1. A universidade e o mito da produtividade
Há 25 anos, no dia 21 de fevereiro de 1988, domingo, o jornal Folha de S.Paulo – o maior e mais importante periódico diário do Brasil – divulgou os nomes de professores e pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) que não teriam escrito ou publicado no período de 1985 a 1986.
Ao todo, cinco páginas inteiras foram dedicadas ao tema, contendo uma extensa lista de professores de todas as faculdades e institutos da universidade e artigos assinados pelo jornalista Paulo Francis, e pelos professores da própria USP José Goldemberg, Paul Singer, Rogério Cezar de Cerqueira Leite. Todos os artigos defendiam a avaliação dos professores universitários (1).
Na época, este episódio ficou conhecido como “Lista dos improdutivos da USP”.
O fato poderia passar despercebido caso não fosse a USP uma das mais reconhecida universidade da América Latina. Nos meses seguintes, diversos intelectuais de enorme prestígio no Brasil e exterior se pronunciaram com artigos publicados no próprio jornal Folha de S. Paulo. Apenas para citar alguns, dentre os professores que se posicionaram contra a lista dos improdutivos constavam Marilena Chaui, Francisco Weffort, Modesto Carvalhosa, Nicolau Sevcenko, Carlos Guilherme Mota, Antonio Candido, José Arthur Giannotti, Florestan Fernandes, Paul Singer e Nestor Goulart Reis Filho.
Segundo a psicóloga Maria Luisa Sandoval Schmidt (2), os argumentos dos professores poderiam ser divididos em três grupos: os que defendiam uma avaliação qualitativa; os que propunham uma articulação entre critérios qualitativos e quantitativos; os que defendiam que as diversas atividades docentes nas áreas de ensino, pesquisa e extensão servissem de parâmetros para a avaliação – o que tornaria necessário um “programa eficiente de coleta e armazenamento de informação” (3).
Como se vê, mesmo com visões e propostas diferentes, a maioria absoluta das manifestações aceitava a “ideologia da avaliação”, o que acabará implicando em consequências inesperadas tanto no futuro imediato como a médio e longo prazo: privilégio do quantitativo, a avaliação como fim em si, distanciamento da sociedade, o desprestígio das pesquisas nas áreas das humanidades etc.
Com mais lucidez do que os companheiros de USP, a historiadora Maria Sylvia de Carvalho Franco, em seu artigo “Invectiva contra bárbaros – 2”, vai se colocar contra o próprio sistema de avaliação, apontando problemas insolúveis (por exemplo, “quem avalia o avaliador”), os novos comportamentos que ele contempla (“rapidez, superficialidade, falta de estudo, ânsia de êxito”) e os interesses que ele representa:
“Vale dizer, sua concepção de universidade é estática, faz ‘passar o que já é vulgarmente aceito’. Operam com a lógica da preguiça e do resultado rápido, fechado sobre si mesmo, imediatamente rendoso, desconsiderando os rigores da invenção, custosa e muitas vezes incerta. É muito conforme os padrões vigentes, que o mercado seja eleito como critério” (4).
No que diz respeito à divulgação da pesquisa, o veredito de Maria Sylvia de Carvalho Franco é muito duro:
“O relaxamento do trabalho de pesquisa, correlato à faina de editar, conduz à mutilação, sem delongas, de noções pescadas ao sabor de conversas, transformando-as em rodapés pseudo-eruditos ou até em princípios críticos, em artigos e livros de ampla divulgação. Alastrando-se justamente pela facilidade que oferecem, estas simplificações do ‘ouvi dizer’, pior forma de conhecimento, desdobram-se em teses e outros tantos livros e artigos” (5).
A publicação da lista dos improdutivos pela Folha de S. Paulo em 1988 é uma data decisiva para se compreender a transformação da universidade brasileira a partir da experiência vivida por sua mais importante encarnação: a Universidade de São Paulo. Neste ¼ de século que nos separa desta discussão, montou-se uma estrutura burocrática sofisticada a partir do governo central, tendo o Ministério da Educação como promotor. A noção de produtividade essencialmente quantitativa, buscada ao mercado, tornou-se o principal critério de avaliação, e o próprio sistema de avaliação se converteu no critério para distribuição de recursos.
As carreiras dentro das escolas desde então são consideradas exitosas ou fracassadas a partir dos critérios que penalizam pesquisas sólidas e demoradas e premiam as rápidas e superficiais. O pensamento vale menos do que a ortodoxia, a pesquisa pura vale menos do que a instrumentalização, o burocrata vale mais do que professor. Não só é possível como é facilmente encontrável carreiras exitosas apoiadas em uma impressionante produção de textos, participação em eventos, mesas redondas, entrevistas etc., sem que nada de significativo tenha sido realmente realizado.
O filósofo Roberto Romano, esposo de Maria Sylvia, em entrevista dada no ano de 1999 – dez anos após a “lista dos improdutivos” – faz fina ironia da situação vivida naquele momento na universidade brasileira e que só vem se acentuando até os dias de hoje:
“Existe uma profissão agora dentro da universidade que é o avaliador. Não faço avaliação 24 horas por dia, estudo Diderot, dou aula, faço conferência, discuto com os meus colegas etc., não faço avaliação. Mas existe gente especializada em avaliação, existem núcleos de avaliação. Pergunto o seguinte: o que eles fazem no campo de pesquisa? Quem é antropólogo e que só avalia os outros... De repente, você só tem avaliadores, que avaliam físicos, matemáticos, químicos etc. etc. Não conheço indivíduo ou grupo que possa ter um domínio do saber tão grande que possa avaliar tudo isso. O que quer dizer que a avaliação, nesse sentido, é picaretagem pura. Existem teses de doutorado sobre avaliação!” (6).
E o filósofo Roberto Romano solta a frase ferina final:
“A ideia de produtividade é uma ideia extremamente danosa à pesquisa científica. Existem pensadores, como é o caso de Wittgenstein, que teriam tirado zero na Capes, porque passaram dezenas de anos sem publicar quase nada” (7).
Cada vez menos a universidade é o lugar da pesquisa verdadeira e da crítica elevada.
2. A proliferação das escolas de arquitetura
Segundo a Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura – Abea, o Brasil conta hoje com 293 cursos de arquitetura e urbanismo, situados em 147 cidades distribuídas por todas as 27 unidades da federação – ou seja, os 26 Estados brasileiros e o Distrito Federal contam com cursos de arquitetura (8).
Estes dados são de março de 2013. Seguramente já não correspondem à realidade, pois as estatísticas apontam para um crescimento vertiginoso ao longo das décadas. Segundo a Abea, temos a seguinte evolução:
Segundo a pesquisadora Elena Salvatori, “os períodos de crescimento mais significativos ocorreram entre 1966 e 1974 e entre 1994 e 2002, de 16,66% e 13,02% ao ano, respectivamente” (9). O texto de Salvatori é de 2008, portanto desde então o Brasil ganhou 109 novas escolas de arquitetura, aproximadamente 22 escolas por ano, com um crescimento médio um pouco superior a 10%. Ou seja, mesmo tendo decrescido o ritmo, nada leva a crer que o processo tenha se estancado.
Há ainda outro fenômeno que expressa a falta de controle do crescimento de escolas. Das 293 escolas de arquitetura apontadas pelo levantamento da Asbea de março de 2013, 198 estão concentradas em apenas seis Estados do país. Das 147 cidades que contam com escolas de arquitetura, 106 delas estão situadas dentro destes seis Estados. A realidade expressa em números é esta aqui:
São Paulo – 78 cursos / 36 cidades
Minas Gerais – 27 cursos / 19 cidades
Santa Catarina – 26 cursos / 19 cidades
Rio Grande do Sul – 25 cursos / 14 cidades
Paraná – 21 cursos / 10 cidades
Rio de Janeiro – 21 cursos / 8 cidades (10)
Ao compararmos a concentração de escolas com os Estados mais ricos do país temos uma grande sobreposição:
1º São Paulo / R$ 1,4 trilhão
2º Rio de Janeiro / R$ 407 bilhões
3º Minas Gerais / R$ 351 bilhões
4º Rio Grande do Sul / R$ 252 bilhões
5º Paraná / R$ 217 bilhões
6º Bahia / R$ 154 bilhões
7º Santa Catarina / R$ 152 bilhões
8º Distrito Federal / R$ 149 bilhões
9º Goiás / R$ 97 bilhões
10º Pernambuco / R$ 95 bilhões (11)
Contudo, temos também algumas distorções visíveis, pois Estados ricos e tradicionais (caso de Bahia e Pernambuco) e Estado com desenvolvimento mais recente (caso de Goiás) contam com um número muito menor de escolas:
Bahia – 7 cursos / 4 cidades
Distrito Federal – 11 cursos / 1 cidade
Goiás – 7 cursos / 2 cidades
Pernambuco – 7 cursos / 2 cidades (12)
Brasília, por se tratar de Distrito Federal, é um caso a parte. Contudo, é interessante notar que regiões específicas de grande desenvolvimento no país, onde temos o surgimento de novos núcleos urbanos e instalação de complexa infraestrutura, não contam com arquitetos em número suficiente.
O desequilíbrio é similar à distribuição dos médicos, que levou o governo central a promover o programa Mais Médico, com a importação de profissionais formados em outros países (Cuba, Argentina, Uruguai, Espanha e Portugal). Os profissionais qualificados se concentram nos grandes centros urbanos e não estão dispostos a se mudarem para outras cidades e outros Estados. No caso específico de arquitetos, temos um número muito maior de arquitetos do que precisamos, mas temos diversas regiões carentes dos profissionais.
Estes números me fazem recordar uma conversa com Juan Herreros no final do ano de 1999, quando ele participou da Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo. Quando mencionei o número de escolas brasileiras de arquitetura (na ocasião, em torno de 130), ao invés de questionar sobre a colocação de um número tão grande de novos arquitetos, Herreros fez uma pergunta surpreendente: “aonde vocês conseguem tantos professores?!”
O que temos visto nos últimos anos é a formação de um ciclo fechado, onde a ampliação constante de novas escolas de arquitetura criam novas vagas para professores de arquitetura; estes, cada vez mais jovens, com pouca ou nenhuma experiência em fazer ou pensar arquitetura, retornam aos bancos escolares para realizarem seus cursos de pós-graduação (mestrado e doutorado). Os critérios quantitativos de avaliação é a grande alavanca para este processo, que pode chegar a situações caricatas.
Há algum tempo, uma professora de uma universidade federal brasileira me disse que sua escola estava indo muito bem, com ótima avaliação da Capes, com diversos grupos de pesquisa ativos. Eu, que já estava incomodado por não ter publicado nenhum artigo derivado destas pesquisas tão formidáveis, fiquei ainda mais surpreso com a afirmação final da colega, após me contar todas as maravilhas de sua escola: “nós temos um pequeno problema: não há nenhum professor com experiência em construção em nossos grupos de pesquisa”. Um “pequeno problema”!!!
Neste sentido, se o processo de avaliação adotado no Brasil há 25 anos implicou em um empobrecimento expressivo nas áreas de humanidades, no caso especifico da arquitetura contamos com fenômeno extra para o empobrecimento de nossa disciplina: a ampliação descontrolada de escolas. Este fenômeno se transformou ele próprio em tema de pesquisa, com uma multiplicação de mestrados e teses sobre “ensino de arquitetura”. Não deixa de ser curioso que em um ambiente onde se sabe cada vez menos de “arquitetura” tenhamos um número cada vez maior de especialistas em “ensino de arquitetura”.
Seria injusto da minha parte afirmar que todos os trabalhos nesta área são ruins ou irrelevantes. Na verdade, temos vários trabalhos qualificados, bem fundamentados, que levam em conta que o papel de uma escola de arquitetura é formar arquitetos. Contudo, a maior parte desta produção é inócua, pois se apropria de teorias e conceitos pedagógicos, construindo um discurso opaco, estanque e sem vasos comunicantes com o exercício da profissão. Se existe hoje na universidade brasileira um profissional que é o “avaliador dos seus pares”, no caso específico da faculdade de arquitetura temos um personagem extra: o “especialista em ensino de arquitetura”.
Por fim, há ainda um fenômeno não mencionado, mas de extrema importância para a compreensão da situação: a proliferação dos programas de pós-graduação. Há 15 ou 20 anos, as pós-graduações em arquitetura estavam circunscritas a poucas universidades tradicionais, todas elas públicas, com a nobre exceção da PUC-Rio. A necessidade crescente de novos professores com pós-graduação criou uma demanda que foi atendida pelo crescimento exponencial dos cursos de mestrado e doutorado. Dezenas de universidades públicas e privadas passaram a oferecer estes cursos, com grau variado de qualificação do seu corpo docente e de condições infraestruturais.
3. As atuais dificuldades da crítica de arquitetura no Brasil
As duas partes iniciais nos levam a algumas considerações sobre o atual estado da crítica no Brasil.
Em primeiro lugar, seria importante apresentar o que entendo como “crítica de arquitetura”. Nas artes em geral, no momento da concepção temos um movimento do intelecto e da imaginação que articula o abstrato e o material, resultando na forma artística construível, que é – ao mesmo tempo – uma expressão de conhecimentos teóricos e práticos. As duas disciplinas tradicionais que tratam dos conhecimentos teóricos com maior rigor é a história da arquitetura e a teoria da arquitetura.
Se a história da arquitetura conecta o fato construído a uma determinada sociedade, cabe à teoria fazer outro tipo de conexão: do fato construído aos procedimentos abstratos que lhe dão substância. Este procedimento não só aproxima a teoria da arquitetura da filosofia da arte (estética), como também permite que um fenômeno isolado seja compreensível a partir de matrizes genéricas, possibilitando que um determinado objeto estético (edifício) seja compreendido como singularidade e como parte de um estilo ou encaminhamento estético.
Contudo, história e teoria são inseparáveis. Só é possível fazer uma história da arquitetura que releve o valor qualitativo das obras se forem convocados critérios estéticos para este ajuizamento. Só é possível fazer teoria da arquitetura se for chamado a campo o pensamento histórico, pois as teorias da arquitetura são datadas e têm seus fundamentos oriundos de uma determinada sociedade, historicamente constituída.
Não existe uma teoria da arquitetura trans-histórica, que flutua numa transcendência e pode ser convocada a qualquer momento. Existem “teorias da arquitetura” que habitam o imaginário de uma determinada época, em um ambiente intelectual definido, que dão sentido e significado a uma determinada produção estética.
Em meu entendimento, a crítica da arquitetura é o gênero que transporta os conhecimentos históricos e teóricos para a compreensão de fenômenos mais específicos (obras construídas), com o intuito de disseminar este conhecimento não só para arquitetos e especialistas da área, mas para a própria sociedade. A crítica tem, portanto, um papel fundamental de explicar à coletividade a importância, o significado, a abrangência e o compromisso da atividade arquitetônica junto à opinião pública. A legitimidade da arquitetura, seu valor social em última instância, tem na crítica uma fundamental aliada.
A crítica, como qualquer atividade humana, depende da prática constante para seu aprimoramento. A questão que se coloca é muito simples: onde se forma o crítico? Onde ele desenvolve suas capacidades? Onde ele difunde suas ideias?
No Brasil não há – como é muito comum em alguns países latino-americanos – um espaço fixo de crítica de arquitetura em grandes jornais. O tema da arquitetura é abordado dentro da rotina cotidiana, como “matéria quente”, onde o apelo está no comportamento do arquiteto, no arrojo formal da edificação, ou em algum elemento exótico associado. Quase sempre a arquitetura é abordada por jornalistas não especializados ou por arquitetos sem treinamento na área de crítica de arquitetura. Assim, na grande imprensa temos muitas opiniões e pouca crítica.
Temos no Brasil apenas duas revistas especializadas impressas de circulação nacional, ambas editadas em São Paulo: Projeto Design (editada desde 1979) e AU – Arquitetura e Urbanismo (editada desde 1985). Ambas as publicações passaram por diversas fases ao longo do tempo, com a crítica de arquitetura ocupando espaços variáveis, dependendo do editor e da estratégia de mercado de seus proprietários.
Em termos de excelência gráfica, nenhuma das duas revistas alcançou uma qualidade compatível às melhores de nosso continente – caso de Summa+ (Argentina), Arq (Chile) ou Arquine (México) – mas chegaram a ter, em algum momento, uma boa crítica de arquitetura, que revelou e consolidou nomes importantes como Ruth Verde Zein, Carlos Eduardo Comas, Hugo Segawa, Cecília Rodrigues dos Santos, Alessandro Castroviejo, Ana Luiza Nobre e muitos outros. Hoje o espaço para a crítica nestas revistas é diminuto e é mais fácil encontrá-la publicada em revistas estrangeiras.
Na universidade brasileira atual, ambiente extremamente endógeno e autossuficiente, o espaço para o desenvolvimento da atividade crítica é asfixiado pela enorme demanda imposta pela “produtividade”. O tempo disponível deve ser dividido entre a sala de aula, orientações de alunos de iniciação científica, mestrado e doutorado, pesquisa, participação em eventos e com aquilo que é o verdadeiro martírio da nossa universidade: a comprovação da produção.
É importante mencionar que a maioria absoluta dos críticos da velha geração está vinculada às mais tradicionais escolas de arquitetura do país. Mas, é perceptível que mesmo nossos principais nomes estão com o trabalho cada vez menos crítico, e cada vez mais histórico e teórico, pois o canal de veiculação desta produção acontece fundamentalmente dentro da universidade, em seminários, congressos, conferências e revistas acadêmicas. Com raras exceções, toda esta vasta produção é endógena, ou seja, circula exclusivamente dentro dos muros universitários.
Se estou certo em minha opinião sobre a dimensão pública da crítica de arquitetura, podemos dizer que ela é rara e circunstancial em nosso país.
Por fim, para não deixar de falar sobre meu trabalho como editor, penso que o portal Vitruvius se beneficia desta situação, pois é um espaço democrático de difusão da produção histórica, teórica e crítica na área de arquitetura. Mas eu seria leviano em não mencionar que percebo uma piora gradativa dos conteúdos que publicamos, como também é muito claro para mim que cada vez menos o que publicamos tem interface com a sociedade brasileira.
Todo dia, a todo o momento, me pergunto: “vale a pena continuar?”
4. Epílogo: dois projetos a espera de um crítico
Menciono, de forma sumária, dois projetos muito recentes, ambos em São Paulo. Ambos são espaços públicos voltados para a cultura e sobre os quais fiz aproximações críticas ligeiras, que merecem desenvolvimentos futuros.
O primeiro, a Praça das Artes, um enorme complexo que concentra as diversas orquestras e corpos de dança da cidade, faz parta da estratégia da Prefeitura Municipal para promover a renovação do centro histórico de São Paulo. O edifício tem múltiplos aspectos, sendo os diálogos com o patrimônio e com o espaço público os mais evidentes (13).
O segundo, a Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin no Campus Universitário da USP, com suas passagens e praça coberta, busca se tornar um espaço ao mesmo tempo articulado ao maravilhoso parque do campus universitário, como também de concentração cultural da vida universitária (14).
Ambos os projetos são vinculados à tradição moderna brasileira, tanto no que há de vigoroso – relação com o urbano e com a natureza – como no que há de problemático – nossa insistência em continuar a construir em concreto armado, apesar das evidências que temos hoje dos problemas ecológicos que produz.
Os críticos seriam bem vindos para estabelecer o diálogo entre arquitetos e sociedade civil.
Estamos aguardando-os.
notas
NE – texto base da conferência realizada no 15º Seminário de Arquitetura Latino-americana – SAL 15, mesa comunicação e crítica, Bogotá, 24 setembro de 2013. O texto foi publicado originalmente em revista argentina, nas versões em português e espanhol: GUERRA, Abilio. Universidade e crítica de arquitetura no Brasil. Summa+, Buenos Aires, n. 134, mar. 2014, p. 94-99; GUERRA, Abilio. Universidad y crítica de arquitectura en Brasil. Summa+, Buenos Aires, n. 134, feb. 2014, p. 94-99.
1
FROMER, Ana. USP faz lista dos seus improdutivos. Folha de S.Paulo, São Paulo, 21 fev.1988, capa e p. A-28 a A-32.
2
SCHMIDT, Maria Luisa Sandoval. Avaliação acadêmica, ideologia e poder. Revista Psicologia USP, São Paulo, n. 22 (2), p. 315-334.
3
O Sistema de Currículos Lattes, lançado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) em 16 de agosto de 1999, é fruto direto da instauração do processo de avaliação. Trata-se de formidável banco de dados unificado, com informações de todos os pesquisadores do Brasil.
4
FRANCO, Maria Sylvia de Carvalho. Invectiva contra bárbaros – 2. Folha de S.Paulo, São Paulo, 16 mar. 1988, p. 3.
5
Idem, ibidem.
6
ROMANO, Roberto. Entrevista. Caros Amigos, São Paulo, fev. 1999, p. 22-29. <http://silncioerudoasatiraemdenisdiderot.blogspot.com/2012/03/o-preco-da-coerencia-continuo-dizendo-e.html>.
7
Idem, ibidem.
8
Dados retirados do website da ABEA <http://www.abea-arq.org.br>. Sobre o número de escolas de arquitetura no Brasil e a avaliação dos cursos, ver o seguinte artigo, com enfoque muito distinto: VIEIRA MARAGNO, Gogliardo. Quase 300 cursos de Arquitetura e Urbanismo no país: como tratar a qualidade com tanta quantidade? Algumas questões sobre qualificação e ensino no Brasil. Arquitextos, São Paulo, ano 14, n. 161.07, Vitruvius, out. 2013 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/14.161/4930>.
9
SALVATORI, Elena. Arquitetura no Brasil: ensino e profissão. Arquitetura Revista, São Leopoldo, vol. 4, n. 2, jul./dez. 2008, p. 57.
10
Dados da Abea, março 2013 <http://www.abea-arq.org.br/?page_id=11>.
11
Dados oficiais do IBGE referentes ao ano de 2010, divulgados em 2012.
12
Dados da Abea, março 2013 <http://www.abea-arq.org.br/?page_id=11>.
13
GUERRA, Abilio. Prêmio APCA 2012 – Categoria “Obra de arquitetura”. Premiado: Praça das Artes / Brasil Arquitetura e Marcos Cartum. Drops, São Paulo, ano 13, n. 063.08, Vitruvius, dez. 2012 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/drops/13.063/4629>.
14
GUERRA, Abilio. Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin. Projeto arquitetônico de Eduardo de Almeida e Rodrigo Mindlin Loeb. Drops, São Paulo, ano 13, n. 066.07, Vitruvius, mar. 2013 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/drops/13.066/4696>.
sobre o autor
Abilio Guerra é arquiteto, professor da graduação e pós-graduação da FAU Mackenzie e editor do portal Vitruvius e da Romano Guerra Editora.