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architexts ISSN 1809-6298


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Este artigo trata do Monadnock Building, construído nos anos 1889-1891 em Chicago, empreendimento dos irmãos Peter e Shepherd Brooks, uma dupla de investidores de Boston, e projetado pelo escritório dos arquitetos Daniel Burnham e John Wellborn Root


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RODRIGUES VIEIRA, José Júlio. Monadnock Building: conciliação entre boa arquitetura e especulação imobiliária. Arquitextos, São Paulo, ano 07, n. 076.05, Vitruvius, set. 2006 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/07.076/321>.

Desde sua fundação, em 1823, Chicago vivenciou um impressionante crescimento econômico e demográfico. Na fase que antecedeu o Grande Incêndio de 1871 a cidade era o segundo centro comercial e o principal foco da rede norte-americana de transportes, funcionando como ponto de ligação entre as várias ferrovias e hidrovias, ligando os Grandes Lagos ao rio Mississipi e o leste ao oeste do país. A tendência à centralização das atividades comerciais e de serviços, já então presente, tornou-se ainda mais forte após o incêndio, em virtude do desenvolvimento do sistema municipal de transportes – o centro passou a ser circundado pela ferrovia de trens urbanos, fato que proporcionou um melhor acesso à região e deu a ela o nome pelo qual é conhecida hoje, The Loop (o Laço) – e da transferência dos setores administrativos das empresas dos distritos industriais para a área central. Nem mesmo a enorme oferta de terrenos na cidade arrasada – a maior parte das construções até então era de madeira, sistema construtivo que foi proibido logo após o incêndio – foi capaz de reter o vertiginoso crescimento do valor da terra. A solução apresentada pelos investidores foi a multiplicação da área dos lotes a partir da construção de vários andares nas edificações, possível graças aos avanços no desenvolvimento dos elevadores e dos sistemas de fundações – capazes de garantir a estabilidade das construções no solo argiloso da cidade.

O boom inicial da construção de arranha-céus no Loop deu-se entre os anos de 1888 e 1893, momento em que a ausência de qualquer limitação legal à altura das edificações conduziu a uma onda de verticalização, com uma série de prédios atingindo em torno de 17 andares – a partir dessa altura, o retorno proveniente dos aluguéis não mais era capaz de cobrir os custos adicionais da circulação vertical, da estrutura e das fundações, tornando as construções pouco eficientes do ponto de vista econômico. Nessa época surgiu também a Escola de Chicago, estilo cuja evolução se confunde com a dos próprios arranha-céus da cidade e que teve como pressuposto a busca de uma linguagem inédita, capaz de adequar-se à nova tipologia, representada pela repetição em altura de um pavimento-tipo.

Foi nesse contexto que ocorreu, entre 1889 e 1891, a construção da porção norte do Monadnock Building, um dos ícones do Chicago Style, responsável por uma interpretação única de seus preceitos (figura 01). Como a maioria dos edifícios da época, o Monadnock não abrigava uma corporação ou a sede de uma grande companhia; ao contrário, era um projeto especulativo, patrocinado um grupo de investidores e cujos potenciais inquilinos eram pequenas empresas e profissionais liberais.

O edifício foi um empreendimento dos irmãos Peter e Shepherd Brooks, uma dupla de investidores de Boston que jamais chegaram a conhecer a construção ou mesmo seu terreno. As decisões concernentes ao projeto e à obra ficaram a cargo de Owen F. Aldis, advogado de formação que se estabeleceu como agente dos Brooks em Chicago e que veio a constituir uma sólida parceria com o escritório dos arquitetos Daniel Burnham e John Wellborn Root – responsável por uma série de projetos comerciais no Loop, incluindo o Monadnock Building.

Pode-se dizer que a conjunção da visão economicamente orientada de Aldis e do talento artístico e técnico de Root – o responsável pela concepção dos projetos, cujos aspectos negociais ficavam a cargo de Burnham – juntamente com as especificidades do terreno escolhido, conduziram quase que inevitavelmente ao edifício que temos hoje, com sua série de particularidades.

Construído num lote estreito e comprido ao longo da Dearborn Street, na extremidade sul do Loop, o Monadnock desenvolveu-se com base num partido claramente linear, radicalmente diferente do hollow square plan – o edifício de planta quadrada vazado no centro, muito comum na Chicago de então. A simples substituição do quadrado pelo retângulo gerou uma série de implicações no desenvolvimento do projeto, envolvendo aspectos que vão da divisão interna ao tipo de estrutura empregado na edificação.

As diferenças em relação à maior parte dos edifícios da época ficaram claras já no pavimento térreo, onde o grande saguão central, marcante em edifícios da firma, como o Rookery, foi substituído por uma longa galeria comercial, paralela à rua, em cujo corredor central foram dispostos os elevadores e escadas (figuras 02 e 03).

As dimensões do lote proporcionaram ao Monadnock abundância de luz natural, com todas as suas salas e lojas contando com aberturas voltadas diretamente para a rua (figura 04). Numa época em que o desenvolvimento da iluminação artificial era incipiente, a presença de luz exterior nos ambientes era elemento de vital importância nos edifícios comerciais, constituindo objeto de desejo dos inquilinos e, conseqüentemente, elemento responsável pela viabilidade comercial do empreendimento.

O contato direto dos escritórios com o exterior diminuiu a preocupação dos construtores com a área envidraçada do edifício – no modelo do quadrado vazado, são necessárias aberturas de grandes dimensões, já que há pouca incidência de luz no vazio central. Em conseqüência desse fato, bem como de questões econômicas, foi feita a opção pela construção por meio do método tradicional, abandonando as inovações da estrutura independente desenvolvida por William Le Baron Jenney e explorando ao máximo as propriedades da alvenaria com paredes portantes. Optou-se, desse modo, pela predominância dos cheios sobre os vazios, pela marcante imagem de massa que, aliada à ausência de ornamentação, caracteriza as fachadas do edifício (figura 05).

A limpidez decorativa é talvez a questão mais curiosa dentre as que envolveram a construção do edifício e, certamente, a que maior impacto causou sobre as impressões do público da época. Se a falta de qualquer aplique – nem mesmo aqueles submetidos à composição da fachada e à repetição vertical dos andares, tal como desenvolvido em obras primas do Chicago Style, especialmente as de Louis Sullivan – chocou seus contemporâneos, agradou em cheio os responsáveis pela obra. John Wellborn Root, relutante desde os primeiros esboços em aceitar as determinações de Owen Aldis, acabou envolvido por seu espírito e decidiu, conforme suas próprias palavras, “construir tudo aquilo sem um ornamento sequer” (1). O talento de Root, no entanto, garantiu personalidade à obra, conferindo-lhe o aspecto de um grande bloco escavado sem, no entanto, distanciá-la da tradição construtiva local. Nesse sentido, cabe destacar a manutenção da tripartição vertical do edifício, divido em base, corpo e coroamento por meio de sutis aberturas próximas às extremidades (figura 06).

Tal esquema, no entanto, foi abandonado na porção sul do edifício que, construída em 1893 segundo o projeto da firma de Holabird e Roche, apresentou uma composição menos radical – mais ornamentada, próxima do tradicional esquema derivado dos palazzi florentinos. A South Addition contou ainda com o emprego da estrutura independente de aço, fato que permitiu aos arquitetos dotar a edificação de uma maior área envidraçada, especialmente em sua base (figura 07).

A contigüidade das duas metades do edifício oferece uma fantástica oportunidade de comparação dos dois sistemas construtivos utilizados, permitindo a apreciação da resposta de cada um deles a problemas praticamente idênticos. O contato serve ainda para expor a maestria do trabalho de Root, capaz de produzir uma obra que, a despeito da qualidade do trabalho de Holabird e Roche, mostra-se superior tanto do ponto de vista estético quanto técnico, sendo a principal responsável pela celebridade adquirida pelo edifício.

Não há dúvida de que o Monadnock Building é uma construção resultante de interesses econômicos, voltada para a geração de retorno financeiro. O edifício, aliás, respondeu com incrível eficiência aos condicionantes do mercado, transformando-se no mais bem sucedido dos empreendimentos dos irmãos Brooks. No entanto, uma definição da obra que se restrinja a esses aspectos mostra-se claramente equivocada, na medida em que desconsidera os fatores técnicos e artísticos envolvidos em seu projeto. O não emprego da estrutura metálica em nada desqualifica o edifício como exemplar da Escola de Chicago, nem mesmo tendo-se em vista a sucessão histórica dos vários métodos construtivos e a conseqüente superação da construção em alvenaria portante. Ao contrário, o bloco norte do Monadnock mostra-se um digno precursor dos arranha-céus modernos miesianos, na medida em que apresenta uma quase clássica exposição de seus métodos construtivos, constituindo, tal como o seu vizinho Federal Center (2), exemplo raro do emprego de uma determinada técnica aperfeiçoada até o seu limite (figura 08).

notas

1
Tradução livre de “throw the thing up without a single ornament”. ROOT, John Wellborn. Apud CONDIT, Carl W. The Chicago School of Architecture: a History of Commercial and Public Building in the Chicago Area, 1875-1925. Chicago: The University of Chicago Press, 1964, p. 67).

2
Conjunto de edifícios administrativos projetado por Mies van der Rohe, construído numa série de etapas entre os anos de 1959 e 1974.

referências bibliográficas

DUPRE, Judith. Skyscrapers. New York: Black Dog & Leventhal, 1996. 128p.

SCULLY, Vincent. American architecture and urbanism. New York: Holt, Rinehart and Winston, 1969. 275p.

SINKEVITCH, Alice. AIA Guide to Chicago - Second Edition Orlando: Harcourt, 2004. 574p.

WILLIS, Carol. Form follows finance: skyscrapers and skylines in New York and Chicago. New York: Princeton Architectural Press, 1995.217p.

sobre o autor

José Júlio Rodrigues Vieira é arquiteto pela PUC-MG e advogado pela FDUFMG, membro do corpo técnico da Secretaria Municipal de Políticas Urbanas de Belo Horizonte.

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