O engenheiro-arquiteto Arthur Arcuri
O engenheiro e arquiteto Arthur Arcuri (1913-2010) nasceu em Juiz de Fora, filho caçula do comendador Pantaleone Arcuri e de Christina Spinelli Arcuri. Transferiu-se aos 10 anos de idade para Niterói, onde foi estudar no Salesiano Santa Rosa, sendo posteriormente transferido para o Colégio Diocesano São José, no Rio de Janeiro.
A vontade de trabalhar com a construção civil veio por influência da família, principalmente através de seu pai e de sua construtora, (1) o que despertou no jovem Arthur o desejo de fazer parte de uma grande tradição. Ao mesmo tempo duvidava de sua capacidade para exercer a profissão de arquiteto, por achar que talvez pudesse não corresponder a ela com a competência necessária.
"A minha opção entre ser engenheiro ou arquiteto nasceu de uma reflexão um tanto lógica. Eu sempre pensei que entre um mau engenheiro e um mau arquiteto, o que causa menor dano à coletividade é o mau engenheiro. Então eu falei: Bom, a ser mau engenheiro ou ser mau arquiteto, prefiro ser mau engenheiro, porque o arquiteto pode projetar e construir bem, mas o que ele projetar mal é um dano irreparável. Ao passo que o engenheiro, só erra se fizer alguma coisa que caia." (2)
Iniciou seus estudos em Engenharia em Belo Horizonte, retornando, logo depois, para o Rio de Janeiro, onde formou-se pela Escola Politécnica em 1937. Nos dois anos seguintes fez um curso de especialização em Cálculo de Concreto
Armado e durante este período morou com dois sobrinhos que estudavam Arquitetura na Escola Nacional de Belas Artes. Por influência deles passou a frequentar a biblioteca da instituição, e a acompanhar a arquitetura e as artes plásticas através das revistas e livros.
"Eu passei a ler principalmente as revistas e periódicos que lá, na época, chegavam abundantemente. (...) Eu considero ter tido essa sorte de não ter feito o curso de arquitetura na Escola de Belas Artes no Rio de Janeiro porque o ensino lá era acadêmico. E como autodidata, tive a oportunidade de reverter e aceitar todas as inovações. Nessa época surgiu o nome de Le Corbusier, então eu já lia... os trabalhos dele publicados nas revistas francesas e aliás em todo o mundo." (3)
Em 1941 iniciou os estudos, a convite do médico João Villaça, para a nova Santa Casa de Misericórdia, e projetou nos anos seguintes as residências de Reginaldo Arcuri (1941), Olavo Costa (1944) e Hélio Sirimarco (1945).
Em 1947 veio o convite de Rodrigo Mello Franco de Andrade para trabalhar no SPHAN, cuidando da Região de Tiradentes e São João Del Rey, onde iniciou suas atividades em 1° de janeiro de 1948. Este trabalho, apesar da remuneração simbólica, foi de uma importância muito grande para a sua vida intelectual e profissional, e nele permaneceu até 1970. A amizade com profissionais de renome como Oscar Niemeyer, Lúcio Costa e Burle Marx teve grande importância no desenvolvimento de sua arquitetura, principalmente este último que se tornou um amigo muito próximo e que inequivocamente influenciou o tratamento paisagístico que Arcuri dispensava a seus projetos, bem como o seu amor pela natureza.
Justamente a partir de 1948, o trabalho de Arcuri entra em uma fase mais madura com os projetos para as residências de João Villaça (1948), Romeu Arcuri (1949), Jorge Miana (1950), Horácio Loyola Pires (1950), Virgínia Mendes Torres (1951), Antônio Carlos Pereira (1951), Luiz Stheling (1952), Hugo Mescolin (1953), Frederico Assis (1955) e Geraldo Magela (1957); além de seu projeto mais famoso: o Marco Centenário de Juiz de Fora (1950), que foi tombado pelo IPHAN em 2001 e é considerado o primeiro mural moderno realizado em praça pública no Brasil.
Em 1952 veio outro grande reconhecimento em sua curta carreira como arquiteto, quando, por indicação de Murilo Mendes, integrou a Primeira Mostra de Arquitetura Contemporânea Brasileira, que ocorreu no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e depois passou por diversas capitais europeias. (4)
A notoriedade conseguida como arquiteto e a sua amizade com Joaquim Ribeiro de Oliveira, com quem tinha encontros semanais de estudo de arte e filosofia junto com outros intelectuais locais lhe valeram o convite, em 1962, para ser o primeiro professor da cadeira de História da Arte do Curso de Jornalismo no Instituto São Tomás de Aquino, que depois foi incorporada à Universidade Federal de Juiz de Fora em 1967 e onde lecionou até se aposentar em 1978.
Durante a década de 60, Arcuri projeta alguns blocos residenciais como os edifícios Santo Antônio (1965) Raphael Cirigliano (1967) e José Iscold (1968) e as residências Saulo Paulo Vilella (1960) e José Raymundo Machado (1969). Um dos trabalhos de maior envergadura de sua carreira ocorreu em 1965, quando foi membro da Comissão da Reforma Universitária e acabou responsável por elaborar o plano urbanístico e os principais institutos do Campus Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora.
Os projetos de Arcuri, ao mesmo tempo em que conciliaram a tradição progressista da empresa de seu pai, promoveram um rompimento com a arquitetura produzida até então por ela. A construtora dos palecetes ecléticos e edifícios déco, projetados por seu irmão mais velho, Raphael Arcuri, tornava-se agora a responsável por uma nova proposta arquitetônica na cidade.
Essa nova arquitetura buscada por Arcuri materializou-se, principalmente, em seus programas residenciais, vistos por ele como “de maior importância para a conservação e perpetuação da espécie humana, para a integridade da família, para a estruturação e estabilidade da sociedade e, portanto, da Nação”. (5) Para o arquiteto “estamos atados à rotina e continuamos acreditando que as soluções adotadas pelos nossos avós servirão também para os nossos netos”, (6) pois “as nossas habitações são, em geral, mal projetadas, visto que são construídas visando-se, sobretudo seu aspecto externo, nem sempre estético.” (7)
Arcuri propõe que “deveremos compenetrar-nos de que, no momento, algo deve ser feito de novo entre nós, e, se nos julgarmos receosos de adotar, por preconceito, novas formas para as nossas casas, cumprir-nos-á conscientemente, meditarmos sobre o que outros povos, mais experimentados e mais evoluídos, têm adotado na solução do bem estar da humanidade”. (8)
Para se entender as intenções de Arcuri sobre a sua arquitetura residencial é necessário compreender o entrecruzamento de suas ideias sobre estética e filosofia da arte e como estas proposições foram materializadas em seus programas residenciais.
A composição arquitetônica de Arthur Arcuri
Em todos os estudos de Arcuri sobre a arte moderna, a que primeiro lhe despertou o interesse e a que mais lhe influenciou, foi, sem dúvida, a arte fotográfica. Segundo o próprio autor, ele foi um dos pioneiros a fazer exposições exclusivamente fotográficas na cidade, por volta de 1935. (9)
"É curioso que de início não tinha essa tendência para a arte.(...) A fotografia foi o elemento que me despertou o interesse pela arte. Porque realmente a fotografia, pondo de lado, o lado técnico dela é uma escola formidável para ensinar o indivíduo a ver as coisas. ... Pela fotografia que comecei a sentir a natureza, saber ver essa natureza. E também o sentido de composição. Passei a estudar livros sobre composição fotográfica que mais tarde me valeram tanto na arquitetura como em qualquer outra arte." (10)
Essa sensibilidade para a composição apreendida por Arcuri como fotógrafo foi posteriormente transposta para a sua prática arquitetônica, o que, segundo ele, permitiu tratar seus projetos com uma intenção plástica mais elevada.
"A composição consiste na ordenação harmônica dos elementos que constituem a estrutura da forma fotográfica...." (11)
Este estudo da composição dos elementos artísticos levou Arcuri a se interessar por teorias da forma, principalmente da psicologia da Gestalt. Esta teoria apreende o processo da configuração de uma obra a partir de suas partes, (12) em busca de uma “ciência da boa forma”, transcendendo o nível da simples apreensão sensorial dos objetos para identificar as estruturas perceptivas contidas nos mesmos.
Arcuri, inclusive, ministrou aulas de composição em um curso de fotografia, no qual ensinava regras geométricas e matemáticas, como a Proporção Áurea, a série de Fibonacci e a Eurritmia, além das teorias gestálticas, na busca de uma harmonia dos elementos intrínsecos da estrutura fotográfica. (13) Em suas notas de aula, Arcuri afirma que:
"As formas e seus agrupamentos são suscetíveis de serem reduzidos em linhas e formas geométricas e a associação e o relacionamento desses elementos geométricos vão consistir a estrutura básica da composição. As linhas e as formas geométricas – elementos básicos da composição – possuem por si mesmos significados emergentes em virtude de sua própria estrutura, qualidades que, associadas harmonicamente, conferem à composição uma determinada expressividade. O mesmo ocorre com as cores e os valores dos cinzas – (Gestalt)."
E assim ele atribui os significados das linhas, superfícies e cores:
1) Linhas:
- horizontal= calma, tranquilidade, repouso
- vertical= elevação, espiritualidade
- inclinada= insegurança, queda
- quebrada= agitação
- curva= movimento, melodia
- paralelas= igualdade, repetição
- radiais= glorificação
2) Superfícies:
- triangular= estabilidade, peso, poder, majestade
- circular= indefinição, harmonia
- elíptica= graciosidade
- irregular= movimento, dinamismo, arbitrariedade
3) Cores e Valores:
- quentes= vida (aproximam)
- frias= monotonia (afastam)
- densas= drama, tristeza
- claras= alegria, juventude (14)
Arcuri atribui ainda à composição fotográfica quatro leis que devem ser observadas para se alcançar uma composição harmônica. (15)
1ª - Lei da Unidade – A composição deve ser UNA de modo a impedir a sua divisão em outra, ou seja, a dualidade. Os elementos devem se relacionar entre si e cada um com o todo, constituindo o que se chama “Efeito de Totalidade”. A eliminação de um único elemento altera a unidade da obra. (...)
2ª - Lei da Variedade – Afim de evitar a monotonia da composição excessivamente unitária, é preciso diversificar os elementos existentes sem contudo multiplicá-los. A variedade decorre da disposição e da diversidade entre as partes constitutivas da forma. Ela vai contribuir para que a forma tenha movimentação, animação e vibração. Porém a variedade, ao contrário do que seu termo sugere, não corresponde à utilização de muitos elementos e sim na diversidade desses, pois a simplicidade deve ser uma das qualidades da variedade. ... O excesso de variedade ou de diversidade gera a desordem. (...)
3ª - lei do Contraste – Consiste na oposição entre elementos da composição a fim de fazer sobressair o elemento principal. Constata-se que um elemento se torna mais expressivo se a ele se opor outro elemento igual ou diferente. Assim, uma linha horizontal é mais expressiva se a ela se opor uma vertical, ... Se o contraste for dado por elemento iguais em oposição, o resultado é confuso ou nulo. O contraste dá vivacidade.
4ª - Lei do Equilíbrio – O equilíbrio é tão necessário à coesão da obra de arte, de tal forma eu sem ele as demais leis são inoperantes. As forças internas existentes devem resultar num estado de repouso, porém tensional. (...). (16)
Na evolução de seu trabalho nas residências é perceptível sua tentativa de procurar uma expressividade arquitetônica através de uma economia de meios, observando o uso de certos materiais que explicitem o contraste de texturas e cores aliadas a estratégias de repetição e ritmo, criando uma obra que busca aguçar a visão do espectador através de elementos contrastantes, sem, contudo, perder suas características básicas de discrição e sobriedade que tão bem traduzem a sua própria personalidade.
A busca pela assimetria na composição de suas fachadas é explicada pela euritimia, da qual se conclui que a axialidade da composição, que é o primeiro ponto onde fixamos nosso olhar e justamente por ser demasiadamente óbvio, constitui-se em um “ponto fraco”. Logo, um interesse maior é gerado ao privilegiarmos zonas menos absorventes, que seriam os “pontos fortes”, e que permitiriam aos olhos percorrer o restante da composição. Porém, esta assimetria elaborada por Arcuri, é compensada através de um minucioso estudo que garanta sua a condição de harmonia e equilíbrio, tão caras para ele no desenvolvimento da vida doméstica.
"O relacionamento entre os elementos da composição não se dá arbitrariamente e sim harmonicamente, obedecendo a várias exigências ditadas pela percepção visual (gestalt) e regras matemáticas. Existem forças internas dentro de uma composição que tendem a organizar e estruturar a melhor forma, tendência que se denomina “pregnância da forma”, sobre a qual se fundamenta a obra de arte." (17)
Outra característica observável em toda a sua produção arquitetônica é o predomínio da composição entre as linhas verticais e horizontais, com evidente predomínio desta última. A importância das direções perpendiculares faz referência a uma manifestação primária do homem em busca da estabilidade e do equilíbrio, relacionando-o à sua paz e ao seu bem-estar. (18) Os volumes em forma de paralelepípedos horizontais do pavimento superior de suas edificações, que abrigam os quartos, reforçam a ideia de calma, repouso e tranquilidade, desejável ao programa residencial, ao mesmo tempo que provocam um aguçamento pela tensão entre o balanço do volume do 2º pavimento e o tratamento imparcial dado ao pavimento do térreo. Este contraste, que procura fugir da composição simplesmente enfadonha ou óbvia, nunca é expressivo o suficiente para perturbar a discrição procurada pelo engenheiro.
Ao mesmo tempo, para evitar o predomínio absoluto da direção horizontal em suas residências, que poderia gerar monotonia, Arcuri, observando a lei do contraste, realça episodicamente algumas linhas verticais, como os pilotis coloridos nas casas de João Villaça e Frederico Assis ou os pilotis brancos em contraste com o plano de tijolos, na Residência de Jorge Miana. O mesmo pode ser dito a respeito da inserção de murais e planos cromáticos que induzem a uma variedade de estímulos sem que com isso se precise recorrer à profusão de elementos que fragmentassem a leitura da obra.
Estas questões podem ser observadas na casa de Romeu Arcuri, onde o destaque do pavimento superior, tímido volumetricamente, é, porém, remediado pela aplicação da cor azul e pela força tectônica da faixa horizontal de tijolos do peitoril.
A abertura de janelas responde a uma repetição contínua e simétrica que, através das linhas das persianas e do peitoril, potencializa a sua horizontalidade estrita como elemento chave do coroamento do edifício.
Não obstante, o uso da fenestração no térreo não dá o destaque pretendido ao pavimento superior, que pelo pequeno balanço deixa a volumetria ainda muito compacta, não permitindo que a composição proporcione uma saída da visão.
Esta casa, no entanto, seria um ensaio para a casa Jorge Miana que exemplifica um amadurecimento do vocabulário arquitetônico de Arcuri. Nesta residência, o protagonismo do segundo pavimento é enfatizado devido a uma maior expressividade de seu perfil branco flutuante, que contrasta com a textura e a horizontalidade da parede de tijolos. Este plano, ao ultrapassar o perímetro da casa, dinamiza a sua volumetria ao mesmo tempo que acentua a sua horizontalidade. Esta mesma ênfase no contraste entre a opacidade do pavimento superior sobre a fragilidade do plano de vidro é encontrada na casa de João Villaça que, devido à grande dimensão de sua direção longitudinal, potencializa o sentido horizontal de seu volume e de sua sequência de janelas.
Já na Residência de Frederico Assis a simples repetição de janelas é substituída pela cadência do ritmo alternado entre o recuo das linhas horizontais azuis com a expansão dos volumes verticais vermelhos dos armários e os quadrados brancos das persianas das janelas. Este ritmo conduz a visão do espectador para a subtração do terraço, numa composição assimétrica equilibrada pelo prolongamento, como no caso da casa para Jorge Miana, do plano de pedra na extremidade oposta.
Devido aos balanços relativamente pequenos do piso superior de suas casas com mais de um pavimento, Arcuri recorre ao contraste entre a textura natural dos materiais com o uso cromático ou a transparência do vidro, para garantir uma ênfase na horizontalidade do pavimento superior, sem que sejam necessários grandes deslocamentos volumétricos. Desta forma o nosso autor consegue uma justaposição de informações com simplicidade e economia de meios.
Em suas casas de somente um pavimento observa-se a mesma insistência na composição ortogonal, alternando a ênfase na horizontalidade, como observado nas casas Hugo Mescolin e Saulo Paulo Villela, como também a composição mondrianesca da Residência Luiz Stheling. Nesta casa a influência do pintor holandês foi levada para a composição de suas fachadas, onde a articulação de linhas formam retículas retangulares que abrigam um afresco de Edson Motta. Dessa forma, há, na verdade, duas camadas artísticas sobrepostas, uma de caráter internacional ligada aos trabalhos do De Stijl, e outra nacional, que dialogam entre si, promovendo uma ponte entre manifestações artísticas estrangeiras e nacionais.
Esta combinação de planos artísticos podem ser percebidos, também, na relação entre os desenhos abstratos dos jardins e a casa propriamente dita, que se assemelha, em planta, a uma composição elementarista.
Se o desenho dos ambientes, em planta, é gerado exclusivamente por linhas retas, que se configuram em uma série de espaços retangulares perfeitamente distinguíveis entre si, havendo pouca continuidade espacial entre eles (exceto talvez pelas áreas sociais), nos jardins externos as linhas curvas de seu paisagismo contrapõe-se ao sentimento de controle e estabilidade de seu interior. O desenho de seus jardins remetem à complexidade e ao dinamismo da vida exterior, ou talvez à sensualidade de uma melodia a ser apreciada por seus moradores.
Para Arcuri a arquitetura moderna significava uma busca da gênese da beleza na arte abstrata contemporânea. Para ele a arquitetura caminhava em uma direção em que as composições estáticas naturalmente eram substituídas por uma tendência às articulações dinâmicas onde o conceito de massa era substituído pelo de volume. A manipulação racional desses volumes e de seus diversos elementos plásticos, como os materiais, as cores e as texturas, poderiam alcançar o objetivo de suscitar uma resposta emocional no espectador através da nova estética moderna.
A obra de Arcuri, reflexo de sua própria personalidade, revela uma elegância e uma simplicidade que esconde uma reflexão profunda sobre as questões artísticas de seu tempo e o papel relevante que a arquitetura tem na promoção cultural de uma sociedade.
A importância de seu trabalho reside no exemplo de como a arquitetura moderna foi apropriada e introduzida no interior do país com o intuito de transformar o cenário urbano de seu município através de seus projetos. A paixão de Arcuri pelas diversas manifestações artísticas permitiu a ele buscar um entendimento mais abrangente de seu próprio ofício. Com isso, Arcuri legou uma atuação relevante em Juiz de Fora, materializada através de uma obra que amalgamava o habitar humano a uma integração com as artes e com a natureza.
Conclusão
Com este artigo pretendemos revelar um profissional com uma atuação importante no contexto regional, e que, no entanto, ainda é praticamente desconhecido na historiografia da arquitetura brasileira. É interessante notar que a produção arquitetônica de Arthur Arcuri ganhou as páginas das mais importantes revistas nacionais e estrangeiras durante as décadas de 40 e 50 (19), e todavia seu nome não aparece em nenhum livro ou periódico recente sobre a história da arquitetura brasileira (20).
A existência de diversas cidades no interior do país com profissionais e obras ainda não descobertos pela crítica e consequentemente à margem da história, deixa a suspeita que estas mesmas análises, a princípio já aceitas, possam ser, de certo modo, ainda parciais. Faz-se mister, portanto, a busca por novos exames que minimizem as possíveis lacunas que existam na nossa historia, sendo uma delas a exploração de novos cenários em que se exprimiram manifestações relevantes ao estudo da arquitetura brasileira.
Ao trazer novos autores e suas respectivas obras, amplia-se a discussão sobre a arquitetura moderna no Brasil, explicitando sua diversidade e heterogeneidade, evidenciando assim a riqueza de suas variantes locais.
notas
1
DIÁRIO REGIONAL. Arthur Arcuri conta sua história de vida. Juiz de Fora: 17 de dezembro de 2000, p. 4.
2
ARCURI, Arthur. Depoimento de. Divisão de Memória da Funalfa- Fundação Alfredo Ferreira Lage. Juiz de Fora. 1982. 4 cassetes (240 min).
3
SANTANA, Rodrigo; PUGLIESI, Stella. Arquitetura moderna em Juiz de Fora: A contribuição de Arthur Arcuri. Juiz de Fora: Funalfa, 2002. p. 14.
4
Entre os arquitetos que participaram desta mostra estão Oscar Niemeyer, Affonso Eduardo Reidy, Álvaro Vital Brazil, Carlos Frederico Ferreira, Atílio Correia Lima, Francisco Bolonha, Aldari Toledo, Gilberto Lyra de Lemos, Edgar Graeff, F.F. Saldanha e Fernando Saturnino de Brito. Arcuri apresentou sua casa para seu irmão Romeu Arcuri e o marco Centenário da Cidade de Juiz de fora. SANTANA, Rodrigo; PUGLIESI, Stella. Arquitetura moderna em Juiz de Fora: A contribuição de Arthur Arcuri. Op.cit. p. 19.
5
ARCURI, Arthur. O problema da habitação. Palestra proferida no Rotary Club de Juiz de Fora e publicada no Diário Mercantil em 17/02/1944.
6
Idem. Ibidem.
7
Idem. Ibidem.
8
Idem. Ibidem.
9
ARCURI, Arthur. Depoimento de. Divisão de Memória da Funalfa- Fundação Alfredo Ferreira Lage. Juiz de Fora. 1982. 4 cassetes (240 min).
10
Idem. Ibidem.
11
ARCURI, Arthur. Op. Cit., 1982, p. 32.
12
DONDIS, Donis A. Sintaxe da linguagem visual. São Paulo:Martins Fontes, 2003. p. 22.
13
ARCURI, Arthur. Curso de fotografia – notas de aula. Juiz de Fora: Sociedade juizforana de fotografia, abril de 1977. p. 32. Esta ênfase na composição e na geometria é muito próxima do pensamento que Le Corbusier aplicava à criação arquitetônica: “Para os olhos tudo é geométrico (...) A composição arquitetônica é geométrica. É, antes de mais nada, um acontecimento de ordem visual; é um acontecimento que implica julgamentos de quantidades, relações, apreciação de proporções. Estas provocam sensações; a seqüência das sensações é como uma melodia na música. Eric Satie dizia: a melodia é a idéia. A harmonização na música é o meio, o instrumento, a apresentação da idéia. A idéia arquitetônica é um fenômeno peremptoriamente individual, inalienável. (...). Cada um de nós consigna à idéia uma expressão pessoal: é o lirismo individual”. CORBUSIER, Le. Precisões sobre um estado presente da arquitetura e do urbanismo. São Paulo: Cosac &Naify, 2004. p.136 e 138.
14
ARCURI, Arthur. Curso de fotografia – notas de aula. Op. Cit., p. 32.
15
Apesar da observância destas regras, Arcuri porém, faz a ressalva de “que embora não possuam valor absoluto, favorecem a composição harmônica.” e posteriormente “Como recomendações finais, lembramos que o artista possuindo as regras que o favorecem não deve, entretanto, ser possuído por elas. O gênio é aquele que é capaz de romper as regras”. ARCURI, Arthur. Op. Cit., 1977, p. 34 e 36.
16
ARCURI, Arthur.Op. cit., p. 35.
17
ARCURI, Arthur. Curso de fotografia – notas de aula. Op. Cit., p. 32.
18
DONDIS, Donis A. Op. Cit., p. 60.
19
Lúcio Costa ao comentar a seleção de Henrique Mindlin para o seu livro Modern architecture in Brazil: “de fato houve omissões, como, entre tantas outras, a falta de referência à obra persistente e valiosa de Arcuri, em Juiz de Fora, e à atuação fecunda de Borsoi em Pernambuco e na Paraíba.” in COSTA, Lucio. “Modern architecture in Brazil”. In: Brasil – arquitetura contemporânea. Nº 8, 1956, p. 55.
20
Esta situação foi parcialmente remediada, em 2002, com a publicação do livro de Rodrigo Santana e Stella Pugliesi intitulado Arquitetura Moderna em Juiz de Fora: a contribuição de Arthur Arcuri, onde pela primeira vez se realizou um levantamento de todos os projetos de Arcuri.
bibliografia complementar
ALTUNA, Luis Rey. Qué es lo Bello. Introducción a la estética de San Augustín. Madrid: Instituto “Luis Vives” de Filosofia, 1945.
ARCURI, Arthur. Entrevista concedida a Bernardo Vieira em outubro de 2005.
ARCURI, Arthur. "O problema da forma na arte do monumento". In: Arquitetura e Engenharia, Belo Horizonte IAB-MG, n.23 set/ out. de 1952.
CORBUSIER, Le. Precisões sobre um estado presente da arquitetura e do urbanismo. São Paulo: Cosac &Naify, 2004.
GIEDION, Sigfried. Espacio, tiempo e arquitectura. Barcelona: Hoepli, S. L., 1955. p. V.
GROAT, Linda & WANGS David. "Part II- seven Research Strategies", In: Architetural Research Methods. New York, John Wiley & Sons, 2002.
LARROYO, Francisco; colaboración ESCOBAR, Edmundo. Sistema de la estética. México: Editorial Porrua.
MARITAIN, Jacques. Art and Scholasticism. http://www.nd.edu/Departments/Maritain/etext/art.htm
PAUL, Jürgen. "Sigfried Giedion". In: Teoria da arquitetura – do Renascimento aos nossos dias. s/d, Taschen.
READ, Hebert. A arte e a sociedade. Lisboa: Cosmos, 1946. Biblioteca Cosmos, Vol. 112-113) 2º seção Artes e Letras.
SANTOS, Boaventura. Um discurso sobre as ciências. (7ª ed.) Porto, Ed. Afrontamento, 1995.
sobre o autor
Bernardo da Silva Vieira, nascido em 1976 e graduado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) em 2000. Posteriormente lecionou como Professor Substituto nesta mesma instituição entre 2001 e 2004. Mestre em Arquitetura, no ano de 2006, pelo programa PROARQ - Programa de Pesquisa e Pós-graduação em Arquitetura- na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e atualmente é professor de desenho e projeto no Curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário Augusto Motta e no SENAC da cidade do Rio de Janeiro.