Um concurso para o qual dez arquitetos foram convidados em 1994 é a origem da nova sede da UEFA, inaugurada em setembro último. Solicitava-se um edifício representativo do futebol europeu para alojar os escritórios, salas de reuniões e dependências. A problemática do concurso consistia em tratar a imagem de um edifício público e administrativo num contexto de propriedades privadas.
A regra e a natureza
O título sugestivo do projeto premiado, de autoria de Patrick Berger, de Paris, indica sua determinação em abordar o papel da natureza, isto é, da paisagem como uma dualidade: dois elementos que formam o todo.
A natureza: o Lago Leman, rodeado de montanhas; os Alpes, ao sul e a cadeia de montanhas do Jura, ao norte; as margens essencialmente compostas por uma sucessão de parques e propriedades privadas pouco construídas, dão uma continuidade à paisagem. O terreno, uma colina suave com acesso direto ao lago, caracteriza-se por uma vista privilegiada frente ao Mont Blanc, o mais alto pico da Europa. A escolha do terreno demonstra um desejo de inscrever a nova sede na tradição do estabelecimento de sociedades internacionais à beira do Lago Leman (ONU, CIO, Nestlé).
A régua: em sua implantação e relação com o solo, sua posição precisa na inflexão do terreno e seu gabarito controlado, o projeto reinterpreta a questão da representatividade do edifício. Patrick Berger tratou o problema da imagem da nova sede da UEFA colocando em cena a paisagem, dando-lhe o papel principal. O edifício sustenta a paisagem, sublinha-lhe como uma régua. É o Mont Blanc, monumento natural e seu valor simbólico integrado à composição quem dá ao projeto o seu caráter institucional. Aqui Berger entendeu que a paisagem constituía o valor primeiro do lugar. A imagem forte do projeto é resumida na foto-montagem apresentada no concurso: a vista desde a rua com a fachada de entrada representando o conjunto natureza-edifício como uma unidade. Ela é a expressão do edifício. Discreto, o edifício mostra o que está em torno dele e encontra sua identidade nesta nova visão do lugar.
Entretanto, com seu rigor geométrico e construtivo, o edifício se opõe à natureza. Sua relação com o terreno, expressada em corte, mostra a rudeza do contato natureza-construído. A organização interior, submetida ao partido do projeto, coloca em questão notadamente a forçada simetria do plano entre o lado orientado verso o lago e aquele orientado verso a rua. Se o projeto efetivamente utiliza o lugar, brinca com ele para daí tirar uma identidade extraordinária, ele permanece numa lógica de dualidade: a natureza e a régua.
sobre o autor
Serge Butikofer é arquiteto formado em 1991 pela EPFL - Ecole Polythecnique Fédérale de Lausanne, Suiça. Entre 1991 e 1997 trabalhou em Barcelona e Salvador, Brasil. Atualmente exerce a profissão em Lausanne, onde é professor assistente do departamento de arquitetura da EPFL.