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architexts ISSN 1809-6298


abstracts

português
Uma homenagem emocionada ao arquiteto mineiro Éolo Maia, morto recentemente em Belo Horizonte

english
An emotional tribute to the architect mining Aeolus Maia, who died recently in Belo Horizonte


how to quote

ZEIN, Ruth Verde. Éolo Maia, 1942/2002 (editorial). Arquitextos, São Paulo, ano 03, n. 028.08, Vitruvius, set. 2002 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/03.028/755>.

Era um garoto, que como todos nós, amava os Beatles e os Rolling Stones, amava Niemeyer e Artigas, amava Pampulha e Ouro Preto. E o seu jeito peculiar de se apaixonar pela vida e pela arquitetura era deglutir todas essas paixões, a que foram se acrescentando outras, todas de uma vez e cada uma em seguida: de Louis Kahn a Mario Botta, de Le Corbusier a Richard Meier, de James Stirling a Frank Gehry, e quantos mais se apresentassem. Chacoalhava tudo, e dali tirava suco concentrado de arquitetura, que aplicava em suas obras e projetos, com uma criatividade tão exuberante quanto exagerada. Um desenhador alucinante, era capaz de “puxar traço”, como se dizia antigamente, a uma velocidade e proficiência impressionantes, desenhando não apenas como quem registra, mas como quem concebe, num profissionalismo perfeito, contraponto iniludível de sua imagem brincalhona e bem-humorada.

Conheci Éolo em Porto Alegre, num Fórum inolvidável dos idos de 1983, onde também conheci vários outros arquitetos que marcaram minha formação. Colhidos ambos de surpresa em uma chatíssima reunião dessas “para debater os temas da categoria”, escapulimos para um café e para planejar um arroz de carreteiro na casa da Bella com, entre outros, Salmona e Mariano Arana. Onde se falou de arquitetura, se falou mal de arquitetos, se falou bem do Brasil e da América Latina, se bebeu e se comemorou. Estar com Éolo era sempre uma festa.

Irreverente, mas absolutamente sério, Éolo e sua trupe de amigos e conhecidos mineiros revolucionou o ambiente asfixiante de fins dos anos 1970 com a revista Pampulha, iniciada em janeiro de 1980: um sopro de ar fresco no não debate viciado de então, e quem não viveu, já não sabe, e os demais fingem que esqueceram. Não é bom mesmo lembrar, a não ser neste caso: para mostrar como se podia, sob as circunstâncias mais difíceis, fazer e debater arquitetura. Sempre com bom humor, como comprovava a secção “Cozinhando com Pampulha”, a primeira coluna gastronômica de uma revista de arquitetura.

Éolo tinha outro defeito, outra qualidade: ele publicava. Tudo o que fazia, ia coletando e dando a lume em revistas, em livros. Fez vários livros com Silvio de Podestá e Jô Vasconcellos, e muitas outras coisas junto com todo o grupo mineiro de Pampulha (que para não esquecer de algum dos amigos, não vou citar nenhum, mas mando lembranças a todos). Éolo ajudou a inaugurar a possibilidade de haver um campo editorial de arquitetura no Brasil, em conjunto com outros memoráveis e isolados esforços cá e lá e acolá, todos importantes. Mas dar a cara para bater como o Éolo, ah, isso ninguém nunca fez nem fará, numa época em que suas ousadias causavam frisson, e o repúdio disfarçado de gente sem graça. E ainda por cima, encomendava a críticos de arquitetura para incluírem textos analíticos nos livros! Muitas décadas depois, ainda há quem pense que livro de arquitetura é mero catálogo de informações, que pensar sobre arquitetura é dar “comida mastigada”, que só o autor pode falar de si próprio. Bobagem, como Éolo sabia, e fazia: opinem, opinem contra, digam o que acham: o bom mesmo é o movimento. E o bom mesmo, é ser feliz.

Mas o que derruba um ser humano não é fazer e ser criticado: é não poder mais fazer. Crises, econômicas e culturais, matam não somente o corpo, mas a alma. O que todos os ventos contrários não fizeram, a ausência de trabalhos de interesse conseguiram fazer: derrubar o lutador Éolo.

O que importa é que Éolo fez muita coisa boa, mas no calor desta hora de tristeza, pela ausência súbita, absurda e precipitada desse grande amigo, não me ocorre dizer mais nada. Ele merece, e merecerá, muito mais. Por enquanto, minha homenagem será dizer, muito eolicamente, que Éolo não devia morrer, nem morto. Já está fazendo muita falta.

sobre autor

Ruth Verde Zein é arquiteta, crítica de arquitetura e professora da FAU Mackenzie

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