Há um ano, ao ter que ser internado na Santa Casa de Bragança Paulista, na hora de preencher a ficha de internação emergencial fui perguntado sobre qual era a minha religião. Achei aquilo um disparate, pois fui lá para salvar o corpo, não a alma.
Como posso estar à morte mas não deixo de pavimentar meu caminho pro inferno, respondi:
— Sou membro da Igreja Holandesa Reformada Integrista.
A gentil atendente perguntou:
— O senhor é evangélico? —, ao que o capirotinho aqui respondeu:
— Todos os cristãos somos evangélicos: católicos romanos, católicos ortodoxos, reformados, pentecostais, neopentecostais... exceto os mórmons.
Cara de reticências da moça e a pergunta:
— O senhor é crente?
Sempre sorrindo, respondi:
— Todos os que acreditamos somos crentes: cristãos, judeus, muçulmanos, espíritas, umbandistas, candomblecistas...
Com uma cara de “morre logo, desgraçado!”, a moça tentou finalizar:
— Se o senhor precisar de assistência religiosa, que padre, pastor a gente pode chamar?
Sorridente, respondi:
— Um da minha Igreja, que só tem na Holanda e na África do Sul, ou um pastor menonita. Sendo que neste último caso vocês terão um problema, porque foram todos exterminados no século 17.
Recebi o formulário para eu assinar com “sem religião declarada”, ao que eu assinei e disse que tinha declarado, sim.
Saí vivo do hospital.
sobre o autor
João Henrique dos Santos é professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo – FAU UFRJ.