Raul Lino (1879-1974)
Em abril de 1935, o jornal brasileiro A Noite anuncia que o arquiteto português Raul Lino estava a “caminho do Brasil, atendendo ao honroso convite do colega brasileiro Sr. Morales de los Rios, em nome do Instituto Central dos Architectos do Brasil, da Sociedade Brasileira de Bellas Artes, do Instituto Paulista de Architectos e do Instituto Histórico de Ouro Preto” (1). Na entrevista concedida no seu atelier de Lisboa, Raul Lino refere que pensa permanecer no Brasil cerca de dois meses e meio, fazendo algumas conferências acerca dos problemas da arquitetura.
Raul Lino que considerava que a arquitetura deveria ser expressão da cultura de um povo, salienta que à vista de exemplos teceria algumas considerações sobre o assunto e diria qual a orientação que a arquitetura deveria tomar, considerando que essa orientação era particularmente interessante no caso do Brasil. Indagado sobre os temas dessas conferências destaca: “A que me interessa mais levou annos e annos a preparar. De há muito estava latente no meu espirito, e vou procurar dar-lhe forma. Eu vejo as coisas plasticamente. E o meu trabalho consiste em procurar torna-las comunicáveis. O thema della é: O espirito da arquitetura. A segunda é sobre As casas portuguesas do séc. XVIII, tema que deve interessar muito ao Brasil, por ser essa justamente a época em que ali floresceu mais a architectura histórica. A terceira será muito diferente, mas interessa-me muito, por eu ter estado em contacto com os respectivos serviços oficiais: As casas económicas”.
O jornal A Noite, que dias antes já tinha publicado uma notícia dessa futura visita de Raul Lino (2) considerando a obra de Raul Lino “simultaneamente clássica e moderna” e “tendo a melhor expressão espiritual do bom gosto”, irá de forma sistemática, ao longo da sua estadia no Brasil,divulgar o seu percurso e enunciando as suas conferencias. A 17 de maio era comunicada a passagem de Raul Lino pelo Recife a bordo do “Cuyabá” e anunciada a sua conferência sobre o seu interesse pelo Brasil e sobre o movimento artístico de Portugal. Segundo Raul Lino, grandes obras estavam sendo realizadas. Salientando que “o governo tem provocado forte desenvolvimento dos meios artísticos, sobretudo nos domínios da architectura, escultura, pintura e decoração, nos grandes edifícios públicos. A situação geral do paiz é satisfatória e, conquanto o estado preconize sob o regime totalitário o nacionalismo das artes, os artistas conservam, todavia, a liberdade de concepção” (3). A 20 de maio é noticiada a sua chegada ao porto da Bahia e o seu percurso pela cidade (4) e a 21 de maio a chegada ao Rio de Janeiro, num desembarque muito concorrido, mostrando-se Raul Lino encantado com “os panoramas da Guanabara” (5).
A notícia da sua chegada ao Rio de Janeiro é também publicada no jornal português Diário de Lisboa, com fotografia da chegada do casal, sendo descrito no artigo o itinerário previsto e as palestras que tencionava proferir (6). No Rio de Janeiro, Raul Lino realiza, a 30 de maio, na Escola de Bellas Artes, a conferência “O espirito na architectura” (7). Segundo A Noite, “o professor Raul Lino de modo brilhante e interessantíssimo prendeu a atenção dos presentes durante duas horas”, finalizando a palestra “discorrendo sobre a architectura do Brasil”, que pela “natureza incomparável e pelo seu passado glorioso”, era uma “fonte inexorável de bellas inspirações para conduzir nos seus moldes uma nova escola de arte architectonica original própria e genuinamente original” (8).
Em junho, A Noite dava notícia da conferência “Casas Portuguezas do Séc. XVIII” (9) no Gabinete Português de Leitura (10) e do seu passeio “marítimo na Bahia da Guanabara terminando com a visita às instalações da hospedaria de Imigrantes da Ilha das Flores do Departamento Nacional de Povoamento (11). Raul Lino partiria dias depois para São Paulo onde realizaria três conferências, no intervalo das quais realizaria visitas e excursões (12). No final da sua estadia em São Paulo, regressaria ao Rio de Janeiro e depois de alguns dias de repouso, partiria para Minas Gerais. Raul Lino seria esperado em Belo Horizonte procedente de Juiz de Fora a 14 de julho, sendo considerado pelo prefeito Sr. “Negrão de Lima, hóspede da Municipalidade”, aí permanecendo cinco dias e proferindo três conferências, seguindo depois para a cidades de Sabará, Marianna e Ouro Preto, onde igualmente sua palavra seria ouvida (13). O jornal Diario Portugues publicaria ainda imagens da conferência Casas Económicas que Raul Lino proferiu no Gabinete Português de Leitura no dia em que partiria para Lisboa, destacando, no artigo, a “distinta assistência, presidida pelo Sr. Consul Geral de Portugal, Dr. Francisco de Paula Brito, o Presidente do Conselho Federal de Engenharia e Arquitetura, prof. Morales de los Rios; e o Presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil” (14). De acordo com o articulista, Raul Lino tinha manifestado a sua grande satisfação por poder contribuir para o “embelezamento da vida dos modestos obreiros na nossa civilização havendo sido chamado como arquiteto consultor para a Repartição da Construção de Casas Económicas” (15).
Finalmente, a 20 de agosto, A Noite anunciava que o governo brasileiro tinha conferido a Raul Lino o oficialato da Ordem Nacional do Cruzeiro (16) e que o arquiteto regressaria a Lisboa no “Ávila Star” (17). Já em Lisboa, Raul Lino concedeu uma entrevista à revista Bandarra e “interrogado acerca das influências que sofreu a architettura brasileira”, refere que notava três influências: “a modernista colonial, a portugueza antiga e a norte americana”. Esta última, segundo Lino, inspira-se nos arquitetos “da California e do Novo México que souberam explorar a tradição espanhola deste paiz. Os brasileiros deixaram-se levar por esta corrente mas limitam-se de preferência a seguir-lhes o exemplo. A primeira influencia do modernismo é internacional. Não tem no Brasil nenhum caráter especial. Além destas três correntes principais é preciso reconhecer que os brasileiros imitam as casas mexicanas e italianas, sobretudo em São Paulo. Não encontraram ainda um estylo brasileiro” (18). Considerando ainda que os arquitetos brasileiros “não tinham necessidade de adoptar motivos portugueses. Podiam inspirar-se nas florestas, que têm o carácter do paiz”. Em janeiro de 1938, o Jornal A Noite dá notícia que Raul Lino tinha publicado Auriverde Jornada (19) com o “registro minucioso e cativante” da viagem ao Brasil (20). Nesta obra é publicada a comunicação lida por Raul Lino à Academia Nacional de Bellas Artes de Lisboa, depois do regresso do Brasil, com o título Primeiras Impressões, onde dá particular destaque à influência no Brasil da “portentosa Natureza que se reflecte em muitas revelações da actividade nacional” lembrando que “no fundo do bandeirismo está o sertão”, sublinhando “a atracção incessante que ele exercia nos colonos de S. Paulo de Piratininga ou nos do litoral” e salientando que na “História do Brasil o sertão era assim um tanto como foi para o nosso passado de descobridores a imensidade do mar” (21). Referindo que a maioria dos templos e conventos que existem no Brasil data do séc. XVIII, considerava que eram todos “tam nossos no estilo e na matéria”, que em muito pouco se distinguiam ”da obra metropolitana”, não deixando de chamar a atenção que “não houve no Brasil o que se deu na colonização portuguesa da Índia, onde a existência de uma antiga civilização com sua arquitetura distinta, influenciou de maneira interessante a obra dos nossos construtores e decoradores” (22).
Ainda nestas Primeiras Impressões refere que, objetivamente, Ouro Preto dava a impressão de qualquer grande povoado da região portuguesa da Beira Baixa que “houvesse nascido no século XVIII” e que nas terras de Minas Gerais o que predominava “por muito” era “a maneira genuinamente portuguesa, na arquitetura; na decoração interior; nos azulejos” (23). Comentando o panorama arquitetônico do “género funcional, utilitário, materialista, cosmopolita”, interrogava-se como se poderia harmonizar no Brasil “sem cuidada e trabalhosa adaptação, o estilo gerado numa Europa ferida pela mais sangrenta das guerras e que se debate na agrura de variadas e gravíssimas questões sociais!” (24). Afirma-se curioso por conhecer o arquiteto Lúcio Costa (25), declarando que o procedimento moderno de Lúcio Costa “para alguns era tido por acto de apostasia, para outros como lógica transfiguração dos seus ideais” (26) e que este colega brasileiro: “não quer ouvir falar de tradição; isto é – parece querer confundir tradição morfológica na obra dos arquitetos com tradição espiritual na obra dos homens, e observa que nós europeus estaríamos fartos de uma herança que nos oprime (…) No que eu não concordava por fim era com o conformismo do meu esclarecido colega quanto à ‘evolução da técnica construtiva, à sombra da evolução social, ambas condicionadas pela máquina’ (…) Ficamos secos de tanto racionalismo!” (27). Raul Lino tem uma relação e um entendimento “conciliador” dos conceitos de tradição e modernismo: “Não existe hoje lugar para a estilística. Actualmente em Arquitetura só há verdadeiramente dois estilos bem extremados – o que procura a continuidade, ou tradicional, e o que cultiva a descontinuidade e se diz modernista. (…) continuidade ou maneira tradicional não significa sujeição a qualquer estilo histórico ou sequer reminiscente de passadas épocas. (…) o tradicional, que também pode e devia ser sempre moderno, é o que se ajusta espontânea e instintivamente a certas noções, menos raciocinadas que sentimentais, fundadas ou inspiradas na Natureza e que estão na base de toda a actividade artística” (28).Não devemos esquecer, tal como bem chama a atenção William Bittar, que nos inícios do séc. XX, nas Américas, "ser moderno era ser nacionalista, ou por mais paradoxal que pareça, ser moderno era ser tradicional" (29).
Em novembro de 1939, o jornal A Noite anuncia a representação brasileira na exposição dos centenários portugueses, publicando o projecto do pavilhão do Brasil da lavra de Raul Lino (30). Este arquiteto realiza o Pavilhão do Brasil para a Exposição do Mundo Português em 1940 em colaboração com Roberto Lacombe, que desenhara os interiores, feitos no Rio de Janeiro, e Flávio Barbosa, como arquiteto-adjunto, considerado por Margarida Acciaiuoli um dos melhores trabalhos de equipa de toda a Exposição. No seu interior os visitantes podiam observar um diorama luminoso do Rio de Janeiro que dava uma ideia da grandiosidade da cidade, talvez relembrando a construção na Praça XV de Novembro do Rio de Janeiro, da rotunda do Pintor Victor Meireles, que exibia o Panorama de 360º do Rio de Janeiro destinado à Exposição de Bruxelas de 1888. Na inauguração do Pavilhão do Brasil da Exposição do Mundo Português de 1940 (31), o comissário brasileiro alude ao "adro de uma igreja barroca" sublinhando que "o grande momento indestrutível que a civilização ocidental erguera a Portugal, (era) o próprio Brasil vivo, que (continuava), em essência, a ser português" (32). O pavilhão de Raul Lino revela "um notável trabalho de estilização decorativa cujas sugestões, de enormes troncos de palmeiras sulcados de nós, imprimiam uma evidente originalidade, sem perder o lado ‘monumental’ que a ocasião suscitava" (33), e que consideramos assumir a expressão de uma arquitetura moderna enraizada na tradição.
Lúcio Costa (1902-1998)
Em 1923, o jornal A Noite dava notícia que “o Instituto Brasileiro de Architectos sob suggestão do Sr. José Marianno Filho” tinha aberto “um concurso com o fito de estimular o interesse pela architectura da época colonial” acrescentado que “o concurso oferecia dous prémios aquele que apresentasse o melhor sofá para jardim em estylo verdadeiramente a séc. XVIII, e aquele que fizesse dentro das regras e dos gostos da architectura colonial, um portão de casa nobre” (34). O jornal informava que Lucio Costa tinha tirado “os dous prémios (primeiro premio do sofá e segundo premio do portão)” tendo apresentado ”trabalhos cheios de gosto artístico, sem perder porém o cunho característico dos trabalhos coloniaes” e elogiando o cuidado nos “materiaes que eles empregavam, como calcareos de Lioz, ferro batido, telhas de canal, azulejos, objectos de cerâmica, etc” (35).
José Marianno Filho, defensor acérrimo da Arte Brasileira e professor de Lúcio Costa, na sua luta contra “os estilos de conserva do academismo francês”, apelava a uma “arquitetura materna” (36) e procurava “agitar a opinião pública em favor do velho estilo brasileiro” (37). Em defesa de uma arquitetura de cunho tradicional, invocava a reposição do “espírito arquitetônico do passado dentro do ambiente social” (38) no tempo em que vivia, promovendo, através do Instituto Central de Arquitetos e da Sociedade Brasileira de Belas-Artes, da qual era presidente, uma série de concursos em torno do tema da casa brasileira, que contribuiriam para a sua nomeação de Director da Escola de Belas Artes (39).
Marianno Filho considerava que os primeiros concursos que tinha promovido tinham demonstrado à sociedade que os artistas brasileiros “ignoravam, naquela época, os fatos elementares da evolução arquitetónica nacional” (40). Marianno Filho, lamentando a inexistência de “uma cadeira de cultura artística e histórica dedicada à arte nacional” (41) e “constatando a ignorância dos arquitetos saídos da Escola de Belas-Artes em matéria de arte nacional”, e ainda interrogando-se de como se poderiam os alunos informar, se na própria escola não existia ”uma cadeira de cultura artística e histórica dedicada à arte nacional” (42), irá promover uma série de viagens de documentação às cidades históricas de Minas Gerais (43). O principal objetivo dessas viagens era constituir um dossiê sobre a arquitetura brasileira, um catálogo confiável com o qual os arquitetos brasileiros pudessem contar na elaboração de seus projetos (44).
Para Ouro-Preto é enviado Nestor Figueiredo, Neréo de Sampaio faz levantamentos em São João DelRey e Congonhas do Campo, e Lúcio Costa parte para Diamantina. Será o próprio Marianno Filho a referir que tinha quebrado a “calmaria reinante nos arraiais arquitetónicos”, ao ter começado a agitar a opinião pública em favor do “velho estilo brasileiro”, uma vez que os próprios arquitetos saídos da Escola de Belas Artes, “entorpecidos pelos estilos de conserva do academismo francês”, não sabiam como responder ao seu apelo. Por outro lado, apelava igualmente, para a adequação da arquitetura ao clima. Essa chamada de atenção para a adequação ao clima, fica claramente evidenciada na crítica feroz que Marianno Filho elaborou aos projectos de Escolas do arquiteto Enéas Silva, que adjectivava de estilo arquitetónico caixa d’água”(45). Mas se Marianno Filho, nesse envio dos alunos para Minas Gerais, buscava a sistematização do repertório da arquitetura neocolonial, a verdade é que foi na viagem por Minas que Lúcio Costa encontrou os fundamentos da arquitetura moderna.
Lúcio Costa de regresso do seu itinerário revelador por Minas Gerais, de regresso da lição da arquitetura pela própria arquitetura que recebera em Diamantina, Sabará, Ouro-Preto e Mariana, relata que encontrou “um estilo inteiramente diverso desse colonial de estufa, colonial de laboratório que, nesses últimos anos, surgiu e ao qual, infelizmente, já está habituado o povo, aponto de classificar o verdadeiro colonial de inovação”. Em relação aos telhados descreve os “beirais fortemente balanceados, tratados em madeira com caibros aparentes e perfilados”, considerando que esses detalhes “convenientemente documentados”, muito concorreriam para melhor definir a arquitetura brasileira (46). Para Lúcio Costa era necessário conciliar os vestígios “de uma época passada com o raffinement da vida moderna”, sendo essa, na sua opinião a “principal tarefa do arquiteto” (47). Respondendo à insistente procura de um estilo nacional, Lúcio Costa salientava que não devia existir a preocupação de “se fazer um estilo nacional”, por considerar que o estilo viria por si, alertando para a importância da simplicidade e da sinceridade, em pequenas frases panfletárias: “Sejamos simples. Sejamos sinceros. Evitemos a mentira” (48). A denúncia da insinceridade construtiva como causa da decadência da arquitetura era evidente ao relembrar que o “Parthenon, Reims, Sta. Sophia” era “tudo construção”, era “tudo honesto”, onde as colunas efectivamente suportavam, os arcos realmente trabalhavam, isto é, nada mentia (49), considerando, em contraponto, que a arquitetura brasileira estava transformada em mera cenografia. Lúcio Costa considerava por isso que os alunos da Escola Nacional de Belas Artes deviam conhecer perfeitamente a arquitetura brasileira da época colonial aprendendo as boas lições que essa arquitetura podia dar, lições de “simplicidade perfeita”, e lições de “adaptação ao meio e à função” (50).
A revisão no suposto estilo neocolonial passava precisamente por um olhar renovado sobre a arquitetura vernacular, que ultrapassaria a superficialidade e a falsidade dos historicismos e construiria os fundamentos da arquitetura moderna como uma arquitetura verdadeira. Para tal seria necessário dar uma particular atenção às condições climatéricas, ao uso racional dos materiais e à lógica dos sistemas construtivos, condições essências para a produção de uma arquitetura verdadeira. A resposta contemporânea encontrava-se afinal na lição da tradição, encontrava-se enraizada nas invariantes da arquitetura popular, traduzida numa série de desenhos que Lúcio Costa registrava nas suas viagens. Lúcio Costa, em Documentação necessária (1937), considerava que a arquitetura popular apresentava em Portugal “interesse maior que a erudita”. Segundo o arquiteto, era nas aldeias portuguesas, nas construções rurais que se encontrava a “justeza das proporções”, não deixando de referir que na viagem da própria arquitetura para o Brasil e na sua implantação feita pelos ”antigos mestres e pedreiros incultos” na sua adaptação ao meio, essa arquitetura foi perdendo “um pouco daquela carrure tipicamente portuguesa”, o que por outro lado foi compensado em contexto brasileiro, com a diminuição ou mesmo eliminação de “certos maneirismos preciosos e um tanto arrebitados” que se encontravam na metrópole (51).
Segundo Lúcio Costa, o estudo da arquitetura popular portuguesa permitiria aos arquitetos modernos brasileiros usarem-no “como material de novas pesquisas” e como lição de uma “experiência de mais de trezentos anos” (52). Esse estudo que consideramos ser um apelo à realização de um inquérito à arquitetura portuguesa, devia segundo Lúcio Costa recuar aos vestígios da habitação (erudita e popular) do séc. XVII, “sem esquecer por fim, a casa ‘mínima’, como dizemos agora, a do colono, de todas elas a única que ainda continua ‘viva’ em todo o país” (53). Não podemos deixar de relacionar esta chamada de atenção de Lúcio Costa para a necessidade de realizar um estudo que documentasse a arquitetura popular portuguesa, intitulada Documentação necessária, com o artigo Uma iniciativa necessária do arquiteto português Keil do Amaral, publicado em 1947 na revista Arquitetura, em que apelava à realização de um inquérito científico à arquitetura regional portuguesa, destacando a necessidade de efetuar uma “recolha e classificação de elementos peculiares à arquitetura portuguesa nas diferentes regiões do País com vista à publicação de um livro, larga e criteriosamente documentado” (54).
Em 1955, Keil do Amaral viria a coordenar o Inquérito à Arquitetura Regional Portuguesa (55), publicado em 1961 com o título Arquitetura Popular em Portugal (56). Lúcio Costa considerava que nessa pesquisa à arquitetura popular portuguesa, além dos sistemas e modos de construção, deveriam ser também estudadas “as diferentes soluções de planta e como variavam de uma região a outra” (57), procurando assim a lógica construtiva subjacente a cada região.
Alfred Agache (1875-1959)
Em 1928, o jornal Diário de Notícias anunciava que o Rio de Janeiro ia mudar a sua fisionomia, referindo a visita do Presidente Washington Luís ao atelier do urbanista francês Alfred Agache para examinar os planos de remodelação do Rio de Janeiro” (58). Em 1933, em Portugal, sob a alçada do Presidente do Conselho Oliveira Salazar, o ministro das Obras Públicas engº Duarte Pacheco, considerando que o Plano de Urbanização e expansão da Cidade de Lisboa era o mais importante de todos os problemas citadinos, convida o arquiteto urbanista francês Donat-Alfred Agache a elaborar um “plano de urbanização desde o Terreiro do Paço até Cascais” (59), que resultaria no Plano de Expansão da Região Oeste de Lisboa. Duarte Pacheco toma conhecimento do trabalho de Agache para o Rio de Janeiro, particularmente com o Plano para cidade do Rio de Janeiro elaborado entre 1928 e 1930. Este Plano vai tornar-se objeto de atenção particular, saindo da esfera dos especialistas e claramente entrando no domínio público.
O reconhecimento da importância do trabalho de Alfred Agache no Rio de Janeiro surge também expresso numa notícia publicada no Diário de Lisboa, em que este é apresentado como o famoso criador da moderna Rio de Janeiro” (60). O articulista solicitava a Agache que “revelasse um pouco do seu parecer acerca das possibilidades de construir uma grande via de automobilismo” dando eco da “querença turística de alguns portugueses amigos da maior valorização lisbonense” (61). Na entrevista Agache refere que passava por Lisboa nas suas idas ao Brasil, aproveitando para visitar a capital. Desta vez demorava-se um pouco mais com o fim de “examinar a parte que existe entre Lisboa e Cascais” (62). Tendo percorrido a região, considerava que “era difícil encarar o caso da extensão, pura e simplesmente sem considerar o trecho da cidade em que ela principia” e que era “mesmo na ligação da linda cidade-satélite com a capital” que residiam “os principais factores da obra a planear e a harmonizar” (63).
Segundo notícia publicada no Diário de Lisboa, Agache refere que já tinha passado por Lisboa pelo menos 18 vezes nas suas idas ao Brasil; e cada uma das demoras do paquete, no porto, aproveitava para visitar a capital, como turista (64). Interrogado sobre o valor urbanístico da margem direita do Tejo em comparação com o da famosa Avenida marginal do Rio de Janeiro, Agache salienta: “Actualmente estamos ainda longe de poder estabelecer bem esse paralelo. Devo porém declarar-lhe que há possibilidades de conseguir aqui resultados análogos aos que se obtiveram na primeira cidade brasileira. A futura avenida portuguesa, sem ser semelhante à do Rio, adaptar-se-á perfeitamente à grandiosidade da Costa do Sol, mesmo com certas particularidades valiosas que na fluminense não existem. Basta reparar-se em que a extensão da de cá - 30 Km – é uma condição maravilhosa”. O que motivava Agache nesta sua travessia do Atlântico, era “estudar, «de visu», os elementos para a criação de uma cidade de repouso e de prazer, a 8 Km de distância do centro de São Paulo” (65).
Poucos dias depois desta notícia, o mesmo jornal divulgava a futura ação de Agache na construção do bairro satélite de Santo Amaro, em São Paulo. Agache refere que tinha assistido “às necessidades de Minas Gerais, Portalegre, Pernambuco e Rio de Janeiro. Ultimamente – em Setembro de 1932 – fui chamado a São Paulo para estudar o arranjo nos arrabaldes do seu sector oeste, de uma zona particular, sita ao longo do lago artificial construído pela Sociedade ‘Light and Power’. A urbanização da nova Santo-Amaro, a Cidade-Satélite de São Paulo divide-se em 4 partes. Quando efectuar a minha conferência sobre urbanismo em geral, na Sociedade Nacional de Belas Artes, terei ocasião de mostrar algumas fotografias da região do lago, junto do qual surgirá a planeada cidade-satélite” (66).
Da sua conferência na Sociedade Nacional de Belas Artes, onde tinha também a sua sede o Sindicato Nacional dos Arquitetos Portugueses, não temos notícia, mas mais uma vez a ação de Agache no Rio de Janeiro surge como argumento decisivo para a necessária reforma de Lisboa: “Era agora uma ocasião única de enterrar de vez o fantasma do mau gosto, entregando Lisboa a esse homem, que fez do Rio de Janeiro colonial e imperial uma cidade do século XX, cheia de cor, de graça, de luz e de movimento onde o estrangeiro se refastela regalado, cercado de todas as comodidades que um homem civilizado pode reclamar. Alfredo Agache, no Rio, como em muitas outras urbes de aquém e de além Atlântico, pôs mão em tudo, mão sábia e experiente: viação, roteiro, esgotos, arborização e jardinagem, obras de saneamento, construções públicas e privadas, docas e portos – que sei eu? Por isso o Brasil o requere de novo, para orientar e dirigir a construção dessa cidade maravilhosa, foco de recreio e prazer, que vai ser a Santo Amaro paulistana”(67).
Wladimir Alves de Souza (1908-1994)
No âmbito de uma viagem de estudo à Europa, em 1949, o arquiteto Wladimir Alves de Sousa, que acompanhava um grupo de estudantes brasileiros, finalistas da Faculdade Nacional de Arquitetura da Universidade do Brasil, realizou uma conferência sobre Arquitetura Brasileira em Lisboa no Instituto Superior Técnico. Seria igualmente inaugurada uma exposição de arquitetura brasileira no salão nobre do mesmo Instituto, em que se apresentou a arquitetura moderna brasileira através de fotografias, desenhos e maquetas, num conjunto de 85 trabalhos, dos quais cerca de 80% estavam construídos ou em vias de construção. Completava-se essa mostra com a colocação à disposição do público de uma coleção de revistas e publicações para consulta.
O Jornal O Primeiro de Janeiro de Fevereiro de 1949 informava que o Professor Wladimir Alves de Sousa partiu depois para a cidade do Porto, onde proferiu, no salão nobre da Escola de Belas Artes dessa cidade, uma comunicação subordinada ao tema: A Arquitetura Brasileira em face das Arquiteturas Contemporâneas. Estiveram presentes para além do director da Escola de Belas Artes do Porto Professor Joaquim Lopes, o sr. Cônsul do Brasil no Porto e o Presidente da Câmara da cidade, para além de muitos arquitetos, engenheiros e estudantes. De acordo com a notícia de O Primeiro de Janeiro “orador fluente e experimentado preleccionador, expondo com clareza e argumentando criteriosamente o professor Wladimir Alves de Sousa valorizou a sua prelecção com uma vasta projecção luminosa de diapositivos de um vasto conjunto de obras, de modo a permitir caracterizar a moderna arquitetura brasileira, particularizando determinados pormenores. Tudo de modo a fundamentar a afirmação que a Arquitetura é, essencialmente, uma arte “destinada a definir á margem de qualquer improvisação, uma expressão fidedigna e sempre oportuna do meio social duma determinada época, integrada nos seus ambientes topográfico, climático e social” (68), e que uma das raízes fundamentais da arquitetura brasileira era tipicamente portuguesa. De modo surpreendente, o arquiteto Alves de Sousa estabeleceu ainda um “caprichoso mas elucidativo” confronto entre os estilos do mosteiro de Alcobaça e do edifício do Ministério da Educação, no Rio de Janeiro, considerando que ambos nas respectivas épocas de construção obedeceram a rigorosas exigências funcionais.
Segundo Wladimir Alves de Sousa “os arquitetos contemporâneos são intransigentes defensores da tradição em arte, buscando apenas actualiza-la, num harmonioso e útil equilíbrio do passado e do presente, conforme as exigências do meio e o condicionalismo dum progresso sempre renovador”, chegando mesmo a desenhar o perfil arquitetônico duma antiga residência colonial brasileira, de traça bem portuguesa, considerando que, de acordo com os cânones da arquitetura contemporânea, se poderia integrar num ambiente moderno, sem curiosamente perder o seu básico sentido original.
Seguidamente exibiu um documentário das projeções luminosas de diversos edifícios da moderna arquitetura brasileira, nomeadamente das cidades do Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte, referindo-se em particular a Lúcio Costa, Oscar Niemeyer, Roberto Burle Marx, Vilanova Artigas e Jorge Machado Moreira. Particularmente interessante foi o destaque que o arquiteto Wladimir Alves de Sousa deu “à prestantíssima colaboração de modernos pintores e escultores que têm valorizado muitas dessas obras, no seu aspecto decorativo e artístico” dispensando particulares louvores a Portinari “que como pintor de fecunda inspiração e de assombroso talento, se dedicou também ao culto tradicional dos paneaux de artísticos azulejos, como os que decoram o edifício carioca do Ministério da Educação e “o escandaloso monumento arquitetónico da igreja matriz da Pampulha, em Belo Horizonte” (69). Os estudantes visitariam a praia de Ofir e as cidades de Viana do Castelo, Braga e Guimarães. Partiriam depois para Madrid e seguiriam em missão de estudo para Roma e para Paris onde exibiriam também o documentário da exposição de Arquitetura que tinham apresentado em Lisboa.
Considerações finais
Os jornais diários não especializados em arquitetura são fonte profícua sobre o conhecimento das viagens de arquitetos, sobre os itinerários do olhar dos arquitetos que devoram arquiteturas e cidades portuguesas a brasileiras e sobre os elos de continuidade e/ou ruptura com a tradição e a modernidade. Ao longo da história da arquitetura encontramos momentos em que a cultura arquitetônica elimina o supérfluo, elimina as formas artificiais, apoiando-se numa arquitetura cuja expressão advém da qualidade dos materiais, da perfeita execução e da razão funcional/estrutural, que adota a solução mais simples/mais sensata. Há uma fundamentação arquitetônica da arquitetura, uma estética que determina e coloca em evidência a verdade ou a sinceridade construtiva. No confronto histórico, construção versus decoração, a arquitetura cisterciense revela-se como primeira superação das ordens arquitetônicas e afirma a construção como paradigma, por isso, uma lição atemporal, susceptível de ser comparada com a arquitetura moderna.
notas
NE – Sob coordenação editorial de Paula André (Instituto Universitário de Lisboa IUL) e Abilio Guerra (editor Arquitextos), número traz sete artigos em comemoração do “Ano de Portugal no Brasil e do Ano do Brasil em Portugal”, conforme Resolução do Conselho de Ministros n.º 7/2012, que menciona que “Portugal e o Brasil acordaram, por ocasião da X Cimeira, na realização, em 2012, em conjunto e simultâneo, do Ano de Portugal no Brasil e do Ano do Brasil em Portugal, iniciativas concebidas como oportunidades para actualizar as imagens recíprocas, promover as culturas e as economias de ambos os países e estreitar os vínculos entre as sociedades civis” [Diário da República, 1ª série, nº 10, 13 jan. 2012, p. 133 <http://dre.pt/pdf1sdip/2012/01/01000/0013300135.pdf>]. Os artigos do número especial Brasil/Portugal são os seguintes:
ANDRÉ, Paula. Arquitecturas e cidades devoradas entre Portugal e o Brasil. Arquitextos, São Paulo, ano 13, n. 148.00, Vitruvius, set. 2012 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/13.148/4501>.
ALMEIDA, Ana. O azulejo em Portugal nas décadas de 1950 e 1960. Influência brasileira e especificidades locais. Arquitextos, São Paulo, ano 13, n. 148.01, Vitruvius, set. 2012 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/13.148/4490>.
JORGE, Luís Antônio. Língua portuguesa, literatura brasileira e os lugares do modernismo no Brasil. Arquitextos, São Paulo, ano 13, n. 148.02, Vitruvius, set. 2012 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/13.148/4503>.
MACEDO, Helder. As rédeas do Reino e os muros de Marrocos. Arquitextos, São Paulo, ano 13, n. 148.03, Vitruvius, set. 2012 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/13.148/4494>.
PAIS, Alexandre Nobre. Um tema de fachada. A escultura cerâmica portuguesa no exterior de arquitecturas luso-brasileiras. Arquitextos, São Paulo, ano 13, n. 148.04, Vitruvius, set. 2012 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/13.148/4484>.
BUENO, Beatriz Piccolotto Siqueira. A arquitetura das fronteiras do Brasil. Duas faces de um mesmo problema. Arquitextos, São Paulo, ano 13, n. 148.05, Vitruvius, set. 2012 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/13.148/4506>.
SIMÕES JUNIOR, José Geraldo. Paradigmas da urbanística ibérica adotados na colonização do continente americano. Sua aplicação no Brasil ao longo do século XVI. Arquitextos, São Paulo, ano 13, n. 148.06, Vitruvius, set. 2012 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/13.148/4505>.
1
Acrescentando que lhe seriam prestadas diversas homenagens pelo Conselho Federal de Engenharia e Architectura, pelo Conselho Regional de Engenharia e Architectura e pela Escola de Bellas Artes. In Expressão da cultura de um povo. Raul Lino em entrevista à Noite analysa o significado da architectura histórica. Vem ao Brasil o grande architecto de Portugal. A Noite, 12 abr. 1935.
2
Um grande artista portuguez. O architecto Raul Lino visitará o Brasil. A Noite, 02 abr. 1934.
3
Raul Lino no Brasil. O notável architecto portuguez fala à Noite em Recife. Seu interesse pelo nosso paiz. Impressões sobre o movimento artístico em Portugal. A Noite, 17 maio 1935.
4
Raul Lino na Bahia, Recepção feita ao grande architecto portuguez. A Noite, 20 maio 1935.
5
Chegou Raul Lino. O conhecido architecto portuguez teve um desembarque concorrido. A Noite, 21 maio 1935.
6
Noticias do Brasil. Raul Lino foi recebido no Rio com as mais inequívocas manifestações de apreço. Diário de Lisboa, 14 jun. 1935. Já em abril o mesmo jornal anunciava que Raul Lino iria ao Brasil, publicando uma entrevista com o arquiteto: Um grande artista português. O arquiteto Raul Lino fala-nos da sua viagem ao Brasil onde vai fazer algumas conferencias. Diário de Lisboa, 08 abr. 1935.
7
’O espirito na architectura’. É este o thema da conferencia de Raul Lino. A Noite, 30 maio 1935.
8
A conferencia de Raul Lino. Alcançou grande êxito a dissertação do conhecido architecto portuguez. A Noite, 31 maio 1935.
9
Casas portuguezas do séc. XVIII. A nova conferencia de Raul Lino. A Noite, 05 jun. 1935.
10
Raul Lino falará amanhã no Gabinete Português de Leitura. A Noite, 03 jun. 1935.
11
Raul Lino. Percorreu os lindos recantos da Guanabara e visitou a ilha das Flores. A Noite, 10/06/1935.
12
“Dia 27 irá a Santos e fará uma conferencia sobre Solares de Portugal. Dia 28 terão lugar as visitas a São Vicente e Guarajá. Dia 29 dar-se-á a volta para São Paulo e dessa cidade para o Rio”. In Segue hoje para São Paulo o architecto portuguez Raul Lino. A Noite, 19 jun. 1935.
13
Camões será perpetuado no coração de Minas. Raul Lino o artista que talhará o bronze, esperado nesta capital. A Noite, 12 jul. 1935.
14
Prof. Raúl Lino. O ilustre arquiteto dissertou sôbre ‘Casas Económicas’. Como o Estado português resolveu o problema. Diário Portugues, 31 ago. 1935.
15
Idem, ibidem.
16
Regressou a Lisboa o ilustre architecto portuguez Raul Lino. O Governo Brasileiro conferiu-lhe o oficialato da Ordem Nacional do Cruzeiro. A Noite, 20 ago. 1935, 5ª edição.
17
Raul Lino. O ilustre architecto portuguez regressa hoje a Lisboa pelo ‘Ávila Star’. A Noite, 20 ago. 1935.
18
As tendências da architectura no Brasil. Raul Lino faz a respeito declarações em Lisboa. A Noite, 07 out. 1935.
19
LINO, Raul. Auriverde jornada – recordações de uma viagem ao Brasil. Lisboa, Ed. Valentim de Carvalho, 1937.
20
Auri-verde jornada. A Noite, 15 jan. 1938.
21
LINO, Raul. Op. cit., p. 131-132.
22
Idem, ibidem, p. 138.
23
Idem, ibidem, p. 146.
24
Idem, ibidem, p. 152.
25
O seu amigo José Cortez organizaria um almoço no Jockey Club do Rio de Janeiro, para lhe apresentar dois colegas brasileiros, Ângelo Bruhns e Lúcio Costa. A respeito do seu colega Lúcio Costa diz Raul Lino: “Tem na sua calma sorridente qualquer coisa de um filósofo inglês, a-pesar-do seu tipo meridional. De mediana estatura, são bem brasileiros seus olhos profundos e a sua tez morena; mas a cabeleira escorrida e o pequeno bigode roliço parecem falar-nos de uma disciplina adquirida nas brumas do Norte”. In LINO, Raul. Op. cit., p. 91. O seu amigo Edwin Hime organizaria também no Jockey Club um encontro de Lino com os seus antigos companheiros do colégio em Inglaterra: Cox, Lynch e Morrissy. Nessa estadia no Rio de Janeiro Lino revela que num encontro casual com Paulo Prado no Palace Hotel e trocando impressões sobre Eça de Queiroz, este lhe teria comunicado que “existia em S. Paulo um quadrinho pintado pelo autor do Primo Basílio”.
26
LINO, Raul. Op. cit., 1937, p. 91.
27
Idem, ibidem, p. 95-97.
28
LINO, Raul. Afinidades e analogias. Diário de Notícias, 12 jan. 1953.
29
BITTAR, William. Formação da arquitetura moderna no Brasil (1920-1940). Moderno e Nacional. 6º Seminário DOCOMOMO Brasil. Niterói, Novembro, 2005 <http://www.docomomo.org.br/seminario%206%20pdfs/William%20Bittar.pdf>.
30
A representação brasileira na exposição dos centenários portugueses. Projecto Pavilhão Brasileiro no futuro grandioso certâmen. A Noite, 21 nov. 1939.
31
A partir da ideia lançada em 1929 pelo embaixador Alberto de Oliveira em 1938 é publicada na primeira página no jornal Diário de Notícias a Nota Oficiosa da Presidência do Conselho anunciando as festas nacionais grandiosas e de repercussão internacional comemorativas do duplo centenário da Fundação e Restauração de Portugal. Cottinelli Telmo seria o arquiteto-chefe da Exposição do Mundo Português realizada em 1940 na Zona Marginal de Belém.
32
ACCIAIUOLI, Margarida. Exposições do Estado Novo 1934-1940. Lisboa, Livros Horizonte, 1998, p. 184-188.
33
Idem, ibidem, p. 187.
34
Os Premios do Concurso da Sociedade Brasileira de Architectos. A Noite, 27 fev. 1923.
35
Idem, ibidem.
36
Este era um dos pontos do Decálogo do arquiteto brasileiro, de 1923.
37
MARIANNO FILHO, José. À margem do problema arquitetônico nacional. Rio de Janeiro, Gráfica C. Mendes Júnior, 1943, p. 7.
38
SANTOS, Paulo. Presença de Lucio Costa arquitetura contemporânea do Brasil. Manuscrito inédito, Arquivo Paulo Santos, Paço Imperial do Rio de Janeiro, 1962, p. 12.
39
José Marianno Filho proporia criar novas disciplinas tais como Estatuária, História da Arte Brasileira e Filosofia da Arte, não vindo no entanto a ser aprovada a sua proposta, e o seu mandato terminaria em maio de 1927.
40
MARIANNO FILHO, José. Op. cit., p. 7.
41
PINHEIRO, Maria Lúcia Bressan. A História da Arquitetura Brasileira e a Preservação do Património Cultural, Revista CPC, São Paulo, v.1, n.1, nov. 2005/abr. 2006, p. 59-60.
42
MARIANNO FILHO, José. Op. cit., p. 7.
43
Na Escola Politécnica de São Paulo o engenheiro-arquiteto Alexandre Albuquerque, professor das cadeiras de História da Arquitetura, Estética e Estilos, entre 1921 e 1925 promove «excursões técnicas» com os seus alunos, destinadas a cidades como Itanhaém, Ouro Preto, Tiradentes e Congonhas do Campo, “sempre que permitiram as verbas destinadas a exercícios práticos em nossos escassos orçamentos escolares”. Nas excursões, os alunos eram incentivados a fazer desenhos e levantamentos in loco de edifícios importantes, parte dos quais foi mais tarde publicado no Boletim do Instituto de Engenharia (n. 63, agosto 1930, p. 59-62), in PINHEIRO, Maria Lúcia Bressan. A história da arquitetura brasileira e a preservação do patrimônio cultural, Revista CPC, São Paulo, v. 1, n. 1, nov. 2005/abr. 2006, p.57. Segundo Alexandre Albuquerque “para estimar o colonial é preciso conhecê-lo. É necessário viajar e longamente meditar em frente de cada monumento. Quem já viajou pelas nossas cidades coloniais, quem conhece Ouro Preto, Mariana, Congonhas, São João del Rey, Tiradentes, para citar apenas algumas, sabe distinguir a arte portuguesa aclimatada, da que floresceu no velho mundo”, in ALBUQUERQUE, Alexandre. Aleijadinho e arte colonial. Boletim do Instituto de Engenharia, n. 63, ago. 1930, p. 59-61. Em 1926 o jornal O Estado de São Paulo realiza um inquérito à arquitetura colonial e publica entrevistas realizadas a defensores do movimento neocolonial.
44
Em Portugal partindo da ideia inicial do Presidente da Academia Nacional de Belas Artes o Ministério da Educação cria em 1936 as Missões Estéticas de Férias que eram organizadas pela Academia Nacional de Belas Artes. No preâmbulo do diploma da sua criação são definidos os objetivos: “integrar a Arte num unitário e activo programa de educação nacional (…) dotar a formação dos artistas e estudantes portugueses de Artes Plásticas [Pintura, Escultura e Arquitetura] com o conhecimento estético da Nação, nos seus valores naturais e monumentais, de que são tão ricas as nossas províncias, ao mesmo tempo que se contribuirá para a realização do respectivo cadastro, inventário e classificação”, in Decreto-Lei nº 26 957, do Ministério da Educação, Diário do Governo, I Série, nº 202 de 28 de agosto, p.1039. Para além do trabalho de atelier os estagiários/estudantes realizavam visitas de estudo, elaboravam registros e eram organizadas conferências; em novembro e dezembro era realizada a exposição final dos trabalhos acompanhada da publicação de um catálogo.
45
MARIANNO FILHO, José. Op. cit., p. 83.
46
Considerações sobre o nosso gosto e estilo. A Noite, 18 jun. 1924.
47
Idem, ibidem.
48
Idem, ibidem.
49
O novo diretor da Escola de Belas Artes e as directrizes de uma reforma. O Globo, 29 dez. 1930.
50
Idem, ibidem.
51
COSTA, Lúcio. Documentação necessária (1937). In XAVIER, Alberto; CANEZ, Anna Paula (org). Lúcio Costa: sôbre arquitetura. Porto Alegre, UniRitter, 2007, p. 86-87.
52
Idem, ibidem.
53
COSTA, Lúcio. Op. cit., 1937, p. 89.
54
AMARAL, Keildo. Uma iniciativa necessária. Arquitetura: Revista de Arte e Construção, Ano XX, 2. série, n. 14, Lisboa, abr. 1947, p. 12-13.
55
O Decreto-lei n. 40.349 de 19 de Outubro do Ministério das Obras Públicas – presidido por Arantes e Oliveira, estipula o “subsídio até ao montante de 500.000$00 destinado a cobrir os encargos com a investigação sistemática dos elementos arquitetónicos tradicionais das diversas regiões do país; afirmando que a arquitetura popular contém em si uma lição viva e evidente valor prático para o desejado aportuguesamento da arquitetura moderna no nosso país”; o país é dividido em 6 zonas, cada uma coberta por um chefe da equipa e por 2 outros arquitetos mais jovens; zona 1: Fernando Távora, Rui Pimentel e António Meneres (Minho, Douro Litoral e Beira Litoral); zona 2: Lixa Filgueiras, Arnaldo Araújo e Carvalho Dias (Trás-os-Montes e o Alto Douro); zona 3: Keil do Amaral, Huertas Lobo e João Malato (as Beias); zona 4: Nuno Teotónio Pereira, Pinto de Freitas e Silva Dias (Estremadura, Ribatejo e Beira Litoral); zona 5: Frederico George, Azevedo Gomes e Mata Antunes (Alentejo); zona 6: Pires Martins, Celestino de Castro e Fernando Torres (Algarve e Alentejo Litoral). Em 1953 na Escola de Belas Artes do Porto, Fernando Távora orienta o Ensaio de Inquérito às expressões e técnicas tradicionais portuguesas no âmbito da criação de um Centro de Estudos de Arquitetura e Urbanismo na Escola de Belas Artes do Porto, in FERNANDES, Eduardo Jorge Cabral dos Santos. A escolha do Porto: contributos para a actualização de uma ideia de Escola. Braga, Universidade do Minho, 2010. Tese de doutorado, p.185. Fernando Távora, Octávio Lixa Filgueiras e Alfredo Viana de Lima participam no X CIAM dedicado ao tema do Habitat, realizado em Agosto de 1956 em Dubrovnik, apresentando um estudo-proposta de uma comunidade rural de Trás-os-Montes, com a comunicação Habitat Rural – Nouvelle Communauté Agricole.
56
Arquitetura Popular em Portugal. Lisboa, Associação dos Arquitetos Portugueses, 1980, p. XX.
57
COSTA, Lúcio. Op. cit., 1937, p. 90.
58
É ainda referido que o espaço “do antigo Morro do Castelo será aproveitado para a construção de grandes edifícios modernos e amplas praças ajardinadas, com iluminação adequada, que faça salientar, de noite, a perspectiva dos 'arranha-céus'. Na “Ponta do Calabouço” será construído um edifício para Panteão Nacional, e completar-se-á a beleza do local com jardins. O “Saco da Glória” será terraplanado, para a construção duma praça monumental, que se chamará “Entrada do Brasil” e se destinará a recepção de hóspedes ilustres, a paradas, etc”, in O Rio de Janeiro vai mudar a sua fisionomia. Diário de Notícias, 16 nov. 1928.E o jornal O Século publicava-se: “Rio de Janeiro, 13 – É esperado brevemente o arquiteto francês Alfredo Agache, que volta ao Rio para prosseguir a execução dos planos de embelezamento da capital federal.Por um telegrama de Paris, sabe-se que o embaixador Dr. Sousa Dantas lhe ofereceu um almoço de despedida”, in Pelo Brasil. O Embelezamento do Rio de Janeiro. O Século, 14 ago. 1928.
59
Um Plano de realizações. Todos os desempregados vão ter trabalho dentro de pouco tempo, diz-nos o ministro das obras públicas. Diário de Lisboa, 24 fev. 1933.
60
Idem, ibidem.
61
Idem, ibidem.
62
Idem, ibidem.
63
Idem, ibidem.
64
Idem, ibidem.
65
Idem, ibidem.
66
Ideias modernas acerca de urbanismo. S. Paulo e a sua futura cidade satélite. O grande urbanista Agache fala-nos da sua nova criação. Diário de Lisboa, 26 jul. 1933, p. 7.
67
A visita de Agache. Podia aproveitar-se para pensar a sério na modernização urbanística de Lisboa. Diário de Lisboa, 29 jul. 1933, p. 3.
68
Os estudantes brasileiros de arquitetura – que visitam hoje Viana do Castelo, Braga e Guimarães – chegaram ontem a esta cidade, tendo o chefe dessa missão cultural proferido, na Escola de Belas Artes do Porto, uma prelecção magistral. O Primeiro de Janeiro, 25 fev. 1949, p. 2.
69
Idem, ibidem.
sobre a autora
Paula André é doutora em arquitetura e Urbanismo; Professora Auxiliar do Departamento de Arquitetura e Urbanismo do ISCTE-IUL; Docente no Mestrado Integrado em Arquitetura; Docente no Mestrado em História Moderna e Contemporânea; especialidade em Cidades e Património; Docente no Mestrado em Gestão e Estudos da Cultura. Membro Efectivo do Centro de Estudos sobre a Mudança Socioeconómica e o Território (DINAMIA-CET); membro da equipa do Laboratório de Habitação (LAB HAB; ISCTE-IUL); membro da Direcção do Centro de Estudos Urbanos (CEURBAN); membro da Rede Portuguesa de Morfologia Urbana (PNUM), membro da Associação Portuguesa de Historiadores da Arte (APHA) e membro do International Council on Monuments and Sites (ICOMOS – Portugal).