“A partir do Complexo da Cachoeira o visitante vislumbra, ao longe, o Monumento à Padroeira, outro complexo turístico, com a imagem de Nossa Senhora de Monte Serrat, de 30 metros de altura, junto ao Parque de Lavras. E, na margem oposta do rio, o Parque Rocha Moutonneé, que abriga uma raridade geológica com 500 milhões de anos, testemunha da era glacial. São convites a novas emoções” (1).
O município de Salto está localizado, segundo classificação do IBGE, na Mesorregião Macro Metropolitana Paulista, especificamente na Região Metropolitana de Sorocaba, no Estado de São Paulo. É uma cidade pequena, com cerca de 115 mil habitantes, e seria tipicamente interiorana se não fossem seus salutares predicados turísticos. Segundo Ettore Liberalesso (2), Salto tornou-se Estância Turística em 1999, por meio de lei estadual publicada no Diário Oficial do dia 30 de setembro.
A cidade oferece, essencialmente, roteiros para visitantes, pois sua rede hoteleira ainda é bastante parcimoniosa, sendo que a própria Secretaria Municipal reconhece tal vocação, ratificando no trecho reproduzido na epígrafe que o “visitante vislumbra”. Não obstante, há tantos atrativos nesta cidade e adjacências, que é possível estabelecer um roteiro tripartido para usufruto de seus atrativos em, no mínimo, três dias distintos – sequencialmente ou não. Essa roteirização não foi acidentalmente cunhada, mas aprendida com a própria cidade, que nomeou cada uma das atrações principais de cada percurso como “Complexo Turístico”.
Começamos, então, pelo passeio que identifico como “rota da religiosidade”, pois Salto nos oferece belíssima efígie da padroeira da cidade, a Nossa Senhora de Monte Serrat, cujo monumento se apresenta como o segundo maior de todo o país, sendo um pouco menor do que a estátua do Cristo Redentor no alto do Morro do Corcovado no Rio de Janeiro (3). De carro, é muito fácil chegar até o local, não apenas porque a própria Nossa Senhora é guardiã perpétua de Salto, podendo ver e ser vista de praticamente toda a cidade, mas pelo cuidado de seu município de alocar placas indicativas aos pontos turísticos.
Às costas da Nossa Senhora está uma das entradas para o Parque de Lavras, cuja caminhada pela natureza leva às margens do Rio Tietê, onde foi construída uma usina para geração de energia elétrica no início do século passado. Na trilha, há um relógio de sol, um museu da energia dentro de uma pequena casa colonial, cheia de fotografias e recortes de jornal, e ruínas da antiga usina, onde se conserva a carcaça de um gerador centenário. Foi inaugurado em março de 1992 e Liberalesso (4), na última década do século passado, afirmou que tinha boas considerações ao “maior e mais original da região”, com infraestrutura completa para os visitantes (segurança, sanitários, bebedouros, lanchonetes e estacionamento), além de diversas atrações como orquidário, parque infantil, painéis didáticos etc. Essa visão contrasta bastante com a escrita no início da segunda década deste século por Wendler e Merlin (5), declarando que a “infraestrutura para a permanência do usuário ainda é precária, faltando segurança, guias e espaços adequados”. E essa descrição serve ao parque, sendo ratificada em visita pessoal no mês de janeiro deste ano de 2016.
Nada obstante, mesmo que o parque seja um atrativo (carente de manutenção) para visitantes e até para os moradores da cidade, o propósito da “rota da religiosidade” é visitar a Nossa Senhora de Monte Serrat que, de acordo com Liberalesso (6), sua imagem foi inaugurada em 21 de dezembro de 1981, data em que “o Padre Spoladori abençoou a imagem, enquanto as luzes dos refletores iam se acendendo lentamente, mostrando, num belo espetáculo, o conjunto formado pelos jardins, morro, praça, passarelas, avenida, cascata e lago artificiais, mirante e imagem”.
Assim, independente de qual seja o guião da fé de cada um, nesse monumento é possível recuperar a paz interna, o sentido de fraternidade, louvar a padroeira, fazer preces na capela interior onde foi enterrado o fundador desta cidade, mas também observar, em panorama, a paisagem de Salto, curtir um picolé com a família na lanchonete que há no térreo, desfrutar das sombras e da natureza na praça frontispícia, a praça João Paulo II, de onde se pode admirar – por horas – sublime figura erigida em homenagem à Nossa Senhora de Monte Serrat.
Para deixar a rota ainda mais completa, recomenda-se visitar a Igreja Matriz Nossa Senhora Monte Serrat, no centro da cidade, bem perto de onde se sugere iniciar o segundo roteiro, histórico-cultural.
Boa visita!
notas
1
Anotação retirada do anverso do folheto sobre o Complexo Turístico da Cachoeira de Salto, SP, produzido pela Secretaria Municipal da Cultura e Turismo e distribuído gratuitamente no Balcão de Informações e Apoio ao Turista, na Praça Antônio Vieira Tavares, 20. Data não informada, mas posterior a 2014.
2
LIBERALESSO, Ettore. Salto: história, vida e tradição. 2ª edição. São Paulo, Imprensa Oficial, 2000.
3
Parece que as belas palavras de João Baptista Ferreira de Melo, se devidamente ajustadas, servem aos valores da Nossa Senhora à Salto: “Quanto ao Cristo Redentor, sua gigantesca imagem fincada no alto do morro do Corcovado, eternamente de braços abertos, a abençoar a cidade, configura fraternidade e amparo, acolhida e empatia, uma central idade extraordinária, seja para quem alcança o cume da montanha para desfrutar da privilegiada vista da cidade, seja para quem a procura constantemente, de qualquer ponto da cidade, como um referencial beleza geográfico, de meteorológico. Um símbolo maior que supera a questão religiosa e representa, em qualquer parte do mundo, a ‘Cidade Maravilhosa’ de São Sebastião do Rio de Janeiro, plena de fé, magia e hospitalidade”. MELO, João Baptista Ferreira de. Símbolos dos lugares, dos espaços e dos “deslugares”. Espaço e Cultura, UERJ, Rio de Janeiro, edição comemorativa, 1993-2008, p. 169.
4
LIBERALESSO, Ettore. Op. cit., p. 339.
5
WENDLER, Raquel Haber; MERLIN, José Roberto. O sistema de espaços livres em Salto: possibilidade de criação de roteiro de lazer através dos parques. In Anais. Campinas, XV Encontro de Iniciação Científica da PUC-Campinas 26-27 de outubro de 2010.
6
LIBERALESSO, Ettore. Op. cit., p. 287.
sobre o autor
Ivan Fortunato é pós-doutorado em Ciências Humanas e Sociais pela UFABC, doutor em Geografia pela Unesp. Líder do Núcleo de Estudos Transdisciplinares em Ensino, Ciência, Cultura e Ambiente (NuTECCA). Editor da Revista Hipótese e coeditor da Revista Internacional de Formação de Professores e da Revista Brasileira de Iniciação Científica. Professor do IFSP/Itapetininga.
legendas
Nossa Senhora de Monte Serrat em Salto, 30 metros de altura
Foto Carolina Rodrigues Cunha, 17 jan. 2016
Nave central da Igreja Nossa Senhora de Monte Serrat em Salto
Foto Carolina Rodrigues Cunha, 17 jan. 2016