O Gardens by the Bay (Jardins da Baía) em Singapura, cidade-Estado insular do Sudeste Asiático, é um complexo de jardins e estufas climatizadas inaugurado no ano de 2012. Este projeto foi uma estratégia para transformar o país em um grande jardim, com a intenção complementar de trazer mais qualidade de vida e espaços de cultura e lazer para a população. De acordo com o National Environment Agency Singapore, o país é demasiadamente urbanizado, mas a metade do país é coberto de vegetações, sendo aproximadamente 23% de florestas e reservas naturais (1).
O parque Gardens by the Bay possui uma área de 101 hectares sobre um aterro no mar. De frente para a Baía de Singapura, ele é dividido em três grandes jardins. O maior e mais visitado de todos, com 54 hectares, que abriga o conservatório, duas estufas climatizadas, a Flower Dome (Cúpula das Flores), a Cloud Forest (Floresta das Nuvens), além das Supertrees (Superárvores), é o Jardim da Baía Sul. Esse local foi feito com o objetivo de apresentar uma horticultura tropical trabalhada com valorização do paisagismo, além de ser projetado visando a sustentabilidade da obra. O Jardim da Baía Leste, que está localizado entre as estufas e tem uma vista panorâmica para o conservatório, possui 32 hectares, é aberto 24 horas com acesso gratuito, o que favorece a visitação de um número maior de pessoas. Neste espaço a população pode fazer caminhadas, andar de bicicleta ou apenas relaxar no amplo gramado existente. O Jardim da Baía Central com 15 hectares e 3 km de área de passeio faz a ligação entre o Jardim da Baía Sul e o Jardim da Baía Leste, possui várias delimitações com temas diferentes mostrando a cultura de diversos países. Este está em fase de construção e futuramente abrigará mais vegetações e entretenimento.
Suas estruturas são todas revestidas em vidro e é um exemplo de construção sustentável, pois possuem tecnologias que aportam energia renovável via painéis solares, material reciclável, sistema de captação da água da chuva para que seja possível o desenvolvimento das espécies de diferentes lugares do mundo, sem prejudicar o meio ambiente com o gasto de energia.
O projeto teve como inspiração a espécie de orquídea Vanda “Miss Joaquim”, também conhecida como a Orquídea de Singapura, por causa de sua resistência proveniente do seu acúmulo de energia e pela sua floração durante todo o ano. Em 15 de abril de 1981 esta flor foi escolhida para ser o símbolo de Singapura, representando a força e a beleza do país. O complexo das estufas é no formato das raízes da orquídea, tendo suas passarelas como “brotos”, as estufas representando as “folhas” e as “raízes” na forma de linhas de água e energia.
As duas estufas climatizadas estão a uma altura de 58 metros acima da margem da baía e possui uma área conjunta de 20.000 metros quadrados.
As estufas foram projetadas pelo escritório de arquitetura Wilkison Eyre Architects, em parceria com os escritórios responsáveis pelo projeto de engenharia – CPG Consultants Pte Ltd, Atelier One Ltd, Meinhardt Infrastructure Pte Ltd, Transsolar Energietechnik GmbH e Atelier Tem Ltd. Para o paisagismo, contaram com o escritório Grand Associates (UK) e Andrew Grandt and Team. A obra ganhou 56 prêmios relacionados a sustentabilidade, estrutura, paisagismo, arquitetura e entretenimento, dentre eles o Guiness Book 2015 pela maior estufa de vidro, a Flower Dome, o RIBA Lubetkin Prize 2013, concedido anualmente ao melhor edifício construído fora da União Europeia, o Landscape Institute Awards Best Large Scale Public Development pelo melhor projeto paisagístico de desenvolvimento público em grande escala, e o prêmio Structural Awards 2013 pela melhor estrutura de engenharia (2).
As duas megaconstruções tornaram-se os principais pontos turísticos do país, tanto pela arquitetura quanto pelos jardins de várias espécies de vegetações do mundo todo.
Flower Dome é uma estufa de 1,28 hectares que reproduz o clima típico frio e seco mediterrâneo e o semiárido. Possuem vários jardins de diferentes regiões do mundo, como o Jardim da Califórnia, Jardim das Olivas, Jardim Mediterrâneo, Jardim da América do Sul, Jardim da África do Sul, Jardim Australiano, Jardim das Suculentas, Os Baobás e o Campo de Flores.
A cada estação do ano a Flower Dome é transformada e redecorada conforme as flores sazonais. Em dezembro, apesar de apenas 12,9% da população ser cristã, a Flower Dome tem sua vegetação – em especial os pinheiros, símbolos do Natal – decorada com motivos natalinos, além da música ambiente privilegiar um playlist natalino.
Na Flower Dome também há obras de arte expostas, como as esculturas La Famille de Voyageurs de Bruno Catalano (1960), escultor francês conhecido pelas obras de bronze de figuras humanas sempre segurando uma maleta de viagem retratando o cotidiano dos viajantes, porém com recortes que dão a impressão de que algo esta faltando, como se a estátua estivesse se desintegrando e flutuando.
A outra grande estufa chamada de Cloud Forest – ou Floresta das Nuvens, em português – é, com seus 0,8 hectares, um pouco menor que a Flower Dome, mas tem uma altura maior e representa as florestas tropicais de altitude com clima frio e úmido. Contém a maior cachoeira em ambiente fechado do mundo, com 35 metros de altura e vários pavimentos; o passeio turístico começa embaixo e sobe através de um elevador até o último pavimento, dando acesso a caminhos por passarelas em cada nível, possibilitando a visualização de plantas que se desenvolvem em diversas altitudes.
A grande montanha da Cloud Forest possui as setes zonas de descoberta, começando pelo pavimento superior Lost World (Mundo Perdido), Cloud Walk (Caminho das Nuvens), Treetop Walk (Caminho do topo das Árvores), Crystal Mountain (Montanha de Cristal), Earth Check (Controle Terrestre), +5 Degrees (+5 Graus) e Secret Garden (Jardim Secreto).
Em determinadas horas do dia, a Cloud Forest é umidificada para que a réplica do clima na estufa permaneça úmida e fria, para não prejudicar as inúmeras espécies de plantas que necessitam do clima controlado. As vegetações presentes nesta estufa são desde plantas do nível do mar até plantas que têm seu habitat a três mil metros de altura. Diversas espécies de orquídeas, samambaias, plantas carnívoras e flores estão na grande montanha onde encontra-se a cascata.
Paul Baker, diretor responsável pelo projeto no Wilkinson Eyre afirma que a “sustentabilidade foi o nosso ponto de partida para Bay South Garden. Para abrigar uma organização focada na preservação da ecologia em um prédio com uma pegada de carbono enorme causado por ar-condicionado teria sido uma loucura. Concluir as Estufas foi uma conquista extraordinária de técnica, o que não teria sido possível sem o abrangente brief do projeto, a visão de NParks, a experiência de nossos parceiros e da estreita relação de trabalho desfrutamos. Na minha opinião, nosso projeto representa uma integração sem precedentes dos princípios de sustentabilidade em uma estrutura deste tamanho. Este é um projeto notável, com uma ambição incrível. Ele vai desempenhar um papel importante no futuro de Singapura, não apenas como um centro de comércio, mas também como um destino de viagem” (3).
notas
1
Para informações sobre o projeto, ver: Gardens by the Bay <www.gardensbythebay.com.sg/en/the-gardens/our-story/awards.html>; GRANT ASSOCIATES. Gardens by the Bay <http://grant-associates.uk.com/projects/gardens-by-the-bay>.
2
Para informações sobre prêmios, ver: President's Design Award 2016 <www.designsingapore.org/PDA_PUBLIC/gallery.aspx?sid=980>; GRANT ASSOCIATES. RIBA Lubetkin Prize 2013 goes to Gardens by the Bay <http://grant-associates.uk.com/1225/riba-lubetkin-prize-2013-goes-gardens-bay> ; ARCHDAILY. “Cooled Conservatories, Gardens by the Bay” recebe o RIBA Lubetkin Prize 2013 <www.archdaily.com.br/br/tag/riba-lubetkin-prize>.
3
ARCHDAILY. Estufas refrigeradas nos jardins próximos à baía / Wilkinson Eyre Architects. ArchDaily Brasil, 12 Fev 2013 <www.archdaily.com.br/br/01-97158/estufas-refrigeradas-nos-jardins-proximos-a-baia-slash-wilkinson-eyre-architects>.
sobre os autores
Camila Piazza é arquiteta e urbanista pela Universidade de Cuiabá (UNIC), cursando o mestrado em Arquitetura e Urbanismo pelo Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade São Judas Tadeu (USJT).
Paula de Vincenzo Fidelis Belfort Mattos é arquiteta e urbanista pela Instituição Moura Lacerda, mestrado em Artes Visuais (IA UNESP) e doutorado em História da Arquitetura pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo (FAU USP), é coordenadora dos cursos de Arquitetura e Urbanismo e Design e do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu da Universidade São Judas Tadeu.