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architexts ISSN 1809-6298


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O arquiteto Héctor Vigliecca comenta sua participação no Concurso Internacional Biblioteca Nacional do México, onde seu projeto foi um dos finalistas


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VIGLIECCA, Héctor. Sobre o Concurso Internacional da Mega Biblioteca do México. Arquitextos, São Paulo, ano 04, n. 042.00, Vitruvius, nov. 2003 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/04.042/635>.

"O valor de um espírito é medido pela sua capacidade de suportar a verdade" (Nietzsche)

Quem conhece a nossa atuação, nos últimos quase 30 anos, sabe que somos obstinados participantes de concursos, sabemos muito bem portanto que este exercício, por mais que se critique, tem sido a base insubstituível de nosso amadurecimento profissional e nossa grande oportunidade de crescimento.

Sabemos também que as coincidências circunstanciais para ganhar um concurso são realmente um labirinto difícil de explicar, como a própria vida. Concursos são sempre resultados de uma amálgama de esforços, convicções, coincidências e contrariedades, valores que nós arquitetos apreciamos por alguma obcecada condição, própria da nossa profissão.

Os concursos, principalmente os internacionais quase sempre tem revelado novos talentos, basta lembrar Rafael Vignoli, Jorn Utzon, Alejandro Zaera, Richard Rogers, Renzo Piano, Carlos Ott, por citar os mais importantes, “assim como alguns destes concursos serviram como ponto de inflexão na arquitetura da segunda metade do século XX”. (1)

O concurso da Biblioteca da cidade de México foi organizado pela CONACULTA – Consejo Nacional para la Cultura y las Artes do México, e realizado em duas fases.

Apresentaram-se 592 escritórios de 32 paises, e um júri formado por onze membros sendo cinco mexicanos e seis estrangeiros representando: Costa Rica, Colômbia, Espanha, Estados Unidos e Canadá.

O procedimento de seleção foi sigiloso e realizado através de maioria de votos onde se selecionaram 20 projetos.

De acordo com o procedimento indicado nas bases nesta etapa foram abertos os currículos e sobre este documento considerando a experiência profissional dos autores, se declararam finalistas as propostas de México, Estados Unidos, Colômbia, Brasil, Espanha e Reino Unido.

Cabe destacar que na segunda etapa o trabalho foi remunerado no valor equivalente a fase de anteprojeto, esta condição nos permitiu montar uma equipe de trinta e quatro pessoas formada por arquitetos, engenheiros e técnicos, dentro dos quais se destacam: a consultoria em bibliotecologia do Professor Wolfram Henning, da Alemanha (graças ao apoio do instituto Goethe.); e para comunicação visual e mobiliário convidamos o escritório Klein-Dytham Architecture, do Japão.

Paralelamente no México, trabalhamos com um prestigioso escritório de arquitetura Springuell+Lira+Gaeta, que nos deu todo o apoio de crítica, montagem e coordenação dos consultores em Botânica, Iluminação, Conforto ambiental, como também todas as engenharias, fundamentalmente os especialistas em fundações e estruturas, imprescindíveis para uma das regiões com condições de subsolo mais complicadas do mundo.

A segunda fase

A apresentação da segunda fase foi realizada frente a um júri internacional diretamente pelo responsável de cada equipe. Este júri teve uma nova composição de acordo com as bases, e constituído por 11 membros, provenientes de seis paises: Carlos Mijares, Ricardo Rodriguez, Daniel Ruiz, Jorge Von Ziegler do México; Tod Willams e Mark Robbins dos Estados Unidos; Luis Fernandes Galeano, da Espanha; Shigeru Ban, do Japão; Aaron Betsky dos paises Baixos; e Peter Rowe da Austrália.

Existiu ainda a consultoria de um especialista em concursos internacionais Reed Kroloff, e o consultor em bibliotecas Robert Roholf, dos Estados Unidos.

Montagem exemplar, digna de um concurso internacional (2).

A apresentação

As apresentações se sucederam nos dias 2 e 3 de outubro passado e rigorosamente de acordo com um programa de horários pré-definidos: quarenta e cinco minutos de exposição e quinze minutos para perguntas.

Na sala de apresentação foi instalada uma grande maquete do entorno urbano onde cada participante deveria encaixar seu projeto no espaço determinado.

A apresentação foi um fato inédito, um desafio extraordinário no histórico dos concursos de arquitetura em Ibero-america. Ter a possibilidade de dramatizar nosso raciocínio, uma oportunidade e uma vantagem impar, como fechamento de um processo de trabalho e ensaios intensos.

O desfecho

O resultado deste processo de um custo extraordinário tanto para os participantes como para a própria CONACULTA, teve um resultado desanimador.

O próprio Luis Fernandez-Galeano, que formou parte do júri da segunda fase, publica seus comentários no jornal El Pais de Espanha, onde comete uma gafe ética a respeito dos outros membros do júri, no entanto faz observações pertinentes e que de fato deveriam formar parte da ata (3).

“el concurso se adjudico sin ninguna de las propuestas premiadas com maioria de votos [...] Su resultado, interpretado por la prensa local – como la victoria de um mexicano frente al mundo [...] eligió como paradójico vencedor un proyecto que deliberadamente vulnera los objetivos de visibilidad y funcionalidad establecidos en las bases, al segregarse del entorno urbano con unos selváticos telones de fronda tropical, y al concebir la biblioteca como una interminable nave de cuya cubierta, con escasa verosimilitud estructural, cuelgan como racimos las estanterías de libros.

El emplazamiento elegido para la que será nodo central de la red nacional de bibliotecas públicas es, apropiadamente, un nudo de transportes y de la red eléctrica. La futura Biblioteca de México se levantará junto a una estación de ferrocarril en desuso y delante de una vetusta central eléctrica parcialmente en servicio, incorporándose los edificios y motores obsoletos a un parque de arqueología industrial integrado en el complejo de la biblioteca, con amplias zonas ajardinadas. El barrio es popular y heterogéneo, con centros comerciales y torres de oficinas salpicando la trama menuda de la edificación residencial, a medio camino entre la degradación que ha expulsado del área central de la ciudad a más de un millón de habitantes en el último cuarto de siglo, y los procesos de regeneración urbana impulsados por la administración en los que la biblioteca se inscribe, al ser un proyecto simultáneamente cultural y urbanístico encaminado a crear "un país de lectores" y a dinamizar la rehabilitación del centro.

En este contexto, cuesta trabajo entender de qué manera la propuesta vencedora materializa tanto las prioridades del concurso como los más generales propósitos de apertura, austeridad y reforma del presidente Fox. Encerrada por un escenográfico jardín botánico sobre taludes micropilotados y en voladizo, la biblioteca se oculta de la ciudad, proponiéndose como un edificio genérico indiferente al contexto” (4).

A autocrítica

Temos a sensação que o resultado final deste concurso internacional é um espelho das relações de conflito que a história nos deixou enraizada para sempre, nas nossas culturas.

O resultado interpretado pelos titulares da imprensa local como “a victoria de um Mexicano frente al mundo” é o reflexo de um enfrentamento de poder dos valores culturais que México, como outros paises latino-americanos, insistem na necessidade da afirmação da sua identidade como um jogo de honra, forçando manter a propriedade intelectual dentro de suas fronteiras, parafraseando Otavio Paz, o tempo não transformou quase nada, um espelho triste de nossa solidão.

Por outro lado, a simetria dos fatos, o texto de Luis Fernandez Galiano, é bem claro, ele se manifesta curiosamente surpreso, analisando a seleção da primeira fase, fazendo gala de uma atitude despudoradamente eurocentrista:

”Ya la primera fase, que se dirimió en los últimos días de junio – en la que se juzgaba el currículo de los concursantes y una idea expresada en 300 palabras y dos hojas del tamaño de este periódico –, dejó desconcertantemente fuera a la mayor parte de los grandes arquitectos instados a concursar: el neoyorquino Eisenman, los holandeses Koolhaas y MVRDV, los suizos Herzog y De Meuron, el francés Perrault, los austriacos de Coop Himmelblau o el japonés Kengo Kuma fueron algunas de las figuras internacionales que no superaron el corte, como tampoco lo hicieron numerosos españoles, entre los cuales Ferrater, Vázquez Consuegra, Ábalos y Herreros o Mansilla y Tuñón” (5).

É bom dizer que também ficaram eliminados grandes arquitetos mexicanos, brasileiros e argentinos, mas estes aqui não são de suficiente destaque para o Sr. Fernadez Galiano, júri da segunda fase.

Conclusões

Desta experiência, só podemos confessar sem falsa modéstia que sabemos da intensidade de nosso trabalho e constatamos mais de uma vez que quando as seleções são realizadas por procedimentos sigilosos, somos lidos, compreendidos e destacados, isto nos gratifica e confirma que estamos praticando um raciocínio peculiar.

No final, o balanço sempre deve ser positivo, tanto do ponto de vista técnico como humano, fundamentalmente a convivência com os profissionais mexicanos que foi de grande intensidade, respeito e enriquecimento mútuo, uma sinergia que não deixaremos que se perca.

Acreditamos piamente nos concursos; as circunstâncias por mais aleatórias que sejam, considerando até possíveis influências e pressões que os jurados possam receber, sabemos que elas formam parte do jogo e não invalidam o procedimento.

notas

1
MAHFUZ, Edson. Concursos de Arquitetura: exploração ou oportunidade de crescimento? Artigo disponibilizado originalmente na coluna Relações do Website do IAB-RS desde 16 de agosto de 2003, www.iab-rs.org.br. Disponibilizado em Vitruvius, Arquitextos n. 39.03, agosto 2003 <http://www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq039/arq039_03.asp>.

2
O último concurso internacional no México foi em 1896, para a construção do seu Palácio Legislativo.

3
Até o dia da publicação deste artigo a Ata do júri, não tinha sido publicada.

4
FERNANDEZ-GALIANO, Luis. México en su Laberinto. Madri, El Pais, edição 18, out. 2003. Destaque do autor.

5
Idem, ibidem.

ficha técnica

Concurso Internacional de Arquitetura Biblioteca do México José Vasconcelos
Cidade do México, junho-outubro 2003

Autoria
Vigliecca Associados – Brasil

Arquitetura e coordenação
Arquitetos Héctor Vigliecca, Luciene Quel (responsáveis) e Ruben Otero

Equipe de projeto
Arquitetos Lilian Hun, Ana Carolina Damasco Penna, Ronald Werner Fiedler, Mario Echigo, André Luque

Administração
Engenheiro Paulo de Arruda Serra e Luci Tomoko Maie

Engenharia de custos
Engenheiro Paulo de Arruda Serra

Colaborador
Arquiteto Carlos Paiva Corral Perles

Estudantes
Maíra Paes de Barros Carrilho, Indiana Santos Marteli, Fabio de Bem, Nicole Sztokfisz

Perspectivas
Arquitetos Henrique Blutaumüller e Fernando Leal de Lima

Bibliotecologia
Professor Wolfram Henning, Alemanha

Arquitetura de interiores e comunicação
Klein Dytham Architecture, Japão

Maquete 1:200
Arquitetos Frederico Cravo e Carolina Haapalainen

Fotos
Arquiteto Stepan Norair Chahinian

Apoio técnico
Springall+Lira, México
Arquitetos Billy Springall, Miguel Angel Lira, Julio Gaeta

Consultores

Desenho estrutural
Engenheiros Luis Esteva e Carlos A. Correa Dominguez

Mecânica de solos
Engenheiro Guillermo Springall

Instalações hidrosanitárias e proteção contra incêndios
Engenheiro Francisco Garza Cuellar

Instalações eletromecânicas e ventilação / ar condicionado
Engenheiro Gustavo Nieto Castilla

LuminotécnicaArquiteto Gustavo Aviles

Processos construtivos e engenharia de custos
Arquiteto Alvaro Sánchez

Botânica e paisagismo
Arquiteta Lourdes Abutro Osnaya

sobre o autor

Héctor Vigliecca é arquiteto e professor da FAU Mackenzie

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