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architexts ISSN 1809-6298


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COENEN, Jo. Meus encontros com Paulo Mendes da Rocha. Arquitextos, São Paulo, ano 01, n. 001.02, Vitruvius, jun. 2000 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/01.001/1004>.

Ter conhecido Paulo Mendes da Rocha foi um grande privilégio. Meu primeiro contato com sua obra foi na última Documenta de Kassel. Mendes da Rocha era representante da "Comunicação Moderna", ao lado de arquitetos como Rem Koolhaas e Aldo van Eyck e outros artistas contemporâneos.

Sua obra é testemunha de uma profunda consciência dos tempos modernos: esse frenesi rápido e irresistível de acontecimentos, excitante para quem faz parte, um horror para quem não pode ou quer acompanhar o ritmo vertiginoso. Tempo que fez muitas vítimas, cujo fenômeno mais escandaloso é a pobreza. Tempo que não é capaz de por fim à divisão entre pobreza e riqueza. Que status quo mais anti-social!

Pinacoteca do Estado, São Paulo
Foto Nelson Kon

Os encontros com Mendes da Rocha acontecerem em um intervalo de três meses, durante duas viagens para América do Sul. Passamos dez dias na Colômbia, onde demos palestras, eu, ele e Luigi Snozzi - a versão européia de Mendes da Rocha. Foi o início de uma conversa contínua: a partir do primeiro dia em Bogotá, depois na quentíssima e frenética Cartagena no norte, até a última mesa redonda na Universidade de Medellin. Dois meses depois o encontrei novamente na 3ª Bienal Internacional de Arquitetura em São Paulo.

O encontro entre Mendes da Rocha e Snozzi tinha de acontecer um dia. Dois fenômenos de um procedimento similar - Snozzi com a sua tradição clássica européia e Mendes da Rocha com suas ricas e profundas origens da América do Sul. Ambos divulgando uma idéia, a força espiritual da própria alma. Dois arquitetos inspirados e com uma preocupação social, que produziram a vida inteira dentro de uma mesma visão de mundo. Eu estava presente nesse encontro, com o meu passado sócio-democrático holandês e com a minha educação arquitetônica forjada no escritório Van Eyck e Bosch no centro de Amsterdam ainda frescos na memória.

Mendes da Rocha tornou-se um amigo. Um amigo que, depois de estudar Le Corbusier profundamente, colocou os seus pensamentos sobre uma arquitetura justa e social no papel. Espaços nus, despojados de qualquer adorno, em que a luz flui livremente, onde a paisagem é incorporada em todos as suas facetas para servir como fundo e base de novos usos. Como Snozzi, sempre pensando em novas utopias para o Novo Mundo.

Casa de Campo, Cabreúva
Foto Nelson Kon

Mendes da Rocha não foge da tarefa de desenvolver novos pensamentos. Pelo contrário, ele é provocante - com o perigo de ficar um Don Quixote -, investigando a realidade e preservando sua esperança no futuro. Na sua fantasia inesgotável, na imaginação e força do seu pensar, ele consegue refletir horas e horas sobre a cidade e o cidadão. O poder de relativizar e um bom humor constante ajudam nisto. Ele enfrenta as novas realidades conscientemente. Está acostumado com o continente que mais vivenciou o crescimento explosivo das cidades. Cidades com 300.000 habitantes há trinta anos, cresceram e hoje conformam metrópoles de 12 ou mesmo 15 milhões de pessoas: áreas imensas cobertas até o horizonte com pilhas imensas de matéria. Gigantes formigueiros de pessoas, com suas línguas, emoções, sentimentos e negócios. Com congestionamentos infinitos, com a aparência de que jamais serão dissolvidos.

No meio dessa urbanidade que não é mais compreensível para o ser humano, Mendes da Rocha encontra motivos para construir um oásis de repouso e beleza, sem nenhum compromisso além de torná-los refúgios contra os terrores constantes da cidade. Lugares com uma serenidade solene. Raramente vi tanta força controlada. Arquitetura como fosse o último momento antes do movimento. Mendes da Rocha apresenta a acrobacia do trapézio e, de tanto balançar, seus prédios viram arte espacial do mais alto nível. Seus edifícios mostram o que é arquitetura na sua essência - não são meros exercícios volumétricos.

Museu Brasileiro da Escultura, São Paulo
Foto Nelson Kon

A sua arquitetura é uma caverna no meio da violência que a envolve. Ou talvez melhor, são vazios silenciosos, circundados por intrusões. Mostra uma estratégia reiterada de deixar o térreo livre e silencioso e assim se vestir de espaços de repouso, contemplação, conversa, encontro, sombra, meditação e sonhos. Espaços literários onde a natureza acha o seu lugar de uma maneira cultivada. Construções vigorosas sobrevoam com gestos generosos esses lugares teatrais, que são utilizados para morar, trabalhar ou fazer negócios.

Mas Mendes da Rocha não seria um Brasileiro se também o sublunar não fosse incorporado à sua paisagem construída. Ele cria concientemente uma nova paisagem. A inventividade mostrada nessas elaborações topográficas é única. Sem exceção, cada um dos seus projetos é um achado e isso faz da sua obra para um Europeu a maior descoberta dos últimos anos. Além da obra dos grandes mestres como Niemeyer, Bo Bardi e Oswaldo Bratke, essa obra não é apenas tipicamente brasileira, mas também um suplemento e uma continuação dos prédios rigorosos de Le Corbusier.

Paulo Mendes da Rocha cria o que a arquitetura pode ser: espaços bonitos e despojados. A sua mão quase invisível está presente em todas as decisões, sempre refinada e equilibrada. A sua arquitetura mostra a maturidade de um criador, que concebe com criatividade cada elemento do edifício, dando a ele o lugar e a dimensão convenientes. Assim é gerada uma escala conseqüente e generosa e uma atmosfera de lucidez, transparência e, acima de tudo, originalidade. A obra de Mendes da Rocha é prenhe de poesia. Ele consegue orquestrar o conjunto em silêncio, interligando e comunicando os espaços com sutileza. Esta é uma qualidade intocável de Mendes da Rocha.

Loja Forma, São Paulo
Foto Nelson Kon


notas

1
Publicado em Brazilië. Laboratorium van architectuur en stedenbouw, Paul Meurs e Esther Agricola (org), NAi, Uitgevers, Roterdam, 1998, pp 349-353. Tradução Patrícia Moribe.

sobre o autor

Jo Coenen é arquiteto e urbanista, titular do escritório Jo Coenen & Co, de Utrecht, Holanda. É autor do projeto do NAi - Instituto Holandês de Arquitetura - em Rotterdam e dos Planos Diretores do KNSM-Eiland, Amsterdam, e Sphinx Céramique, em Maastricht, Holanda.

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