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architexts ISSN 1809-6298


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O artigo sobre a elaboração do Plano Diretor Participativo de Agudos, parte de uma investigação pensada como um itinerario de pesquisa sobre as transformações ocoridas nos últimos decênios na área do Oeste Paulista

english
Read the article about the Participative Masterplan of Agudos, developed by group SITU and professor Bernardo Secchi (IUAV Venice)

español
Lea el artículo sobre el Plan Ordenador Participativo de Agudos, desarrollado por el grupo SITU y el equipo italiano del prof. Bernardo Secchi (IUAV Venecia)


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RETTO JR., Adalberto; SECCHI, Bernardo ; CONSTANTINO, Norma Regina Truppel ; ENOKIBARA, Marta . O Laboratório Agudos. Arquitextos, São Paulo, ano 10, n. 114.04, Vitruvius, nov. 2009 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/10.114/13>.

Plano e Projeto: as cidades pequenas e médias do Oeste Paulista

A elaboração do Plano Diretor Participativo de Agudos (2004-2006), assim como de Piratininga (2006-2007), Iacanga (2005-2006) e recentemente da cidade de Jahu (2009-2010), faz parte de uma investigação pensada como um itinerário de pesquisa, em uma operação de jeaux d’échelles (1), no campo da projetação urbanística-arquitetônica, desenvolvida pelo Grupo SITU (2) e a equipe italiana do Prof. Dr. Bernardo Secchi (IUAV de Veneza) (3), que objetiva indagar sobre as transformações que vem acontecendo nos últimos decênios na área do denominado Oeste Paulista. Amparada pelo lastro histórico do Projeto Temático FAPESP (Unicamp / Puccamp / IUAV-Veneza e Unesp-Bauru) (4), a pesquisa permite especular sobre instrumentos e possibilidades confrontados com condições efetivas da realidade, que podem se transformar em verdadeiras estratégias operativas para desenvolvimento das cidades pequenas e médias, dentro das novas políticas alavancadas pela Agenda 21 do Rio de Janeiro, Protocolo de Kyoto, Estatuto da Cidade e as novas exigências do Plano Diretor Participativo.

Nesta abordagem, Agudos (5), Piratininga (6), Iacanga (7), Jaú (8), são lidas de dois pontos de vista: como casos singulares e também em operações ancoradas às características radicadas no território, denominadas sistemas, que persistem e permanecem por um longo período, mas que em alguns pontos sofrem interrupções, que levam muitas vezes a agravamentos de questões ambientais e urbanas. No primeiro, parte-se do conceito de monofuncionalidade à integração das funções, da uniformidade funcional à sua diversificação, visando à valorização das especificidades locais. No segundo, substitui-se o modelo hierárquico por uma organização em rede.

Planejar a cidade pautada nessas duas angulaçoes é estratificá-la a partir de reservas e superfícies materiais homogêneas, identificadas a partir de um exame de camadas sutis de sua transformação, para posteriormente recompô-las, através de uma contínua operação de mixagens, a fim de colher ligações associativas ou disjuntivas, elementos de agregação ou separação. Em tal operação, altamente seletiva e, logo, interpretativa, o projeto emerge nas suas diversas escalas na construção de hipóteses, diminuindo a distância abismal construída entre planejamento e projeto.

Uma nova atenção aos problemas da forma urbana coloca-se em pauta, como complemento necessário do desenho do conjunto da estrutura funcional, voltada para afirmar a identidade e as características morfológicas do tecido urbano. Em muitos casos, o desenho urbano emerge baseado no modelo da cidade compacta; na re-interpretação dos princípios e da morfologia do espaço fechado sitteano, mas no redesenho dos vazios, construído a partir de um tecido denso e compacto, de tramas contínuas de percursos urbanos e de espaços públicos, de articulação de serviços urbanos, rede de espaços abertos e verdes concebidos como lugares urbanos.

Nos planos supracitados, prioriza-se três elementos principais:

  • a estrutura funcional: mixité funcional, grau de integração funcional, tipologias e relações funcionais com o conceito como valorização das especificidades locais;
  • o sistema das relações: nível de interconexão aos nós da rede nacional e internacional, a partir dos veios fluviais, aos polos de excelência e aos níveis de integração à escala metropolitana;
  • a estrutura física: integração com os tecidos urbanos circundantes, configuração do espaço urbano (relação entre traçado urbano, percursos, eixos, praças e espaços públicos), configurações dos espaços abertos e do verde (elementos de naturalidade, parques urbanos, jardins, percursos de pedestres e ciclovias).

Todavia, ao invés de entender o projeto como aplicação de uma teoria, com clara separação entre as duas fases tradicionais da concepção – “análise e projeto” –, o mesmo coloca-se imediatamente como estratégia de conhecimento compreendendo simultaneamente a interpretação, o levantamento e a hipótese de transformação.

A organização em rede, que responde a uma abordagem pautada na passagem da cidade moderna à contemporânea, significa rever o policentrismo hierárquico dos anos de 1960 e 1970, e também introduzir, como alternativa ao zoning de origem funcionalista, uma abordagem sistêmica, integrada e cooperativa, rica de interconexões.

Esse passo, descrito e interpretado mais detalhadamente por Bernardo Secchi, representa esse salto de uma “figura” (ou metáfora) da “continuidade” (a cidade moderna) àquela do “fragmento” (a cidade contemporânea), ou melhor, “um outro conceito de cidade como um lugar de copresença e de mil figuras sociais e tribos metropolitanas”. Uma cidade, reforça, de mixité: “do distanciar-se e do separar-se, da mistura de casas e escritórios, de escritórios, casas, comércios, equipamentos públicos e privados, uma cidade multiétnica e plural, cruzamento de mil dialetos, e na qual mudam os conceitos de pertencimento, cidadania, representatividade, identidade”.

“Nella mixitè di attività e soggetti che connota la città contemporanea, si dissolve il concetto di funzione ed emergono concetti come quelli di compatibilità e incompatibilità. Nella molteplicità e diversità delle situazioni si dissolve il concetto di zona omogenea e di gerarchia; lentamente sta emergendo quello di porosità. Nella dispersione si dissolvono i concetti di densità e prossimità; lentamente sta emergendo quello di giusta distanza”. (9)

Por outro lado, Dematteis (10) ressalta a mudança em curso do planejamento e do planejador. Da ciência, preocupada em produzir planos, indicações e normativas, que fixavam regras de uso de recursos dados pela disciplina, coloca-se como ciência e técnica das políticas territoriais; isto é, dos processos interativos que promovem e regulam a criação e o crescimento de valores urbanos (o que Dematteis define como territorialità de segundo tipo), sublinhando que a territorialidade é um fenômeno sobretudo social. Do urbanista, ao abandonar o papel de uma única visão zenital, em nome de uma neutralidade do cientista-observador-externo, para assumir um papel interno ao próprio conflito. Aproximando seu raciocínio para a realidade local, o urbanista, mais do que diagnosticar os “males da cidade”, serve de mediador entre a população e o poder público, dimensionando a problemática democraticamente colocada pela população.

E assim, o Urbanismo volta a desenvolver um papel ativo em favor da transformaçao, construindo cenários possíveis da cidade e do território do próximo milênio. Perspectivas futuras com estudo dos sistemas urbanos e de suas relações territoriais, valendo-se de análises interdisciplinares (econômicas, sociológicas, estatísticas demográficas, etc) para a produção de quadros e cenários de gestão (reguladora e/ou estratégica) e de projetos, com temáticas de sustentabilidade, de planificação territorial, de projetação ambiental, de infraestruturas e de transportes.

E aqui vem a tona um aspecto relevante: a descrição do mundo e das suas transformações – como coloca Dematteis, não como algo que se situa antes da mudança (como obra de um sistema de controle externo, por exemplo, a globalização), mas, ao contrário, como parte do próprio sistema. Neste processo, os planos representam somente momentos e instrumentos particulares, menos decisivos do que no passado.

O Laboratório Agudos

Em 09 de outubro de 2006, a Câmara Municipal de Agudos – SP, em seção pública, aprovou na íntegra o Plano Diretor Participativo do Município (Lei nº57/2006), referendado um dia antes pela população. Além de ser o primeiro Plano Diretor na história da cidade, a promulgação da lei o torna um dos primeiros municípios de pequeno porte do interior de São Paulo a ter um Plano Diretor com financiamento do Ministério das Cidades e nos moldes do Estatuto da Cidade.

Dividido em 4 etapas, a primeira tratou da discussão metodológica, ou seja, das estratégias operativas visando trabalhar com indicadores capazes de representar com clareza e simplicidade o andamento dos processos ambientais e econômico-sociais, de maior relevo, para o modelo de desenvolvimento do município e da região.

O quadro cognitivo, que é a segunda etapa de elaboração do plano, e intitulada “A cidade que temos: Leitura da Realidade do Município”, foi dividido em 3 níveis de leituras em paralelo e com diferentes formas de participações:

1º: escutar (os cidadãos e grupos sociais e políticos);

2º: revelar (absorver a dinâmica cotidiana através de levantamentos específicos feitos pela equipe de pesquisa: escalas 1:500; 1:2.000, 1:5.000)

3º: análise tecnicamente pertinente.

As reuniões participativas neste nível dividiram-se em:

  • reuniões de capacitação;
  • reuniões de discussão;
  • reuniões de pactuação.

A terceira Etapa, “A cidade que queremos”, tratou da elaboração e apresentação do cenário zero, ou seja, a Estrutura Conceitual do Plano, baseado nos levantamentos e pesquisas realizadas.

Na quarta Etapa, “A cidade possível”, partiu da seleção e pactuação de temas prioritários; elaboração de propostas e estratégias; definição dos instrumentos de política urbana e definição dos projetos prioritários para a viabilização do Plano Diretor Participativo.

O Quadro cognitivo: estratégias de participação

No primeiro nível, “escutar”, trabalhou-se de forma a captar da população os problemas, percursos, potenciais, etc, que pouco a pouco alimentariam as outras leituras.

No nível “revelar”, objetivou-se fazer um levantamento dos “materiais urbanos” correspondentes ao estudo detalhado dos lugares onde se desenvolvem as práticas sociais. Este nível constou de estudos relativos às características materiais e tipológicas, seu grau de conservação e capacidade de uso, do nível de degradação e de sua capacidade de adaptação a outros usos. O levantamento, ao “revelar”, torna-se um processo de conhecimento fundamental para a transformação da cidade considerada como artefato. Revelar coloca-se, portanto, como uma operação estrutural que consiste em explorar a relação entre as partes da cidade, visando o registro dos materiais urbanos quanto às suas características psíquicas e modalidades de uso. A escolha das escalas, assim como a formulação das legendas, vislumbrou resultados tendo como suporte mapas em uma série de escalas: 1:2.000, para explorar a relação da parte com a região; 1:500, da parte com o centro histórico e 1:5.000, da parte com o território.

O levantamento na escala 1:2.000, visou ter uma leitura geral do espaço urbano articulado em superfícies construídas (através do levantamento dos usos, nome dos lugares, os tipos de acessos, referências arquitetônicas, o verde como equipamento, jardins, etc) e superfícies livres (tipos de culturas, bosques e florestas, sistemas de água, características do solo, áreas permeáveis e impermeáveis.) Assim, a leitura do espaço urbano visou colocar em evidência as partes da cidade de uma forma racional específica fornecendo um critério de avaliação “contextual” dos projetos de transformação.

A análise tecnicamente pertinente, o terceiro nível de leitura, liga o estudo da cidade física e as práticas sociais às suas transformações. Assim, procura dar uma resposta precisa e articulada para diversas questões, dimensionando-as objetivamente, construindo uma passagem argumentada de discussão controlável entre a insatisfação coletiva e individual, as instâncias, as demandas, as necessidades da sociedade e de seus componentes e a construção das problemáticas do plano. Esta passagem consiste em uma argumentação verbal, gráfica (sobre os levantamentos) assim como quantitativa (sem negligenciar os cálculos percentuais).

Contrariamente ao levantamento, que costumeiramente é feito nos planos diretores, a análise desenvolvida para o Plano Diretor de Agudos, foi feita a partir de formulações teóricas em que a paisagem, não mais somente o urbano ou o campo, é entendida como um sistema de relações da qual se deve compreender as características e as razões em que se quer operar (proteção, modificação, integração, transformação) sem destruir sua identidade.

Os lugares, sobretudo aqueles que mantiveram de forma mais ampla os traços do passado, são constituídos de uma multiplicidade de sistemas entrelaçados durante séculos sobre o território. Não se colocam como um conjunto de pontos, linhas, áreas, mas sim, antes de tudo, como um sistema de relações espaciais, funcionais, ambientais, visíveis e simbólicas.

Para efeito do Plano de Agudos foram reconhecidos cinco sistemas aos quais estariam vinculadas pesquisas específicas: sistema de espaços livres, sistema ambiental, sistema habitacional, sistema das mobilidades e sistema produtivo.

A construção de uma política urbana: A análise por Sistemas e a estratificação da cidade

A articulação do plano em “sistemas” permite vir à tona uma política urbana diferenciada que critica imediatamente o velho e ultrapassado zoneamento para trabalhar uma noção de “tecido aberto”, onde é permitido, em teoria, todo e qualquer uso. A regulação dos usos será dada através de instrumentos adequados, como por exemplo, os relatórios de impacto, que serão acionados pela particularidade da área e da problemática.

No caso de Agudos a análise foi efetuada a partir do isolamento dos cinco sistemas, como campo de estudos específicos que, de certa forma, iriam dimensionar as problemáticas do território na sua relação com a cidade e com o município.

1. Sistema dos espaços livres: onde são desenvolvidos os projetos particularizados e as Unidades Urbanísticas Mínimas;

2. Sistema ambiental: com a construção de uma rede de redes ecológicas;

3. Sistema de habitação: com estimativas e criação das Áreas de Especial Interesse intraurbano;

4. Sistema das mobilidades: com um plano integrado de hierarquias de vias, ciclovia e o espaço público como infraestrutura urbana;

5. Sistema das produções: com as transformações das áreas produtivas e a criação do distrito agroindustrial de Domélia.

Ao introduzir a dimensão da transformação e, assim, do projeto, a análise tecnicamente pertinente através de “sistemas” torna-se o principal dispositivo visando a realização de uma “qualidade urbana”, que é o objetivo fundamental do plano. Os sistemas traçados são definidos por uma prática que, através das normas para realização do plano, identificam um conjunto de intervenções.

A construção do plano: temas e problemáticas

Para orientar as escolhas da política vigente em favor do desenvolvimento sustentável, os estudos para o Plano Diretor Participativo de Agudos (PDPA) foram relativos ao assentamento paisagístico do território e seguiram uma abordagem que não toma o município como um caso particular, mas trabalhando com uma metodologia que, apesar de considerar os estudos já elaborados para o tecido urbano da cidade, os coloca e os contextualiza como referência para todo o território municipal. Entretanto, vale ressaltar que o PDPA define um quadro de conjunto partindo de duas hipóteses:

1. A cidade contemporânea, que substituiu a cidade industrial e àquela tradicional, e ao mesmo tempo um sistema territorial local e um nó de redes globais. Essa privilegia as dinâmicas de relações e a lógica dos fluxos, que coexistem dentro da mesma estrutura. Através da “cidade dispersa” vêm interrogadas as modalidades em que os territórios e as redes se interconectam e os sistemas sócio-territoriais se transformam em formas exemplares de atuação na escala territorial.

Agora, e prestando atenção às condições ambientais, sociais e culturais, propomos uma redefinição desta segregação espacial, pois até o momento não se teve o privilégio de pensar o município dentro de um desenho unitário dos espaços abertos como elemento primário de qualidade e unidade urbana, e como lugar de experimentação formal e tecnológica da cidade.

2. Do ponto de vista local, parte-se de duas formulações espaciais que utilizam o projeto urbanístico como hipótese espacial, como um ato de modificação crítica, evitando uma ilusão dedutiva que pensa que o projeto possa ser ditado somente pela, mesmo a mais profunda, das condições do contorno e do entorno considerado. O projeto urbanístico, dentro deste quadro analítico, ao invés de repropor formas e estruturas do passado, concentra-se em criar espaços urbanos que possam dar complexidade e identidade ao tecido, permitindo a discussão sobre processos de produção de identidade e diferenças na cidade. Para tal, o projeto do espaço urbano transforma-se no projeto do espaço público que utiliza algumas palavras chaves, ou conceitos chaves, a fim de gerar traços sobre os quais poderemos refletir: Formar o lugar, Ativar o lugar, Escrever a história do lugar.

Logo, como contraponto imediato à cidade construída por fragmentos, partiu-se para uma redefinição do papel do espaço aberto, público e coletivo, do espaço privado e individual, de suas possibilidades de gradações, articulações e integrações na construção da cidade contemporânea.

Em outros termos, propõe-se o Plano Estrutural de Agudos e uma Carta de Intervenções Urbanísticas como componentes essenciais do Plano Diretor, que tem como intenção final inserir os projetos específicos num quadro de coerência contextualizado e definido.

O Plano Estrutural: o parque como elemento de reconexão urbana

O projeto foi desenvolvido em uma área de corredor geográfico que contém uma multiplicidade de recursos patrimoniais, culturais e naturais, que são significativos e identificam o território determinado.

Os objetivos gerais buscaram:

1) evidenciar o papel que o patrimônio e a paisagem cultural estão assumindo no estímulo ao desenvolvimento territorial; de modo especial o papel de catalisadores na reativação das paisagens e áreas visando superar os impactos territoriais, econômicos e sociais, derivados de processos de perda de base econômica e ou desindustrialização;

2) estudar a temática da revalorização da paisagem cultural tanto em sua vertente conceitual ou de teorias subjacentes, como também a formação e estruturação de projetos de parques (instrumentos, ferramentas de intervenção).

Ao final, a paisagem, reconhecida como sistema dos sistemas, é o lugar onde cada transformação produz uma modificação da sua estrutura formal pré-existente.

Em definitivo, na chave de leitura proposta e utilizada no PDPA assume-se que a paisagem é o “mosaico”, ou melhor, o desenho “complexo” em que as várias partes irão compor em razão da sua natureza e, assim, da estrutura geológica, sócio-cultural e da cidade.

Tal leitura significa afirmar que a paisagem se configura como dado de um conjunto geral e sintético, ou seja, o lugar onde as ações antrópicas e os dados naturais encontram sua “forma” na consolidação de uma cidade sustentável.

Do outro, a concepção de um parque contemporâneo como novo lugar coletivo concebido como o Plano Estrutural da cidade, que é considerado o elemento de reconexão urbana fundamental para a construção do espaço público-cidadão.

Seguindo a mesma lógica, redefine-se um conjunto de vazios urbanos como Zonas de Especial Interesse, como forma de conter a expansão indiscriminada da malha urbana em direção a áreas com restrição ambiental, em especial para os fundos de vale.

A produção e organização do espaço físico do Município e da estrutura urbana: as Unidades Ambientais, Unidades de Paisagens e Estruturas Urbanas Mínimas

Constituem-se unidades de paisagem as porções territoriais com características de formação e evolução distintas e homogêneas, permitindo individualizar a originalidade da paisagem agudense, precisando os elementos característicos para melhorar a gestão da planificação territorial.

O enquadramento em uma unidade de paisagem permite formar uma matriz territorial para ser utilizada como referência aos elementos individuais; ligar organicamente entre elas os diversos sistemas do Plano; planificar e gerenciar elementos diversos, orientando as ações visando um objetivo comum (de conservação ou de transformação), com relação às variantes paisagísticas e ambientais, respeitando a dinâmica própria de cada componente.

Cada Unidade de Paisagem é concebida de forma a contribuir para elevar a qualidade ambiental e de serviços urbanos articulando-as ao novo lugar coletivo concebido como um grande parque contemporâneo que conforma o Plano Estrutural do Município.

Os elementos que compõem cada unidade são:

I – reserva de ambiente natural associada a um programa de atividades sugerido pela população;

II – conjunto de equipamentos e serviços essenciais, articulados por uma estrutura urbana mínima, formada por ruas projetadas ou redesenhadas, com acessibilidade universal e conectada ao sistema de espaços livres;

III – os equipamentos públicos destinados ao atendimento da saúde, educação, cultura e lazer, segurança e integração social (centro comunitário).

Ao mesmo tempo em que a estrutura urbana mínima aciona a noção de “reenervamento” do espaço público, ou ainda da construção da geometria na cidade, também incentiva a geração da “mixitè” das funções, a “mixitè” da vida social e produtiva que caracteriza a cidade cotidiana. Logo, a periferia que sempre foi negligenciada como alvo de projeto e, principalmente, nunca entendida como lugar de produção da cidade, no plano é capaz de possibilitar a emergência da “qualidade de vida” e assim da “qualidade urbana”.Tais estruturas têm por objetivo encontrar uma estratégia permanente de guiar o processo de transformação, fixando condições para permitir à cidade a manutenção e criação de áreas de identidade na estrutura urbana.

A construção das ações no tempo

Para conferir ao Poder Executivo uma efetiva capacidade de ação na sua implantação, o Plano Diretor lança mão dos novos instrumentos previstos no Estatuto da Cidade, tais como: o direito de preempção, IPTU progressivo, as áreas de especial interesse social (EIS) e fornece 5 grupos de estratégias operativas e alguns instrumentos de apoio à gestão: guia de arborização urbana, guia de intervenções viárias e carta do patrimônio histórico e cultural.

Os projetos exploratórios e o conceito de modificação/ transformação

Nos projetos exploratórios desenvolvidos durante o Plano Diretor Participativo de Agudos, procuramos nos aproximar do conceito de modificação/ transformação referindo-nos principalmente às relações passíveis de serem instauradas entre artifício e natureza, e, portanto, aos argumentos possíveis para uma análise das relações de modificação e/ou transformação de caráter mais especificamente urbano.

A pergunta que nos colocamos foi qual deveria ser a característica do projeto urbano nas condições específicas da cidade de Agudos. O sentido de exploração projetual levada durante a construção do plano diretor foi aquela da pesquisa, desenvolvida através de contínuos aprofundamentos do tema.

A ideia de modificação está estreitamente conectada a uma outra noção que nos foi muito cara durante o processo, da qual é necessário explicitar imediatamente o sentido: aquela de lugar. A modificação enfrenta justamente as relações que se instauram entre arquitetura e lugar. (11)

O lugar é, para nós arquitetos, um ambiente ou um âmbito passível de ser circunscrito, reconduzido a uma bem definida leitura interpretativa (capaz de evidenciar algumas e não outras) das características e das funções próprias daquele âmbito em particular.

Não se trata assim da primeira natureza, mas de uma natureza modificada e em via de perene modificação, através da obra do homem com a finalidade de habitar. O projetista faz uma análise crítica sobre o lugar com que se depara para confronto; o decompõe analiticamente em partes e peculiaridades; o reconduz a uma unidade que é reconhecível através do projeto; em síntese, o “descreve”.

Os elementos daquilo que poderíamos denominar “mapa estratégico” são adequados em algumas áreas que assumem na cidade de Agudos um valor estratégico, não só do ponto de vista de sua transformação funcional, mas também do ponto de vista figurativo. Essas áreas se tornam, dentro da cidade, por diversas razões, lugares notáveis, pontos de referência de uma nova geografia urbana.

notas

1
REVEL, Jacques. (dir.), Jeux d'échelles. La micro-analyse à l'expérience. Paris, Gallimard - Le Seuil, Hautes Études, 1996, p.248.

2
O Grupo SITU é composto de alunos e professores do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da Universidade Estadual Paulista – Unesp/Bauru, além de colaboradores de outros cursos da Unesp e de outras Universidades para o desenvolvimento de pesquisas comuns. Cadastrado no Diretório dos Grupos de Pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) desde setembro de 2003, está locado no Departamento de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo da Unesp – Campus de Bauru. O grupo trabalha em duas linhas de pesquisa indissociáveis: História da Cidade e do Território e Urbanismo.

3
O Plano Diretor Participativo de Agudos PDPA, denominado Laboratório Agudos, foi desenvolvido pela equipe do grupo SITU (Grupo em Pesquisas Integradas Territoriais e Urbanas) e Dottorato di Urbanistica do IUAV de Veneza, sob coordenação do prof. Dr. Adalberto da Silva Retto Jr. e Prof. Dr. Bernardo Secchi. Nos Planos supracitados, a metodologia desenvolvida baseou-se em trabalhos do urbanista italiano prof. Bernardo Secchi, que juntamente com sua equipe, esteve participando de dois workshops durante a elaboração do plano.

4
Projeto Temático FAPESP “Saberes eruditos e técnicos na configuração e reconfiguração do espaço urbano. Estado de São Paulo, séculos XIX e XX”. Coordenação Geral: Profa. Dra. Maria Stella Martins Bresciani. Equipe: Unesp Bauru – Prof. Dr. Adalberto da Silva Retto Jr (coordenador), Prof. Dr. Norma Constantino, Profa. Dr. Marta Enokibara, Prof. Dr. Celio Losnak; Puccamp de Campinas, Profa. Dra. Ivone Salgado (coordenadora); Unicamp, Profa. Dra. Maria Stella Bresciani, Prof. Dr. Edgar De Decca, Profa. Dra. Cristina Meneguello, Profa. Dra. Silvana Rubino. Colaboradores: Profa. Dr. Josiane Cesarolli, Profa. Dra. Marisa Carpintero, etc.

5
Equipe do PDP de Agudos: Adalberto da Silva Retto Jr – Unesp Bauru – Coordenador Técnico-científico do PDPA, Carlos Roberto de Paula Lima – Coordenador Político do PDPA. Equipe Técnica da Unesp Bauru: Norma Regina Constantino, Marta Enokibara, Kelly Magalhães; Unesp Botucatu : Célia Zimback. Christian Traficante. IUAVde Veneza: Doutorado de Urbanismo: Bernardo Secchi, Paola Viganò, Paola Pellegrini, Emanuel Gianotti. Estagiários: Adriana V.C. Junqueira, Adriana Trivellato, Ana Paula Morais, André Luiz Acosta, Ana Paula Alarcon Mattos, Aline Silva Santos, Camila Nicolielo, Camila Rosa, Catarina Klein, Douglas Bezerra da Silva, Fernanda Turini, Fernando Rafael Dainese, Eve Cristina Valário, Élder Capello, Gleice da Conceição Sales Ferreira, Hugo do Nascimento Serra, Juliana Le Grazie, Lígia Arriaga Perassolli, Leila Anselmo, Luciana Luri Higashi, Luciana Maria Teixeira, Maria Fernanda, Mariana Greco Távora, Mariela Prudente Correa Berardo Toscano, Marília Carolina Faria Caetano, Maurício Sakamoto Yanata, Mônica Harumi, Rogério S. Machado, Rulian Nociti de Mendonça, Rachel Trevisan Savieto, Simara Regina Roma, Sheila Cristina Kajiwara, Tatiana Gerbelli, Thiago Fuschini Bicas. Colaboradores: Jandira Biscalchini, Eduardo Luiz de Oliveira, Bruno Furquim de Campos, Carolina Zequim, Giovanna Carraro Maia, Lais Araújo Manaresi, Rafaela de Almeida, Silvia Mori. Equipe da Prefeitura Municipal de Agudos: Gervásio Cavini, Luiz Aleixo Cezarotti, Evandro José de Oliveira, Elisabete Lucas de Paula Souza, Flaviano José Garcia, Aurora Alexandre, Leliane Vidotti.

6
Equipe do PDP de Piratininga: Adalberto da Silva Retto Jr – Unesp Bauru – e Christian Traficante – Unesp Botucatu: Coordenadores de Pesquisa. Estagiarios: Aline de Fatima Oliveira Cardoso, caio Augusto Grotti, Caroline de Assis Rohwedder, Claudia Daher Pitta, Camila Rosa, Danilo Horita, Fernanda Bragheto Junqueira, Fernanda Fabrini Marques, Marianna Carolina Ramalho, Monica Harumi Yosioka, Monica Nakatani Pedro, Nathalia Maria Salvadeo Fernandes, Nilson Jaquinta Wood, Patricia Maria Pechini, Thiago Fuschini Bicas, Dieila Niliane Nazario Ribeiro, Marilia Caetano, Hugo Serra.

7
Equipe do PDP de Iacanga: profa. MS Kelly Magalhães – Unesp Bauru, e estagiários do curso de Arquitetura e Urbanismo da Faac – Unesp.

8
A revisão do Plano de Jahu é uma parceria entre Grupo SITU da Unesp – Bauru, Studio 09 do IUAV de Veneza e Università degli Studi di Trento, além de colaboradores nacionais. Equipe da Unesp de Bauru: Adalberto da Silva Retto Jr – Unesp Bauru – coordenador; Marta Enokibara – Unesp Bauru – vice coordenadora. Estagiários: Allana Marchiori de Sena, Caroline Bizin, Fabio Chaves Sgavioli, Julia Coelho Dourado, Mondlane da N. da Silva Joaquim, Rosevelth Hélcio da Ressureição e Melo, Sulliman Gato Scriboni, Victor Rüegger Lucredi, Leandro Fontanta, Taís Schiavon, Izabella de Camargo Aversa.

9
SECCHI, B. In Città europea del XXI secolo: lezioni di storia urbana. MAZZERI, C.(Org.) Milano, Skira, Biblioteca di Architettura, n. 17, 2002, p.261.

10
DEMATTEIS G.; GOVERNA F., Urban form and governance: the new multi-centred urban pattern, In: Change and stability in Urban Europe, ANDERSEN; ET AL, Gra Bretanha, Aldershot, 2001, p. 27-59.

11
Lugar: do lat. Lócus. No sentido amplo, uma parte do espaço, idealmente ou materialmente circunscrita. In geom. Define-se l.geométrico, ou assol. Luogo, um conjunto de pontos do plano ou do espaço que satisfaz certas condições, isto é, que contém todos juntos e esse sozinho, uma mesma propriedade.

sobre os autores

Adalberto da Silva Retto Jr, professor de Historia do Urbanismo e Projeto Urbano Unesp – Bauru.

Bernardo Secchi, professor do IUAV de Veneza e coordenador, juntamente com Paola Vigano do escritorio Studio 09.

Norma Regina Truppel Constantino, professora de Paisagismo Unesp – Bauru

Marta Enokibara, professora de Paisagismo Unesp – Bauru

Kelly Magalhaes, professora de Historia da Arquitetura e Paisagismo Unesp – Bauru

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