Eduardo Corona foi um dos redatores da revista Acrópole (1) desde 1966 até 1971, último ano de circulação de um dos mais importantes periódicos especializados em arquitetura do Brasil. Escrevia regularmente no informe do IAB de São Paulo. Com textos bastante claros e diretos, colocava suas impressões sobre o panorama da produção arquitetônica brasileira, como sua reação ao “surto imobiliário de especulação desenfreada” (2) ou explicando as “Dificuldades do arquiteto ou A triste figura do cliente desavisado”:
“O proprietário ou o cliente, este então leigo até não mais poder, nada vê, nada distingue daquilo que se pode convencionar de técnica construtiva, de qualidade artística ou de realização econômica ou mesmo de realidade financeira.E ano após ano, modestamente vigilantes tentamos salvar alguma coisa para que de tanta burrice surgisse uma obra razoável, digna pelo menos de conceituação benevolente por parte dos entendidos e da crítica. Nos consideramos, por fim, impotentes, desde o instante em que o proprietário resolve simplesmente sustar a fiscalização arquitetônica por parte dos autores do projeto, por julgá-la inútil. Irreparável atitude. Lastimável desconhecimento ou desrespeito por uma profissão”. (3)
Suas contribuições ao meio acadêmico e sobretudo no ensino de arquitetura, além de ocorrerem como professor desde 1949, eram igualmente apresentadas nas notas de arquitetura em Acrópole:
“O arquiteto não é mais um especialista na grande arte, que sabe idealizar obras bonitas. É um profissional, consciente do tempo em que vive, que resolve problemas de profundidade humana, cujos aspectos sociais, artísticos e técnicos, são por ele enfrentados com conhecimento, com discernimento, com audácia e com sensibilidade para que possa - ao cabo e ao fim - oferecer ao semelhante soluções.
Esta compreensão tem sido reclamada pelos arquitetos professores, para que os outros especialistas, professores de cadeiras técnicas e científicas, entendam os propósitos e meios, e se entrosem na grande arrancada de preparação de futuros arquitetos, capazes de enfrentar o mundo de amanhã e seus problemas, capazes de realizar a arquitetura que o homem de nossos dias reclama, cuja grande maioria nada viu ainda de positivo.(...)
Resta mais homogeneidade de conceituação, maior progresso no raciocínio. Noutras palavras: resta repelir idéias retrógradas” (4).
Outra contribuição importante do arquiteto para a revista, foi o Dicionário de Arquitetura Brasileira de 1957. Escrito juntamente com o arquiteto Carlos Lemos, o dicionário era publicado por partes em seqüência alfabética nos diferentes números da revista. O encarte destacável era um glossário de termos técnicos ilustrados com detalhes construtivos. Nomenclaturas e conceitos de teoria e história da arquitetura, assim como biografias e obras de arquitetos reconhecidos, também estavam incluídas no dicionário.
Um Guia de Arquitetura Contemporânea de São Paulo (5), também elaborado por Carlos Lemos e Eduardo Corona, foi encarte da revista, apresentando uma recopilação da produção mais recente dos arquitetos de São Paulo. As obras apresentadas, em geral eram dos anos 50 e do início dos 60 como a casa M.G. de 1961, projeto dos próprios autores do guia.
Carlos Lemos escreveria sobre o colega de trabalho, anos mais tarde, logo depois do falecimento de Corona:
“Com seu tino agudo de observação escreveu durante anos nos boletins do IAB, onde sempre defendeu os aspectos éticos da profissão e os interesses da classe sem, contudo, assumir posições políticas radicais. Intimamente, era um homem de esquerda, talvez desde os dias de estudante no Rio, quando conviveu com Oscar, como seu estagiário e desenhista. Publicamente, no entanto, sua posição política era estar sentado em cima do muro, o que irritava o pessoal do Partidão. Nunca se importou com isso.” (6)
Além de seus textos, foram publicados na revista Acrópole, diversos projetos do arquiteto como o edifício de apartamentos Jorge Bey Maluf de 1956, a Residência Abrahão Rotberg de 1957 e o edifício do Departamento de Historia y Geografia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Cidade Universitária de São Paulo de 1966.
Na Acrópole número 210 de 1956, também foram publicados uma serie de 5 estudos de Eduardo Corona para residências unifamiliares. Os projetos não foram executados. No texto introdutório, que abre uma sessão de 4 páginas, com os 5 diferentes projetos extraídos do arquivo do arquiteto, o redator, referindo-se aos arquitetos em geral, explica que “nem sempre seus projetos e suas concepções são realizados, devido a fatores diferenciados de origem” e que por isso “cada arquiteto tem em seus arquivos particulares uma enorme serie de estudos, anteprojetos e croquis de toda natureza, feitos para objetivar este o aquele problema que se apresenta (7).
A partir deste material publicado, o trabalho de pesquisa proposto foi desenvolver um destes estudos, até as etapas de finalização do projeto arquitetônico.
A escolha de um projeto moderno, para a realização de um exercício de prática de projeto, sustenta-se na convicção da vigência da concepção Moderna para a arquitetura contemporânea.
O exercício parte de um anteprojeto existente, considerando que uma serie de decisões de ordem técnica e de forma, ainda não estão resolvidas – ou que pelo menos, não estão claras – mas que já podem ser verificadas a partir desta etapa do projeto arquitetônico. Mais que simplesmente redesenhar um projeto existente, reconhecendo etapas de projeto e verificando resultados, é enfrentar e dar continuidade a um trabalho, solucionando questões que nem o verdadeiro autor tinha-se deparado ainda. A ênfase na análise tectônica e na proposições de novas soluções construtivas, conduzem o estudo do projeto e revelam-se em novos desenhos técnicos complementares. Acredita-se que este seja o melhor método para conhecer um projeto e, sobretudo, que é um exercício indispensável para quem aprende a projetar.
“A aparência da construção proporciona à fantasia, alimentos para novos conteúdos formais e anímicos. A batalha com o técnico durante a construção mostra, constantemente, conteúdos estéticos impensáveis” (8).
Decidiu-se trabalhar com a residência que o artigo numera como “2”. Primeiramente, porque observando as imagens, reconheceu-se de imediato, um importante projeto Moderno. Segundo, porque entre os estudos para residências projetados por Eduardo Corona publicados em Acrópole (9) , foi a que mais apresentava informações que pudessem resultar em condicionantes de projeto, determinando maior controle à hora de propor soluções construtivas e, por sua vez, de forma.
Os projetos de residências unifamiliares que foram construídas, também publicados na revista, serviram de base para conhecer as soluções técnicas que o arquiteto utilizava em determinados casos. Para decidir que tipo de esquadria utilizar, por exemplo, pesquisou-se as utilizadas em obras existentes. Uma vez valorizada sua aplicabilidade, foram redimensionadas para a situação correspondente.
Foi necessária, também, a análise de obras de outros arquitetos. Isto porque não se encontrou nas próprias obras de Corona situações semelhantes que pudessem ser aplicadas ao novo projeto. É evidente que estes arquitetos e obras eram contemporâneos de Corona e que as vezes, inclusive, chegaram a trabalhar juntos. Isto foi importante para saber o que se podia fazer quanto ao emprego de materiais e de soluções técnicas, que ao final, surpreendem por sua racionalidade construtiva e funcionamento, qualidades de desenho e técnica que o mercado atual parece ter esquecido.
* *
A informação gráfica publicada do projeto está composta de 4 desenhos: uma planta baixa com referência de escala, uma perspectiva externa, um corte longitudinal esquemático e uma perspectiva interna do living. Um curto texto explica que o material publicado é um estudo de residência para um casal com 2 ou 3 filhos, num terreno de 25x40m. Informa pé-direito de 3,50 nos dormitórios e de 2,50m nas demais áreas. (10) A casa tem 400,50 m2 de área construída.
Primeiramente, analisou-se dimensões, níveis, elementos construtivos, mobiliário, sombras, etc. para verificar a correspondência entre os desenhos. Mesmos sabendo de que se trata de um estudo ou anteprojeto e, que a falta de detalhes ou de um traço impreciso é característica desta fase de projeto, há alguns pontos que devem ser observados na comparação dos desenhos. Na planta baixa, por exemplo, a escada que liga o estar aos quartos não está desenhada, mesmo que no corte esteja representada. Entretanto, é fácil entender sua localização em planta e seu dimensionamento pode ser feito com as diferenças de altura informadas. Na perspectiva não estão desenhados os brises verticais e um dos pilares que aparecem em planta e na perspectiva interna.
A orientação solar não está especificada mas pode ser deduzida pela projeção da sombra na perspectiva, pela disposição dos brises verticais do pátio semicoberto e pela distribuição dos espaços em planta. Conclui-se que a fachada de acesso esta orientada para nordeste. Haveria incidência solar nos dormitórios nas primeiras horas da manhã, o estar receberia sol durante grande parte do dia, sendo a incidência solar crítica das primeiras horas da tarde controlada pelos brises. Os tijolos vazados, que fecham externamente parte do estar ao pátio maior, controlariam também a entrada de luz direta nas últimas horas do dia.
Quanto à localização desta casa, não existe nenhuma informação concreta. Em um primeiro instante, poderia tratar-se de um projeto para uma casa de campo, a julgar pela forma como está representando o entorno na perspectiva e por não estarem desenhados os muros. Mas conforme se comprova na planta baixa, o alinhamento dos muros também esta indicado na perspectiva por linhas que correspondem ao perímetro do terreno. Na perspectiva interna, estes aparecem ao fundo, delimitando as extensões dos pátios. Como já foi observado, as dimensões de 25x40 do terreno são informadas. Presume-se que a casa poderia ter sido projetada para um lote de uma nova urbanização, na qual, talvez, ainda se tivesse construído pouco, pelo menos nas imediações deste projeto.
A representação gráfica dos muros nos desenhos originais não informam suas reais dimensões e acredita-se que não corresponde ao importante papel que estes elementos assumem no projeto. Mais que indicar os limites do terreno, configuram os pátios com as demais partes construídas, conferindo características espaciais específicas a cada um. Estes muros de alvenaria não possuem nenhuma vinculação estrutural à edificação. Estendem-se nas duas laterais e nos fundos do terreno com uma altura de 2 metros. Suas dimensões são de 25cm de espessura acompanhando as dimensões das paredes externas da casa, como a da cozinha que faz divisa com o terreno vizinho. Na frente do terreno, o muro é substituído por uma grade baixa como as que Corona desenharia para outras casas. O mural situado mais atrás, debaixo da parte coberta, substitui o muro encerrando um pátio mais reservado, impedindo que o morador seja visto da rua e que este, por sua vez, tampouco possa ver o que está acontecendo fora.
A planta está ordenada por dois eixos que são determinantes para a distribuição das áreas edificadas e pátios. Um que se desenvolve desde o acesso até o final do volume dos dormitórios e outro que parte das áreas de serviço até a outra extremidade da sala de estar. A disposição dos pátios e a distância da edificação em relação ao alinhamento definem um ponto onde, virtualmente, estes eixos se cruzam e revelam a pretensão do arquiteto por um dimensionamento proporcional dos pátios.
Mesmo considerando a existência de muros vazados e desníveis de terreno que delimitam a partição das áreas externas, os pátios comunicam-se nos recuos de fundo e laterais.
Esta ligação entre pátios é visual, pois a forma como devem ser acedidos e percorridos é bastante intencional e programada: ao entrar no primeiro pátio, desde o acesso principal, já se denota uma primeira subdivisão em uma zona parcialmente coberta delimitada pelo mural e pelos brises, o que lhe qualifica como uma área mas privativa da casa, como se fosse uma extensão do estar. O pátio da piscina consiste numa zona de recreação mais privada, acessível necessariamente uma vez que se passe pela sala de estar. O terceiro pátio é o dos dormitórios com uma utilização exclusiva dos que aí residem. Pode ser acedido desde os quartos e da área de serviço onde também está o quarto do empregado. Existe um desnível entre este pátio e com o que se comunica, lhe garantindo um acesso mais restrito.
O afastamento da garagem do muro lateral, gera um acesso secundário que leva diretamente a um corredor externo que une cozinha e garagem. Este deslocamento da garagem e espaços adjuntos significou uma operação importante na organização da planta: o corredor externo do acesso principal sob o pátio semi-coberto, não está alinhado com o corredor dos dormitórios, determinando uma descontinuidade do percurso e conseqüentemente a organização de espaços mais privados e de uso comum da casa, sem que para isso fosse necessário uma divisória ou mobiliário específico.
Eduardo Corona repetiria estas mesmas soluções em outros estudos e projetos que foram construídos. No projeto para uma casa no bairro Indianápolis de São Paulo, construída em 1956, a planta apresenta vários aspectos similares. As dimensões do terreno, neste caso, são de aproximadamente 10x46m e provavelmente a localização da casa também não seja a mesma. Mas pode-se afirmar que uma delas tenha sido produto da experiência de projeto da outra.
Partindo do estar, percebe-se que este está limitado por dois pátios: um por onde se acede à casa, que também sofre uma “subdivisão” por um muro baixo, que uma vez contornado, chega-se a um pequeno calçamento que leva à porta de entrada. A garagem também está deslocada em relação ao alinhamento, permitindo o acesso secundário direto às áreas de serviços. O segundo pátio, mais resguardado, é acessível desde o estar e direciona a um percurso perimetral circundando os dormitórios.
Igualmente neste caso a casa se desenvolve segundo um eixo longitudinal que conecta as diferentes partes agrupadas segundo as atividades que comportam. A divisão da casa em 3 volumes diferentes também contribuem formalmente para o projeto.
A comparação entre estes dois projetos estende-se também à utilização dos mesmo materiais e elementos construtivos, como os pilares e brises que suportam e fecham parcialmente a garagem. No estudo de caso, fazem a mesma função na parte coberta do pátio. Inclusive os reservatórios nos dois projetos estão localizados em cima do corredor que leva aos dormitórios, com projeções limitadas às dimensões desta circulação.
Não se reconhece nenhuma relação proporcional ou modular comum aplicada a estes projetos que podem determinar uma maneira especifica de começar as propostas, mas sim, que o arquiteto repete soluções que determinam um modo especifico de definir a planta.
“Ao analisar a obra dos maestros de arquitetura moderna nos damos conta de que estes não concebem o projeto como uma invenção ex-novo, senão como um labor de transformação de um material preexistente. Cada novo projeto é o desenvolvimento de idéias implicitamente contidas em trabalhos anteriores. A solidez e coesão que em seu conjunto manifestam, provem da continuidade da própria investigação, da firmeza de seus objetivos, do encadeamento da experiência” (11).
Em 1959, Corona desenvolveria outros 2 estudos para residências unifamiliares também publicados em Acrópole. No texto adjunto às imagens, o arquiteto explica que “em virtude das restrições impostas quanto às distâncias de frente e afastamento de uma das divisas, recorreu-se a pequenos artifícios para se conseguir, pelo menos, um jardim social mais recatado com prolongamento visual, servindo ao mesmo tempo de elemento de conexão com a garagem e com o pátio de serviço”. Estes exemplos, são casas bastante diferentes às duas primeiras analisadas. Com tudo, as condicionantes, as intenções de projeto são retomadas e que, de certa forma, sustentam a análise feita sobre a planta do estudo de caso e sobre a casa em Indianápolis. (12)
Retomando o anteprojeto de 1956, quanto à estrutura, a casa apresenta paredes de alvenaria portantes que sustentam a laje de concreto em grande parte de sua extensão. No pátio, a cobertura é sustentada por pilares metálicos de seção circular.
O alinhamento de paredes e esquadrias sugerem por onde se concentrariam esforços e onde estariam os apoios da cobertura. Porém, junto às esquadrias da sala de estar, que dão acesso ao pátio da piscina, não existem pilares ou outro tipo de apoio, deixando um vão de 14m entre as paredes que sustentariam a laje nas extremidades. Claro que, atualmente, ou inclusive com técnicas construtivas bastante avançadas em 1956, se poderia vencer 14m com concreto protendido ou laje nervurada mantendo uma espessura de 25 a 30 cm. No entanto, buscou-se soluções convencionais sugeridas pelo próprio sistema estrutural identificado na casa, evitando a adaptação de recursos técnico-construtivos mais complexos que não caracterizam este projeto. Dessa forma, foram inseridos apoios intermediários mesmo que estes não estejam incluídos na planta original.
Esta intervenção no projeto de Eduardo Corona deve ser encarada como um exercício de prática de projeto, onde o arquiteto afronta condicionantes de forma e de técnica pré-estabelecidas, buscando soluções construtivas para um problema anunciado, sem transformar as características essenciais do projeto original.
“A construção material deve pôr-se em contato com a ordem ideal que testemunha o suporte, de maneira que o edifício atinja sua verdade – autenticidade, coerência – sem menoscabo de qualquer de suas lógicas por causa da outra. Contato, que não pressupõe identificação ou subordinação entre razões diversas, senão consciência de eventual deslocamento e exploração formal do desajuste” (13).
Foram introduzidos dois pilares como os existentes localizados do lado de fora, junto ao mural. Os pilares estão a 15cm dos marcos fixos das esquadrias. O alinhamento destes novos pilares afetaria a continuidade da linha de apoio que, antes, seguiria pelo alinhamento das esquadrias e pela parede do dormitório do empregado, até a parede externa junto à divisa. Entretanto, a laje que cobre todo living, apóia-se na parede que divide estar e cozinha, e nesta mesma parede, apóia-se uma laje menor que cobre cozinha, quarto de empregado e área de serviços. Assim, a descontinuidade da linha de apoio, sugerida pelos novos pontos de sustentação do vigamento, não implicaria na instabilidade estrutural, que ao contrário, permitiria maior maleabilidade do conjunto por redução dos esforços e dilatações produzidas por efeitos externos.
Ainda na sala de estar, ao desenhar a planta sobre o desenho original seguindo as informações da escala, resultou que as corrediças não têm as mesmas dimensões. Desta forma, aumentou-se o vão das aberturas para que as 4 portas corrediças tivessem as mesmas dimensões das 6 do lado oposto. Para isso, reduziu-se a parede junto à porta de acesso entendendo que sua redução em poucos centímetros, não afetaria a estrutura.
Outro ponto que exigiu nova definição construtiva – devido à inexistência de detalhe arquitetônico específico no material publicado - foi no detalhamento da linha de armários no corredor dos dormitórios e dos demais elementos construtivos deste setor, como esquadrias e cobertura. Verificando-se as linhas descontinuas de projeção em planta e as zonas de sombra na perspectiva externa, observou-se que as primeiras corresponderiam à linha de cobertura e que a parte descoberta seria uma floreira, inclusive porque, no primeiro armário, estão graficadas vegetações que indicariam sua projeção sobre o armário.
As paredes que delimitam os armários embutidos se estenderiam em altura até a base inferior da floreira, servindo de apoio tanto para esta como para a linha de janelas basculantes, que se estendem por todo corredor, até o quarto de casal. Na perspectiva, a superfície ensolarada num plano inferior ao da cobertura, confirma tal suposição, já que não há nenhuma interrupção com sobra em sua extensão.
Estruturalmente, a cobertura esta apoiada sobre as paredes que dividem os quartos e banheiros, projetando-se em balanço sobre o corredor. Considerando o vão de 14m na sala de estar (e ainda um balanço de 2 metros em toda extensão sobre a pavimentação externa), neste caso, o que se propõe, é tranqüilamente executável. No corredor que leva até à porta de entrada, também existe um balanço de 1,5 metros da laje que cobre a garagem, a qual mede, aproximadamente, 6 metros em sua maior dimensão.
Para garantir ainda a exeqüibilidade do sistema, coloca-se junto aos quadros fixos das esquadrias basculantes, pilaretes metálicos sobre as paredes divisórias dos armários, garantindo mais um ponto de apoio e eliminação do balanço.
As soluções propostas para as duas situações expostas baseiam-se, evidentemente na interpretação do material gráfico disponível da casa e na análise de outros projetos do mesmo autor, procurando ordenar o novo às condições originais do projeto conferindo-lhes a mesma autenticidade.
A condição subjetiva do ato criativo determina que uma eleição seja produto de uma vontade e de uma experiência pessoal, pois “ao estruturar os edifícios o arquiteto trata de projetar a visão que tem de si mesmo” (14).
Biografia de Eduardo Corona
Eduardo Corona nasceu em 22 de agosto de 1921 em Porto Alegre. Estudou arquitetura no Rio de Janeiro na Faculdade de Arquitetura da Universidade do Brasil, diplomando-se em 1946.
Trabalhou como estagiário e colaborador no escritório de Oscar Niemeyer desde 1945 até 1949. Participou no detalhamento do conjunto da Pampulha em Belo Horizonte, no projeto do Banco Boa Vista e do projeto para o Centro Técnico da Aeronáutica de São José dos Campos.
Em 1949, foi a São Paulo como professor de Teoria da Arquitetura da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo – FAUUSP, tornando-se catedrático interino desta disciplina desde 1945. Aposentado do curso de graduação desta faculdade, continuou ensinando e orientando nos cursos de pós-graduação. Chegou a ser chefe do Departamento de História da Arquitetura e Estética do Projeto e vice-diretor da faculdade.
Em 1957 começou como professor na Faculdade de Arquitetura da Universidade Mackenzie como catedrático contratado.
Foi fundador, professor, assessor pedagógico da diretoria da faculdade e chefe do Departamento de Projeto dos Cursos de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Brás Cubas e Farias Brito, posteriormente Universidade de Guarulhos, onde continuou ensinando projeto e orientando trabalhos de conclusão de curso até proximamente a seu falecimento.
“Estranhamente, enquanto era dedicadíssimo no preparo de suas aulas, era tolerante e complacente com os alunos desatentos como se não fizesse questão alguma que aprendessem. Suas aulas teóricas eram expostas com muita clareza e vagarosamente desenvolvia suas idéias, não se importando muito com a receptividade das explicações. Para ele, aluno que fosse bom aprendia tudo com facilidade e quem não fosse nunca iria tomar conhecimento da matéria, mesmo que tivesse outras oportunidades. A repetição de ano era uma bobagem. Nunca reprovou um aluno sequer. Talvez fosse mesmo exigente nos exames do vestibular, onde atuou por muitos e muitos anos, porque ali estava selecionando futuros arquitetos. No cotidiano, no entanto, jamais exigiu coisa alguma dos outros” (15).
Em 1947 e 1948, foi secretário e tesoureiro do IAB no Rio de Janeiro e em 1949 foi membro da diretoria do IAB de São Paulo, chegando a trabalhar como vice-presidente. Foi presidente da Associação Brasileira de Escolas de Arquitetura e da Fundação para Investigação Ambiental da FAUUSP.
No CREA-SP, trabalhou de 1953 a 1966 e de 1991 a 1996, junto à Câmara Especializada de Arquitetura, como representante das entidades de classe (IAB-SP) e das instituições de ensino (FAUUSP).
Foi membro de júris de concursos de arquitetura nacionais e júri internacional da 6ª Bienal de arte de São Paulo. Mesma atribuição teve nos Salões Paulistas de Bela Artes e de Arte Moderna, recebendo, como participante, 3 vezes o Prêmio Governador Valadares nas 3 primeiras edições de 1951, 1952 e 1953. Participou da Comissão de Exercício Profissional da União Internacional de Arquitetos (UIA). Foi delegado do Brasil e chefe de delegação no X Congresso da Federação Pan-americana de Arquitetos em Buenos Aires em 1960. Em 1961 foi delegado do Brasil na Assembléia da UIA no VI Congresso realizado em Londres.
Foi arquiteto da prefeitura de São Paulo contratado para a Comissão de Convênio Escolar para executar projetos de escolas no município, onde projetou e construiu 14 escolas entre 1949 e 1953. Destaque para o Colégio Estadual da Penha de 1952. Corona trabalhou com Sérgio Bernardes nos projetos do Parque dos Afonsos, da Cidade Aeronáutica do Galeano e do Núcleo Residencial dos Aeroviários. Junto com os arquitetos Roberto José Goulart Tibau e Antonio Carlos Pitombo, realizou o projeto do Planetário da Cidade de São Paulo no Parque Ibirapuera em 1957. Em colaboração com o arquiteto Adolpho Rubio Morales projetou a Rádio e Televisão Bandeirantes em 1961.
Desenvolveu, ainda, um grande número de projetos para Residências Unifamiliares, estudos preliminares e anteprojetos, grande parte deles publicados principalmente em Revistas e algumas publicações sobre Arquitetura Moderna do período. Tem duas teses publicadas: Princípios Fundamentais de Composição na Arquitetura Brasileira (FAUUSP) e do Arquiteto, criador dos espaços habitáveis (Universidade Mackenzie).
Juntamente com o arquiteto Lúcio Gomes Machado, escreveu Bibliografia Mínima para escolas de arquitetura e com os arquitetos Alberto Xavier e Carlos Lemos, Arquitetura Moderna Paulistana. Com este ultimo, também publicou o Dicionário de Arquitetura Brasileira, independente de sua primeira publicação como encarte de Acrópole. Sua última publicação foi Oscar Niemeyer: uma lição de arquitetura de 2001, editado meses depois de sua morte.
Eduardo Corona faleceu em 25 de abril de 2001 aos 79 anos.
notas
1
Cf Acrópole; São Paulo, Brasil 1938-1971. Documentos de Arquitectura Moderna en América Latina 1950-1965. Segunda Recopilación. Barcelona. Grupo de Investigación La Forma Moderna – ETSAB UPC, Institut de Cooperació Iberoamericana, 2005, p. 36.
2
CORONA, Eduardo. "Aberrações arquitetônicas desorientam o paulistano". Acrópole, São Paulo, IAB, ano 19, n. 217, p. 2, 1963.
3
Idem. "Dificuldades do arquiteto ou A triste figura do cliente desavisado". Acrópole, São Paulo, IAB, ano 26, n. 311, p. 22, 1964. Eduardo Corona escreveu este texto por rechaço ao desenvolvimento e administração das obras do Edifício para a Rádio e Televisão Bandeirantes, edifício que projetou junto com o arquiteto Adolpho Morales em 1961.
4
Idem, ibidem., ano 24, n. 297, p. 246, 1963.
5
CORONA, Eduardo; LEMOS, Carlos. "Roteiro Arquitetura Contemporânea São Paulo". Separata de Acrópole. São Paulo, IAB, ano 25, n. 295-296,1963.
6
LEMOS, Carlos. Eduardo Corona. São Paulo Informativo FAUUSP, nº 22, ano 3, 2001. Disponível em: http://www.usp.br/fau/informa/infor22-01.htm
7
Acrópole, São Paulo, IAB, ano 10, n. 210, p .230, 1956.
8
Herman Sörgel, Theorie der Baukunst. Apud, NEUMEYER, Fritz. Mies van der Rohe. La palabra sin artificio. Reflexiones sobre arquitectura 1922/1968. Madrid, El Croquis Editorial, 2000, p.208.
9
Outros estudos de residências unifamiliares de Eduardo Corona também foram publicadas no número 243 de Acrópole em 1959.
10
Acrópole, São Paulo, IAB, ano 10, n. 210, p.231,1956.
11
ARÍS, Carlos Martí. Las Variaciones de la Identidad. Ensayo sobre el tipo en arquitectura. Barcelona, COAC y Ediciones Serbal, 1993, p.174.
12
Acrópole. São Paulo, ano 21, n. 243, 1959, p. 100-101.
13
PIÑON, Hélio. Curso Básico de Proyectos. Barcelona, Edicions UPC, 1998, p. 123.
14
Paulo Mendes da Rocha. Apud PIÑON, Hélio. Paulo Mendes da Rocha. São Paulo, Romano Guerra, 2002, p. 12.
15
LEMOS, Carlos. Eduardo Corona. São Paulo Informativo FAUUSP, nº 22, ano 3, 2001. Disponível em: http://www.usp.br/fau/informa/infor22-01.htm.
sobre o autor
Ítalo Galeazzi, arquiteto, doutorando em Projetos Arquitetônicos da Universidade Politécnica da Catalunha (UPC), Barcelona.