Depois de alguns dias em cidades italianas, comecei a entender o conceito de museu a céu aberto. Em ruas de Roma, Florença ou Veneza, estão tesouros culturais tão valiosos quanto muitas das peças expostas em museus ao redor do mundo.
Exemplo disso foi a construção de um edifício em Roma em 2006 – projeto do arquiteto Richard Meier – apenas para proteger da degradação o Ara Pacis Augustae, um belíssimo altar datado de 9 a.C, erguido para celebrar o período da Pax Romana.
Manter um museu a céu aberto não é uma tarefa fácil. Em uma exposição de pinturas em um museu tradicional, a ausência de uma obra para recuperação – desde que não seja uma Monalisa – pode ser resolvida com certa tranquilidade. Já o patrimônio edificado, está exposto à poluição e ao efeito do tempo. A “ausência” de um monumento para manutenção muda completamente a sensação do passeio e diferentemente das pinturas, não se pode simplesmente retirar um prédio da via para recuperação. Ela é realizada ali mesmo e para isso são necessários tapumes, andaimes e telas, que facilmente se transformam em poluição visual.
Já vi a arte de rua se apropriar de tapumes de obras como um novo suporte para suas ações, o que pode render bons resultados. Contudo, na minha visita à Itália, em especial em Roma e Florença, me surpreendi com outra utilização desses elementos a favor do patrimônio.
Como uma tentativa de reduzir a interferência no centro histórico, as imagens das fachadas dos edifícios ou monumentos em recuperação foram reproduzidas em tamanho real nas telas de isolamento das obras. Algumas das telas eram mais ricas em detalhes. Umas usavam fotografia e transparência, outras, ilustrações com cores sólidas.
Não sei se existe alguma exigência legal para uso deste tipo de proteção de acordo com o porte ou localização dos imóveis. Outras obras em prédios históricos na Europa não utilizavam esse recurso, ou usavam parcialmente, já que na frente das telas com as imagens das fachadas havia placas publicitárias. O fato é que a solução ajuda a amenizar a “ausência” do bem em manutenção e conserva a noção do conjunto histórico para os visitantes. O efeito não é o mesmo do original, mas dá ideia das formas, proporções e cores dos monumentos, além de transformar em aliados, elementos com forte tendência à poluição visual.
Assim o museu continua aberto, para o céu e para o público! Boa visita!
nota
NE
Texto adaptado da versão original, intitulada “Em obras”, publicada no “euvou.blog.com”, em 26 nov. 2012. <http://euvou.blog.com/2012/11/em-obras/>.
sobre os autores
Cynara de Sá Fernandes é arquiteta e urbanista (UFRN, 2004) e atualmente aluna do Mestrado Profissional em Arquitetura, Projeto e Meio Ambiente da UFRN. Atua como arquiteta do quadro funcional do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte.
Petterson Dantas é arquiteto e urbanista (UFRN, 2004), Tecnólogo em Gestão Ambiental (IFRN, 2010) e Mestre em arquitetura (UFRN, 2012). Atua como arquiteto do quadro funcional da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.