prá ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos dando porrada na nuca de malandros pretos, de ladrões mulatos e outros quase brancos tratados como pretos”, segundo letra da música de Caetano Veloso.
Para além destas diferenças, que são reais, a cidade de Salvador exprime a sua secularidade e sincretismo religioso através da culinária, da música, das crenças, dos costumes, entre outros, inseridos em conjuntos urbanos distintos, e através do próprio aspecto multicultural da sua propria gente.
Fotografar Salvador é fascinante; de um lado, o aspecto intrincado do centro histórico, na cidade alta, com becos, vielas, largos emoldurados por sobrados, casarões e majestosas igrejas entre outros. Se seguimos para o norte, nos deparamos com o Forte de Santo Antônio Além do Carmo no limite da cidade fortificada no passado. Para além do forte, a Liberdade e outros lugares. A sul, depois da Praça da Sé e da Praça Tomé de Souza, atravessamos a Praça Castro Alves com três opções: a primeira, pela avenida Sete; a segunda, pela rua Carlos Gomes; e a terceira, pela Ladeira da Montanha. Por esta última, acessamos a cidade baixa com as suas peculiaridades, o Mercado Modelo, antiga Alfândega, o Elevador Lacerda e os planos inclinados, além da ortogonalidade do traçado, aterrado no solo criado sobre o mar que, no prolongamento, nos conduz até a velha Ribeira, passando pela Feira de São Joaquim.
Este ensaio é dedicado aos meus amigos da capoeira angola do GCAP e aos meus professores e amigos do MAU da FAUFBA e da rede Urbanismobr. Mesmo distante de Salvador, pelo estágio Pós-Doc IUAV com o apoio da Capes, não deixo de me lembrar das origens Baíanas, particularmente das experiências soteropolitanas par excellence em todos os sentidos… Outros ensaios sobre a Bahia virão…
notas
1
Rede Urbanismo BR <www.urbanismobr.org>.
sobre o autor
Fabio Jose Martins de Lima nasceu em Belo Horizonte, em 02 de setembro de 1961 e fotografa desde 1983. Professor do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Faculdade de Engenharia da Universidade Federal de Juiz de Fora, a partir de 1999 é graduado em Arquitetura e Urbanismo pela Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (1989) com Mestrado em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia (1994) e Doutorado em Estruturas Ambientais Urbanas pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (2003). A partir de 2011, desenvolve Estágio Pós-Doutoral no IUAV Università di Venezia, com o apoio da CAPES, sob a orientaçao dos Professores Donatella Calabi e Guido Zucconi. Em Juiz de Fora coordena o grupo Urbanismomg que desenvolve atividades de pesquisa e extensão com o apoio do CNPq, Fapemig, Ministério das Cidades e Ministério da Cultura.